Eucaristia: sacramento da comunhão da Igreja, corpo de Cristo
Missa na Praça da Sé, seguida de uma procissão eucarística pelas ruas do centro da Capital Paulista
Na quinta-feira, 20, a Igreja celebra a Solenidade do Santíssimo Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo, tradicionalmente chamada de Corpus Christi. Como é tradição, a Arquidiocese de São Paulo celebra a data com uma missa na Praça da Sé, seguida de uma procissão eucarística pelas ruas do centro da Capital Paulista.
Com o tema: “Sínodo arquidiocesano: com Cristo, caminhemos em comunhão”, a celebração arquidiocesana de Corpus Christi acontece em meio ao caminho sinodal da Igreja em São Paulo e chama a atenção dos católicos para uma das dimensões do sacramento considerado fonte e cume de toda a vida cristã.
Como ensina o Catecismo da Igreja Católica, “a comunhão de vida com Deus e a unidade do povo de Deus, pelas quais a Igreja é o que é, são significados e realizados pela Eucaristia”.
MISTÉRIO DA IGREJA
Em 2003, na Encíclica Ecclesia de Eucharistia, São João Paulo II afirmou que “a Igreja vive da Eucaristia” e que “esta verdade não exprime apenas uma experiência diária de fé, mas contém em síntese o próprio núcleo do mistério da Igreja. É com alegria que ela experimenta, de diversas maneiras, a realização incessante desta promessa: ‘Eu estarei sempre convosco, até o fim do mundo’ (Mt 28,20)”.
Ao falar da íntima relação entre a Igreja e a Eucaristia, o Pontífice polonês recorda que as quatro notas que definem a Igreja – una, santa, católica e apostólica – também podem ser usadas para definir esse sacramento. Como a Igreja foi e continua a ser construída sobre o alicerce dos apóstolos, a Eucaristia, confiada por Jesus aos apóstolos que a transmitiram aos seus sucessores depende do ministério apostólico para continuar a ser celebrada ao longo dos séculos.
CORPO DE CRISTO
Na Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis (2007), o Papa Emérito Bento XVI afirma que a Eucaristia é o “princípio causal da Igreja”. “De fato, o próprio Cristo, no sacrifício da cruz, gerou a Igreja como sua esposa e seu corpo [...]. A Eucaristia é Cristo que Se dá a nós, edificando-nos continuamente como seu corpo”, escreve.
Bento XVI recorda, ainda, que a Eucaristia é constitutiva do ser e do agir a Igreja. “Por isso, a antiguidade cristã designava com as mesmas palavras – Corpus Christi – o corpo nascido da Virgem Maria, o corpo eucarístico e o corpo eclesial de Cristo”.
Na Exortação, o Papa Emérito cita como exemplo uma prece da Oração Eucarística II pela unidade da Igreja: “participando no corpo e sangue de Cristo, sejamos reunidos, pelo Espírito Santo, num só corpo”. Bento XVI ressalta que essa passagem ajuda a compreender como a eficácia do sacramento eucarístico é a unidade dos fiéis na comunhão eclesial. “Assim, a Eucaristia aparece na raiz da Igreja como mistério de comunhão”, destaca.
COMUNHÃO
Na Eucaristia, São João Paulo II recorda a ênfase que o Concílio Vaticano II deu à natureza da Igreja como comunhão e ressalta que ela é chamada a conservar e promover tanto a comunhão com a Trindade divina quanto a comunhão entre os fiéis. Ele reforça, ainda, que, é na celebração eucarística que a Igreja melhor manifesta a sua identidade enquanto comunhão. Tanto que não é por acaso que o termo “comunhão” se tornou um dos nomes desse sacramento.
É também do mistério eucarístico e do desejo profundo de receber o Corpo de Cristo que nasce o hábito da comunhão espiritual, tão recomendada pelos santos mestres da vida espiritual, como Santa Teresa de Jesus, que dizia: “Quando não comungais e não participais na Missa, comungai espiritualmente, porque é muito vantajoso. [...] Desse modo, imprime-se em vós muito do amor de nosso Senhor”.
VIDA DA GRAÇA
A comunhão eucarística possui as dimensões invisível e visível. “A comunhão invisível, embora por natureza esteja sempre em crescimento, supõe a vida da graça, pela qual nos tornamos ‘participantes da natureza divina’ (cf. 2Pd 1,4), e a prática das virtudes da fé, da esperança e da caridade”, explicou São João Paulo II, reforçando que não basta só a fé, é necessário “perseverar na graça santificante”. Sobre isso, São Paulo adverte:
“Examine-se cada qual a si mesmo e, então, coma desse pão e beba desse cálice” (1Cor 11,28). Nesse sentido, os sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação possuem uma íntima relação. “Se a Eucaristia torna presente o sacrifício redentor da cruz, perpetuando-o sacramentalmente, isso significa que deriva dela uma contínua exigência de conversão”, reforça o Pontífice.
COMUNIDADE EUCARÍSTICA
Sobre a dimensão visível da comunhão, São João Paulo II salienta que receber o corpo de Cristo é, portanto, uma manifestação da plenitude de comunhão dentro da Igreja, exigindo que se mantenham vínculos visíveis de comunhão com ela.
A Encíclica ressalta, ainda, que, embora se celebre sempre numa comunidade particular, o sacrifício eucarístico nunca é uma celebração apenas dessa comunidade. “De fato, esta [comunidade], ao receber a presença eucarística do Senhor, recebe o dom integral da salvação e manifesta-se, assim, apesar da sua configuração particular, que continua visível, como imagem e verdadeira presença da Igreja.”
A comunhão eclesial da assembleia eucarística é também expressão de comunhão com o Bispo, princípio visível e fundamento da unidade na sua diocese, e com o Papa. “Seria, por isso, uma grande incongruência celebrar o sacramento por excelência da unidade da Igreja sem uma verdadeira comunhão com o Bispo”, ressalta São João Paulo II.
O DOMINGO
Também na Carta Apostólica Novo millennio ineunte (2001), São João Paulo II afirma que a eficácia da Eucaristia em promover a comunhão é um dos motivos da importância da missa dominical. “É o lugar privilegiado, onde a comunhão é constantemente anunciada e fomentada. Precisamente por meio da participação eucarística, o dia do Senhor torna-se também o dia da Igreja, a qual poderá, assim, desempenhar de modo eficaz a sua missão de sacramento de unidade”, afirma.
SACRAMENTO DA UNIDADE
Na catequese feita em 5 de fevereiro de 2014, o Papa Francisco enfatizou que, ao comungar do corpo de Cristo na missa, o fiel experimenta “a plena comunhão com o Pai que caracterizará o banquete celeste” com todos os santos. “E com a Eucaristia, sentimos esta pertença à Igreja, ao povo de Deus, ao Corpo de Deus, a Jesus Cristo. Nunca terminará em nós o seu valor e a sua riqueza. Por isso, pedimos que este sacramento possa continuar a manter viva na Igreja a sua presença e a moldar as nossas comunidades na caridade e na comunhão, segundo o coração do Pai”, concluiu o Pontífice.
Conhecido como “Doutor Angélico” e cantor apaixonado por Jesus Eucarístico, Santo Tomás de Aquino expressa, em uma pequena oração, o mistério da Eucaristia como alimento e princípio da comunhão da Igreja na eternidade: