‘Mudar o coração, transformar o mundo’

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29 de junho de 2019

Deus quer nossa amizade. Essa afirmação parece idealista e sobrenatural? Para estar em contato com Deus, você precisa sair do contato com o tumulto da vida cotidiana? Casas de retiro geralmente estão localizadas em áreas distantes dos grandes centros urbanos e em amplos terrenos gramados, cercadas por um silêncio constante para que você possa rezar sem ser incomodado. Nesses lugares, perto do fim de um retiro, os pregadores costumam falar em retornar ao “mundo real” e parecem arrependidos por isso. A proximidade de Deus parece exigir distância do mundo.


Grande parte do ensino religioso de um cristão convida a separar a religião da vida cotidiana. O céu é frequentemente apresentado como um lugar para onde vamos quando morrermos, e é contrastado com este mundo sombrio e dominado pelo mal. Para muitos, a paróquia, no domingo, torna-se um refúgio da vida real, ao qual são forçados a retornar na segunda-feira. Durante séculos, a vida religiosa foi apresentada como uma retirada do mundo para uma vocação mais elevada; dessa forma, casar, criar uma família e trabalhar em um emprego “regular” parecia estar em um degrau inferior na hierarquia dos valores religiosos. As pessoas chegaram facilmente à conclusão de que, de certa forma, Deus e o mundo estavam em oposição.


Além disso, nos dias atuais, muitos dos que têm atividades diversas no mundo olham com desconfiança – e até mesmo desdém – para as pessoas religiosas que tentam dar conselhos morais ou políticos. “Seus conselhos são bons, mas no mundo real não vão funcionar.

Vocês se apegam às suas orações e deixam a política e os negócios ásperos demais para nós, pessoas práticas.” A proximidade com Deus realmente significa que devemos manter distância da vida não religiosa?


Cultivar a amizade com Deus é o ponto de partida para uma viagem espiritual. Como, no entanto, conciliar essa importante relação interior, que pode servir de inspiração para influenciar – e até mesmo transformar – o mundo ao nosso redor? 


Em sua obra “Mudar o coração, transformar o mundo”, William A. Barry, sacerdote jesuíta, aborda como a amizade com Deus influencia nosso papel na sociedade, como considerar o perdão um modo de vida e de que modo a compaixão pode triunfar no mundo. Nessas páginas, o autor apresenta muitas maneiras práticas de integrar a vida interior – em que experimentamos uma relação com Deus – com a vida exterior – em que vivemos uma relação com o mundo.


Partindo do princípio de que Deus quer um mundo no qual os seres humanos trabalhem juntos em harmonia e amizade consigo, uns com os outros e com toda a criação, Padre Barry lembra que nossa condição de filhos de Deus, criados à sua imagem e semelhança, faz com que sejamos solicitados a ajudá-Lo a realizar o sonho para sua criação aqui e agora, sonho este que só se realiza quando nos tornarmos “outros Cristos neste mundo”.  

Ficha Técnica
Autor: William A. Barry, SJ
Páginas: 152
Editora: Loyola

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‘O combate espiritual’

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26 de junho de 2019


Quando uma obra é tomada como referência na vida cotidiana daqueles que foram proclamados santos pela Igreja, seguramente ela pode ser de grande valia para quem busca viver uma vida ascética nos dias atuais. Este é o caso de “O combate espiritual”, de autoria do Padre Lorenzo Scupoli, livro muito utilizado por São Francisco de Sales e guia de São João Bosco, que muito recomendavam a leitura dessa clássica obra de espiritualidade.   
Destinado a quem busca a santidade, trata-se de um manual prático para a vida. Ensina que o sentido da vida cristã é o de uma incessante luta contra o egoísmo, de forma a substituí-lo pelo sacrifício e pela caridade. Segundo o autor, não bastam os exercícios de piedade como oração, missas, penitência, comunhões, entre outros, que, embora necessários, são apenas meios para se atingir a perfeição cristã. Ele mostra que a santidade consiste no conhecimento da bondade e grandeza de Deus diante da renúncia de nossa vontade (“Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me” – Lc 9,23), do total abandono à providência, do fazer tudo pela glória de Deus e pelo puro desejo de agradá-lo.  
Quem aspira à perfeição da santidade deve agir com violência contra si mesmo. O autor garante, porém, que sendo esta batalha a mais difícil de todas (uma vez que nós mesmos somos combatidos em nosso âmbito interior), também a vitória é a mais agradável a Deus e a mais gloriosa ao vencedor. 
O trabalho do Padre Scupoli analisa diversas situações comuns e aconselha como lidar com elas, preservando, por um lado, a consciência pura e estimulando, por outro, a vivência das virtudes. Enfatiza, também, na ilimitada bondade de Deus, qual é a causa de todo o bem, em contrapartida àquilo que é mal, originário do próprio ser humano.   

O AUTOR
Lorenzo Scupoli foi um religioso e escritor italiano que viveu no século XVI (1530-1610), pertenceu à Ordem dos Clérigos Regulares Teatinos e foi discípulo de Santo André Avelino. Ordenado sacerdote em 1577, aos 47 anos, exerceu o seu ministério sacerdotal em Veneza, Milão e Roma, dentre outras cidades da Itália. Em 1585, foi acusado injustamente de ter violado as regras de sua ordem religiosa. Ficou um ano preso e, depois de solto, foi-lhe vedado o exercício do sacerdócio e obrigado a exercer trabalhos braçais e domésticos no convento em que residia. A tudo suportou com mansidão e humildade como oferecimento a Deus. A sua absolvição veio em 1610, próximo de sua morte. A primeira edição de “O combate espiritual” é de 1589, e, por ocasião da morte do autor, a obra já havia sido traduzida em diversos idiomas e reimpressa várias vezes.

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