VATICANO

Celebração

Papa Francisco incentiva novos cardeais a ‘olhar a realidade’

Por Filipe Domingues
08 de julho de 2017

Os novo integrantes do purpurado são de Mali, Espanha, Suécia, Laos e El Salvador

L'Osservatore Romano

Sigam “decisivamente” os passos e a Jesus, que os chama a “olhar para a realidade” e servir “ao Pai e aos irmãos”. Assim, o Papa Francisco acolheu os cinco novos cardeais da Igreja Católica, criados por ele no consistório de 28 de junho.

“Jesus não os chama a se tornarem príncipes na Igreja, a sentar à sua direita ou à sua esquerda. Ele os chama a servir como Ele e com Ele”, disse. Um consistório é o encontro do Papa com todos os cardeais presentes em Roma. Alguns consistórios são para a criação de novos cardeais, os homens de confiança do Papa dispersos pelo O vicariato de Paksé, do qual o novo cardeal é bispo, só tem 45 mil pessoas.

Também o Mali tem uma população católica relativamente pequena, cerca de 3% do total, mas Dom Zerbo foi importante articulador na pacificação em conflitos entre cristãos e a maioria muçulmana. Defende que “a paz só se pode alcançar com a conversão dos corações, independentemente da sua fé” - relata o jornal L’Osservatore Romano.

No caso de El Salvador, estranhamente o cardeal escolhido é o bispo auxiliar da diocese, e não o titular. A escolha se deve à proximidade de Dom Chávez com o Beato Oscar Romero, Arcebispo.de San Salvador martirizado em 1980, famoso por sua atenção aos mais documento (bula), que lhes atribui uma das igrejas de Roma. Os cardeais usam a veste vermelha, que remete ao sangue de Cristo e dos mártires: assumem que são dispostos a dar a vida pelo Evangelho.

“A cor vermelha ardente que agora vestimos não seja para nós orgulho, mas vigorosa memória do nosso Redentor”, declarou o espanhol, Dom Omella, na saudação ao Santo Padre, em nome dos novos cardeais. “Vai se tornar, de agora em diante, um sinal vocacional de um novo despojamento dos nossos interesses, para nos doarmos em tudo e para todos”. Disse, ainda: “Não queremos ser uma Igreja autorreferencial”, mas “ser uma Igreja peregrina pelas estradas do mundo, à procura de todos, derramangiados que Dom Mangkhanekhoun foi batizado pela mãe, em meio à guerra civil do Laos. Ele também foi prisioneiro, de 1984 a 1987, quando era padre, sob o regime comunista. “Fui preso porque trabalhava demais, acusado de fazer propaganda de Jesus”, disse ao L’Osservatore Romano.

Dom Chávez, de El Salvador, falou à imprensa e insistiu que não merece o barrete vermelho e só chegou ali por causa do mártir Romero. “Eu o conheci quando era muito jovem, eu tinha 14 anos, ele padre e eu seminarista. Dom Romero e eu caminhamos juntos até a sua morte, somos verdadeiros amigos. Ele é um intercessor e uma inspiração”. Mundo, com a missão de auxiliá-lo no governo da Igreja. Esse último consistório, especificamente, foi uma surpresa anunciada pelo Papa em 21 de maio. São os novos cardeais: o Arcebispo de Bamako (Mali), Dom Jean Zerbo; o Arcebispo de Barcelona (Espanha), Dom Juan José Omella y Omella; o Bispo de Estocolmo (Suécia), Dom Anders Arborelius, OCD; o Vigário Apostólico de Paksé (Laos), Dom Louis-Marie Ling Mangkhanekhoun; e o Bispo Auxiliar de San Salvador (El Salvador), Dom

Gregório Rosa Chávez.

Com exceção da Espanha, os outros quatro países nunca haviam tido um cardeal. Isso, mais uma vez, reforça que Francisco quer tornar mais representativo o colégio cardinalício, no qual prevalecem os europeus. Além disso, ele tem escolhido homens de igrejas pequenas, ou “periféricas”, geralmente pouco lembradas em âmbito global.

Por exemplo, a Suécia é um país de maioria protestante e tem somente um bispo católico, o agora Cardeal Arborelius.

O Laos é um país no Sudeste Asiático, predominantemente budista pobres e aos perseguidos pela ditadura salvadorenha. Também o novo Cardeal Omella, de Barcelona, é visto como “um homem das ruas” e “aberto a acolher todos”, conforme o jornal Alfa y Omega.

 

Consistório breve, mas Importante

Durante a cerimônia, o Papa Francisco pediu aos cardeais que mantenham os pés no chão e não se deixem iludir por “outros interesses”. “É a realidade que guia os passos de Jesus”, afirmou, em um curto discurso. “A realidade é a cruz”, acrescentou. “São os inocentes que sofrem e morrem por causa das guerras e do terrorismo; são as escravidões que não param de negar a dignidade, mesmo na era dos direitos humanos; a realidade é a dos campos de refugiados, que às vezes lembram mais um inferno do que um purgatório; a realidade é o descarte sistemático de tudo o que já não é útil, incluindo as pessoas”. Os novos cardeais receberam, então, três símbolos da sua ligação direta com o Bispo de Roma e da sua dedicação integral à Igreja: o barrete vermelho (chapéu em forma de cruz), um anel e um do nos seus corações o bálsamo da alegria e da paz, enxugando as lágrimas de tantos e aumentando a sua esperança”.

Após a celebração, os cinco novos cardeais foram ao mosteiro onde vive o Papa Emérito Bento XVI, no Vaticano, que os abençoou juntamente ao Papa Francisco.

Em seguida, houve a tradicional “visita de cortesia”, em que recebem os cumprimentos do público na Sala Paulo VI, momento do qual O SÃO PAULO participou. Embora não estivessem previstas entrevistas, o Cardeal Arborelius, da Suécia, confirmou aos jornalistas que o Papa Francisco sempre promoveu a unidade dos cristãos e, num contexto protestante, a nomeação do primeiro cardeal sueco e escandinavo reforça o compromisso. Além disso,destacou o caráter internacional de sua pequena igreja particular. “A Igreja Católica na Suécia foi construída graças a muitos imigrantes. O Santo Padre, várias vezes, falou sobre o problema dos refugiados. E hoje já não há tanto essa cultura de apoio aos refugiados”, comentou. Por sinal, foi em um campo de refugiado.

 

Como fica o colégio cardinalício

De acordo com a regra criada pelo Papa Paulo VI, que os papas não são obrigados a seguir, o número máximo de cardeais eleitores deve ser de 120. Os eleitores têm idade inferior a 80 anos e podem votar num eventual conclave para escolher o novo Papa. Com a abertura de quatro posições recentemente, Francisco decidiu cobrir logo o vácuo, com cinco novos eleitores. Atualmente, 40% dos cardeais eleitores foram nomeados por ele.

No total, agora são 121 eleitores entre os 225 cardeais vivos. O eleitor mais velho é o italiano Dom Antonio Vegliò, que completará 80 anos em fevereiro de 2018. Ainda entre os eleitores, agora a Europa acumula 53 cardeais, a América do Norte tem 17, a África e a Ásia possuem 15 cada uma, a América do Sul tem 12, a América Central tem cinco e a Oceania, apenas quatro. O país com o maior número de cardeais eleitores é a Itália, com 24, seguido pelos Estados Unidos, com dez. Embora o Brasil seja o país com a maior conferência episcopal, possui somente quatro cardeais eleitores.

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