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24 de fevereiro de 2021

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Desde sempre, pai!

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20 de julho de 2017

Victor Hugo Santos Kabaka nasceu no dia 26 de junho às 21h20 e fará 50 dias de vida no domingo, dia dos pais. Filho de Dido Kabaka e Maria Auxiliadora dos Santos, ele estava dormindo quando a reportagem do O SÃO PAULO chegou ao apartamento onde a família mora, na zona sul da capital paulista.

Dido, que perdeu o pai quando ainda era criança e morava na capital do Con- go, na África, disse que chorou por horas quando soube que seria pai e logo depois aquela emoção se transformou também em cuidado, pois sua esposa engravidou quando as notícias sobre o risco do zika virus estavam bastante difundidas e, segundo ele, muitas pessoas davam opiniões que deixavam o casal ainda mais preocupado.

“Senti uma enorme responsabilidade e, a partir daquele dia, percebi que precisava cuidar ainda mais da Maria Auxiliadora e do nosso filho que crescia dentro dela”, afirmou Dido. Por uma intercorrência médica, ela fez uma cirurgia cesariana de emergência e demorou alguns dias para se recuperar. Desse modo, foi Dido que aprendeu com as enfermeiras do hospital os primeiros cuidados com o recém-nascido. “Na primeira semana de vida dele eu dava banho, trocava fraldas, curava o umbigo e depois ensinei tudo para ela”, contou o pai “de primeira viagem”.

Talvez uma situação semelhante fosse bastante incomum há algumas décadas, quando a mulher era quase exclusiva- mente assistida pela própria mãe ou outra figura feminina da família. Hoje vê-se uma maior participação dos pais, seja durante a gestação, seja nestes primeiros meses ou anos da infância dos filhos.

“O modelo paternalista, onde o filho era propriedade do pai, ou este era apenas o provedor financeiro, vem sendo substituído pelo modelo de cuidado compartilhado com a figura materna, principalmente após a entrada da mulher no mercado de trabalho. Em muitas situações do dia a dia do pediatra, pode- se notar que os pais participam ativamente das consultas, trazendo informações relevantes sobre seus filhos. Muitos passam boa parte do dia com as crianças, por vezes até mais tempo que as mães”, afirmou Geiza César Nhoncanse, médi- ca residente em Pediatria do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da USP.

Quando Fabiana do Valle Smith nasceu, há pouco mais de 40 anos, era a mais velha dos quatro filhos de Joaquim e Vera Helena Ribeiro do Valle, e o contexto familiar brasileiro certamente era outro. Mas ela se recorda bem da presença constante do pai. “Lembro- me dos inúmeros passeios nos fins de semana, para brincar em parques, ir ao teatro, ao museu”, contou Fabiana. “Ele sempre trabalhou bastante, mas conseguia tempo para acompanhar cada um dos filhos. Sempre foi muito jeitoso com bebês, lembro da minha mãe contando que algumas vezes, quando eu chorava à noite e ela estava muito cansada, era ele quem se levantava, ia me buscar no ber- ço, entregava para ela me dar de mamar, depois trocava a minha fralda e me colocava para dormir novamente. Esse é o sonho de toda a mãe de recém-nascido”, enfatizou a esposa de Fernando Berzoini Smith e mãe do Lucas, 14, da Stella, 11 e da pequena Alice, de 4 anos.

A presença do pai de Fabiana, contudo, não se limitou aos primeiros anos da infância; durante a adolescência e juventude ele esteve sempre ali, junto dos fi- lhos. “Ele nos falava o que era certo e er- rado, mas não era intransigente. Sempre disposto a me buscar nas festinhas, tanto é que era o ‘tio’ que dava carona para todas as minhas amigas. E ele adorava”.

Para Fabiana, Manoel “foi um pai di- ferente na época dele” e sua mãe, Vera, sabendo disso, valorizava muito toda essa dedicação. “Nada como uma parce- ria, certo? Ainda mais quando se trata de criar filhos”, exclamou.

Dora Barrientos, terapeuta familiar e de casal, doutora em enfermagem e docente no Curso de Obstetrícia e de Psi- cologia na USP, destacou que “esta participação vai se tornando um momento prazeroso de muitas reflexões, desde que exista uma boa comunicação entre os ca- sais e ambos tenham plena consciência de que as necessidades devem ser com- partilhadas por todos os membros. De fato, incluir o pai fortalece os vínculos na família e a torna um ambiente de conví- vio mais saudável para todos e principal- mente para as crianças, que aprendem com o exemplo dos pais”.

Já Fabiola de Souto, advogada, doula [profissional que acompanha gestantes durante a gravidez e o parto], professora de yoga e mãe do Davi há quase 8 anos, acredita que “a participação dos pais vem com a mudança de paradigmas acerca da responsabilidade na criação dos filhos. Não há como manter a família sem con- dições igualitárias, considerando que, muitas vezes, as mulheres participam também trabalhando fora de casa. Acre- dito muito no lema ‘pai não ajuda, pai cumpre sua parte’. Meu marido diz que ‘pai não fica de babá, ou ajuda a cuidar, pai faz papel de pai’.”

Dido, que trabalha como economista e professor de francês autônomo, sai de casa antes das 7h e chega depois das 19h. Assim, aos fins de semana, faz questão de realizar todas as tarefas relacionadas ao filho, como trocar fraldas, dar banho e ainda ajudar Maria Auxiliadora no cui- dado com a casa. “É o tempo que tenho para estar com Victor Hugo e não que- ro fazer nada mais além disso”, afirmou Dido, que recebeu o nome do pai e lem- bra de como seu pai cozinhava para os filhos e brincava sempre com eles.

 

Nasceu, e agora?

Fernando Berzoini Smith havia aca- bado de perder sua mãe quando veio a notícia de que seria pai do Lucas. “Durante a gravidez a mãe acaba tendo um contato maior com o bebê. O parto é um momento muito marcante. Pegar o filho pela primeira vez é uma emoção para o resto da vida, mas me senti pai realmente nas primeiras semanas com o Lucas”. Logo após o nascimento do primeiro filho, ele percebeu que sua vida havia mudado para sempre. “A proximidade com os filhos é conquistada somente com o convívio, desde muito pequenos e acompanhando a cada momento. Eles precisam sentir que estamos sempre pre- sentes para conversas, dividir as vitórias, preocupações e perdas na vida, demons- trar a nossa fé, mostrar aos nossos filhos que antes de nós, nosso Pai no céu cuida e olha por nós”, afirmou Fernando.

Geiza orientou que compartilhar o cuidado é importante para a harmonia do ambiente familiar. “Para o pai, participar do cuidado do filho pode ajudá-lo a compreender o seu papel na família e o do bebê recém-chegado. Tira a sobrecarga de funções antes colocada na figura materna acaba por fazer com que o casal atravesse as turbulências do período de uma forma menos desgastante”.

“No começo da vida do bebê, é im- portante o papel do pai apoiador, protetor, que acolhe a mulher-mãe, que respeita seu tempo, que a protege dos meios externos, palpites e interferências negativas, permitindo que a amamentação flua, que a conexão com o bebê seja intensa e tranquila. Vai além do trocar fralda e dar o banho no bebê. E é gostoso ter a companhia nos momentos de des- coberta e crescimento que são a gestação e o nascimento do filho. É certo que no caso dos companheiros que acompa- nham a gestação, o parto e trabalho de parto, que participam com consciência, existe uma troca melhor, inclusive no pós-parto, e uma chance de maior satisfação com o nascimento. Nas rodas de gestantes e mães que organizamos, quando o companheiro participa, a mulher se sente muito mais apoiada e segura de que vai conseguir o parto que deseja e criar o filho como acredita ser o correto porque ambos estão munidos de infor- mações e estão já buscando o ‘acordo’, contou Fabiola.

 

benefícios pArA o desenvolvimento dA criAnçA

“Entre 6 e 12 meses de vida do bebê, não é tão destacado na literatura médica, a figura paterna assim como acontece com a materna. No entanto, o contato corporal entre o bebê e o pai é referência na organização e desenvolvimento psíquico da criança, com função de es- truturação do ego. Durante o segundo ano já existe a imagem de pai e mãe e a figura paterna fica mais acentuada e tem a função de apoiar o desenvolvimento social da criança, auxiliando-a nas dificuldades peculiares neste período e no desprendimento necessário aos costumes da situação familiar man- tidos pela mãe. O pai aparece como ter- ceiro imprescindível para que a criança elabore a perda da relação inicial com a mãe e passa a representar o princípio de realidade e de ordem na família. A criança começa a perceber que não é a única a compartilhar a atenção da mãe. Ocorre o desprendimento do binômio mãe-bebê com a figura do pai e abre- se o horizonte de novas possibilidades, num grupo agora de três pessoas. O pai ensina o filho a existir em sociedade, assim como a mãe o ensinou a existir em seu próprio corpo”, explicou a pediatra Geiza.

Dora, por sua vez, salientou que “não se trata de ter um pai simplesmente morando no mesmo teto, pois sabemos que existem pais que mesmo estando juntos são completamente ausentes e, muitas vezes, os pais precisam trabalhar longe da família e se reencontrarem somente aos finais de semana. Nessas circunstâncias, a tecnologia tem ajudado a suprir o distanciamento”.

E, se por um lado, parece haver uma evolução na qualidade da presença paterna, sobretudo nos primeiros anos de vida dos filhos, por outro lado, verifica- se um despreparo de alguns profissionais para considerar o papel do pai tanto quanto o da mãe. Geiza disse ainda que, durante a formação do pediatra, esse tema é bastante abordado como uma forma cultural de agir, depositando na fi- gura materna as responsabilidades sobre a criança. “Quando a criança é levada a consulta médica pelo pai, na ausência da mãe, logo perguntamos por que a mes- ma não pôde comparecer. Quando o pai falta à consulta, geralmente não questio- namos sua ausência. Com a mudança do modelo familiar que vem historicamente acontecendo, cada vez mais o pediatra é questionado e treinado para uma melhor abordagem, visto que informações for- necidas pela figura paterna são tão im- portantes quanto as trazidas pelas mães”. “Uma questão indispensável é con- tinuar fortalecendo a formação dos futuros profissionais a focar no atendi- mento da família sem excluir ninguém. Que todos sejam valorizados para evi- tar momentos de crise familiar, comuns inclusive durante o primeiro ano de vida da criança, quando não são toma- dos os devidos cuidados com o casal e as necessidades desta nova família”, disse Dora à reportagem. Fabiola também questionou que muitos pediatras se dirigem à mãe quase que exclusiva- mente. “É raro um pai ir ao consultório sozinho, mas lá em casa meu marido já fez isso muitas vezes e ainda é causa de estranhamento. ”

 

 

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Família cristã: Aquela que o Estado precisa

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18 de abril de 2017

No Direito, a família converteu-se na maior preocupação do Estado pós-moderno, mesmo considerando características e conceitos desvirtuados nas atuais relações familiares, sob influência do individualismo que cunha a sociedade ocidental atual.

Durante o século XX, houve uma busca da valorização dos direitos e garantias individuais, entre eles os das mulheres, com a valorização individual dos entes familiares, sustentados agora na base constitucional da igualdade e isonomia. A participação isonômica de cada integrante da família, com funções e tarefas diferentes, mas com espaço para o respeito mútuo e a igualdade, tornou-se razão de identificação de afeto e respeito nas relações familiares, sob um novo modelo de Estado Democrático de Direito.

A isso, seguiu-se uma desconsideração da estrutura familiar tradicional, de cunho patriarcal, hierarquizada, em favor de uma instituição democrática.

Assim, a família, base da sociedade, passa a ter a necessidade de ser novamente compreendida, levando-se em conta um novo tecido normativo, que inclui valores éticos que devem se harmonizar com a realidade familiar.

Valores fundamentais restaram obscurecidos pelos conceitos de uma pós-modernidade individualista e dualista, concentrada na preservação dos direitos individuais, esquecendo-se da solidariedade e do humanismo familiar autêntico.

A felicidade a qualquer custo, difundida pelo modelo globalizado de sociedade, dizima famílias frente a uma pregação em que o pacto moral cede espaço para a recusa das regras morais, orientadoras do exercício humano e cristão da sexualidade no Matrimônio. Mas essa dualidade que prega o direito individual e o amor de si mesmo confunde nossos pensamentos sobre o amor e não deixa ver a vocação originária e fundamental do ser humano.

Nesse contexto, a identidade da família cristã, superando individualidades estruturais próprias e a dinâmica emocional de cada membro, assume padrões de comportamento, convenções sociais, valores morais, filosóficos e religiosos, que são transmitidos de geração em geração, segundo a base em que ela se sustenta.

“No Matrimônio e na família, constitui-se um complexo de relações interpessoais – vida conjugal, paternidade-maternidade, filiação, fraternidade – mediante as quais cada pessoa humana é introduzida na ‘família humana’ e na ‘família de Deus’, que é a Igreja” (Exortação Apostólica Familiaris Consortio, 15).

Essa realidade de amor é verdadeira fonte de sustento, porque o mundo é assolado pela dispersão dos valores sociais e conjugais, em favor do humanismo individualista, em que os direitos e garantias individuais se afastam da solidariedade familiar e conjugal.

Contrariamente a tudo isso, o bem-estar social verdadeiro deve passar pela valorização comum dos direitos de cada um, em um conjunto, em uma estrutura familiar, na qual a educação amorosa e fecunda, a moral e a ética são os instrumentos vivos de uma sociedade rica de valores fundamentais para o Estado Democrático de Direito.

A família que o Estado precisa é a família como verdadeira Eclesia, em um conceito de “igreja doméstica”, em um resgate das primeiras igrejas que se reuniam em casas de famílias, com pais e filhos recebendo uns dos outros a prática dos preceitos de amor fraterno, solidariedade e fraternidade, fundamentos da fé cristã.

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