Academia Pontifícia de Ciências do Vaticano manifesta-se sobre a COVID-19

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16 de abril de 2020

Diante da atual pandemia do novo coronavírus, as Academias Pontifícias de Ciências e de Ciências Sociais do Vaticano divulgaram uma declaração em 20 de março.

O trabalho das Academias compreende seis grandes áreas: ciência fundamental, ciência e tecnologia de problemas globais; ciência para os problemas do mundo em desenvolvimento, política científica; bioética, epistemologia. Um de seus objetivos é fomentar a interação entre fé e razão e incentivar o diálogo entre ciência e valores espirituais, culturais, filosóficos e religiosos.

LEIA A ÍNTEGRA DE DECLARAÇÃO EM INGLÊS

No documento, assinado por pesquisadores e cientistas de diferentes partes do mundo, entre os quais o brasileiro Vanderlei Bagnato, professor do Departamento de Física e Ciência dos Materiais da Universidade de São Paulo e Instituto de Física de São Carlos, se ressalta os esforços prestados pelos profissionais de saúde.

“A COVID-19 é um desafio para as sociedades, seus sistemas de saúde e economias, e especialmente para as pessoas afetadas direta e indiretamente, bem como suas famílias. Na história da humanidade, as pandemias sempre foram trágicas e muitas vezes mais mortais que as guerras. Hoje, graças à ciência, nosso conhecimento é mais avançado e pode cada vez mais nos defender contra novas formas de pandemia. Nossa declaração pretende focar em ciência, política científica e ações de políticas de saúde em um contexto social mais amplo”.

Na declaração é destacada a necessidade de ação, as lições de curto e longo prazo e ajustes futuros de prioridades em cinco pontos.

Um dos aspectos é que os sistemas de saúde precisam ser fortalecidos em todos os países, na perspectiva de antecipação de problemas. “É de vital importância estar à frente da curva ao lidar com essas crises globais. Enfatizamos que medidas de saúde pública devem ser iniciadas instantaneamente em todos os países para combater a propagação contínua desse vírus. A necessidade de testes deve ser adotada, e as pessoas que obtiverem resultados positivos para o COVID-19 devem ser colocadas em quarentena, juntamente com seus contatos próximos”.

A declaração também aponta para a necessidade de expandir o apoio à ciência e às ações da comunidade científica, posto que “o fortalecimento da pesquisa básica aumenta a capacidade de detectar, responder e, em última análise, prevenir ou pelo menos mitigar catástrofes como a que estamos vivendo presentemente. A ciência precisa de financiamento garantido a nível nacional e transnacional, para que os cientistas tenham os meios para descobrir as drogas e vacinas certas.  Tais resultados devem ser transmitidos ao setor produtivo.  Por sua vez, empresas farmacêuticas têm a principal responsabilidade de produzir esses medicamentos em escala, e demais empresas de produzir equipamentos de suporte , dentro da realidade econômica”.

A terceira perspectiva tratada é a proteção para as pessoas pobres e vulneráveis. “Uma ação política de base ampla no campo da saúde pública é essencial em todos os países para proteger as pessoas pobres e vulneráveis ao vírus. A COVID-19 também terá um impacto adverso nas economias mundiais. A menos que sejam mitigadas, as consequências perturbadoras previstas na produção e suprimento de alimentos e em vários outros sistemas, os mais afetados serão os pobres e desprovidos de instrução”, consta na declaração, que alerta ainda que as pandemias são especialmente uma ameaça para refugiados, imigrantes e deslocados à força.

Modelar interdependências globais e ajudar entre e dentro das nações também é uma preocupação expressa na declaração. “A escala e o escopo do globalismo atual tornaram o mundo sem precedentes interdependentes - e, portanto, vulneráveis e disfuncionais durante as crises. Por exemplo, o surto de COVID-19 está levando a demanda por mais isolamento nacional. No entanto, buscar proteção por meio do isolacionismo seria equivocado e contraproducente. Uma tendência que vale a pena apoiar seria uma forte demanda por maior cooperação global. As organizações transnacionais e internacionais precisam estar equipadas e apoiadas para servir a esse propósito”.

Ainda sobre esse aspecto, é apontado que as medidas para conter a rápida propagação da doença exigem, por vezes, o fechamento de fronteiras. “No entanto, as fronteiras nacionais não devem se tornar barreiras que dificultam a ajuda entre nações. Recursos humanos, equipamentos, conhecimento sobre melhores práticas, tratamentos e suprimentos devem ser compartilhados”.

Ressalta-se, ainda, a importância de fortalecer a solidariedade e a compaixão entre todos, e que, de modo especial, “as igrejas, assim como todas as comunidades baseadas na fé e nos valores, são chamadas à ação”.

“Uma lição que o vírus está nos ensinando é que a liberdade não pode ser desfrutada sem responsabilidade e solidariedade. A liberdade divorciada da solidariedade gera egoísmo puro e destrutivo. Ninguém pode ter sucesso sozinho. A pandemia da COVID-19 é uma oportunidade de nos tornarmos mais conscientes de quão importantes são os bons relacionamentos em nossas vidas”.

A declaração é concluída apontando para um aparente paradoxo: cada pessoa hoje precisa cooperar com as outras, mesmo tendo que se isolar por razões de saúde. Porém, “o ato de ficar em casa é um ato de profunda solidariedade. É ‘amar o seu próximo como a si mesmo’. A lição que a pandemia nos ensina é que, sem solidariedade, os direitos mais profundos do homem de liberdade e igualdade são apenas palavras vazias”.

(Com informações de Pontificies Academy of Sciences e site São Carlos Agora)

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Sociedade Brasileira de Cientistas Católicos emite nota a respeito da COVID-19

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05 de abril de 2020

A Sociedade Brasileira de Cientistas Católicos (SBCC), da qual o Setor Universidades da Comissão Episcopal Pastoral para Cultura e Educação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) faz parte, publicou em 27 de março uma nota a respeito da COVID-19.

De acordo com o documento, considerando que muitas ações ainda precisarão ser desenvolvidas, a SBCC propõe aos pesquisadores católicos que priorizem soluções para os problemas mais relevantes, tendo em conta o valor inegociável da vida humana, e que busquem ações econômicas e de organização social baseadas em um humanismo solidário.

A nota afirma ainda que as medidas políticas, sociais e econômicas adotadas devem estar baseadas em modelos que priorizem vidas, seja evitando a disseminação da doença, seja garantindo a subsistência dos indivíduos num cenário pós-epidemia.

A SBCC foi fundada durante a 57ª Assembleia Geral da CNBB, em maio de 2019, e faz parte do núcleo do Setor Universidades da Comissão Episcopal Pastoral para Cultura e Educação da CNBB que tem como presidente o arcebispo de Montes Claros (MG). O objetivo da fundação da SBCC é reunir cientistas católicos, que podem ser pesquisadores de diversas áreas da Ciência (Exatas, Humanas ou Biológicas), e promover ações específicas no campo de ensino e pesquisa. O grupo liderado por dom João Justino é composto por teólogos e pastoralistas que têm a função de garantir que as ações da Sociedade se mantenham dentro das normativas da Doutrina Católica e também de realizar um trabalho de pastoreio para com seus membros.

O assessor da comissão padre Danilo Pinto, diz que muitos pesquisadores estão sendo convidados a cooperar a partir das suas áreas de conhecimento para o enfrentamento do coronavírus e outros problemas que foram desencadeados a partir da pandemia nos diversos setores da sociedade quanto da saúde, da educação e da economia, entre outros.

“Os membros da SBCC são chamados a colaborar, os mestres e doutores, a partir de uma contribuição bem específica porque balizada pelos critérios que são retirados do evangelho. Critérios que nos ajudam a compor o imenso patrimônio que chamamos de humanismo solidário. que é a capacidade que a gente tem de de refletir, de promover a pessoa humana a luz da fé. Então, é a luz dos critérios do humanismo solidário que os mestres e doutores católicos são convidados a colaborar com as soluções, alternativas e reflexões que precisamos para esse novo tempos que estamos vivendo”, destaca o padre.

LEIA A NOTA DA SBCC NA ÍNTEGRA

Nós, membros da SBCC, diante da pandemia do Covid-19, fazemo-nos próximos e solidários aos brasileiros neste momento de angústia, incertezas e esperanças. Reconhecemos o grande valor dos cientistas, profissionais da saúde e de todos os demais que têm papel indispensável nesta hora. Queremos também contribuir para a promoção e defesa da vida, o bem maior.

A Organização Mundial da Saúde, o Ministério da Saúde e a comunidade científica têm indicado algumas ações que já estão em andamento para conter o avanço da doença e assim evitar o colapso do sistema de saúde, bem como reduzir o número de mortes causadas pela Covid-19. Considerando-se que muitas outras ações ainda precisarão ser desenvolvidas, a SBCC propõe aos pesquisadores católicos as seguintes reflexões:

1 – É preciso priorizar temporalmente os esforços científicos, técnicos e econômicos, de modo que soluções para os problemas mais relevantes sejam rapidamente levantadas, tendo em conta o valor inegociável da vida humana. Sob este valor, devem estar subordinadas todas as demais preocupações políticas e econômicas.

2 – A aplicação em larga escala de vacinas, medicamentos e outros tratamentos deve ser baseada em conhecimentos científicos comprovados ou, quando em condições extremas, em protocolos clínicos devidamente justificados. Comunidades humanas não podem ser usadas como cobaias, a fim de obter conhecimento. Isso inverte a lógica de uma ciência humanista e fere a ética científica em diferentes níveis. Neste mesmo sentido, as medidas políticas, sociais e econômicas adotadas devem estar baseadas em modelos que priorizem vidas, seja evitando a disseminação da doença, seja garantindo a subsistência dos indivíduos num cenário pós-epidemia.

3 – É mister estabelecer, em espírito solidário, um diálogo efetivo e transdisciplinar para encontrar a dosimetria adequada das ações no complexo enfrentamento da crise. Deve-se buscar ações econômicas e de organização social baseadas em um humanismo solidário, que visem o bem comum e protagonizem a opção preferencial pelos pobres.

4 – Ao fim dessa crise, a sociedade terá a oportunidade de reavaliar os papéis tanto da comunidade científica quanto dos profissionais de saúde, por vezes preteridos de incentivos públicos e privados, no cenário nacional. Reafirmamos sua importância e a necessidade de que suas orientações sejam seguidas por parte das autoridades civis, eclesiásticas, e toda sociedade de modo geral.

Em tempo, conclamamos esses profissionais a que assumam, com profunda solidariedade e colaboração, suas funções tão necessárias nesse momento crítico em que vivemos. Pedimos a todos os irmãos para que rezem por esses profissionais e que nos unamos a Cristo para sermos sinais de esperança.

27 de março de 2020.

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