NACIONAL

Com a Palavra

‘O Terço dos Homens é uma bênção para a Igreja e para o Brasil’

Por Fernando Geronazzo
21 de fevereiro de 2020

Dom Gil Antônio Moreira

Assessoria de Comunicação da Arquidiocese de Juiz de Fora

Há dez anos, Dom Gil Antônio Moreira, Arcebispo de Juiz de Fora (MG), é Bispo Referencial do Movimento do Terço dos Homens, na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Segundo ele, já são mais de 1,5 milhão de homens a rezar o Terço em todo o País. Em entrevista ao O SÃO PAULO, ele destacou o crescimento do movimento no País, seu papel na transformação da vida de muitos homens e suas famílias, além da contribuição para a vida pastoral das comunidades. 

O SÃO PAULO – Há quanto tempo o senhor conhece o Terço dos Homens? 
Dom Gil Antônio Moreira – Conheço o movimento do Terço dos Homens há aproximadamente 15 anos, por meio de experiências que surgiram em algumas comunidades, sobretudo no município de Itaúna (MG), onde fui pároco de uma das paróquias. Também tinha conhecimento da existência de grupos em várias paróquias do País. Observei, ainda, que o Movimento da Mãe Rainha de Schoenstatt promovia a oração do Terço com os homens. Eu considero esse movimento muito interessante porque o Terço é uma oração popular, fácil, que tem uma grande profundidade. Trata-se da contemplação da vida de Cristo por meio de uma oração mariana, ou seja, na sintonia do coração de Nossa Senhora, que foi quem mais perto esteve de Jesus, a que foi escolhida por Deus para ser a Mãe do Salvador. Ela o teve no ventre, nos braços, na infância, na adolescência, na juventude, na vida pública e pregações e, depois, na sua Paixão, Morte e Ressurreição. Por essa razão, eu me interessei por esse movimento que leva os homens ao encontro pessoal com Cristo, por meio da devoção e do amor a Nossa Senhora.
 
Como o senhor define essa devoção? 
Essa devoção é uma grande bênção para a Igreja e para a nossa nação. A devoção é, justamente, um caminho para conhecer melhor a Jesus Cristo. Cada mistério do Terço é uma meditação, uma reflexão, sobre um detalhe da vida de Jesus Cristo. Uma das coisas em que devemos investir atualmente é na formação, não apenas no aspecto intelectual, mas, também, no oracional e até emocional, pois ela é muito oportuna aos homens, pais de família, jovens. Isso terá efeito também na família. Nada impede que as mulheres rezem o Terço com os homens em algumas ocasiões, tampouco impede que as famílias participem do movimento. Todos na Igreja devem rezar o Terço, não apenas os homens. Mas esse movimento é uma oportunidade de os homens se reunirem em grupo. É uma maneira de se organizar que ajuda a participação. Há séculos que a Igreja reza o Terço. Sabemos que o Terço tem esse nome por ser a terça parte do Rosário. Agora que temos quatro conjuntos de mistérios contemplados, continuamos a chamar de Terço, pois o termo já se tornou substantivo. Penso que esse é um grande momento para a história da Igreja. É preciso saber, também, que não é a primeira vez que homens se organizam para rezar o Terço. Existem outras experiências da história, em vários lugares, mas, aqui no Brasil, é uma retomada de um método que penso não ser ultrapassado, além de não ferir em nada a espiritualidade de comunhão da Igreja. Pelo contrário, contribui muito. 

O que mais chama a atenção do senhor nesse movimento? 
É justamente o fato de o movimento atrair os homens, que convidam uns aos outros para participar. Também me admira a perseverança. Muitas pessoas começam uma coisa e depois param. No movimento do Terço dos Homens, tenho observado o índice de perseverança muito grande. Penso que isso é uma graça de Deus. Outra coisa que me chama a atenção é a conversão. Muitos homens que estavam afastados da Igreja, que nem mais rezavam ou ligavam para a vida espiritual, aproximam-se do Terço dos Homens, têm a sua frequência semanal, passam, depois, a pertencer à paróquia de maneira mais intensa, começam a participar das missas, dos demais movimentos e pastorais. O Terço dos Homens é, portanto, um meio de evangelização muito grande. Além disso, percebo o crescimento extraordinário do movimento. Contribui para isso, sem dúvida, o apoio do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida e da Rede Aparecida de Comunicação. Também há o apoio da TV Canção Nova e de outros meios de comunicação católicos. Não posso deixar de fazer referência ao Terço dos Homens da Mãe Rainha, que no Nordeste e no Norte do País tem grande presença. Sinto muita alegria por poder acompanhar o Terço dos Homens em todo o Brasil. Tenho convicção de que este grande momento de evangelização e espiritualidade dos homens é uma bênção de Deus.  

O Terço dos Homens recupera, de alguma forma, os antigos grupos que agregavam homens em torno de uma devoção? 
Penso que o Terço dos Homens não tenha muita vinculação com esses antigos movimentos, justamente por não termos o desejo de estruturas, cargos, eleições, estatutos etc. No meu entender, o que devemos fazer é apenas incentivar a oração do Terço entre os homens. É uma tradição da Igreja, todo mundo pode rezar individualmente, em grupo, em família, em comunidade, sem muita estruturação. O Terço dos Homens é uma maneira de rezar e de se organizar em grupos para cultivar a devoção mariana. Essas irmandades e grupos têm sua importância na história da Igreja e têm o nosso incentivo. Contudo, eles possuem uma identidade e missão próprias. 

O quanto o Terço dos Homens contribui com a vida pastoral de uma comunidade paroquial? 
Quando o Terço dos Homens é bem acolhido nas dioceses, nas paróquias, com o apoio do padre, tem tudo para ser uma força pastoral imensa nas comunidades. Muitos homens do Terço passam a pertencer a grupos paroquiais dos mais variados. Aqui em Juiz de Fora, por exemplo, nós temos um trabalho bastante interessante dos membros desse movimento com os pobres e pessoas em situação de rua. Já houve testemunho de grupos no interior do Brasil que se organizaram para reconstruir um hospital em ruínas. Também já testemunhei grupos de Terços dos Homens que assumiram certas pastorais desativadas nas paróquias. Os assim chamados “homens do Terço” ajudam na organização de eventos diocesanos, fazendo a pastoral da acolhida. Por isso, os grupos se integram na vida da comunidade. É uma força que está à disposição da paróquia. Pela oração, vamos à ação. O tema do nosso encontro nacional do ano passado era “Não basta rezar, é preciso agir”. Assim como não basta somente agir, é preciso rezar. 

E para a família e a sociedade? 
Eu tenho visto que muitos homens que antes estavam em dificuldades na família, enfrentando problemas, depois que começaram a participar do Terço dos Homens mudaram. Temos testemunho de homens, de esposas, filhos, que viram essa transformação. A aproximação de Cristo por meio da oração e da meditação do Terço os levou a uma reflexão sobre si mesmos e a modificar certas questões de suas vidas. Não apenas as famílias em dificuldades, mas todas as famílias se beneficiam com um homem que tem a oração como algo importante na sua vida. A própria sociedade também se beneficia, pois o homem, quando reza, recebe interiormente a iluminação de como deve se comportar em família, pessoalmente e na sociedade, ajudando a transformá-la em mais justa, fraterna e solidária. Quem tem o Terço nas mãos tem a oração no coração e tem Cristo na mente. Maria nos leva a Cristo e o apresenta a nós.

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