‘Testemunho de uma Igreja que sofre’

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05 de junho de 2019

O Paquistão é um país com quase 200 milhões de habitantes, sendo 95% muçulmanos. Os cristãos somam somente 2% da população. Nesta minoria, encontra-se o Arcebispo de Karachi, o Cardeal Joseph Coutts, que visitou o Brasil pela primeira vez, a convite da ACN, e participou da Assembleia Geral da CNBB. O Cardeal Coutts concedeu esta entrevista na sede da ACN Brasil, em São Paulo, e apresentou a realidade dos cristãos no Paquistão, abordando aspectos sobre preconceito e discriminação religiosa.

QUAL A REALIDADE DOS CATÓLICOS NO PAQUISTÃO?
De acordo com a Constituição, a liberdade religiosa é reconhecida, embora os altos cargos do Estado não sejam acessíveis às minorias religiosas no Paquistão. Nos últimos anos, porém, tem havido muitas mudanças na sociedade, e nós, católicos, somos chamados a ser testemunhas de uma Igreja que sofre.

O PAQUISTÃO FICOU MAIS INTOLERANTE ENTÃO?
Não o país, mas uma minoria extremista que deseja um estado muçulmano. Infelizmente, grupos islâmicos começaram a se fortalecer e pressionar os governos a introduzir leis islâmicas. Uma dessas leis, a Lei da Blasfêmia, introduzida em 1986, acabou se tornando um problema para os cristãos. De acordo com a lei, qualquer um que fale contra o Profeta Maomé ou manche seu nome por escrito ou de qualquer outra forma, deve ser sentenciado a morte. Essa lei também diz que se alguém corromper o Alcorão, deve ser condenado à prisão perpétua. Mesmo que o Corão caia acidentalmente das mãos, isso pode ser considerado uma profanação. O problema da Lei da Blasfêmia é a sua má interpretação. Até os muçulmanos moderados sofrem com acusações sobre blasfêmia. Embora esta lei tenha a intenção de proteger a honra do Profeta Maomé e do Livro Sagrado, ela pode ser facilmente usada de maneira imprópria. É muito fácil para um muçulmano acusar alguém de blasfêmia. Em muitos casos, trata-se de uma acusação infundada, mas o acusador usa a Lei da Blasfêmia como meio de vingança pessoal. Recentemente, tivemos o caso de Asia Bibi, uma pobre cristã condenada à morte por blasfêmia, que finalmente foi absolvida. 

EXISTEM MUITAS ACUSAÇÕES PELA LEI DA BLASFÊMIA?
O caso de Asia Bibi foi apenas o mais famoso, porém há muitos outros. Eu me lembro do massacre de Gojra, em 2009, quando crianças fizeram confetes com páginas de jornais que continham versos do Alcorão. Por causa disso, uma multidão irada atacou um bairro cristão e incendiou cerca de cem casas. Oito pessoas perderam a vida nas chamas. Também houve outros ataques semelhantes, por exemplo, em Lahore, em 2013. Várias pessoas foram espancadas até a morte sem que pudessem provar sua inocência. Mesmo que um tribunal declare uma pessoa inocente, o acusador tentará matá-la. Em um desses casos, um juiz muçulmano foi morto em seu escritório porque havia declarado um cristão inocente ao término de um processo.

QUAIS OUTRAS DIFICULDADES OS CRISTÃOS ENFRENTAM?
Outro problema que o governo é incapaz de impedir é o sequestro e conversão forçada ao Islã de meninas cristãs e hindus que são obrigadas a se casar com seus captores. Não há números oficiais a esse respeito, porém se acredita que todos os anos muitas meninas são arrancadas de suas famílias e forçadas a se converter.

ESSA DISCRIMINAÇÃO GERA O AUMENTO DO EXTREMISMO?
A discriminação alimenta uma sociedade cada vez mais intolerante e preconceituosa. Os extremistas enxergam o Ocidente como cristão, e esse pensamento radical do Islã não acredita na democracia, que é vista como um conceito ocidental. Eles querem que o Paquistão se torne um estado puramente islâmico e não hesitam em usar homens-bomba para atacar e matar quem quiserem. Eles representam uma ameaça real para os cristãos, pois nos consideram infiéis.

HÁ SINAIS DE ESPERANÇA?
Sempre haverá sinais de esperança quando se tem fé. Somos uma pequena minoria, mas isso não significa que somos ocultos ou silenciosos. Em nossas igrejas, escolas e instituições cristãs, realizamos um trabalho muito importante, também reconhecido por muitos muçulmanos. Tudo isso graças ao auxílio de muitas pessoas ao redor do mundo, que nos apoiam com ajuda econômica, jurídica e espiritual, por meio de orações.

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Um coração disposto ao sacrifício

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05 de junho de 2019

O Paquistão é um país de maioria islamica, onde os cristãos representam 2% da população, dos quais mais de 40% não sabem escrever nem ler; e onde a violência, a discriminação contra as minorias, bem como o fanatismo e o uso abusivo da Lei da Blasfêmia estão na ordem do dia. 


Mesmo no dia a dia, os cristãos enfrentam hostilidade e discriminação constante. Socialmente falando, a maioria dos cristãos está no patamar mais baixo da sociedade. Por isso, procuram a Igreja não somente para ajuda pastoral e espiritual, como também para todo tipo de necessidade. Na maioria das vezes, se morre um trabalhador rural, empregado de um rico proprietário de terra, sua esposa e filhos são mandados embora pelo proprietário. Pessoas como pais de crianças doentes, vítimas de ataques violentos e todos os que estão em necessidade, naturalmente, voltam-se para sua Igreja. Ser cristão no Paquistão significa, portanto, ter um coração disposto ao sacrifício, tanto para os fiéis quanto para as lideranças.


A disponibilidade é o que não falta para os católicos de Issanagri, um dos vilarejos que pertence à Paróquia de Assunção, que fica no vilarejo Chak 7, na Diocese de Faisalabad. A Paróquia, como um todo, tem um total de 6 mil fiéis católicos, enquanto que Issanagri tem em torno de 300 famílias católicas ou, aproximadamente, 1,5 mil católicos. O vilarejo fica a dez quilômetros da Paróquia. Issanagri já tem uma capela, mas ela é muito pequena para o número de fiéis.


Agora, os fiéis católicos começaram, eles próprios, a construir uma igreja maior. Eles têm feito grandes sacrifícios para isso – coletando dinheiro, apesar de que eles mesmos são muito pobres, e trabalhando duro na construção, mesmo quando já têm que trabalhar duro para sustentar suas famílias. Apesar de todos os esforços e trabalho árduo, eles, por enquanto, só conseguiram construir parte da igreja. A Santa Missa ainda é celebrada ao ar livre, entre as paredes em parte construídas, onde não há abrigo contra o sol forte ou as chuvas torrenciais, ou o frio severo que pode ocorrer no inverno, mesmo no Paquistão.


O Pároco, Padre Wasseem Walter, escreveu à ACN pedindo ajuda para que eles possam finalmente terminar a igreja. Ele escreve que “é urgentemente necessário construir esta igreja”. A ACN prometeu a ajuda e o povo de lá ficou muito feliz por saber que não está sozinho nessa empreitada. A ACN precisa agora da contribuição de corajosos benfeitores que queiram ajudar esses corajosos católicos.

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Asia Bibi

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05 de junho de 2019

O início da liberdade de Asia Bibi deverá ser marcado pelo silêncio. “Mesmo depois de deixar o Paquistão e reiniciar a vida ao lado de sua família, no Canadá, Asia Bibi, seus familiares, os cristãos paquistaneses e também os muçulmanos moderados deverão se manter cautelosos”, comentou o Cardeal Joseph Coutts, Arcebispo de Karachi, durante sua visita ao Brasil, em maio. O cuidado de Dom Coutts não é à toa, muito menos excessivo, afinal, mesmo com a absolvição de Asia Bibi pela Suprema Corte do Paquistão, em janeiro deste ano, inúmeros protestos foram realizados por extremistas islâmicos, exigindo que a condenação fosse mantida. 


Durante os oito anos que permaneceu no corredor da morte, aqueles que tentaram ajudá-la morreram ou precisam de segurança provida pelo Estado. Salmaan Taseer, governador de Punjab, a província mais poderosa do Paquistão, foi morto após visitar Asia Bibi na prisão. “O governador a orientou a escrever ao presidente do País pedindo que lhe concedesse o perdão. Por esse gesto, ele foi assassinado na capital, Islamabad, porque os fanáticos o acusaram de ser um muçulmano ruim, pois ninguém pode perdoar um insulto ao Profeta”, contou o Cardeal Coutts.


O advogado de Asia Bibi, Saif ul-Mallok, foi forçado a deixar o País depois que a sentença de absolvição foi anunciada, em outubro de 2018, e só retornou para participar da audiência em que o Supremo Tribunal do Paquistão rejeitou o pedido de reabertura do processo de Asia Bibi, confirmando, assim, a sua absolvição. “Sou um homem morto que caminha. Eles me acusam de ser um mau muçulmano porque eu defendi uma cristã que foi culpada de blasfêmia. Meus amigos se recusam a entrar no carro comigo, pois sentem medo de serem assassinados comigo”, diz o advogado, que também lembra o quanto Bibi sofreu durante sua permanência no corredor da morte. “Não sei como ela conseguiu resistir tantos anos em uma sala de 8m², podendo sair apenas meia hora, duas vezes por dia”, diz Saif.


Asia Bibi, mãe católica de cinco filhos, foi a primeira mulher no Paquistão a ser condenada à morte por blasfêmia, acusada por extremistas islâmicos de contaminar um copo de água ao beber nele, simplesmente pelo fato de ser cristã. Cinco dias depois do ocorrido, Bibi foi arrastada de sua casa por uma multidão e espancada na presença de policiais antes de ser presa.

 

ASIA BIBI É APENAS UMA ENTRE MUITOS ACUSADOS DE BLASFÊMIA NO PAQUISTÃO

No Paquistão, além da Asia Bibi, 224 cristãos foram vítimas da Lei da Blasfêmia desde sua aprovação em 1986. A afirmação é de Cecil Shane Chaudhry, diretor executivo da Comissão Nacional de Justiça e Paz (NCJP) do Paquistão, que esteve com a ACN neste ano. Segundo estudo apresentado, 23 cristãos foram mortos por acusações de blasfêmia entre 1990 e 2017. Além disso, a Comissão documentou mais 25 casos de cristãos em julgamento. “A Lei da Blasfêmia é uma ferramenta poderosa que os fundamentalistas podem exercer em detrimento das minorias. Muitas vezes, essa lei é utilizada como meio de vingança pessoal e, quando as acusações são feitas contra os cristãos, toda a comunidade sofre as consequências”, disse Chaudhry.


Foi o que aconteceu em março de 2013 num distrito cristão em Lahore, depois que o jovem cristão Sawan Masih foi acusado de ter insultado o Profeta Maomé. Uma multidão de 3 mil muçulmanos incendiou todo o distrito. Foram destruídas quase 300 casas e duas igrejas. Enquanto os 83 instigadores do ataque foram todos libertados, Sawan Masih foi condenado à morte em 2014, e ainda aguarda a realização do processo de recurso.


As acusações contra ele foram trazidas por um de seus amigos muçulmanos, Shahid Imran, após uma discussão entre eles. Dois dias depois, apareceram outras testemunhas, que nem sequer estavam presentes no momento do suposto insulto. 
Enquanto isso, a esposa de Sawan está criando os três filhos sozinha. “Eu não sei por que eles acusaram meu marido. Só sei que o homem que o denunciou era um amigo dele com quem havia discutido. Sawan é inocente!”, informa a esposa.

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A santidade não se apagou

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05 de junho de 2019

Chegamos ao sexto mês deste ano. Tudo corre muito acelerado. Quase nem temos tido tempo para digerir bem um acontecimento e já somos sacudidos por outro de uma proporção maior e, às vezes, mais impactante. Em todas essas coisas, o que não nos deve faltar é a esperança, que nasce de uma fé cultivada por meio de uma profunda espiritualidade. 


Nós, que formamos a família ACN, queremos sublinhar, na grandeza dos muitos acontecimentos litúrgicos que celebramos como Igreja Católica, o imenso amor de Jesus pelo Pai e por nós, que nos encoraja a ser bem mais solidários, ou seja, ajudar aqueles que sofrem, que são perseguidos e maltratados. 


A ajuda constante dos benfeitores da ACN que, com muito amor, é destinada aos que mais precisam, confirma o quanto a santidade não se apagou neste mundo, tantas vezes denominado como mundo “injusto”. Queremos afirmar que, juntos aqui, acendemos “pequenos sinais” que são como velas, que iluminam e aquecem a vida de tantas pessoas que sofrem e precisam do nosso amor. A doação de cada um é o que não deixa que se apague a esperança na vida de tantos.


Você, que está conhecendo cada vez mais a ACN, tenha sempre uma certeza: a doação de cada um nasce de algo mais profundo: o amor que Jesus tem por nós e que também nos pede que tenhamos uns pelos outros. Esse é o rosto da ACN: ao ajudar os mais necessitados, enxugamos as lágrimas de Deus no mundo. 


Por outro lado, é verdade que, infelizmente, não conseguimos atender todos os pedidos que nos chegam. Lamentamos quando vemos alguma necessidade que não somos capazes de suprir naquele momento. No entanto, mantemos sempre a esperança de encontrar pessoas que queiram ajudar. Nas páginas seguintes, você verá o testemunho dos cristãos no Paquistão. Como definiu o Cardeal Joseph Coutts – Arcebispo de Karachi, no Paquistão – que nos visitou há poucos dias, “somos uma Igreja pequena e rezamos por vocês. E, vocês, que são uma Igreja grande, rezem por nós!” Esse pedido aumenta ainda mais a nossa esperança de que não estamos sozinhos e de que sempre encontraremos pessoas para ajudar os que mais sofrem.


Quero destacar ainda dois grandes acontecimentos que viveremos neste mês tão rico de espiritualidade: a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo e a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Nesses acontecimentos, assim como os santos juninos, também nós encontraremos o alimento saudável para “ajudar os que mais sofrem”. 


Lembre-se sempre: estamos unidos, pois fazemos parte da Igreja, mergulhados nesta imensa fonte de amor e graça, reservada a todos nós neste mês pleno de bênçãos. Dirijo a você e a toda sua família minha bênção, fortalecida na profundidade das orações que elevamos a Deus na festa dos santos e demais acontecimentos litúrgicos de nossa Igreja.

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Rosas e Cruz

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16 de abril de 2019

A Páscoa é uma festa do novo nascimento, uma festa da nova vida. Por isso, existe uma profunda conexão entre o mistério pascal e a maternidade da mulher. Este mês, portanto, falaremos de uma maternidade especial: a vocação das religiosas.

A Igreja, que nasceu do sofrimento do Salvador, é chamada a ser mãe. Mas para isso ela precisa do carisma da mulher. Foi uma mulher, Maria, que ficou debaixo da cruz e se tornou a mãe de toda a humanidade. Foram as mulheres que primeiro chegaram ao sepulcro, que viram o Ressuscitado, tornando-se dessa forma apóstolas para os apóstolos. A dimensão mariana da Igreja precede a dimensão petrina.

Faz parte da natureza da mulher transmitir a vida, física ou espiritual. A mulher perscruta o mais íntimo da pessoa, preocupa-se com as coisas mais concretas da vida, pensa e sente de forma abrangente, age sobre o todo. Proteger, guardar, preservar, nutrir, promover o crescimento, compartilhar a vida: tudo isso são virtudes naturais da mulher. O mártir Cardeal Mindszenty disse certa vez: “Sempre que vejo uma cruz adornada de flores, vejo nela um símbolo da mulher. A vida e a vocação da mulher são, ao mesmo tempo, rosas e cruz. Ela vive para os outros, buscando a felicidade deles, até mesmo ao preço de seu sangue.”

A discussão sobre a dignidade e o papel da mulher na sociedade e na Igreja é um tema constante. A emancipação da mulher pertence ao nosso tempo. Na história, a mulher foi muitas vezes ferida na sua dignidade, desfigurada nos seus valores, marginalizada e até mesmo escravizada. Regressar ao modelo de mulher totalmente dependente do homem está fora de cogitação. No entanto, em nome dessa “independência” do homem, a característica da mulher não pode se perder. Essa emancipação é frequentemente equiparada à eliminação das diferenças entre os sexos e à libertação sexual. Mas, dessa forma, perde-se a riqueza da feminilidade; é como se a transmissão da vida fosse envenenada pela raiz e se desencadeasse uma epidemia espiritual.

Caros amigos, se estamos apresentando a vocês a vocação e o trabalho das religiosas, é porque queremos recordar o “feminino”, sem o qual a Igreja, como mãe, não produz frutos duradouros. Por meio da dedicação esponsal das religiosas a Jesus, sua feminilidade não é abolida, mas, ao contrário, torna-se especialmente fecunda. O múltiplo ministério delas – o solene louvor a Deus, as obras de misericórdia, a difusão da fé, o cuidado pelas crianças e pelos jovens, a Adoração silenciosa - envolve todas as pessoas com o amor de Cristo. Elas são as mães e irmãs universais. Agradecemos a Deus por essas mulheres extraordinárias e a todos os benfeitores da ACN que as ajudam, porque é com a ajuda dos benfeitores que podemos sustentá-las em todo o mundo.

 

LEIA TAMBÉM: Campanha de Quaresma da ACN é dedicada às religiosas de 85 países

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Dom Cristóbal López Romero: ‘A igreja Católica existe no Marrocos, e é samaritana’

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03 de abril de 2019

A universalidade da Igreja Católica torna-se palpável em muitos lugares onde o Cristianismo é uma minoria, incluindo o Marrocos, País com 37 milhões de habitantes, 99,9% dos quais muçulmanos e apenas 0,08% católicos.

Uma pequena, mas grande Igreja, realiza seu trabalho pastoral entre os fiéis católicos no País. A Igreja apoia os mais desfavorecidos entre a população marroquina e os milhares de jovens que atravessam o deserto da África Subsaariana à procura de um futuro na Europa idealizada.

No último fim de semana, dias 30 e 31, o Papa Francisco viajou para a região situada na fronteira entre a África e a Europa. Em resposta a um convite do rei Mohammed VI e dos bispos do País, o Pontífice visitou as cidades de Rabat e Casablanca.

 

VIVER E TRABALHAR NO NORTE DA ÁFRICA

Em uma entrevista televisiva à Ajuda à Igreja que Sofre (ACN, na sigla em Inglês), Dom Cristóbal López Romero, Arcebispo de Rabat, falou sobre o que significa viver e trabalhar nesta nação norte-africana.

“A Igreja Católica existe no Marrocos”, disse orgulhosamente o Arcebispo no começo da entrevista. “É uma Igreja vibrante e jovem, abençoada com misericórdia e com um forte desejo de testemunhar.”

O País do norte da África tem duas catedrais, uma em Tânger e uma segunda em Rabat. A primeira foi construída durante o tempo do protetorado espanhol, a segunda durante o tempo do protetorado francês. Dom Cristóbal, salesiano de Dom Bosco, continuou: “Mais jovens do que pessoas idosas vêm a nossas igrejas, mais homens que mulheres, mais negros que brancos”.

Os membros da Igreja no Marrocos são, em sua maioria, estrangeiros, fiéis de mais de cem países diferentes. Eles geralmente trabalham em empresas que operam subsidiárias no Marrocos. Além disso, muitos vêm de países ao sul do Saara, como o Congo, o Senegal ou a Costa do Marfim. Eles se mudam para o Marrocos para prosseguir seus estudos e encontrar o “sentimento de segurança” que estão procurando com a Igreja Católica.

Os religiosos católicos que lá estão são de mais de 40 países diferentes. Dom Cristóbal explica: “Ser católico significa ser universal, global”. Essa universalidade exige que as pessoas deixem de lado aquilo que as torna distintas e se concentrem no que é compartilhado. “Nós procuramos o que é importante, essencial. As diferenças nos enriquecem. Nós somos abertos uns com os outros e vemos as diferenças como uma oportunidade, não um problema.”

 

É COMO UMA IGREJA SAMARITANA

A Igreja marroquina e as instituições de caridade com que trabalha recebem e ajudam quem é mais fraco, independentemente do seu passado. Principalmente, eles são ativos dentro da sociedade marroquina e para os imigrantes vindos de países ao sul do Saara, que estão tentando alcançar a Europa ou permanecer no norte da África. “A Igreja aceita e cuida dos necessitados, ou seja, é uma Igreja samaritana”, disse o entrevistado.

Por meio da Caritas local, o Marrocos cuida de milhares de migrantes que atravessam o Saara e, depois de completarem essa difícil travessia, “permanecem presos” no País, sem poder continuar para a Europa. “Essas pessoas precisam de cuidados e de um ouvido solidário. A maioria delas está doente quando chegam e muitas mulheres estão grávidas. A Igreja os “absorve, protege, promove e integra, assim como o Papa Francisco nos pediu”, afirma o Bispo. O trabalho da Igreja no Marrocos é tão importante que “até as autoridades muçulmanas apreciam seus esforços”.

 

MIGRAÇÃO E DESIGUALDADE

Quando perguntado por que os jovens estão fugindo da África, Dom Cristóbal explicou que as razões econômicas são o principal impulso para a maioria dos jovens migrantes. Eles estão fugindo da pobreza e do desemprego, mas muitos também estão fugindo de guerras, hostilidades, perseguições ou desastres naturais. De acordo com o Arcebispo de Rabat, o problema da migração na África será impossível de resolver, contanto que “30% dos alimentos produzidos continuem a ser jogados fora na Europa”, e as pessoas continuem a viver “em excessos e grandeza”, enquanto que, ao mesmo tempo, esperam que aqueles “que vivem em circunstâncias miseráveis aceitem passivamente seu destino” e a sociedade permaneça inconsciente de seu comportamento. “Certamente, não é cristão e pode até ser chamado de desumano que a Europa proteja suas fronteiras para que não tenha que compartilhar o que pertence a todos e o que a Europa se apropriou”, expressou sua indignação.

O Arcebispo lembrou as palavras do Papa Francisco: “O capitalismo mata”. “Em vez de fornecer ajuda, devemos pagar pelas matérias-primas que exploramos. Devemos ter certeza de que as corporações multinacionais pagam os impostos que devem.” Ele acredita que a África não pode ser ajudada com “migalhas, mas com planos de justiça e desenvolvimento. Nós não somos nada sem amor, somos menos ainda sem justiça.”

Ainda segundo Dom Cristóbal, “o jovem marroquino está preso em seu próprio País”. O Marrocos está sofrendo por causa de sua localização geográfica, pelo fato de não haver uma maneira realista de deixar o País. Para o sul está o vasto deserto do Saara; para o oeste, o Atlântico; para o leste, a Argélia – e a fronteira para esse País está fechada devido à guerra – e para o norte, a Europa. “Muitos jovens do Marrocos apontam para a Espanha e perguntam: ‘Por que eles podem vir aqui, mas eu não posso ir lá?’”.

 

LIBERDADE RELIGIOSA?

Uma questão totalmente diferente, com a qual o Papa Francisco foi confrontado, durante sua viagem, é o status da liberdade religiosa no País. Como a fundação pontifícia ACN concluiu no Relatório Liberdade Religiosa no Mundo de 2018, de acordo com a sua constituição, o Reino do Marrocos é um Estado soberano muçulmano. O Artigo 3 diz: “O Islã é a religião do Estado, com a garantia a todos ao livre exercício de crenças”. No entanto, a Constituição proíbe partidos políticos, parlamentares ou emendas constitucionais que infrinjam o Islã. O Parlamento Europeu reconhece que a liberdade religiosa está consagrada constitucionalmente no Marrocos, mas acrescenta que “os cristãos e especialmente os muçulmanos que se converteram ao Cristianismo enfrentam numerosas formas de discriminação e não podem pisar em uma igreja”. Sob o Código Penal marroquino, proselitismo para os não muçulmanos, isto é, “abalar a fé” da população muçulmana, é ilegal. A distribuição de materiais religiosos não islâmicos também é restringida pelo governo.

 

As opiniões expressas na seção “Com a Palavra” são de responsabilidade do entrevistado e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do jornal O SÃO PAULO.

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‘O coração do Papa bate pelos outros’

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12 de março de 2019

Presidente da ACN Brasil e fundador da Fazenda da Esperança, Frei Hans Stapel conta sobre a infância e o primeiro contato que teve com o fundador da entidade, o Padre Werenfried van Straaten, e como se tornou o presidente da fundação no Brasil, além de falar sobre a indignação do Papa Francisco com o mundo secularizado, e o que se pode fazer para deixar o Papa feliz.

 

O SENHOR NASCEU NA ALEMANHA NO FIM DA 2ª GUERRA MUNDIAL, EM 1945, QUANDO O PAÍS ESTAVA TOTALMENTE DESTRUÍDO. COMO FOI A SUA INFÂNCIA?

Minha infância foi uma pobreza extrema, num país totalmente devastado. Meus pais haviam perdido tudo, nem casa tínhamos. A situação era dramática para toda a Europa, mas sobretudo na Alemanha, aonde chegavam muitos refugiados também, expulsos dos países do Leste Europeu. Foi nesta época que o Padre Werenfried se tornou uma pessoa muito conhecida. Ele fazia arrecadações na Bélgica, Holanda e em outros países para ajudar na Alemanha. Eu me lembro dele quando eu tinha uns 7 anos, vindo nas igrejas para dar um tipo de catequese e falando do trabalho realizado. E ele pedia ajuda também para nós, crianças. Ele queria uma grande rede de solidariedade.

 

O PADRE WERENFRIED TEVE, ENTÃO, MUITA INFLUÊNCIA NA SUA VOCAÇÃO?

Sem dúvida. Eu me lembro de como era pobre. Nunca tive dinheiro na minha infância, mas uma vez um tio me deu 20 centavos. Era pouco, mas era o que eu tinha e segurava aquele dinheiro como algo que era meu. Mas, ao ouvir a pregação do Padre Werenfried, começou uma luta dentro de mim: “Vou guardar, vou dar metade, vou ajudar, mas se eu der não vou ter mais”. E neste momento começou a coleta. Passavam uma cesta de banco em banco e, quando chegou na minha frente, não tive coragem de doar. Mas me senti muito mal: “Por que você não dá? Tem pessoas que precisam mais do que você!” E quando a cesta passou no banco detrás, eu me virei e coloquei os 20 centavos. Nesse momento, eu experimentei uma alegria tão profunda, tão grande, que não sei explicar. Até hoje, eu me lembro disso e do Padre Werenfried com sua indumentária branca, um missionário cheio de amor e entusiasmo. Depois, já como presidente da ACN Brasil, tive muito contato com ele. O que mais me impressionou foi a sua fé. Numa noite na casa dele, perguntei: “Padre, você promete para todo mundo que vai ajudar, mas não tem dinheiro. Como isso é possível?”. Ele disse: “Frei, quando eu respondo aos pedidos de ajuda, eu imagino cada uma daquelas pessoas nas suas necessidades e enxergo Jesus neles. Um Jesus que chora, que pede e que precisa. Não posso negar para Jesus, então, eu digo que vou ajudar. Depois, diante do tabernáculo, na Capela, peço para Cristo, que é dono de tudo: ‘Hoje eu prometi muita ajuda, mas eu não tenho. O Senhor tem que me ajudar’. E Jesus nunca me deixou sem ajuda”.

 

E COMO SE TORNOU PRESIDENTE DA ACN BRASIL?

O Padre Werenfried veio ao Brasil para abrir o escritório da ACN, em 1997. Ele queria ver a situação do País, visitou alguns bispos e precisava de alguém como tradutor. Eu já morava aqui havia 25 anos, então me convidaram. Foi quando reencontrei o Padre Werenfried depois de décadas sem qualquer contato. Contei a ele a história dos 20 centavos e aqui no Brasil surgiu uma grande amizade. Ele me pediu que assumisse o escritório e não pude negar esse pedido.

 

O SENHOR JÁ SE ENCONTROU ALGUMAS VEZES COM O PAPA FRANCISCO. COMO FORAM OS ENCONTROS?

Eu tive quatro reuniões com o Papa Francisco e conversamos muito sobre as obras de misericórdia e dos projetos realizados no Brasil, como a entrega de barcos para padres missionários na Amazônia. Eu vi uma alegria muito grande nele ao ver estes resultados e senti que o coração do Papa bate pelos outros. O Papa gostaria de ajudar todo mundo, e não se conforma que ainda haja fome, miséria e tantos refugiados no mundo, ao mesmo tempo que existe tanta riqueza acumulada por outros. Eu disse ao Santo Padre: “Como uma Fundação Pontifícia, a ACN vai fazer de tudo para ajudar quem precisa e tentar diminuir a miséria no mundo. O senhor pode contar conosco. O senhor conheceu pessoalmente o Padre Werenfried, e, assim como ele, que prometia ajuda, nós também, com alegria e muito esforço, vamos realizar essas obras. No Brasil, existem muitas pessoas generosas e de grande coração, e juntos vamos fazer o Papa Francisco feliz”.

 

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300 milhões de cristãos perseguidos no mundo, diz AIS

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04 de dezembro de 2018

Um cristão a cada sete, vive em um país onde a perseguição é uma realidade dramática, para um total de mais de 300 milhões de fiéis que sofrem discriminação e perseguição. São carne e sangue de nossos irmãos na fé os números divulgados pelo XIV relatório da Fundação de direito pontifício "Ajuda à Igreja que Sofre", apresentado na quinta-feira em Roma, na Embaixada da Itália junto à Santa Sé.

 

Cristãos os mais perseguidos

No relatório, que examina o período de junho de 2016 a junho de 2018, emerge o fato de que o cristianismo é a comunidade de fé que sofre, mais do que qualquer outra, formas de opressão e intolerância.

No entanto, as violações da liberdade religiosa em muitas outras confissões também estão aumentando. O estudo apresenta incidentes e episódios significativos que foram coletados e relatados graças ao trabalho dos parceiros do projeto, presentes em mais de 150 países.

São casos de conversões e matrimônios forçados, atentados, sequestros, destruição de locais de culto e de símbolos religiosos, prisões arbitrárias, acusações de blasfêmia, regulamentos para o controle de assuntos religiosos e várias medidas para a limitação do culto público.

 

Violações graves em 38 países

O estudo da AIS identifica, portanto, 38 países em que são registradas violações graves ou extremas da liberdade religiosa. 21 deles são classificados como locais de perseguição: Afeganistão, Arábia Saudita, Bangladesh, Birmânia, China, Coréia do Norte, Eritreia, Índia, Indonésia, Iraque, Líbia, Níger, Nigéria, Paquistão, Palestina, Síria, Somália, Sudão, Turcomenistão , Uzbequistão e Iêmen. 17, por outro lado, são considerados lugares de discriminação: Argélia, Azerbaijão, Butão, Brunei, Egito, Federação Russa, Irã, Cazaquistão, Quirguistão, Laos, Maldivas, Mauritânia, Catar, Tadjiquistão, Turquia, Ucrânia e Vietnã.

 

Situação piorada em muitos países

A situação piorou durante o período em análise em 17 dos 38 Estados assinalados. Em outros - como Coreia do Norte, Arábia Saudita, Nigéria, Afeganistão e Eritreia - a situação se manteve inalterada, porque, segundo a Fundação pontifícia, é tão grave que não pode piorar.

O relatório também reserva sinais de esperança: uma queda brusca das violências cometidas pelo grupo islâmico al-Shabaab, fazendo com que a Tanzânia e o Quênia - anteriormente classificados como "países de perseguição" no período de 2016 a 2018 - voltassem à categoria de "não classificados”.

Depois, há o sucesso de campanhas militares contra o Estado Islâmico e outros grupos hiper-extremistas que de alguma forma "ocultaram" a disseminação de outros movimentos militantes islâmicos em regiões da África, Oriente Médio e África. Ásia.

 

Entre o fundamentalismo e o ultranacionalismo

Em vários países, a perseguição é incentivada e alimentada pelo fundamentalismo de matriz islâmica, mas outra "tendência" definida como "preocupante" é a do aumento do nacionalismo agressivo contra as minorias e, em alguns casos, contra todas as crenças religiosas, degenerado a tal ponto que pode ser definido como ultranacionalismo.

 

O caso da Índia

Este fenômeno tem se desenvolvido de diferentes maneiras, dependendo do país, lê-se ainda no texto, que indica o caso da Índia como "particularmente significativo”, pois relatório após o relatório foram evidenciados cada vez mais atos de violência contra as minorias religiosas, com motivações que incluem claramente o ódio religioso.

As minorias são consideradas - como recentemente declarado por um deputado indiano - "uma ameaça à unidade do país". Estas declarações são indicativas de uma mentalidade nacionalista que identifica o Estado federal exclusivamente com o hinduísmo.

Segundo a AIS, o ultranacionalismo não necessariamente se identifica com uma religião: "Muitas vezes, de fato, ele se manifesta como uma hostilidade geral do Estado em relação a todos os credos e se traduz em medidas restritivas que limitam fortemente a liberdade religiosa". A tal propósito, o relatório recorda que na China ao longo dos últimos dois anos, o governo adotou novas medidas para reprimir grupos religiosos percebidos como resistentes ao domínio das autoridades comunistas.

 

Antissemitismo em aumento no Ocidente

Por fim, o Relatório também ressalta os problemas críticos encontrados no Ocidente. "O período em análise viu um aumento do antissemitismo na Europa, um fenômeno frequentemente ligado ao crescimento do islamismo militante".

"Na França, onde a comunidade judaica é a mais populosa da Europa, cerca de 500.000 judeus, foi registrado um pico bem documentado de ataques antissemitas e de violência contra centros culturais e religiosos judaicos".

A aversão às minorias islâmicas também aumentou significativamente. O período de dois anos analisado também viu uma onda de ataques terroristas no Ocidente, particularmente na Europa. A AIS também aponta que "a maioria dos governos ocidentais não conseguiu fornecer a assistência necessária e urgente aos grupos religiosos minoritários, em particular às comunidades de deslocadas que desejam voltar para casa nas respectivas nações, das quais foram forçadas a fugir".

 

Presença na conferência de imprensa de hoje

Na apresentação do Relatório estavam presentes o embaixador da Itália junto à Santa Sé, Pietro Sebastiani, o presidente da AIS-Itália, Alfredo Mantovano, o presidente executivo internacional da AIS, Thomas Heine-Geldern, e o diretor AIS-Itália, Alessandro Monteduro.

Pronunciaram-se o cardeal Mauro Piacenza, presidente internacional da AIS; Dom Botros Fahim Awad Hanna, bispo copta católico de Minya (Egito); Tabassum Yousaf, advogado do Supremo Tribunal de Sindh e defensor das vítimas de perseguição religiosa (Paquistão) e Marta Petrosillo, porta-voz da AIS-Itália.

 

Manter alta a atenção

O presidente da ACS-Itália Mantovano falou sobre a importância de manter  alta a atenção sobre a liberdade religiosa, porque "a indiferença mata mais do que terrorismo", e salientou que o Relatório encarna a missão de denunciar a perseguição, mas também a de ajudar as Igrejas que sofrem discriminação.

 

Liberdade religiosa refere-se a todos os direitos humanos

O cardeal Piacenza recordou que os cristãos contribuíram para o correto amadurecimento da ideia de liberdade e tiveram um papel não somente em nível religioso, mas também histórico cultural. "De fato, a liberdade religiosa não é um direito dos muitos - acrescentou o cardeal - é antes uma rocha sobre a qual todos os direitos humanos se agarram firmemente, porque se refere à dimensão transcendente da pessoa humana". "Na liberdade religiosa - continuou ele - há liberdade de pensamento e até mesmo a liberdade para se distanciar do elemento religioso".

 

Colocar a liberdade religiosa entre as prioridades da política

O diretor Monteduro, por sua vez, retornou aos dados apresentados no relatório e ressaltou que 61% dos cristãos vivem em países onde a liberdade religiosa não é respeitada, e voltou-se para "um Ocidente analfabeto", pedindo que a liberdade religiosa seja colocada entre as prioridades da política internacional.

O encontro concluiu-se com o testemunho de Dom Hanna, que falou sobre o Egito, onde a liberdade religiosa foi colocada na Constituição, embora na prática ainda exista muito a ser feito para sua plena aplicação, e de Tabassum Yousaf, que falou sobre as dramáticas intimidações sofridas pelos cristãos no Paquistão.

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Monja: ‘A guerra ainda não terminou’

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24 de fevereiro de 2018

Em Damasco, capital da Síria, a guerra ainda não terminou. É o que afirmou a Irmã Myri, uma monja portuguesa que vive no Mosteiro de São Tiago Mutilado, em Qara. Ela enviou uma mensagem à Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre de Portugal para descrever a situação da Síria após a derrota da maior parte do grupo Estado Islâmico. A Irmã explicou que o exército sírio ainda se esforça para libertar por completo a região de diversas milícias armadas. Contra as forças do governo, os jihadistas usam granadas lançadas por foguetes, causando inúmeras vítimas.

O Cardeal Zenari, Núncio Apostólico na Síria, afirmou que o País ainda é um campo de batalha, e a situação é insustentável para a população civil. Devido ao medo da violência, muitos pais têm proibido seus filhos de irem à escola. A ajuda humanitária chega “a conta-gotas” devido às bombas e ao fogo cruzado. “As pessoas sobrevivem cozinhando sopas feitas com as folhas das árvores, de ervas. É impressionante. Além das bombas e dos disparos, as pessoas não têm o que comer. As imagens são terríveis. Cerca de 70% da população síria vive em condições de extrema pobreza”, contou o Cardeal.

Fonte: AC

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Há 70 anos dando voz à igreja sofredora

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15 de agosto de 2017

Fundada na Alemanha em 1947, pelo o padre holandês Werenfried van Straaten, a Ajuda à Igreja que Sofre ‒ tradução do alemão Kirche in Not ‒ se dedica ao serviço dos cristãos de todo o mundo. Sua ação se dá por meio de três pilares: oração, informação e ajuda. Tudo feito inteiramente por meio de doações privadas, pois a Fundação não recebe recursos públicos. 

Reconhecida como fundação pontifícia em 2011, adotou no mundo todo a sigla ACN, iniciais do nome da entidade em inglês: Aid to the Church in Need. Atualmente, conta com escritórios em 21 países, que arrecadam donativos e transformam isso em caridade que chega a mais de 140 países. 

Em 2017, a ACN chega aos 70 anos ajudando cerca de 6 mil projetos por ano. Em muitas regiões de crise e catástrofes naturais, a ACN permanece com seu trabalho mesmo depois de anos, como no caso da guerra civil de Ruanda, em 1994, e do Tsunami no Sri Lanka, em 2004. 

 

Graças às doações de mais de 600 mil benfeitores, a ACN promove assistência pastoral em diversos campos, como ajuda existencial para sacerdotes; formação de padres e religiosos; ajuda existencial para religiosas; formação para os leigos; distribuição de bíblias e livros religiosos; apoio à mídia para a propagação da fé; meios de transporte para o trabalho pastoral; construção e reconstrução de edifícios religiosos; ajuda de emergência em casos de guerra, deslocamento de populações, violência e catástrofes naturais.

A formação de seminaristas é uma das maiores preocupações da ACN. Muitas doações são direcionadas para os países em que a formação adequada e contínua dos seminaristas não pode ser assegurada por causa da pobreza, guerra ou perseguição. Em 2014, a Fundação apoiou a formação de um em cada 11 seminaristas no mundo todo.

 

Projetos inovadores

Sob a liderança do Padre Werenfried, a ACN apoiou projetos inovadores como, por exemplo, os padres mochileiros enviados em motocicletas e fuscas para regiões remotas; e capelas móveis montadas em caminhões para as áreas que tiveram igrejas destruídas. 

Na década de 1970, na região amazônica do Brasil, a Fundação iniciou o projeto Assistência Missionária Ambulante (AMA). Trezentos caminhões usados pelo Exército suíço foram comprados, adaptados e utilizados no trabalho pastoral da Igreja local. 

“No Brasil, nós não temos perseguição religiosa, o que temos são atos de discriminação. Nós adotamos o mesmo conceito da Organização das Nações Unidas; se você pode praticar a sua religião ou mudar de religião, então não existe perseguição”, explicou Valter Callegari. Os principais projetos apoiados pela ACN no Brasil são voltados para as muitas necessidades da Igreja, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. “O Papa Francisco pediu que nós apoiemos a Prelazia de Tefé (AM). Estamos trocando os barcos de madeira por barcos de alumínio, que reduzirá pela metade o tempo de viagem de um sacerdote da sede da Prelazia a uma comunidade, que pode durar até 48 horas”. Segundo Callegari, há comunidades que recebem a visita do sacerdote uma vez ao ano, além de serem muito pobres materialmente. “Para ter uma ideia, há comunidades que em uma coleta arrecadam R$ 5,00”, relatou. 

“Nosso trabalho está focado na ajuda à Igreja, onde quer que ela seja perseguida ou oprimida pelo terror e pela violência. Através de notícias enviadas regularmente à mídia, nós damos uma voz para a Igreja sofredora que se distingue na enxurrada das informações diárias e também pedimos orações pelos cristãos perseguidos... Num espírito de confiança em Deus e de amor fraternal, a Fundação Pontifícia ajuda dioceses da Igreja mundo afora para levar ao povo a Boa Nova do Reino de Deus – especialmente naqueles lugares em que a Igreja sofre perseguição ou pobreza material”, afirmou o Presidente da ACN, Cardeal Mauro Piacenza. 

 

Leia a matéria sobre a missa do Dia de Oração pelos Cristãos Perseguidos

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