Campanhas alertam para riscos do consumo precoce de álcool e outras drogas

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05 de julho de 2019

Em todo o mundo, ao menos 35 milhões de pessoas sofrem de transtornos decorrentes do uso de entorpecentes, conforme dados do Relatório Mundial sobre Drogas, divulgado em 26 de junho, Dia Internacional de Combate às Drogas.
Os números são relativos a 2017, quando 271 milhões de pessoas entre 15 e 64 anos, o equivalente a 5,5% da população mundial, afirmaram ter usado drogas no ano anterior. 
No que se refere às bebidas alcoólicas, o consumo abusivo em 2016 colaborou para a morte de, ao menos, 3 milhões de pessoas, em decorrência de lesões por acidentes de trânsito, automutilação, violência interpessoal e doenças diversas, conforme descreve o Relatório Global sobre Álcool e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Brasil em alerta
O impacto do consumo de drogas por adolescentes e jovens motivou o Governo Federal a lançar, em 25 de junho, a campanha “Drogas, diga não” (cidadania.gov.br/drogasdiganao). 
Em diferentes mídias, estão sendo veiculadas peças publicitárias que alertam a respeito dos malefícios causados pelos entorpecentes. A ideia central transmitida aos adolescentes e jovens é que “não há nenhuma vantagem em perder o seu direito de fazer escolhas e ficar refém das drogas. Afinal, escolher usar drogas é abrir mão de tudo o que você deseja e perder o controle da sua própria vida”.
A campanha é coordenada pelo Ministério da Cidadania. No lançamento da iniciativa, o ministro Osmar Terra, titular da pasta, comentou que “a epidemia de drogas vem acompanhada de uma epidemia de violência. Estamos em uma situação grave, violenta, e em que o caminho que temos para enfrentar isso, além da repressão da violência, é fazer com que diminua o consumo de drogas e a quantidade de drogas na rua para a nossa juventude”. 

Em São Paulo
Também no último mês, em São Paulo, as Secretarias de Educação e de Justiça e Cidadania lançaram a campanha “São Paulo contra as drogas”, voltada à conscientização dos estudantes do Ensino Médio sobre os riscos do consumo do álcool e de outros entorpecentes. 
“O que queremos deixar como mensagem é que o jovem precisa fazer escolhas certas. Como agentes públicos de transformação, precisamos mostrar aos estudantes que é preciso focar em coisas boas, ter esperança para transformar o País, porque nosso futuro depende deles”, ressaltou o secretário da Justiça e Cidadania, Paulo Dimas Mascaretti. 
No Estado, existe desde 1993 o Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), que trabalha com a prevenção do uso de drogas entre alunos do Ensino Fundamental nas redes pública e particular de ensino.

Na Capital Paulista
Também a Prefeitura de São Paulo lançou no dia 26 a campanha “Quanto mais cedo, pior” (prefeitura.sp.gov.br/quantomaiscedopior), que alerta especialmente os adolescentes e seus pais sobre os efeitos negativos do consumo de álcool em idade precoce. 
“A bebida pode provocar muitas doenças. Algumas só existem por causa do abuso. É o caso da psicose alcoólica – quando beber causa delírios e alucinações –, da cirrose hepática alcoólica e da dependência química de álcool. É esta última que chamamos de alcoolismo. Se a pessoa sente com frequência forte desejo de beber, não consegue parar, deixa de fazer outras coisas para continuar bebendo, precisa beber cada vez mais e chega a tremer e suar quando fica algum tempo sem a bebida, há grande chance de ela já ter ficado dependente”, consta em um dos conteúdos da campanha. 

Cada vez mais adolescentes usam drogas
Apesar de, no Brasil, a lei federal 13.106/2015 proibir a venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos, não é difícil para um adolescente ter acesso a elas. 
De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE), publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2015, as festas são as ocasiões em que 43,8% conseguem bebidas alcoólicas. Outras formas de obtenção nessa idade precoce são com os amigos (17,8%), em postos de venda (14,4%) ou com algum familiar (9,4%). 
Entre os que responderam à PeNSE 2015, a idade média do primeiro consumo de álcool foi de 12,5 anos. Dos estudantes com idade entre 13 e 15 anos, 55,5% disseram já ter experimentado bebidas alcoólicas, sendo isso mais comum entre os alunos de escolas públicas (56,2%) do que de escolas privadas (51,2%). 
Na PeNSE anterior, em 2012, 50,3% dos estudantes declararam já ter experimentado álcool. Também houve aumento na proporção dos que experimentaram drogas ilícitas, saltando de 7,3% dos entrevistados (230,2 mil pessoas) para 9% (236,8 mil). 

Uma escolha danosa
Desde 2004, o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa) realiza estudos e compila informações sobre o consumo de bebidas alcoólicas e os impactos sobre a saúde.
A instituição informou ao O SÃO PAULO que, no Brasil, estima-se que 26,8% das pessoas entre 15 e 19 anos consumam álcool, índice um pouco maior que o registrado mundialmente em 2018 pela OMS, 26,5%. 
“O consumo de álcool por menores de 18 anos é considerado inaceitável, pois seu Sistema Nervoso Central (SNC) ainda está em desenvolvimento e suas vias neuronais se encontram suscetíveis aos efeitos do álcool. Isso pode levar ao comprometimento de várias funções e a consequências negativas de curto prazo, como queda no rendimento escolar, gravidez precoce e indesejada, violência e acidentes. Também pode causar 
prejuízos de longo prazo e afetar funções cognitivas e habilidades socioemocionais”, informou o Cisa à reportagem. 
“Quanto mais precoce o início do beber, mais cedo a pessoa poderá ter problemas com o álcool: estudos apontam que a experimentação antes dos 15 anos aumenta em quatro vezes o risco de desenvolver dependência. Além disso, o uso de álcool na adolescência é associado ao maior consumo e abuso de outras drogas e a mais comportamentos impulsivos na vida adulta”, complementou o Cisa. 

Apoios indispensáveis
A publicação “Álcool e a Saúde dos Brasileiros – Panorama 2019”, disponível em cisa.org.br, reúne dados sobre o consumo de álcool no Brasil e também aponta caminhos para a redução do uso nocivo de bebidas alcoólicas.
Ao falar sobre prevenção e redução do uso do álcool na adolescência, indica-se que atividades educativas com foco na prevenção ao uso de álcool na escola, na família e na comunidade “são fundamentais para que os jovens façam escolhas saudáveis e reflitam sobre as implicações de suas decisões ao longo da vida. Estudos indicam que alguns dos fatores de proteção ao uso de álcool são diretamente relacionados ao ambiente familiar, como: residir com os pais, compartilhar refeições com os pais ou responsáveis na maioria dos dias da semana, e o conhecimento, por parte dos pais, do que os adolescentes fazem em seu tempo livre”.
Ainda de acordo com a publicação, “é notável que os pais e responsáveis têm papéis extremamente relevantes, tanto para estabelecer limites quanto para dar apoio, conversar e esclarecer dúvidas, gerando uma relação de confiança mútua. Lembrando, ainda, que os pais devem estar sempre atentos às suas atitudes, já que são os exemplos mais importantes para seus filhos”. 
 

(Com informações do Cisa, Agência Brasil, ONU, IBGE, Ministério da Cidadania, Governo de São Paulo e Prefeitura de São Paulo)

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Sacerdote trabalha para reabilitar dependentes de drogas

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29 de agosto de 2018

O Padre Luciano Airel Felloni, missionário argentino que vive nas Filipinas há vinte anos, começou na sua paróquia um programa de reabilitação de dependentes de drogas para ajudá-los a se livrar do vício e viver uma vida digna e cheia de sentido. 

O presidente Rodrigo Duterte tem conduzido, desde sua eleição em 2016, uma grande campanha contra as drogas, utilizando não apenas os meios legais e oficiais, mas também “esquadrões da morte” que executam extrajudicialmente suspeitos de tráfico e viciados. Em resposta, a Igreja procura propôr uma alternativa mais conforme à dignidade das pessoas, sobretudo dos dependentes da droga: “Nós nos perguntamos o que poderíamos fazer, com nossos poucos recursos, para ajudar a campanha contra as drogas, mas trabalhando por um caminho correto, na defesa da dignidade de cada pessoa e da comunidade”, explicou o Padre Luciano à Agência Fides.

No começo, o projeto enfrentou a hostilidade da polícia e o ceticismo dos dependentes: ninguém tinha muita esperança de que fosse dar certo. Em menos de um ano, 40 pessoas já estavam inscritas, e a confiança no sucesso foi aumentando. A ideia é reabilitar, recuperar e reinserir os dependentes de drogas na sociedade.

Fonte: Fides
 

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A experiência de Nova York

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16 de junho de 2017

Locais que concentram usuários e traficantes de drogas são uma realidade em grandes cidades pelo mundo, não apenas em São Paulo. Em Bucareste, capital da Romênia, por exemplo, os becos para consumo de entorpecentes são os antigos túneis do sistema de aquecimento da cidade e as estações de tratamento de esgoto desativadas.

Nos anos 1980, Nova York, nos Estados Unidos, também passou a enfrentar problemas com o tráfico e consumo de crack, que a partir dos bairros periféricos, como o Bronx, se espalhou para os prédios abandona- dos e ruas de Manhattan, o mais antigo distrito daquela cidade.

Inicialmente, houve o reforço do efetivo policial para dispersar os usuários das ruas e prender traficantes. Contudo, tais medidas se mostraram ineficientes diante do surgimento das “crack houses”, prédios onde aconteciam o comércio e consumo de crack. Posteriormente, o foco foi o combate às organizações criminosas nos bairros, com policiais infiltrados entre os usuários para comprar drogas e identificar os traficantes. Houve, também, com o auxílio dos moradores, o monitoramento policial das regiões com maior incidência de usuários. Além disso, adotou-se maior rigor na aplicação de penas para quem fosse flagrado com drogas, como parte de uma política de tolerância zero com qualquer tipo de ilícito, como pichações, por exemplo, medida polêmica, que angariou críticos e adeptos.

O passo seguinte, já na segunda metade dos anos 1990, foi a instituição dos “drugs courts”, tribunais voltados a atender casos envolvendo usuários de drogas, com membros jurídicos, especialistas em serviço social e saúde mental. Às pessoas flagradas com uma pequena quantidade de drogas, era dada a possibilidade de frequentar um programa de internação voluntária para se tratar. Em troca, tinham sua sentença reduzida e, em alguns casos, até a ficha criminal era cancelada, caso não tivessem cometi- do delitos graves.

Hoje, locais como o Bryan Park, antigo reduto do comércio e consumo de drogas a partir dos anos 1970, são total- mente seguros à visitação pública.

 

Leia também as matérias sobre os efeitos do Crack e o histórico da Cracolândia 

(Com informações da Veja, UOL e TV Globo)

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A Cracolândia só mudou de endereço

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13 de junho de 2017

Pouco mais de uma semana após a megaoperação policial na região conhecida como Cracolândia, no centro de São Paulo, realizada pela Prefeitura de São Paulo e o Governo Estadual no dia 21, o que se constata é que o fluxo de usuários de crack disperso da Alameda Dino Bueno apenas mudou de endereço e agora se concentra na Praça Princesa Isabel, a apenas três quadras do ponto anterior.

Na sexta-feira, 26, Dom Sergio de Deus Borges e Dom Devair Araujo da Fonseca, bispos auxiliares da Arquidiocese de São Paulo, acompanharam o trabalho dos membros do Vicariato Episcopal para o Povo da Rua, que levaram alimentos e água para os dependentes químicos concentrados na região.

“O que nós vimos ali são pessoas numa condição de vida deplorável”, afirmou Dom Devair, em entrevista ao programa “Construindo Cidadania”, da rádio 9 de Julho. O Bispo que já havia visitado a região em outra ocasião, afirmou que, desde então, a situação só piorou.

A reportagem do O SÃO PAULO constatou que, sem se intimidar com a presença da imprensa e dos agentes públicos e mesmo da Polícia que circunda o quarteirão, o tráfico e consumo da droga continua acontecendo. Muitos usuários montaram barracas no meio da Praça Princesa Isabel, formando um cenário semelhante ao fluxo disperso pela operação, agravado pela falta de água, de banheiros e o acúmulo de lixo e dejetos humanos na praça, que fica ao lado de um do mais movimentados terminais de ônibus da cidade.

A Prefeitura e o Governo do Estado não informaram um número oficial de dependentes químicos concentrados na Praça Princesa Isabel, mas os agentes públicos e voluntários que atuam no local estimam 400 pessoas durante o dia, e entre 800 e mil à noite (antes da operação, o número de usuários permanentes na Cracolândia era estimado em 1.500).

Dom Devair ressaltou que a Cracolândia não acabou, apenas mudou de endereço. “Se fizermos uma definição geográfica do que é a Cracolândia, aquele lugar não existe mais, porque está protegido pela força policial para que as pessoas não voltem para lá... Mas, houve um deslocamento das pessoas de um lugar para outro. O fato é que elas continuam lá nas mesmas condições”, disse o Bispo.

Atendimento

Nas ruas “limpadas” pela operação, os únicos usuários vistos são os que voluntariamente procuram as unidades dos programas Redenção, da Prefeitura, e Recomeço, do Governo do Estado, onde agentes de saúde e de assistência social prestam atendimento. Nesses casos, quando manifestam o desejo, os dependentes químicos são encaminhados para a internação em comunidades terapêuticas ou hospitais.

Na segunda-feira, 29, em um evento no Palácio dos Bandeirantes, o governador Geraldo Alckmin informou para a imprensa que, desde o dia 21, foram realizados 1.100 atendimentos, e que cerca de 10% dos atendidos foram encaminhados para a internação.

Uma agente da Secretaria de Saúde que não quis se identificar informou para a reportagem que nos primeiros dias após a operação, a aproximação aos usuários de crack era muito difícil, pelo fato de muitos estarem sob o efeito da abstinência da droga ou assustados com a presença da polícia.

Internação compulsória

No final da sexta-feira, a Prefeitura de São Paulo havia conseguido autorização judicial para abordar usuários de drogas e conduzi-los compulsoriamente para uma avaliação médica. Porém, no domingo, 28, a pedido do Ministério Público de São Paulo (MP) e da Defensoria Pública, o Desembargador Reinaldo Miluzzi, do Tribunal de Justiça de São Paulo, derrubou a autorização. A Prefeitura informou que vai recorrer da decisão.

A Prefeitura chegou a instalar, no fim de semana, uma tenda na esquina da rua Helvetia com a alameda Cleveland, que seria usada como um centro de triagem para as internações compulsórias. Mas, como com a suspensão da liminar, a estrutura está sendo usada para atender os dependentes que procurarem ajuda.

Inserção da Igreja

Em meio ao clima de desconfiança dos usuários, a Igreja é uma das poucas instituições que consegue manter um vínculo com os dependentes químicos.

Missionários das fraternidades O Caminho, Voz dos Pobres, Missão Belém, Aliança de Misericórdia e agentes da Pastoral do Povo da Rua atuam há muitos anos na região, abordando os dependentes químicos e oferecendo ajuda.

“Nós nos aproximamos, conversamos com eles e, aqueles que nos pedem ajuda, nós encaminhamos para nossas casas”, relatou Frei Tarcísio da Santíssima Virgem Maria, da Fraternidade O Caminho, que atua na Cracolândia desde 2013. “Nós acreditamos muito que é preciso estabelecer vínculos com eles. Foram necessárias várias vindas e conversas para que muitos dos irmãos que estão em tratamento se decidissem a sair daqui conosco”.

Padre Gilson Frank dos Reis, da Missão Belém, informou para O SÃO PAULO que, nos primeiros dias após a operação policial, o número de usuários que procuraram as casas da comunidade aumentou significativamente. Mas, com a concentração do fluxo na Praça Princesa Isabel e a volta da oferta de crack, a procura voltou ao número anterior. “Por semana, passam na nossa casa por volta de 90 a 120 pessoas”, informou o Padre.

O Tráfico continua

A reportagem, enquanto acompanhava os bispos e agentes de pastoral, foi abordada por uma espécie de líder do grupo que, segurando um cachimbo de crack, pediu para que todos se afastassem e os deixassem fazer “a correria”, isto é, comercializar e vender a droga, “em paz”.

Frei Tarcísio alertou que os usuários muitas vezes são usados como escudo por parte dos traficantes, para impedir o acesso da Polícia. “Já ouvi relatos de que o próprio traficante oferece drogas para as pessoas, para que possam enfrentar a força pública num primeiro momento”.

Segurança Pública

Em nota enviada ao O SÃO PAULO a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que desde a megaoperação o policiamento na região continua reforçado com equipes das polícias Civil e Militar. A nota também cita que no dia 21 foram presas 53 pessoas e apreendidos 12,3kg de crack, 6,5kg de maconha, 655 gramas de cocaína, 6 gramas de haxixe, 18 gramas de ecstasy, dois micro-pontos de LSD, 2kg de lança-perfume, além de R$ 49.611,35, dois revólveres e três pistolas.

“A PM também continua atuando na região com 212 policiais, sendo 92 da Caep (Companhia de Ações Especiais de Polícia) e do Choque – Cavalaria e Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas (Rocam), além dos 120 PMs que já atuam regularmente na área. A Polícia continua prestando apoio às equipes de saúde e assistência social, que providenciam o acolhimento dos usuários”, diz a nota.

A Secretaria, no entanto, não informou o que está sendo feito para coibir o fluxo de usuários e de tráfico de drogas constatado na Praça Princesa Isabel.

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