SÃO PAULO

CORPUS CHRISTI

Eucaristia: sacramento da comunhão da Igreja, corpo de Cristo

Por Fernando Geronazzo
26 de junho de 2019

Missa na Praça da Sé, seguida de uma procissão eucarística pelas ruas do centro da Capital Paulista

Na quinta-feira, 20, a Igreja celebra a Solenidade do Santíssimo Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo, tradicionalmente chamada de Corpus Christi. Como é tradição, a Arquidiocese de São Paulo celebra a data com uma missa na Praça da Sé, seguida de uma procissão eucarística pelas ruas do centro da Capital Paulista.

Com o tema: “Sínodo arquidiocesano: com Cristo, caminhemos em comunhão”, a celebração arquidiocesana de Corpus Christi acontece em meio ao caminho sinodal da Igreja em São Paulo e chama a atenção dos católicos para uma das dimensões do sacramento considerado fonte e cume de toda a vida cristã.

Como ensina o Catecismo da Igreja Católica, “a comunhão de vida com Deus e a unidade do povo de Deus, pelas quais a Igreja é o que é, são significados e realizados pela Eucaristia”.

MISTÉRIO DA IGREJA

Em 2003, na Encíclica Ecclesia de Eucharistia, São João Paulo II afirmou que “a Igreja vive da Eucaristia” e que “esta verdade não exprime apenas uma experiência diária de fé, mas contém em síntese o próprio núcleo do mistério da Igreja. É com alegria que ela experimenta, de diversas maneiras, a realização incessante desta promessa: ‘Eu estarei sempre convosco, até o fim do mundo’ (Mt 28,20)”.

Ao falar da íntima relação entre a Igreja e a Eucaristia, o Pontífice polonês recorda que as quatro notas que definem a Igreja – una, santa, católica e apostólica – também podem ser usadas para definir esse sacramento. Como a Igreja foi e continua a ser construída sobre o alicerce dos apóstolos, a Eucaristia, confiada por Jesus aos apóstolos que a transmitiram aos seus sucessores depende do ministério apostólico para continuar a ser celebrada ao longo dos séculos.

CORPO DE CRISTO

Na Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis (2007), o Papa Emérito Bento XVI afirma que a Eucaristia é o “princípio causal da Igreja”. “De fato, o próprio Cristo, no sacrifício da cruz, gerou a Igreja como sua esposa e seu corpo [...]. A Eucaristia é Cristo que Se dá a nós, edificando-nos continuamente como seu corpo”, escreve.

Bento XVI recorda, ainda, que a Eucaristia é constitutiva do ser e do agir a Igreja. “Por isso, a antiguidade cristã designava com as mesmas palavras – Corpus Christi – o corpo nascido da Virgem Maria, o corpo eucarístico e o corpo eclesial de Cristo”.

Na Exortação, o Papa Emérito cita como exemplo uma prece da Oração Eucarística II pela unidade da Igreja: “participando no corpo e sangue de Cristo, sejamos reunidos, pelo Espírito Santo, num só corpo”. Bento XVI ressalta que essa passagem ajuda a compreender como a eficácia do sacramento eucarístico é a unidade dos fiéis na comunhão eclesial. “Assim, a Eucaristia aparece na raiz da Igreja como mistério de comunhão”, destaca.

COMUNHÃO

Na Eucaristia, São João Paulo II recorda a ênfase que o Concílio Vaticano II deu à natureza da Igreja como comunhão e ressalta que ela é chamada a conservar e promover tanto a comunhão com a Trindade divina quanto a comunhão entre os fiéis. Ele reforça, ainda, que, é na celebração eucarística que a Igreja melhor manifesta a sua identidade enquanto comunhão. Tanto que não é por acaso que o termo “comunhão” se tornou um dos nomes desse sacramento.

É também do mistério eucarístico e do desejo profundo de receber o Corpo de Cristo que nasce o hábito da comunhão espiritual, tão recomendada pelos santos mestres da vida espiritual, como Santa Teresa de Jesus, que dizia: “Quando não comungais e não participais na Missa, comungai espiritualmente, porque é muito vantajoso. [...] Desse modo, imprime-se em vós muito do amor de nosso Senhor”.

VIDA DA GRAÇA

A comunhão eucarística possui as dimensões invisível e visível. “A comunhão invisível, embora por natureza esteja sempre em crescimento, supõe a vida da graça, pela qual nos tornamos ‘participantes da natureza divina’ (cf. 2Pd 1,4), e a prática das virtudes da fé, da esperança e da caridade”, explicou São João Paulo II, reforçando que não basta só a fé, é necessário “perseverar na graça santificante”. Sobre isso, São Paulo adverte:

“Examine-se cada qual a si mesmo e, então, coma desse pão e beba desse cálice” (1Cor 11,28). Nesse sentido, os sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação possuem uma íntima relação. “Se a Eucaristia torna presente o sacrifício redentor da cruz, perpetuando-o sacramentalmente, isso significa que deriva dela uma contínua exigência de conversão”, reforça o Pontífice.

COMUNIDADE EUCARÍSTICA

Sobre a dimensão visível da comunhão, São João Paulo II salienta que receber o corpo de Cristo é, portanto, uma manifestação da plenitude de comunhão dentro da Igreja, exigindo que se mantenham vínculos visíveis de comunhão com ela.

A Encíclica ressalta, ainda, que, embora se celebre sempre numa comunidade particular, o sacrifício eucarístico nunca é uma celebração apenas dessa comunidade. “De fato, esta [comunidade], ao receber a presença eucarística do Senhor, recebe o dom integral da salvação e manifesta-se, assim, apesar da sua configuração particular, que continua visível, como imagem e verdadeira presença da Igreja.”

A comunhão eclesial da assembleia eucarística é também expressão de comunhão com o Bispo, princípio visível e fundamento da unidade na sua diocese, e com o Papa. “Seria, por isso, uma grande incongruência celebrar o sacramento por excelência da unidade da Igreja sem uma verdadeira comunhão com o Bispo”, ressalta São João Paulo II.

O DOMINGO

Também na Carta Apostólica Novo millennio ineunte (2001), São João Paulo II afirma que a eficácia da Eucaristia em promover a comunhão é um dos motivos da importância da missa dominical. “É o lugar privilegiado, onde a comunhão é constantemente anunciada e fomentada. Precisamente por meio da participação eucarística, o dia do Senhor torna-se também o dia da Igreja, a qual poderá, assim, desempenhar de modo eficaz a sua missão de sacramento de unidade”, afirma.

SACRAMENTO DA UNIDADE

Na catequese feita em 5 de fevereiro de 2014, o Papa Francisco enfatizou que, ao comungar do corpo de Cristo na missa, o fiel experimenta “a plena comunhão com o Pai que caracterizará o banquete celeste” com todos os santos. “E com a Eucaristia, sentimos esta pertença à Igreja, ao povo de Deus, ao Corpo de Deus, a Jesus Cristo. Nunca terminará em nós o seu valor e a sua riqueza. Por isso, pedimos que este sacramento possa continuar a manter viva na Igreja a sua presença e a moldar as nossas comunidades na caridade e na comunhão, segundo o coração do Pai”, concluiu o Pontífice.

Conhecido como “Doutor Angélico” e cantor apaixonado por Jesus Eucarístico, Santo Tomás de Aquino expressa, em uma pequena oração, o mistério da Eucaristia como alimento e princípio da comunhão da Igreja na eternidade:

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