Papa Francisco: ‘Nesta noite, conquistamos o direito fundamental à esperança’

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11 de abril de 2020

Cristo Ressuscitado é anúncio da esperança diante das dificuldades, afirmou o Papa Francisco na solene celebração da Vigília Pascal da Ressurreição do Senhor, realizada na noite deste sábado, 11 de abril, na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

Diferentemente de outros anos, a celebração aconteceu sem a presença de fiéis, seguindo as recomendações das autoridades sanitárias para se evitar a aglomeração de pessoas e a proliferação do novo coronavírus. Mas a missa foi acompanhada ao vivo pela internet, com mais de 10 mil acessos pelo site Vatican News, e também por tevês e rádios de inspiração católica em diferentes partes do mundo. 

Com a Basílica às escuras, o Papa realizou a bênção do fogo novo, e posteriormente foi aceso o Círio Pascal, previamente preparado. Este foi conduzido pelo diácono até o altar da Cátedra, e ele proclamou, por três vezes, “Eis a luz de Cristo, demos graças a Deus”. As luzes se acenderam e houve o anúncio da Páscoa da Ressurreição do Senhor.

A confiança das mulheres que foram ao sepulcro

Após a proclamação de leituras do Antigo e do Novo Testamento, entremeadas por salmos e orações,  houve a proclamação do Evangelho (Mt 28, 1-10). Ao iniciar a homilia, o Papa falou da proximidade dos sentimentos das mulheres que foram ao sepulcro com aqueles vividos pela humanidade atualmente.

“Como nós, elas tinham nos olhos o drama do sofrimento, duma tragédia inesperada, que se verificou demasiado rapidamente. Viram a morte e tinham a morte no coração. À amargura, juntou-se o medo: acabariam, também elas, como o Mestre? E depois os receios pelo futuro, carecido todo ele de ser reconstruído. A memória ferida, a esperança sufocada. Para elas, era a hora mais escura, como o é hoje para nós. Contudo, nesta situação, as mulheres não se deixam paralisar. Não cedem às forças obscuras da lamentação e da lamúria, não se fecham no pessimismo, nem fogem da realidade. Realizam algo simples e extraordinário: nas suas casas, preparam os perfumes para o corpo de Jesus. Não renunciam ao amor: na escuridão do coração, acendem a misericórdia. Nossa Senhora, no sábado – dia que Lhe será dedicado –, reza e espera. No desafio da tristeza, confia no Senhor”, afirmou o Pontífice.

Nasce o direito à esperança

O Pontífice recordou que as mulheres, já ao amanhecer, encontram o anjo que lhes anuncia que o Senhor Ressuscitou. “E depois encontram Jesus, o autor da esperança, que confirma o anúncio dizendo-lhes: ‘Não temais’ (28,10). Não tenhais medo, não temais: eis o anúncio de esperança para nós, hoje. Tais são as palavras que Deus nos repete na noite que estamos a atravessar. Nesta noite, conquistamos um direito fundamental, que não nos será tirado: o direito à esperança. É uma esperança nova, viva, que vem de Deus. Não é mero otimismo, não é uma palmada nas costas nem um encorajamento de circunstância. É um dom do Céu, que não podíamos obter por nós mesmos. Tudo correrá bem: repetimos com tenacidade nestas semanas, agarrando-nos à beleza da nossa humanidade e fazendo subir do coração palavras de encorajamento”, disse o Papa.

Cristo remove as rochas que fecham o coração

Francisco disse, ainda, que Cristo ressuscitou “para trazer vida onde havia morte, para começar uma história nova”, e que assim como derrubou a pedra da entrada do túmulo, “pode remover as rochas que fecham o coração. Por isso, não cedamos à resignação, não coloquemos uma pedra sobre a esperança. Podemos e devemos esperar, porque Deus é fiel. Não nos deixou sozinhos, visitou-nos: veio a cada uma das nossas situações, no sofrimento, na angústia, na morte”.

Coragem

O Papa enfatizou que “a escuridão e a morte não têm a última palavra”, por isso “Coragem! Com Deus, nada está perdido”. E continuou: “Se te sentes fraco e frágil no caminho, se cais, não tenhas medo; Deus estende-te a mão dizendo: ‘Coragem!’... Basta abrir o coração na oração, basta levantar um pouco aquela pedra colocada à boca do coração, para deixar entrar a luz de Jesus. Basta convidá-Lo: ‘Vinde, Jesus, aos meus medos e dizei também a mim: coragem!’”.

Francisco lembrou, ainda, que seja qual for a tristeza, Deus sempre acompanha a todos nos momentos sombrios. “sois certeza nas nossas incertezas, Palavra nos nossos silêncios e nada poderá jamais roubar-nos o amor que nutris por nós. Eis o anúncio pascal, anúncio de esperança”.

Ide e anunciai o Cristo

O momento da Ressurreição é também aquele em que o Senhor envia seus discípulos para a missão, para o anúncio da Boa Nova, e os acompanha, lembrou o Pontífice.  

“O Senhor precede-nos. É bom saber que caminha diante de nós, que visitou a nossa vida e a nossa morte para nos preceder na Galileia, isto é, no lugar que, para Ele e para os seus discípulos, lembrava a vida diária, a família, o trabalho. Jesus deseja que levemos a esperança lá, à vida de cada dia”, apontou, dizendo que sempre se deve lembrar que todos nasceram e renasceram deste chamado gratuito de amor. “Este é o ponto donde recomeçar sempre, sobretudo nas crises, nos tempos de provação”.

Proclamar a todos a esperança

Francisco disse, ainda, que o anúncio da esperança não deve ficar confinado nos templos, “mas ser levado a todos. Porque todos têm necessidade de ser encorajados e, se não o fizermos nós que tocamos com a mão ‘o Verbo da vida’ (1 Jo 1, 1), quem o fará?”,  afirmou, exaltando os cristãos que “consolam, que carregam os fardos dos outros, que encorajam: anunciadores de vida em tempo de morte!”.

Calar os gritos de morte

Na conclusão da homilia, o Papa exortou os cristãos a “calar os gritos de morte: basta de guerras! Pare a produção e o comércio das armas, porque é de pão que precisamos, não de metralhadoras. Cessem os abortos, que matam a vida inocente. Abram-se os corações daqueles que têm, para encher as mãos vazias de quem não dispõe do necessário”.

 “Hoje nós, peregrinos em busca de esperança, estreitamo-nos a Vós, Jesus ressuscitado. Voltamos as costas à morte e abrimos os corações para Vós, que sois a Vida”, concluiu.

Liturgia Batismal e bênção da água

Depois, houve a liturgia bastimal, apenas com a renovação das promessas do Batismo. Por causa da pandemia do novo coronavírus, não foram realizados batismos, como acontece tradicionalmente nesta celebração no Sábado Santo.

Pela mesma razão, foi suprimido da liturgia da celebração a bênção da água e as aspersão sobre os fiéis. Os demais ritos da liturgia desta celebrações foram seguidos como de costume.

Domingo da Páscoa da Ressurreição do Senhor

Amanhã, dia 12, às 6h (no horário de Brasília), o Papa presidirá a missa do Domingo da Páscoa da Ressurreição do Senhor, que poderá ser vista pelo site www.vaticannews.va e por algumas tevês e rádios de inspiração católica.

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O Cristo que nasce entre todos os povos

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22 de dezembro de 2018

Nesta época do ano, diante do presépio, com os olhos voltados à Sagrada Família, os cristãos em todo mundo celebram o nascimento de Cristo e podem dizer como o evangelista João: “Era esta a luz verdadeira que, vindo ao mundo, ilumina todas as pessoas” (Jo 1,9). 

Essa passagem bíblica inspira a realização da 29ª Exposição Franciscana de Presépios, que permanece até 6 de janeiro, com visitação gratuita, no Convento e Santuário São Francisco, no centro de São Paulo. 

O nascimento do Salvador é apresentado em 29 presépios e representações da Sagrada Família feitos na Alemanha, Chile, México, Espanha, Egito, Peru, Itália, Filipinas, Quênia e diferentes regiões do Brasil.

“São verdadeiras obras de arte que nos ajudam a refletir sobre o maior acontecimento da história da humanidade, o nascimento do Filho de Deus”, comentou o Frei Alvaci Mendes da Luz, Pároco e Reitor do Santuário, no lançamento da exposição, no dia 2.

 

ENTRE OS POBRES

A escolha dos presépios, bem como a ambientação dos nichos onde estão, busca ressaltar que Cristo nasce entre os mais pobres e na realidade de cada povo. 

“Até pelo espírito franciscano de privilegiar o mais pobre, o oprimido, o mais carente, procuramos trazer neste ano alguns elementos que remetam, ainda que sutilmente, ao cotidiano, às inúmeras manjedouras que a gente vê e que são ignoradas”, explicou, ao O SÃO PAULO , o artista plástico e ilustrador Rafael Herrera, que há três anos é o curador da exposição. “A própria história do Advento envolve Cristo na simplicidade. Ele foi adorado na simplicidade, não nasceu na opulência”, complementou.

 

A CRIATIVIDADE QUE SE CONECTA À FÉ

Herrera conduziu a reportagem em uma visita monitorada à exposição. A criatividade na ambientação dos presépios chama a atenção pela multiplicidade e arranjos dos materiais, assim como o ambiente que conecta o visitante ao mistério da fé, a partir de singelas diferenciações de luzes e sombras sobre as peças e a sonorização da Sala São Dâmaso, local da exposição, com o canto dos frades franciscanos. 

Madeira, cerâmica, gesso e barro são os principais materiais encontrados na composição das peças que representam a cena do nascimento de Cristo: o Menino, a Virgem Maria, São José, os Reis Magos, o Anjo e os animais.

O grande diferencial da exposição, porém, está no uso de materiais alternativos para a ambientação dos nichos e dos presépios: caixas de papelão, cupinzeiros, juta, pedrarias de aquários, pedra brita, caco de vidro, casca de alho, palha de arroz, capim seco, palha de milho, folhas secas, serragem, feno, casca de árvore, musgos, terra, papel kraft, esteira de palha, vaso de barro, xaxim, cesto de cipó, tijolos, telhas coloniais e até cobertores iguais aos usados por pessoas em situação de rua. 

“Todo o trabalho é feito para direcionar o espectador para o elemento central, Cristo. Tudo, por mais interessante e bonito que seja, é só moldura”, ressaltou Herrera. 

 

'VIMOS SUA ESTRELA NO QUÊNIA'

Quase a totalidade dos presépios é do próprio acervo da Província Franciscana. A exceção é um que retrata o nascimento de Cristo em um vilarejo do Quênia, no continente africano, cujas peças pertencem a Mario Festa, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP. 

Esse presépio está no maior nicho da exposição e ressalta o papel da mulher negra na sociedade, tanto que, em lugar dos três Reis Magos, estão as esculturas de três mulheres que ofertam presentes ao Menino, deitado no colo de sua mãe e observado por seu pai, todos negros. 

No presépio, também está representada a riqueza da fauna e da flora africanas, do ambiente árido e das tradições do diálogo em família, indicando a transmissão de valores de geração em geração. 

“As pessoas têm se identificado com este presépio, porque remete a coisas do dia a dia. Elas o receberam com muita simpatia e entenderam que é uma visão regional, africana, que difere de uma visão europeia ou do Oriente Médio para o nascimento de Cristo”, detalhou Herrera. 

 

TRADIÇÃO INICIADA POR SÃO FRANCISCO

No centro da sala da exposição, o visitante se depara com uma imagem de São Francisco de Assis (1182-1226) e um texto explicativo que remete às origens do presépio. 

Em 1223, em Greccio, na Itália, após ler um trecho do evangelho de Lucas sobre o nascimento de Cristo, o Santo decidiu representar esse fato e montou o primeiro presépio vivo. Com o decorrer dos séculos, a cena passou a ser montada em diferentes partes do mundo com imagens esculpidas em materiais diversos.

“São Francisco sempre quis viver radicalmente o Evangelho e desejava ver a encarnação sendo encenada. Três anos antes de morrer, pediu ajuda para montar essa representação, a fim de contemplar este Deus que se faz humilde, e que vem até nós na forma humana, na fragilidade de uma criança. Então, São Francisco convidou todos os frades a celebrar o Natal e toda a comunidade de Greccio a contemplar o presépio, onde nós não encontramos preconceito, mas sim um Deus que acolhe, que se mostra no outro, que se mostra na expressão cultural”, comentou o Frei Francisco Dalilson, que acompanha os visitantes ao longo da exposição no Convento e Santuário São Francisco. 

Na primeira semana de exposição, mais de 600 pessoas já haviam apreciado os presépios, e a estimativa é que o local receba cerca de 5 mil visitantes até 6 de janeiro. 

 

EXPERIÊNCIA DE FÉ

Quem entra na Sala São Dâmaso não sai de lá indiferente ao que vê. “Há quem se emocione a ponto de vir partilhar com a gente. Vir aqui é poder entrar no espírito de Natal e a cada dia esperar este Deus que vem até nós”, comentou o Frei Francisco. 

Aos que estão diretamente envolvidos na organização da exposição, esta também não é só mais uma atividade. “Às vezes, as pessoas entram na exposição com um aspecto meio cansado e saem sorridentes ou chorando, emotivas, pois retomam o contato com o divino e depositam nesse contato suas esperanças. Então, para mim, participar de tudo isso é uma redescoberta, um reforçar da fé, é entender que no Natal há uma importância queA vai além do estético, do decorativo”, concluiu Herrera. 

 

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O Cristo Pantocrator

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18 de janeiro de 2018

“A arte sacra é mistagógica, ou seja, retrata o mistério que na Igreja já foi revelado, o mistério da encarnação de Deus.” Assim Wilma Steagall De Tommaso descreveu sua experiência com a arte, que ela começou a pesquisar em sua dissertação de mestrado, concluída em 2005, na PUC-SP.

Cercada por obras de arte, ícones e uma obra de Cláudio Pastro, o Cristo Pantocrator que acolhe a todos os que entram em sua casa, Wilma falou sobre sua experiência de pesquisar e experimentar a fé católica por meio da arte, e sobre como nasceu o livro “O Cristo Pantocrator – Da origem às igrejas no Brasil, na obra de Cláudio Pastro”, lançado pela editora Paulus, em dezembro de 2017.

Ao ser perguntada sobre como começou seu interesse por arte sacra, Wilma contou que sempre foi muito curiosa e chegou a cursar Teologia quando seus filhos ainda eram pequenos. “Acabei não concluindo o curso, mas gostei muito e, assim que pude, comecei a pós-graduação em Ciências da Religião. A princípio, queria pesquisar sobre Maria Madalena na arte, mas meu orientador sugeriu que eu restringisse a pesquisa a um artista e escolhi El Greco”, contou à reportagem do O SÃO PAULO.

Após alguns anos, Wilma dedicou-se, no doutorado, à pesquisa do Cristo Pantocrator, que ela sempre gostou, e, ao pensar sobre a atualização da pesquisa para o contexto brasileiro, viu-se de frente com um dos maiores artistas sacros da contemporaneidade, Cláudio Pastro.

“Eu sempre gostei das obras do Cláudio. Meu primeiro encontro com ele foi por meio da obra que está na Igreja São Bento do Morumbi, no Colégio Santo Américo, onde meus filhos estudavam”, contou Wilma, que se tornou, posteriormente, amiga do artista.

 

ESPIRITUALIDADE

Ao falar sobre os ícones, Wilma recordou que “antes que contemples o ícone, é como se ele te contemplasse. Assim, o Pantocrator se torna uma referência não só para a arte, mas, sobretudo, para a espiritualidade cristã ao longo dos séculos. “Ser um iconógrafo é muito diferente de ser um pintor. Há cânones a serem obedecidos. Iconógrafos ‘escrevem’ um ícone, que é concebido pelo Espírito Santo pelas mãos do monge-pintor, ou seja, o pintor é o pincel do Espírito, segundo a tradição da Igreja Católica do primeiro milênio. Revestir com arte um espaço litúrgico demanda, além da técnica, espiritualidade. A arte sacra, por sua própria natureza, está relacionada à infinita beleza de Deus. Tem o propósito maior de levar o fiel a dedicar-se a Deus, louvar e exaltar a Sua glória. Foi o interesse por essas questões que me conduziu a pesquisar o ícone, seu significado e sua função como arte sacra litúrgica e, em particular, pelo tipo iconográfico Cristo Pantocrator, Soberano Universal”, afirmou Wilma, que leciona no curso “Os virtuosos do invisível – a imagem de Deus na história da Arte”, oferecido pela PUC-SP, com matrículas abertas.
 

PANTOCRATOR

“Para mim, o Pantocrator é aquele para o qual todos nós caminhamos”, afirmou a Autora, que escreveu sobre uma das imagens mais recorrentes da iconografia cristã do primeiro milênio e também a mais difundida pela Igreja do Oriente. Ao descrever a imagem de Cristo, Wilma explicou que “sob traços humanos do Filho encarnado, a Majestade Divina do Criador e Redentor que preside a humanidade, o Pantocrator é muitas vezes apresentado sentado ao trono de onde abençoava com a mão direita e trazia na esquerda um pergaminho ou um livro. Essa imagem não se encontrava só nas cúpulas e nas absides das igrejas, mas também em selos, moedas, evangeliá- rios e outros objetos litúrgicos; era encontrada nas cenas históricas que representavam Cristo nos diversos momentos de sua vida de adulto, como, por exemplo, na Transfiguração, na Descida ao Inferno e em inúmeros ícones oferecidos à veneração dos fiéis nas iconostases das igrejas e casas particulares”

As primeiras representações do Pantocrator remontam ao tempo das catacumbas, quando os cristãos se reuniam junto aos túmulos dos mártires. “O auge, porém, aconteceu a partir do século IV, quando o Imperador Constantino permitiu que os cristãos professassem seu culto e, para isso, precisavam de lugares públicos. Daí começam a surgir os primeiros mosaicos do Cristo Pantocrator nas absides das igrejas. No entanto, só em 13 de outubro de 787, no II Concílio de Niceia, em sua sétima sessão, foi promulgada uma definição de fé, atestando que é legítimo fabricar, expor e venerar os ícones do Cristo, da Virgem e dos santos. Essa definição significou uma etapa decisiva na história icônica do Deus cristão. Com o decreto de Niceia II, a arte cristã encontrou seu fundamento teológico, mas foi sobretudo o ícone do Cristo e sua veneração que receberam aprovação explícita e sem reserva do Concílio”, afirmou.

 

LIVRO

No lançamento do livro, que aconteceu na Livraria da Vila, do Shopping Higienópolis, Wilma recebeu amigos, parentes e pessoas que estão diretamente ligadas à arte sacra no Brasil, religiosos e estudantes de Arte, de Liturgia e de outras áreas. “O livro se destina a todas as pessoas que se interessam por História, Religião, Arte e pelo belo, sem distinção. Historiadores, historiadores da arte, artistas, clé- rigos, teólogos, seminaristas, cientistas da religião, restauradores”, confirmou Wilma, que disse ter ficado felicíssima pela grande adesão ao livro, que, em menos de um mês, já vendeu mais de 700 exemplares.

A Doutora em Ciências da Religião fez, na obra, um resgate, no qual contou a história da imagem na Igreja desde a arte paleocristã, isto é, os três primeiros séculos da cristandade até a contemporaneidade no contexto brasileiro, na arte do artista sacro Cláudio Pastro (1948- 2016). “Portanto, passa pela História da Igreja; pelos Concílios; pelo iconoclasmo (movimento que destruía imagens por ser contrário a elas); pela Teologia da imagem; especifica a diferença entre arte sacra e arte religiosa e tudo o mais que se refere à Arte no Cristianismo”, continuou Wilma.

Foi o próprio Cláudio Pastro que incentivou Wilma a publicar o livro e o apresentou à Editora. “Durante todo o processo de escrita, nos encontramos diversas vezes e, a cada entrevista que eu fazia, Cláudio citava obras que eu já tinha lido e isso nos tornava ainda mais próximos no que se refere à Arte. Além disso, eu checava todas as referências que ele fazia e, com isso, fui elaborando um material riquíssimo que traz as inspirações de Pastro e as suas referências artísticas e espirituais”, contou. Quando, porém, o livro estava em fase de edição, Wilma viu a saúde de Pastro se agravar, até o falecimento do artista, em outubro de 2016.

Na apresentação do livro, Padre Valeriano dos Santos, Doutor em Liturgia e Professor na Faculdade de Teologia da PUC-SP, cita a obra como substanciosa e salienta que “o Pantocrator quer representar o mistério, a liturgia, o símbolo. Por isso, a arte sacra é mística e litúrgica, tirando-nos da morte inexorável e colocando-nos na dimensão da alegria da ressurreição”.

 

CLÁUDIO PASTRO

Com Cláudio Pastro, Wilma encontrou-se algumas vezes, ocasionalmente, antes de começarem as entrevistas para a tese de doutorado. “Cláudio era muito exigente, mas, ao mesmo tempo, ficava maravilhado quando percebia que alguém buscava a mesma compreensão da arte que ele. Lembro-me da sua expressão quando eu disse que conhecia alguns livros que para ele eram referência, por exemplo”, disse Wilma, que é casada e tem dois filhos e dois netos.

Quando foi questionada sobre o Pantocrator na obra de Pastro, ela recordou que a volta do Cristo Pantocrator tem sua base no Concílio Ecumênico Vaticano II. “Há duas intenções que caracterizam o espírito desse Concílio: aggiornamento e ad fontes, ‘retorno às fontes’. Ou seja, uma atualização, uma adaptação da verdade revelada imutável da fé aos tempos atuais, conforme o significado da palavra italiana aggiornamento. E, consequentemente, uma abertura aos novos desafios que o momento atual traz. Além disso, retornar às fontes é redescobrir as riquezas espirituais, doutrinárias e litúrgicas dos primeiros tempos da Igreja. Dentre os valores e as verdades essenciais para a cristandade, o Concílio evidenciou o papel central da pessoa de Jesus Cristo na História da Salvação. Importante lembrar que no Brasil a imagem de Cristo mais difundida é a do crucificado. Cláudio Pastro entendeu que com o Vaticano II, sem se expressar diretamente à volta do Cristo Pantocrator, a premissa ad fontes o autorizava a colocar nas igrejas essa imagem. Nos anos 80 do século passado, Cláudio causava estranheza ao começar a apresentar o Cristo Pantocrator. Ele se autodenominava um artista pós-Vaticano II.”

Admiradora e amiga de Pastro, Wilma Tommaso vê- se diante da missão de ajudar as pessoas a se encontrarem com Cristo por meio da arte e demonstra isso em seu jeito de ser, na decoração da sua casa, nos símbolos e imagens que escolheu cuidadosamente para seu livro. Para ela, “ainda não surgiu, no Brasil, um artista sacro que supere Cláudio Pastro. Como artista sacro, serviu à liturgia. Sua arte quer preparar o espaço sagrado para a ‘Presença’, para o banquete eucarístico”.

No dia 28 de fevereiro, no Museu de Arte Sacra, haverá outro lançamento de “O Cristo Pantocrator – Da origem às igrejas no Brasil, na obra de Cláudio Pastro”, a partir das 18h.

Ao lado da imagem da “Mãe Negra”, Nossa Senhora Aparecida, uma vela acesa durante toda a entrevista simbolizava a fé que Wilma busca viver. “A beleza salvará o mundo”, escreveu ela na dedicatória do livro, que, além de uma excelente obra acadêmica, é um caminho espiritual a ser traçado por quem acredita no mistério e quer mergulhar nele, com os olhos fixos em Jesus.

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‘Também conosco Jesus quer continuar a construir sua Igreja’

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01 de setembro de 2017

Na alocução que precedeu a oração do Ângelus, no domingo, 27, inspirando-se no Evangelho do dia, que “traz uma passagem-chave no caminho de Jesus com os seus discípulos”, o Papa falou da averiguação que Jesus faz com seus discípulos sobre quem Ele é para eles -  seus seguidores mais próximos - esperando uma resposta diferente da manifestada pela opinião pública.

E a resposta vem de Pedro, que o professa como ‘o Messias, o Filho do Deus vivo’: “Simão Pedro encontra em seus lábios palavras que são maiores do que ele, palavras que não vêm de suas capacidades naturais, mas são inspiradas pelo Pai celeste, que revela ao primeiro dos Doze a verdadeira identidade de Jesus”.

Assim, o Mestre descobre que “graças à fé dada pelo Pai, existe um fundamento sólido sobre o qual se pode construir a sua Igreja. Por isso, diz a Simão: ‘Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja’. Também conosco, hoje, Jesus quer continuar a construir a sua Igreja, esta casa com alicerces sólidos, mas onde não faltam rachaduras, e que tem contínua necessidade de ser reparada. Sempre! A Igreja sempre tem necessidade de ser reformada”.

Por fim, o pedido a Maria, nossa Mãe, para que “nos sustente e nos acompanhe com a sua intercessão, para que realizemos plenamente a unidade e a comunhão pela qual Cristo e os Apóstolos rezaram e deram a vida”.
 

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