NACIONAL

Chefs Especiais

Um café inclusivo

Por JENNIFFER SILVA
18 de março de 2020

A cafeteria é um desdobramento do Instituto Chefs Especiais, um projeto de Gastronomia fundado em 2006 pela advogada Simone Lozano
 

Ao chegarmos ao café, fomos recepcionados por dois garçons que, com um largo sorriso no rosto, escutaram atentamente nosso pedido e, em seguida, nos acompanharam até o balcão, onde a responsável pelo local aguardava a equipe do O SÃO PAULO para o início da entrevista. 
O Chefs Especiais Café seria um estabelecimento comum, não fosse por seu quadro de funcionários ser composto por pessoas com a trissomia do cromossomo 21, popularmente conhecida como síndrome de Down: elas têm 47 cromossomos em suas células em vez de 46, como a maior parte da população. Todos da equipe se vestem com coletes de couro e usam anéis que remetem a grupos de motoclube, juntamente com a intenção de afastar qualquer tipo de percepção vitimista. 
A cafeteria é um desdobramento do Instituto Chefs Especiais, um projeto de Gastronomia fundado em 2006 pela advogada Simone Lozano.

AUTONOMIA
“A Gastronomia é transformadora. Quando cozinhamos, percebemos mudanças em uma série de fatores: o tempo, a quantificação, o trabalho em equipe, a organização. Nós costumamos dizer que possuímos os ingredientes e que, com eles, podemos fazer algo ruim ou um prato maravilhoso, algo que depende de cada um. Assim é também na nossa vida: nós temos todos os ingredientes e fazemos com eles o que quisermos. No Instituto, não cabe nunca o pior. Por isso, eles se empenham para provar que são capazes”, reiterou a advogada. 
O Instituto Chefs Especiais atende, atualmente, 300 alunos, a maioria com a trissomia do cromossomo 21, e se mantém por meio do apoio de patrocinadores e da promoção de eventos corporativos. 
Outra preocupação é preparar os estudantes para o futuro, pois, segundo Simone, “eles sobrevivem com a ajuda dos pais e a ideia é que essa autonomia seja para a vida. Pensando à frente, que eles não sejam um peso quando estiverem sem seus cuidadores, mas continuem sendo produtivos onde quer que estejam”.

VITRINE 
Inaugurada em 2017, a primeira cafeteria inclusiva do Brasil tem cinco funcionários com síndrome de Down, um com Transtorno do Espectro Autista (TEA), uma gerente e um chef de cozinha sem deficiência alguma, duas mães voluntárias e duas que colaboram eventualmente. 
“Aqui é uma cafeteria diferente. Em qualquer outra, você entra, faz o pedido, toma o seu café, permanece o tempo que quiser e vai embora. Aqui, não. As pessoas chegam e logo vem um atendente para conversar, outro para fazer massagem, outro para abraçar. É um espaço em que o café é para todos”, destacou Simone. 
Todos os funcionários, exceto a gerente, são contratados e mantidos pela empresa GRSA, presente no Brasil há mais de 40 anos. Existe, ainda, uma parceria com o grupo Três Corações, que oferece capacitação para toda a equipe. A cafeteria está em busca de empresas que aceitem arcar com o custo das mães que, no momento, atuam de forma voluntária. 

OPORTUNIDADE
Existe no local um espaço disponibilizado para que os atendentes divulguem seus trabalhos individuais, como a confecção de doces. O valor angariado com as vendas é destinado diretamente para a conta pessoal do funcionário. A única exigência feita é que o produto obedeça aos padrões de qualidade, que haja a reposição dos itens constantemente e que as mães voluntárias se revezem no atendimento na loja de doces. 
Com isso, os chefs especiais vêm conquistando cada vez mais independência financeira. São contratados em regime CLT e possuem os mesmos direitos de qualquer outro profissional, conforme lembrou o sócio da cafeteria, Luciano Piva.
Outro aspecto mencionado por ele foi a possibilidade de as mães permanecerem e ajudarem no dia a dia de trabalho, uma vez que muitas delas desejam ter essa oportunidade, o que não é permitido em outras empresas. 

O QUE ELES DIZEM?

O jornal O SÃO PAULO ouviu os funcionários e uma das mães que realizam o trabalho voluntário sobre a rotina na cafeteria:

Fabrizio Schahin Caritá, 29, “Eu gosto quando os clientes elogiam o café que eu faço. Minha mãe se sente feliz em me ver trabalhando”. Transtorno do Espectro Autista. 
Rodrigo Marques Botoni, 42, “Minha mãe tem orgulho de mim. Procuro sempre deixar o ambiente organizado”. Síndrome de Down. 
Gabriel Pereira Lima, 20, “Eu procuro estar sempre feliz e conversar sobre diferentes assuntos. Eu gosto de trabalhar aqui”. 
Síndrome de Down.
Matheus Maester Gabrielli, 27, “Eu gosto de servir e retirar os pratos. Meus amigos, minha namorada e minha mãe sempre vêm aqui e nós conversamos”. 
Síndrome de Down. 
Sandra Maester Gabrielli, mãe do Matheus: “É importante que eles estejam no mercado de trabalho para que as famílias enxerguem que há uma luz no fim do túnel. Aqui, nós mostramos que é possível que eles tenham uma vida mais independente, que eles podem ser donos da própria vida”.

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Ou visite a cafeteria, localizada na Alameda Tietê, 43, Loja 15, Cerqueira César

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