Capelães exercem o mandato confiado por Jesus: cuidar dos doentes

Por
21 de abril de 2020

“Os doentes receberam sempre as maiores atenções de Jesus. As páginas dos Evangelhos relatam frequentes encontros Dele com pessoas acometidas de vários tipos de enfermidade, às quais nunca deixou de dar sua carinhosa atenção. Ao enviar os discípulos em missão, recomendou-lhes que anunciassem a todos o Reino de Deus e cuidassem (“curassem”) dos doentes (cf. Lc 10,9). A cura dos enfermos é sinal de que o Reino de Deus está próximo”, escreveu o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, em artigo para a sessão Encontro com o Pastor, por ocasião do Dia Mundial dos Enfermos, em fevereiro deste ano.

Ouvir as dificuldades dos enfermos, ajudá-los para que tenham esperança no tratamento, dar apoio aos familiares e fazer com que todos não percam a fé mesmo nos momentos de maior fragilidade é a missão da Pastoral da Saúde, que se torna ainda mais especial neste momento de pandemia.

Nos hospitais públicos e privados, há sacerdotes que atuam como capelães. No Instituto de Infectologia Emílio Ribas, essa é a atuação do Padre João Inácio Mildner, Assistente Eclesiástico da Pastoral da Saúde da Arquidiocese de São Paulo.

“As instituições de saúde surgem com o trabalho da Igreja. Muitos santos e santas doaram suas vidas em favor dos enfermos, mesmo custando a própria vida. Fico imaginando São Camilo de Lellis, São João de Deus, Santa Tereza de Calcutá, Santa Dulce dos pobres vivendo nestes tempos de pandemia que estamos. Com certeza não se acomodariam”, disse o Padre João ao O SÃO PAULO. Ele lembrou, ainda, que cuidar dos doentes é uma missão deixada pelo próprio Jesus.

A IGREJA OS AMA

O Instituto de Infectologia Emílio Ribas, na região central da cidade, referência no tratamento de doenças infectocontagiosas, está com os leitos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) 100% ocupados.

A Capelania Católica, apesar das restrições para atuação e do cancelamento de algumas atividades, continua na ativa, na assistência religiosa aos doentes.

“Temos consciência que pouco podemos fazer, mas o que podemos, fazemos com amor. A presença de Igreja junto aos hospitais neste momento é muito importante. O fato de o doente isolado saber que no hospital tem padre, que a Igreja está em oração por ele e por sua família, que a Igreja os ama, faz um bem enorme. Para os profissionais da saúde, essa presença é um porto seguro. É importante que eles saibam que não estão sozinhos nesta missão do cuidar e que que toda a Igreja está em oração por eles”, afirmou o Padre João Mildner.

HIGIENE E PREVENÇÃO

O Capelão do Emílio Ribas comentou que com a suspensão das visitas dos familiares ao instituto de infectologia, aumentou a demanda dos pacientes por itens de higiene. “Por isso, a Capelania, com o apoio do Santuário Nossa Senhora de Fátima, no Sumaré, está fornecendo dezenas de kits higiene pessoal para todos os pacientes. Estamos atentos também a outras necessidade”, comentou.

Também de acordo com o Sacerdote, todos estão atentos às recomendações do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado da Saúde para se proteger do vírus, pois, conforme afirmou, é preciso “cuidar de si para cuidar dos outros”.

OLHAR NOS OLHOS

O Padre José Wilson Correia da Silva, Coordenador da Pastoral da Saúde dos Hospitais Camilianos da Regional Sudeste, é o Capelão do Hospital Geral de Itapevi, na área de abrangência da Diocese de Osasco. Atualmente, porém, tem atuado no Hospital São Camilo, na Pompeia, onde há pacientes com a COVID-19.

“Devido aos equipamentos de proteção individual, os pacientes não nos enxergam muito bem, por isso, temos que estabelecer outros meios de contato. Não posso tocá-los, só quando é necessária a Unção dos Enfermos, mas com luvas. É difícil, pois nós estamos acostumados a olhar nos olhos, ver o rosto das pessoas. É um pouco constrangedor porque tira um pouco nossa espontaneidade, mas eles acabam nos reconhecendo pela voz”, relatou o Padre José Wilson.

O Sacerdote comentou, ainda, que a missão dos camilianos é promover a saúde e assistir o doente, mesmo com risco para a própria vida. São Camilo de Lellis é um exemplo de entrega em favor dos enfermos. Após ter passado por um processo de conversão, criou a Ordem dos Ministros dos Enfermos (Camilianos). Morto em 14 de julho de 1614, ele foi canonizado em 1746, tornando-se padroeiro dos enfermos.

AUXÍLIO A PACIENTES E MÉDICOS

Padre José Wilson ressaltou que no início as visitas religiosas foram suspensas, mas os próprios profissionais de saúde solicitaram que retornassem, pois os pacientes não recebem visitas dos familiares: “Depois dos profissionais da saúde, a única pessoa com quem o doente tem contato presencial é o sacerdote capelão, pois nem os agentes de pastoral estão podendo fazer visitas”.

O Sacerdote também destaca o papel da interação que é feita com médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e todos que estão assistindo diretamente os doentes. “Houve um grande envolvimento e colaboração entre nós. Nossa missão é se aproximar mais desses profissionais e dar um pouco mais de assistência, pois eles também sofrem”, afirmou, comentando, ainda, que muitos profissionais da saúde não estão voltando para casa por causa do medo de contagiar algum familiar.

Comente

"Seguir o exemplo do Bom Samaritano para socorrer os doentes"

Por
10 de janeiro de 2019

“A Igreja lembra que o caminho mais credível de evangelização são gestos de dom gratuito como os do Bom Samaritano. O cuidado dos doentes precisa de profissionalismo e ternura, de gestos gratuitos, imediatos e simples, como uma carícia, com os quais fazemos o outro sentir que nos é querido”. Essas são as palavras iniciais do Papa Francisco na Mensagem para o XXVII Dia Mundial do Doente, que será celebrado de modo solene em Calcutá, na Índia, no dia 11 de fevereiro.

Como a Índia foi o país escolhido para a celebração, o Papa fez questão de lembrar na mensagem a figura da Santa Madre Teresa de Calcutá, “um modelo de caridade que tornou visível o amor de Deus pelos pobres e os doentes. A Santa Madre Teresa ajuda-nos a compreender que o único critério de ação deve ser o amor gratuito para com todos, sem distinção de língua, cultura, etnia ou religião. O seu exemplo continua a guiar-nos na abertura de horizontes de alegria e esperança para a humanidade necessitada de compreensão e ternura, especialmente para as pessoas que sofrem”.

Guiado pelo exemplo de Madre Teresa, Francisco falou sobre a importância do voluntariado para socorrer os enfermos e necessitados. “A gratuidade humana é o fermento da ação dos voluntários, que têm tanta importância no setor socio-sanitário e que vivem de modo eloquente a espiritualidade do Bom Samaritano. Agradeço e encorajo todas as associações de voluntariado que se ocupam do transporte e assistência dos doentes, aquelas que providenciam as doações de sangue, tecidos e órgãos”.

O Papa também pede atenção às instituições de saúde católicas sobre a missão desse tipo de entidade, que corre o risco de se desvirtuar por causa de ganhos financeiros. “As instituições sanitárias católicas não deveriam cair no estilo empresarial, mas salvaguardar mais o cuidado da pessoa que o lucro. Sabemos que a saúde é relacional, depende da interação com os outros e precisa de confiança, amizade e solidariedade; é um bem que só se pode gozar «plenamente», se for partilhado. A alegria do dom gratuito é o indicador de saúde do cristão”.

 

Comente

Cardeal Scherer: ‘É nosso dever visitar e estar próximos dos enfermos’

Por
20 de dezembro de 2018

Na segunda-feira, 17, um dos corredores do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, transformou-se em uma igreja. Pacientes, profissionais e voluntários se reuniram para a missa presidida todos os anos pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, por ocasião do Natal, no maior hospital do País de referência no atendimento a pacientes com doenças infecciosas, principalmente HIV/Aids. 

Na saudação inicial, Dom Odilo manifestou alegria por celebrar novamente no Instituto de Infectologia, rezando por toda a comunidade hospitalar, especialmente por aqueles que irão passar o Natal internados ou trabalhando e, assim, não poderão estar com seus familiares. “Sabemos que todo mundo gostaria de passar o Natal em casa, mas nem sempre é possível. Então, este momento, esta missa, quer dar justamente esta certeza: que nós estamos com vocês”, afirmou. 

O Arcebispo agradeceu aos padres e voluntários da capelania. “É um grande trabalho que, além de, naturalmente, exigir de todos o melhor de sua capacidade humana e competência profissional, também requer um grande amor, uma grande capacidade para estar junto com as pessoas. O trabalho nos hospitais requer um grande coração e, por isso, Jesus classificou o cuidado aos doentes como uma grande obra de misericórdia e de amor”, ressaltou, recordando que o próprio Cristo sempre teve seu coração voltado aos doentes. 

Hoje, 10 mil pacientes com doenças crônicas fazem acompanhamento médico no ambulatório do Emílio Ribas. Cerca de 70% dos pacientes internados têm complicações em decorrência da Aids (síndrome desenvolvida pela baixa imunidade causada pelo HIV). Também têm crescido, no entanto, os casos de vítimas de doenças como hepatite e tuberculose.
 

A CAPELANIA

A Capelania Católica do Instituto de Infectologia Emílio Ribas foi instituída em 1994 para atender os pacientes em um período em que a epidemia de Aids era alta e causava muitas mortes. “Era uma época que chegávamos a ter 18 óbitos por dia em decorrência da Aids”, destacou o Capelão, Padre João Inácio Mildner.

Desde o início, a Capelania Católica do Emílio Ribas é pessoal, isto é, ligada diretamente ao Arcebispo Metropolitano, não pertencendo a nenhuma paróquia ou região episcopal. “Por isso, Dom Odilo, assim como os arcebispos anteriores, faz questão de celebrar o Natal e a Páscoa aqui”, informou o Capelão. 

Ainda segundo o Padre João, a Capelania é parte integrante da assistência oferecida ao paciente. “Trata-se de um grupo dentro da equipe multiprofissional do hospital”, enfatizou, destacando que é muito comum médicos de diferentes especialidades, enfermeiros e assistentes sociais chamarem a Capelania para dar assistência contínua a um paciente. 

“A assistência religiosa ajuda a promover o bem-estar e a paz a pacientes e profissionais. Tranquiliza-nos saber que alguém está cuidando da alma, da interioridade dos pacientes”, salientou o médico infectologista Jamal Suleiman, que trabalha no Emílio Ribas há 35 anos. 

 

DEVER DO CRISTÃO

Em entrevista ao O SÃO PAULO, o Cardeal Scherer afirmou que faz questão de visitar os hospitais para ter um contato direto e pessoal com os doentes. “Além do conforto que podemos levar às pessoas, quer os doentes, quer os que trabalham aqui, é nosso dever, em primeiro lugar, como padres e bispos, visitar os enfermos e estar próximos deles”, disse. Além da Páscoa e do Natal, o Arcebispo costuma ir a hospitais ao longo do ano, sobretudo para visitar sacerdotes doentes e outros fiéis, sempre que solicitado pelos familiares. 

Dom Odilo recordou, ainda, que antes de ser nomeado bispo, foi capelão em um hospital para pessoas idosas por três anos: “Essa foi uma experiência marcante na minha vida sacerdotal e na minha experiência humana. Nós aprendemos a ver as pessoas idosas e doentes com um novo olhar, a partir da proximidade delas, que ficam muito fragilizadas e sentem enorme necessidade da presença religiosa, da bênção e da certeza de que Deus está com elas”. 

Padre João ressaltou que sempre que visita um hospital, Dom Odilo vai “como um pastor ao encontro do rebanho que está sofrendo”.

“Mesmo tendo uma agenda cheia de trabalhos, ele dedica inteiramente o tempo que pode passar com os doentes, médicos e conosco, para nos dar forças”, disse, reforçando que considera essencial o apoio do Cardeal. “Ao longo desses anos, pudemos passar pelas epidemias da Aids, das gripes asiática e suína e do risco do vírus ebola, sempre com o apoio e presença do Arcebispo, que nos amparava na missão”, completou o Padre. 

Após a missa, os participantes da celebração e todos os doentes internados no Instituto de Infectologia foram presenteados pelo Cardeal com um panetone. 

 

(Colaboraram: Flavio Rogério Lopes e Jenniffer Silva)
 

LEIA TAMBÉM: O terceiro Instituto para pessoas com deficiência visual fundado no Brasil

Comente

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.