Pandemia gera impactos aos ciclistas entregadores de aplicativo

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23 de abril de 2020

Diariamente, Alexandre (nome fictício) pedala por 18km entre o bairro de Aricanduva, na zona Leste, e o centro da cidade, esperando que um dos aplicativos de entrega com os quais trabalha - Rappi, Uber Eats e iFood – toque para algum pedido. Isso, porém, raramente tem acontecido ao longo do trajeto percorrido em aproximadamente 70 minutos.

“As pessoas estão com receio de fazer pedidos por causa do novo coronavírus. Os chamados diminuíram e os valores cobrados para os clientes subiram. Pagando mais caro do que antes, elas desistem de pedir”, diz Alexandre ao O SÃO PAULO.

O ciclista recordou que na semana passada atendeu uma encomenda de supermercado e ganhou pelos 5km rodados e os 15kg carregados o valor de R$ 6,50. “Foi bem menos do que recebia antes. As empresas simplesmente reduziram os valores e não avisaram nada”, conta.

Percepção parecida tem o entregador William (nome fictício). Morador do Grajaú, na zona Sul de São Paulo, ele faz entregas com bicicletas em dias alternados nos bairros do Itaim Bibi, Moema, Vila Olímpia, Vila Nova Conceição e Brooklin.

“A quantidade de pedidos diminuiu, pois vários restaurantes fecharam, e as pessoas também passaram a cozinhar em casa. Além disso, os aplicativos adotaram um sistema no qual quem tem mais pontuação fica na frente para receber pedidos. Antes não era assim. Hoje, se você está do lado de um cara que tem pontuação alta, chega pedido pra ele entregar, mas não chega pra você”, relata William, que trabalha com os aplicativos Rappi e Uber Eats.

William também comenta sobre a redução dos valores pagos. “Antes, por exemplo, numa entrega de 3km, eu recebia R$ 7,00. Hoje, tenho feito por R$ 3,80, isso contando o percurso do restaurante até a casa do cliente, pois não é considerado o trajeto de onde você está no momento em que recebe o pedido até o local que você vai retirá-lo”, detalha.

Peso no orçamento

Alexandre conta que desde o início das medidas de isolamento social tem lucrado menos com as entregas: “Antes, somente em um aplicativo, o iFood, eu tirava por semana, trabalhando todo dia, entre R$ 600 e R$ 700. Hoje, seu eu conseguir R$ 120, R$ 200 é sorte”.

Recentemente, ele e outros quatro funcionários do comércio onde também atua como autônomo no centro de São Paulo foram dispensados, com a promessa de retomar os postos de trabalhos quando houver o fim do isolamento social. “Agora, só conto com esse pouco que estou ganhando nos aplicativos. Tento economizar o máximo possível para pagar as contas. Eu estou pedindo a ajuda de Deus, pois não sei mais o que fazer”, revela.

William, embora siga em outro emprego fixo, diz que a baixa nos pedidos pelo aplicativo afetaram sua renda em cerca de 60%. “Num dia de entrega, eu conseguia lucrar quase R$ 150. Hoje, pra fazer R$ 50 é um sacrifício. Antes, eram de 15 a 20 entregas. Ontem, por exemplo, só fiz três. Caiu drasticamente”, contou. “Não consegui pagar minha conta de luz nos últimos meses, também estou com contas de água em atraso, é uma situação complicada”, relata.

É possível ser proteger do novo coronavírus?

De acordo com os entregadores ouvidos pela reportagem, as três principais empresas de delivery tem adotado políticas diferentes para que os entregadores possam se proteger do novo coronavírus e evitar o contágio dos clientes.

Alexandre conta a que o iFood fornece álcool em gel para os entregadores. “Eu pego e coloco em um recipiente de spray pequeno. Toda a vez que chego no cliente, abro as duas partes da bag [mochila], tiro o spray, passo o álcool em gel na minha mão, pego o pedido e entrego pra ele”, explica.

De acordo com os dois entregadores, Rappi e Uber não fazem essa entrega direta do item de higiene. “É a gente que tem que conseguir. A Uber, no entanto, deixa você comprar o álcool em gel até o valor de R$ 20 e depois reembolsa. Já a Rappi somente fala sobre métodos de higiene, mas nada de oferecer pra gente um frasco de álcool ou valores”, assegura William. Ela relata que consome, em média, um frasco de álcool em gel por semana.

A polêmica entrega no chão

E um dos protocolos da Rappi em tempos de pandemia do novo coronavírus tem gerado polêmica: a chamada “Entrega sem contato”.

“A orientação é que você pegue a comida na bag, coloque a entrega no chão, na porta do cliente, e espere que ele chegue para depois você ir embora. Não tem cabimento, isso! Desde quando o chão é mais limpo que a gente?”, critica Alexandre.

“Claro que eu nunca segui isso! Colocar a comida no chão? Isso é falta de higiene! E se alguém espirrou ali? Como vou deixar a entrega no chão? Jamais! Eu tenho um frasco de álcool em gel. Passo na minha mão, ofereço para passar na mão do cliente e ai, sim, entrego o produto pra ele, isso quando faço a entrega direta”, conta William. 

Questionada pela reportagem, a Rappi, por meio de sua assessoria de imprensa, explicou que a medida “tem como objetivo preservar a segurança do entregador e do cliente e está de acordo com as recomendações das organizações competentes. O Ministério da Saúde, por exemplo, recomenda manter uma distância de 2 metros de outras pessoas para que você não seja atingido por possíveis gotículas que saem da boca das pessoas enquanto elas falam, por exemplo”.

A opção de “Entrega sem contato” também é encontrada nos dois outros aplicativos. No Uber Eats, o cliente tem opção de enviar uma instrução ao entregador pedindo que deixe a encomenda na porta. No iFood, o entregador é avisado quando chega no local de entrega se essa opção sem contato é um desejo do cliente.

O QUE DIZEM AS EMPRESAS?

Queda na quantidade de pedidos

Rappi: Assegurou que tem havido “um aumento significativo no número de pedidos em algumas verticais, o que acreditamos ser uma resposta dos usuários preocupados com o tema incerto e medidas de quarentena sendo tomadas em diferentes cidades”, e que “as categorias que registraram um maior aumento foram farmácias, restaurantes e supermercados”.

iFood: Embora não tenha respondido à pergunta diretamente, afirma em seu site que “ainda é prematuro dimensionar o impacto do COVID-19 no mercado de food delivery brasileiro”

Uber Eats: Respondeu que por ser uma empresa de capital aberto, não pode “comentar dados especulativos”.

Redução nos valores pagos aos entregadores

Rappi: Informou que continua “aplicando os mesmos critérios no valor do frete, que varia de acordo com o clima, dia da semana, horário, zona da entrega, distância percorrida e complexidade do pedido. Além disso, a Rappi possibilita que os clientes deem gorjeta aos entregadores por meio do aplicativo”.

iFood: Não respondeu ao questionamento de modo específico, mas informou que “após o pedido ser entregue e finalizado, os usuários da plataforma podem oferecer gorjetas que são integralmente repassadas aos entregadores”.

Uber Eats: Assegurou que “não houve redução no valor pago por entrega/viagem”.

Materiais de higienização e protocolo de entregas

Rappi: Entre os protocolos que foram adotados estão a compra de álcool em gel e máscaras para entregadores parceiros; a adoção da prática “Entrega sem contato”; e o incentivo ao pagamento via app, para evitar o contato com cédulas de dinheiro.

iFood: Informou que distribui álcool em gel aos entregadores. Desde 6 de abril, a distribuição tem sido feita em 18 cidades, incluindo São Paulo. “Os kits de álcool em gel e material informativo serão entregues por meio de vans itinerantes em diversos pontos das cidades. O entregador receberá um chamado para ir até a van como se fosse coletar um pedido. Esta combinação de veículos espalhados pelas cidades e os chamados individuais evitará aglomerações e grandes deslocamentos dos entregadores”

Uber Eats: Não respondeu diretamente aos questionamentos, mas informou que “nos últimos dias, os parceiros foram informados que, além do álcool em gel, poderão solicitar reembolso para outros itens de proteção individual, como máscaras e luvas”.

Auxílio a quem está infectado ou tem maior risco para a COVID-19

Rappi: “Criamos um fundo que apoiará financeiramente os entregadores parceiros com sintomas ou confirmação da COVID-19 pelo período de 14 dias em que precisarão cumprir a quarentena. No Brasil, o fundo está sendo gerido pela Cruz Vermelha Brasileira”. Além disso, no próprio aplicativo, o entregador pode notificar a Rappi “caso apresente sintomas compatíveis com COVID-19 ou confirme o diagnóstico, para que deixe de prestar serviços no aplicativo e seja imediatamente orientado”.

iFood: Afirmou ter criado dois fundos solidários para os entregadores, um no valor de R$ 1 milhão para dar suporte àqueles que necessitem permanecer em quarentena. “O entregador receberá do fundo um valor baseado na média dos seus repasses nos últimos 30 dias, proporcional aos 14 dias de quarentena... Após abrir um chamado para reportar um diagnóstico positivo para COVID-19, o entregador terá a sua conta automaticamente inativada por 14 dias e terá até 30 dias para enviar todas as evidências necessárias para receber o valor do Fundo”. O outro fundo solidário, também no valor de R$ 1 milhão, é voltado a entregadores com mais de 65 anos ou em condições de risco, como doenças pulmonares, doenças cardíacas, imunossupressão (incluindo HIV), obesidade mórbida, diabetes descompensada, insuficiência renal crônica e cirrose.

Uber Eats: A empresa informou que vai “ampliar a cobertura da política de assistência financeira, incluindo o acesso de quem pertence a grupos de risco”. Além disso, “qualquer motorista ou entregador parceiro diagnosticado com o COVID‑19 ou que tiver isolamento solicitado por suspeita ou risco de contágio de coronavírus receberá assistência financeira por até 14 dias”.

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A determinação de Luciano

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07 de fevereiro de 2020

O tempo instável naquela quinta-feira, 23, foi comemorado pela maioria dos entregadores que aguardava, na Avenida Paulista, pelos chamados de pedidos. Afinal, com chuva, mais pessoas buscam os serviços de delivery. 


Para Luciano Oliveira, porém, o tempo chuvoso não é um bom sinal. “O melhor dia para eu fazer entrega aqui na Paulista é com sol. Sou nordestino, então o ‘pau pode comer’”, brinca. Aos 44 anos, o baiano nascido em Porto Seguro vive na zona Leste de São Paulo com a esposa. Luciano é cadeirante e, há um ano, cansou das negativas para a busca de emprego e começou a fazer entregas. 


“Algumas eu consigo fazer, outras não, porque existem ruas com ladeiras enormes, descidas perigosas. Mas já fiz entrega debaixo de chuva, com a cadeira travada apenas com as minhas mãos. Já pensou se eu bato em algum carro? Por isso, sempre procuro trabalhar em área plana, com calçada e em edifícios que tenham grade para eu poder me segurar, caso haja alguma tempestade”, explica. 


Luciano diz que sempre se aconselha com os colegas sobre a viabilidade de uma entrega: “Eles me dizem: ‘Irmão, vá de metrô. Irmão, vá de ônibus’. Daí, quando dá, pego meu bilhete único e vou de ônibus ou metrô. Também pego a ciclovia quando não está garoando. Chego em casa cansado, com dores no quadril, nas pernas, nas juntas, nos nervos, porque faço muito esforço”. 


E qual é a reação das pessoas quando Luciano chega com uma encomenda? “A maioria fica feliz. Algumas ficam abismadas. Na maior parte das vezes, as pessoas dizem: ‘Pois é, não há desculpa para não trabalhar’”, relata, recordando, porém, que já houve quem tenha cancelado encomendas ao saber que o entregador seria um cadeirante.


Luciano usa uma cadeira de rodas comum e diz que consegue fazer, no máximo, quatro entregas por dia, alcançando uma renda mensal de R$ 200. “A minha esposa é aposentada. Eu ainda não, mesmo já tendo três laudos médicos sobre a minha deficiência, atestando minha mobilidade reduzida. Isso foi na Bahia, aqui em São Paulo ainda não tentei ir ver”.


Graduado em Gestão de Políticas Públicas e ex-atleta paralímpico, ele acredita que, se conseguisse uma cadeira mais bem equipada, faria mais entregas: “Esta é uma cadeira de rodas normal. Uma cadeira boa, reforçada, custa entre R$ 1,5 mil e R$ 2 mil. Daria ainda para colocar um kit livre [equipamento que transforma a cadeira em um triciclo motorizado elétrico], que custa entre R$ 5 mil e R$ 7 mil, com uma bateria que dura de sete a nove horas. Uma cadeira assim, com certeza, transformaria minha vida, eu faria entre cinco e seis entregas por dia”.


Para a maioria dos entregadores da Avenida Paulista, Luciano Oliveira é um exemplo de superação diante das condições adversas dessa profissão. “É um trabalho sofrido. Entregador por aplicativo sofre! É discriminado, não é bem visto pela sociedade, mas todo mundo precisa. Aliás, é bem visto quando está chovendo. A pessoa não quer sair na chuva, daí chama o aplicativo. Essa é hora que a gente é alguém de verdade”, conclui. 

 

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A versatilidade de Lucimeire

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07 de fevereiro de 2020

Pedalar pelas ruas de São Paulo levando o almoço, jantar ou lanche de alguém pode ser, em alguns casos, a opção de quem tem um verdadeiro amor pelas bikes, como aconteceu com a técnica em enfermagem Lucimeire Peres, 35, que, em dezembro de 2018, passou a trabalhar com entregas por aplicativo, na região central. 


Mãe de Gabriela, 11, e Talita, 8, Lucimeire viu na flexibilidade de horário neste trabalho uma oportunidade de realizar outras atividades como estudar, fazer as tarefas de casa e estar próxima das filhas: “Eu já queria há um tempo trabalhar com bicicleta, já que sou envolvida nesse cenário com trabalhos voluntários e participação em eventos. É uma paixão”. 


Em 2019, Lucimeire concluiu o curso técnico em Enfermagem, razão pela qual, nos últimos meses, tinha se afastado das entregas. O retorno aconteceu em janeiro. Diariamente, Lucimeire pedala entre 20km e 30km. Ela afirma que, dentre os cuidados que a profissão exige, estão a alimentação reforçada, utilização de roupas adequadas para o longo período em que passa pedalando e uma boa noite de sono.

EMPATIA
Sobre os riscos no trânsito, Lucimeire afirma que não sente medo por ser mulher. “Todos os ciclistas estão vulneráveis nas ruas de São Paulo”. Ela conta que, de forma geral, é bem tratada e percebe em grande parte dos clientes um sentimento de afeto: “Eles costumam ser bem receptivos, sorriem, agradecem. Eu sinto que têm empatia por ser uma mulher entregadora”. 


Lucimeire diz que algumas vezes, por diferentes motivos, a entrega não chega no horário ou nas condições desejadas. Tais “falhas”, segundo ela, podem ocorrer pela demora na finalização do pedido por parte dos restaurantes ou por acidentes no percurso. A entregadora considera justificáveis os poucos casos de irritação que já presenciou em situações assim.

MELHORIAS NECESSÁRIAS 
Mesmo que a realização deste trabalho esteja diretamente ligada à sua paixão pelas bicicletas, Lucimeire afirma que a remuneração não deixa de ser um ponto desafiador. Ela conta que precisa do apoio da família, pois, como não trabalha em período integral, o valor angariado em um mês não chega a um salário mínimo. 


Em sua opinião, uma discussão sobre mais benefícios e uma melhor remuneração para os entregadores é um ponto que deve ser levado em consideração, além de mudanças no trânsito da cidade, para que esses profissionais possam trabalhar com mais tranquilidade.

 

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‘Você sabe quem vai entregar a comida?’

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07 de fevereiro de 2020

Pelas ciclovias, nas calçadas e em meio aos automóveis, é impossível não notar o vaivém de mochilas térmicas laranjas, verdes e vermelhas, onde estão as encomendas de comida, feitas especialmente na hora do almoço e do jantar. 
A praticidade dos serviços de delivery de alimentação e de outros itens está em toda a cidade e é viabilizada pelo trabalho dos entregadores. 
Na última semana, a reportagem do O SÃO PAULO “pegou carona” com os entregadores ciclistas por aplicativo, que, em sua maioria, são jovens, do sexo masculino, e trabalham entre nove e dez horas por dia, em média (leia detalhes na página 13).

‘É UM DINHEIRO QUE VOCÊ GANHA LIVRE’
Há sete meses, Roger Santiago, 23, pedala aproximadamente 35 minutos do Jabaquara, na zona Sul, até a região da Avenida Paulista, onde faz entregas, geralmente das 8h às 20h30. “Eu estava insatisfeito em outro emprego. O salário não era muito bom também. Então, comecei aqui. É um dinheiro que você ganha livre, não tem desconto”, afirma Roger, ao O SÃO PAULO, sentado ao lado de um dos relógios públicos da Avenida Paulista, na esquina com a Alameda Joaquim Eugênio de Lima, no sentido Consolação. 
A esquina é uma espécie de base dos entregadores ciclistas: ali eles aguardam pelos chamados dos aplicativos – principalmente iFood, Uber Eats e Rappi (este voltado a entregas de diferentes itens) –, analisam as rotas das entregas, fazem pequenos consertos nas bicicletas, e, após o horário mais intenso de pedidos, que ocorre das 12h às 14h30, comem um rápido lanche ou a marmita trazida de casa. 
Roger mora com a mãe. Com a remuneração das entregas, ele consegue ajudar no aluguel de casa e pagar a faculdade em Design Gráfico. “Estou terminando o curso. Vou guardar dinheiro para, depois de um tempo, fazer uma especialização nessa área”, projeta. 

RENDA EXTRA
Lucas Santos, 20, trabalha com entregas via aplicativo desde 2018. “Eu estava sem nada para fazer em casa, tinha uma bicicleta e quis trabalhar. Eu já tinha um emprego fixo, vim para fazer um extra. Hoje continuo no fixo, à noite, e no aplicativo, na hora do almoço”, detalha. 
O jovem afirma que, pedalando entre 30km e 40km por dia, consegue ganhos iguais aos que recebe em seu emprego fixo, se contabilizadas as gorjetas que ganha: “Todo dia, recebo alguma gorjeta. É um dinheiro que conta muito no fim do mês”. 

SEM CHEFE
Wesley Senna, 23, nasceu em Natal (RN) e mora no bairro da Bela Vista. Ele faz entregas na região da Paulista usando uma patinete, em dois períodos: das 11h às 15h e das 18h às 22h. “É um trabalho que eu gosto. Não preciso ficar trancado, não preciso escutar gerente todos os dias no meu ouvido”, afirma.
Com o que ganha, Wesley diz que consegue pagar o aluguel da casa onde mora com o irmão. Para isso, realiza entre 12 e 16 entregas por dia: “O tempo de cada uma depende muito, mas leva no máximo 15 minutos, geralmente”.
Não há a obrigação de que os entregadores levem o pedido ao destino dentro de um prazo específico. No entanto, muitos reclamam da exigência dos aplicativos de que cheguem ao local de retirada das encomendas até um horário específico, situação que, muitas vezes, influencia para que estejam mais suscetíveis a cometer ou sofrer acidentes com as bicicletas. 

‘DÁ PARA PLANEJAR A VIDA FINANCEIRA’
Há um ano e quatro meses, Fábio Amaral, 40, faz entregas de comida diariamente na região central. O serviço representa 50% de sua renda. O restante é obtido em um emprego fixo na área de informática. 
O entregador da Rappi conta que a empresa estimula que os profissionais se tornem microempreendedores individuais (MEI), para, assim, assegurar o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e a futura aposentadoria pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). 
“Trabalhando por aplicativo dá para planejar a vida financeira. Há pessoas que trabalham com moto ou bicicleta e conseguem pagar aluguel de casa e todas as contas. Algumas começaram trabalhando de bicicleta, foram ganhando dinheiro e já migraram para a moto”, recorda. 

RISCOS PERMANENTES 
Como toda profissão, a vida com as bikes e as mochilas de entrega nas costas tem seus perigos . Fábio relata especialmente as situações de assalto em regiões consideradas de risco e afirma que tenta se precaver. 
“À noite, dependendo do local da entrega, se sabemos que é zona de risco, apagamos as luzes para poder ir, pois se chegarmos com as luzes acesas, certamente vamos ser assaltados. Quando eu vou fazer entrega em uma zona assim, sempre levo pelo menos outras duas pessoas comigo”, explica.
Outra reclamação de Fábio, comum entre os ciclistas entregadores, é sobre o tratamento que recebem no trânsito. “Muitas vezes, os motoristas de ônibus não nos respeitam, nem os taxistas. Eles veem que estamos com a bag [mochila térmica], trabalhando e, mesmo assim, jogam o ônibus ou o carro em cima. Não dão espaço, querem passar por cima”, lamenta.

INGRESSO E REMUNERAÇÃO
Não há muitos requisitos para que alguém se torne um entregador por aplicativo. Em geral, basta ser maior de idade e ter um meio de transporte para o trabalho. O cadastro é feito on-line e a resposta é dada em algumas semanas. 
O entregador não tem vínculo empregatício com a empresa de aplicativo, não recebe qualquer suporte caso tenha problemas com a bicicleta e precisa adquirir a mochila específica. Ele determina seu horário de trabalho e não há exigência de que use equipamento de proteção individual, como capacetes e uniformes. 
A remuneração varia conforme a distância percorrida em cada entrega (KMs rodados), a localização e fatores climáticos: em dias de chuva, por exemplo, as taxas de entrega geralmente são mais altas.

 

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