Crescimento da dengue em São Paulo deixa a saúde pública em alerta

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11 de fevereiro de 2020

A cidade de São Paulo registrou um aumento de mais de 2.000% no número de casos de dengue em apenas um ano, de acordo com o levantamento divulgado no mês de janeiro pela Secretaria Municipal de Saúde. Nesta entrevista, o professor Carlos Magno Fortaleza, infectologista da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), campus de Botucatu (SP), explica o significado do crescimento do contágio da doença e esclarece como identificá-la e preveni-la. 

O SÃO PAULOCOMO O SENHOR ANALISA ESTES NÚMEROS TÃO EXPRESSIVOS? 
Carlos Magno Fortaleza – Para entendermos o que aconteceu com a dengue, é preciso uma série temporal maior, ou seja, verificar o que ocorreu em vários anos anteriores. O que houve é que, por volta do período entre 2007 e 2015, tivemos a circulação do vírus da dengue do tipo 1. Ocorre que, com o tempo, boa parte da população de São Paulo ficou imunizada contra esse tipo de vírus. Portanto, os anos de 2017 e 2018 foram bastante tranquilos. Em 2019, tivemos a entrada do vírus do tipo 2, que circulou com muito mais força, de modo que, neste verão 2019-2020, é esperado que tenhamos mais casos do que no verão 2017-2018. 

O SENHOR PODE DETALHAR QUAIS SÃO OS TIPOS DE DENGUE? 
Temos quatro tipos de vírus de dengue circulante. Todas as pessoas podem ter cada um deles uma vez, o que significa que podem adquirir a doença mais de uma vez. Quando alguém já teve dengue no passado e contrai um novo tipo, tende a apresentar um quadro mais grave. Por isso, este ano, são esperados mais casos que requeiram hospitalização. Há necessidade de um cuidado maior, já que estamos falando da dengue do tipo 2 circulando em uma população altamente exposta a outros tipos da doença, como foi com os tipos 3 e 1 nas décadas passadas. 

ISSO PODE OCASIONAR UMA EPIDEMIA MAIS GRAVE? 
Certamente. São Paulo é uma cidade à qual a dengue chegou muito recentemente. Se compararmos a capital com o oeste do estado, com a região litorânea ou mesmo com a Grande Campinas, por exemplo, perceberemos que a dengue só começou a afetar fortemente São Paulo nos últimos cinco anos. Tivemos enormes epidemias com a dengue do tipo 1 e, se essas pessoas forem infectadas com o vírus do tipo 2, poderão apresentar quadros mais graves. Portanto, de fato, é uma situação para deixar a saúde pública em alerta. 

COMO REALIZAR O CONTROLE URBANO DA DOENÇA? 
Esse é um enorme desafio. Eu estive à frente do controle de dengue no estado de São Paulo, de 2005 a 2007, e percebemos que, além da ação do poder público, enviando agentes de controle de vetores, há necessidade de que cada cidadão se conscientize e elimine os criadouros dos mosquitos transmissores da doença. Há, ainda, a necessidade de que continuemos a realizar pesquisas para identificar uma vacina eficaz contra o vírus da dengue. Já existe uma disponível, mas ela tem alguns problemas relacionados à segurança. Também há medidas de controle ecológico. Por exemplo, foi identificada recentemente uma bactéria que infecta o mosquito transmissor; ou o uso de mosquitos transgênicos que se acasalam com as fêmeas e produzem ovos inférteis. São ações que ainda são muito complexas, mas que apontam no futuro para um controle mais ecológico da dengue, que nos deixa com alguma esperança. É muito difícil em uma cidade tão caoticamente urbanizada como São Paulo eliminar todos os criadouros do mosquito da dengue. Se cada pessoa, na sua residência, no entanto, fizer a sua parte, certamente a transmissão da dengue será menor. 

COMO FUNCIONA E QUAL É A EFETIVIDADE DA MEDIDA DE SOLTAR MOSQUITOS COM ESSA BACTÉRIA QUE INFECTA OS DEMAIS? 
A efetividade real ainda precisa ser comprovada, já que todos os testes foram feitos em locais específicos, em situações muito controladas. Essa bactéria se chama Wolbachia, não causa dano algum ao ser humano, infecta o mosquito e pode ser transmitida para suas crias, de modo que já nascem infectados. Sabe-se que os mosquitos infectados por essa bactéria têm dificuldade para transmitir os vírus da dengue, zika e chikungunya. Portanto, a liberação na natureza de mosquitos infectados por essa bactéria é uma das soluções possíveis para a redução, no futuro, não só da dengue como das outras doenças transmitidas pelo mosquito 
Aedes aegypti. 

POR QUE A TRANSMISSÃO DO VÍRUS DA DENGUE É MAIOR DO QUE AS OUTRAS CHAMADAS ARBOVIROSES (ZIKA, CHIKUNGUNYA E FEBRE AMARELA)? 
Temos duas razões para isso. A primeira é que existem quatro tipos de vírus da dengue e desses outros citados só existe um tipo de cada; logo, as pessoas os contraem apenas uma vez. A outra razão tem a ver com competência vetorial. Especificamente, é bastante claro: o mosquito é um transmissor muito mais competente da dengue do que da febre amarela, o que é muito bom, porque não temos tido casos urbanos de febre amarela transmitidos pelo Aedes aegypti identificados no Brasil. Os casos que temos são silvestres, transmitidos por outros mosquitos. Quanto ao zika e o chikungunya, são necessários novos estudos, mas, aparentemente, também a competência do mosquito na transmissão da dengue pode ser maior. 

MUITAS PESSOAS DEMORAM PARA IDENTIFICAR OS SINTOMAS DA DENGUE POR SE ASSEMELHAREM A UMA GRIPE. QUAIS SERIAM OS SINAIS MAIS PRÓPRIOS DESSA DOENÇA? 
Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que a dengue não costuma apresentar sintomas respiratórios. Ao contrário de doenças como sarampo, ela não deixa a pessoa com o nariz congestionado, com tosse etc. A dengue é principalmente caracterizada por dor no corpo, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, seguidas do aparecimento de manchas no corpo após alguns dias. Os quadros mais graves são aqueles em que a pessoa tem uma queda súbita da pressão arterial. Geralmente, os vasos sanguíneos se tornam mais 
permeáveis, e a parte líquida do sangue extravasa para os tecidos. Por isso, a pressão cai e o corpo não consegue levar o sangue, o oxigênio, tudo o que é necessário para os órgãos vitais. Esse quadro pode se agravar e levar até a morte. Então, por isso, o tratamento da dengue está baseado em identificar os “sinais de alarme” que indicam que a pessoa vai evoluir para essa gravidade, que são: quando a pessoa está com alteração mental, muito sonolenta, em coma, e apresenta convulsão; tem vômitos que não param; a pressão muito baixa ou, de repente, quando muda de um quadro de febre para uma hipotermia. Todos esses sinais alertam o médico de que o infectado pode evoluir para o que chamamos de síndrome do choque da dengue – choque em termos médicos significa pressão muito baixa a ponto de comprometer a vida. Nesses casos, é necessária internação, muitas vezes, em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). 

QUAIS SÃO AS AÇÕES E AGENTES FUNDAMENTAIS PARA O CONTROLE DA DENGUE NA CIDADE? 
Em primeiro lugar, cada pessoa tem que ter a consciência de eliminar todos os criadouros de dengue da sua residência. Em segundo lugar, os agentes de controle de vetores são pessoas com formação para identificar criadouros onde, muitas vezes, o morador não consegue. Terceiro, o uso de repelentes pode ser um fator benéfico, embora seja apenas de proteção individual. E o quarto é que a ação deve ser comunitária. É importante voltar a ter aquele contato com a vizinhança para que todas as pessoas façam ações em conjunto. Não adianta eu tirar o criadouro da minha casa e meu vizinho não. O mosquito da dengue costuma ter em sua vida um raio de atividade de no máximo 200m a partir de onde ele nasceu. Se conseguirmos fazer um controle focal, certamente reduziremos muito o número de casos, de casos graves, internações e até de morte por dengue.

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Surto de Aedes aegypti pode afetar mais de 500 cidades neste verão

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18 de janeiro de 2019

Dados do Ministério da Saúde apontam que mais de 500 cidades no Brasil correm o risco de surto de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti (foto), como a dengue, zika, chikungunya e febre amarela. Outras 1.881 cidades estão em sinal de alerta.

Foram examinados 5.538 municípios brasileiros. O método adotado pelo Ministério da Saúde investiga a infestação desse inseto em diferentes regiões.

A região Centro-Oeste apresentou o maior número de casos suspeitos no ano passado: foram 93 mil. Em seguida, vêm as regiões Sudeste, com 68 mil casos; Nordeste, com 66 mil; Norte, com 16 mil; e Sul, com 2,9 mil casos.

O Ministério da Saúde também identificou os principais criadouros de cada região: no Nordeste, tonéis, barris e tinas são os principais locais para o desenvolvimento das larvas dos mosquitos. Já no Sudeste, predominam os criadouros em vasos, frascos com água, pratos e garrafas retornáveis. Nas regiões Centro-Oeste, Norte e Sul, os vilões em relação ao acúmulo de água são garrafas PET, latas e entulhos, objetos facilmente encontrados no lixo.

Fontes: TV Globo e Ministério da Saúde
 

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Países das Américas fecham acordo para prevenir doenças transmitidas por vetores

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01 de outubro de 2018

Autoridades de saúde da região das Américas concordaram na segunda-feira, 24, a implementar uma série de ações nos próximos cinco anos para controlar de forma mais efetiva os vetores que transmitem doenças como malária, dengue, zika e Chagas. O objetivo do plano é prevenir a ocorrência e reduzir a propagação desse tipo de enfermidades transmissíveis.

O plano de ação sobre entomologia e controle de vetores, apresentado ao 56º Conselho Diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que se reúne nesta semana em Washington (EUA), concentra-se na prevenção, vigilância e controle integrado dos vetores transmissores de arbovírus, malária e certas doenças infecciosas negligenciadas, por meio de intervenções eficazes, sustentáveis, de baixo custo e baseadas em evidências.

“As populações mais afetadas por doenças transmitidas por vetores são aquelas que vivem em condições de vulnerabilidade e distantes dos serviços de saúde. São essas populações que mais frequentemente sofrem consequências e danos para a saúde pela falta de medidas sanitárias e de controle de vetores”, disse a diretora da OPAS, Carissa F. Etienne.

“Essas são as populações onde a OPAS concentra seus esforços e onde é necessário que os governos e as comunidades tenham um papel ativo na prevenção e controle de vetores, para que juntos, possamos reduzir a carga dessas doenças infecciosas.”

As doenças infecciosas têm um impacto significativo na saúde pública na região das Américas e em todo o mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) indicou que doenças transmitidas por vetores, como a dengue, febre amarela, malária, esquistossomose, leishmaniose, doença de Chagas e peste, representam mais de 17% das doenças infecciosas no mundo, causando mais de 700 mil mortes por ano.

Desde 2010, alguns surtos importantes de dengue, chikungunya, febre amarela e vírus zika – bem como surtos locais de malária, leishmaniose, doença de Chagas, leptospirose e peste – tiraram vidas e prejudicaram os sistemas de saúde da região.

O Plano de Ação sobre Entomologia e Controle de Vetores (tradução livre de Plan of Action on Entomology and Vector Control) inclui cinco linhas de ação para os países, entre elas: fortalecer o trabalho multissetorial em vários programas e setores, a fim de aumentar os esforços colaborativos de prevenção e controle de vetores; engajar e mobilizar governos e comunidades locais, incluindo serviços de saúde; melhorar a vigilância dos vetores e a avaliação das medidas de controle, incluindo monitoramento e manejo da resistência aos inseticidas.

Outras ações incluem avaliar e incorporar abordagens comprovadas ou inovadoras para o controle de vetores e ampliá-las quando possível; fornecer capacitação contínua sobre entomologia e controle de vetores não apenas para especialistas, mas também para agentes de saúde pública.

A exposição das pessoas aos vetores e às doenças que eles transmitem ocorre em nível local e é frequentemente associada a fatores como faixa etária, sexo, etnia e profissão ou ocupação e desigualdade, entre outros. Nesse sentido, o plano de ação enfatiza a necessidade de que as autoridades nacionais de saúde e controle de vetores planejem e façam parcerias com organizações comunitárias locais para trabalhar de forma mais efetiva com as populações afetadas.

Em termos de ferramentas para o controle de vetores, o plano enfatiza que abordagens inovadoras, como mosquitos infectados por bactérias, geneticamente modificados ou novos inseticidas devem ser submetidos a uma avaliação cuidadosa em estudos-piloto antes de serem incorporados ao arsenal de manejo de vetores.

As doenças transmitidas por vetores são enfermidades infecciosas propagadas por organismos intermediários, que podem ser mosquitos, carrapatos ou roedores, que por sua vez as transmitem aos humanos. Eles são responsáveis por uma alta carga de doenças e mortalidade na região das Américas, especialmente em países e áreas onde fatores de risco sociais, econômicos e ecológicos foram documentados e onde a população vive em condições de vulnerabilidade. Contribuem para o absenteísmo escolar, aumento da pobreza, custos elevados de saúde e sistemas de saúde sobrecarregados, ao mesmo tempo em que reduz a produtividade econômica geral.

 

Sobre doenças transmitidas por vetores nas Américas

Estima-se que, atualmente, 145 milhões de pessoas em 21 países da região vivem em áreas de risco para a malária. Somente em 2017, cerca de 680 mil casos foram registrados. Ao menos oito países das Américas estão trabalhando para eliminar essa doença.

As epidemias de dengue ocorreram em ciclos de três a cinco anos nas Américas. Os casos aumentaram desde 2000; somente em 2017, mais de 483 mil casos e 253 mortes foram notificados.

Em 2017, houve mais de 180 mil casos de chikungunya, uma doença viral transmitida por mosquitos que atingiu a região no final de 2013.

O número cumulativo de casos suspeitos e confirmados de zika no período de 2015 a 4 de janeiro de 2018 foi de 583 mil e 223.477, respectivamente, com 20 mortes confirmadas e 3.720 casos de síndrome congênita do zika confirmados.

Quase 6 milhões de pessoas na região das Américas ainda sofrem os efeitos crônicos da doença de Chagas; isto é especialmente prevalente entre famílias cujas habitações estão desprotegidas e em más condições, e dentro de algumas comunidades indígenas.

A leishmaniose está aumentando, com cerca de 60 mil casos cutâneos e mucocutâneos e 4 mil casos viscerais da doença relatados anualmente.

Atualmente, a oncocercose é transmitida apenas na área habitada pelos povos Yanomami e ao longo da extensão do Brasil-Venezuela. A filariose linfática foi praticamente eliminada no Brasil e se limita a poucos focos na Guiana, no Haiti e na República Dominicana.

A transmissão ativa da esquistossomose é limitada a poucos focos no Brasil, Suriname e Venezuela.

O Conselho Diretor da OPAS reúne ministros da Saúde e delegados de alto nível dos países membros da Organização em Washington para debater e analisar políticas de saúde regionais e fixar prioridades de cooperação técnica e de colaboração entre países.

A OPAS trabalha com os países das Américas para melhorar a saúde e a qualidade de vida de sua população. Fundada em 1902, é a organização internacional de saúde pública mais antiga do mundo. Atua como oficina regional para as Américas da OMS e é a agência especializada em saúde do sistema interamericano.

 

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Marcador biológico facilita diagnóstico da dengue hemorrágica

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24 de setembro de 2018

Um estudo desenvolvido a partir da análise de milhares de moléculas levou pesquisadores à identificação de lipídios que podem indicar a evolução da dengue para sua forma mais grave, a hemorrágica. Segundo os cientistas, foi possível observar que o vírus ajuda a promover a adição de fosfato às proteínas do sangue, aumentando a quantidade de fosfotidilcolinas.

Esses lipídios agem contra a coagulação, e a presença excessiva deles acaba por desbalancear os processos que evitam as hemorragias.

O estudo foi desenvolvido pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Escola de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), revelou marcadores que facilitam o diagnóstico da dengue hemorrágica.

A investigação é resultado do doutorado do pesquisador Carlos Fernando Odir Rodrigues, sob orientação do professor Rodrigo Ramos Catharino, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp.

 

Reconhecimento internacional

Transformada em artigo publicado na revista Scientific Reports, a pesquisa descreve a evolução da dengue hemorrágica a partir da análise de 20 pacientes tratados no Hospital de Base da da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp).

De acordo com o estudo, o vírus assume o controle do metabolismo das células infectadas para atender às necessidades de replicação viral. Essa atuação gera aumento da fosfotidilcolina, que dificulta a coagulação do sangue e é um indicativo da febre hemorrágica.

Com essa constatação, os pesquisadores acreditam que, em breve, será possível identificar a ocorrência da forma mais grave da doença a partir de exames de sangue. A expectativa é que a descoberta também ajude no desenvolvimento de vacinas e no aperfeiçoamento dos tratamentos.

A partir do diagnóstico mais rápido e preciso, deve ainda aumentar a sobrevida dos pacientes, uma vez que o atendimento já poderá ser direcionado desde os estágios iniciais. A evolução para a variedade hemorrágica está ligada vários fatores, como a quantidade de vírus no organismo e a reação do sistema imunológico do doente.

 

Contaminação

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a dengue afete 390 milhões de pessoas por ano em todo o mundo. Em junho, o Levantamento Rápido de Índices de Infestação pelo Aedes aegypti (LIRAa), do Ministério da Saúde, apontou que 1,1 mil municípios brasileiros, 22% do total, tinham risco de surto de dengue, zika e chikungunya.

Nas capitais, apenas São Paulo, João Pessoa e Aracaju estavam em condições consideradas satisfatórias e tinham poucas chances de enfrentar esse tipo de problema.

Até julho, haviam sido confirmadas 77 mortes causadas pela dengue em todo o país. Ao todo, foram registrados 148 casos da doença considerados graves e 1,7 mil ocorrências com sinais de alarme.

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Quase 35% das cidades tiveram casos de doenças ligadas ao saneamento

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19 de setembro de 2018

Em 2017, 34,7% dos 5.570 municípios brasileiros relataram casos de endemia ou de epidemia de doenças relacionadas a condições deficientes de saneamento básico.

A dengue foi a doença mais citada, com registro em 1.501 cidades, ou 26,9% do total, seguida da diarreia, com 23,1%. Em terceiro lugar, aparecem as verminoses e a chikungunya, com registro em 17,2% municípios cada, e depois zika, citada por 14,6% das prefeituras. Os dados estão na Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic) 2017, divulgados hoje, 19, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados foram levantados de abril a setembro do ano passado e se referem aos 12 meses anteriores à data que o município respondeu ao questionário. A Munic investiga aspectos gerais da gestão pública municipal e quem responde a pesquisa é a prefeitura.

A proporção de municípios que declararam ter sofrido endemias ou epidemias de dengue, zika e chikungunya foi maior nas regiões Nordeste e Norte. No Norte do país, 38,9% dos municípios tiveram casos de dengue, 19,8% de zika e 20,2% de chikungunya. No Nordeste, os índices são de 43,2% com epidemia ou endemia de dengue, 29,6% de zika e 37,3% de chikungunya. A Região Sul tem os menores índices, com 6% das cidades registrando dengue, 1,7% zika e 1,8% chikungunya.

Já a febre amarela teve mais ocorrência no Sudeste, em 5,1% dos municípios da região. Em todo o país, a febre amarela ocorreu em 2,9% dos municípios em 2017.

As endemias são caracterizadas como doenças que aparecem constantemente em determinado local, enquanto as epidemias acometem um grande número de pessoas de uma região em curto espaço de tempo. Dengue, zika e chikungunya são transmitidas pela picada do mosquito Aedes aegypti, que se reproduz em água parada. Já as verminoses e a diarreia têm causas diversas, mas também estão associadas à ingestão ou contato com água e alimentos contaminados.

A gerente da Munic, Vânia Pacheco, alega que essas doenças podem ter outras causas, não necessariamente associadas à falta de saneamento básico.

“Dengue e diarreia foram as duas doenças mais mencionadas pelos municípios. Isso é falta de saneamento? Não necessariamente. Talvez seja falta de aprimorar um pouco mais os cuidados municipais, mas falta de saneamento não dá para dizer que é. Pode ser falta dos serviços que englobam o saneamento de uma maneira geral. Mas a gente tem que prestar atenção também que não é só a gestão pública municipal que tem que fazer o serviço, existe uma parte do cidadão também nessa história toda”, afirma, citando atenção do cidadão para não jogar lixo na rua ou deixar água acumulada.

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