SÃO PAULO

O homem e a realidade

Democracia, pluralismo e relativismo

Por Editorial
18 de mai de 2017

Segundo filósofo, esteriótipos ideológicos costumam ser frutos da preguiça de pensar 

O filósofo espanhol José Ramón Ayllón escreveu, em um texto em que trata do relativismo e da democracia, que o ser humano, “enquanto animal racional, procura a verdade. Como animal preguiçoso, cansa-se de indagar e decide que as coisas são o que cada um acha” (“Mitologia Moderna”, 2011, editora Quadrante).

Segundo esse filósofo, os estereótipos ideológicos que se impõem como formas politicamente corretas de pensar costumam ser frutos naturais, por um lado, da complexidade do mundo e, por outro, da preguiça de pensar. Entre esses paradigmas estão aqueles que, baseados no “dog ma” relativista do pensamento moderno de que o bem universal e absoluto não existe, pregam que em uma sociedade “democrática” não é possível estabelecer valores éticos que sirvam para todos, já que são próprios da democracia a liberdade e o pluralismo, entendidos como o direito de pensar e de se viver como cada qual quiser.

Tais paradigmas fundam-se na crença arbitrária e idealista de que o homem possui autonomia sobre a realidade e de que a verdade, enquanto absoluta, não existe.

Ocorre, porém, que pluralismo e relativismo não são a mesma coisa. O pluralismo é bom e necessário. É manifestação positiva do direito à liberdade, procede do reconhecimento prático da liberdade humana e consagra a convivência de pontos de vista e de condutas diferentes. Em outras palavras, o pluralismo reconhece que é perfeitamente possível que questões políticas, econômicas e sociais tenham soluções diferentes e que, ao mesmo tempo, todas podem estar de acordo com a ética geral e a justiça em particular.

Já o relativismo constitui um abuso da liberdade que, ao negar a possibilidade da verdade, nega também a possibilidade do bem e da constituição de uma ética sólida que se converta em valores comuns, base necessária para a garantia dos direitos humanos e para a existência da própria democracia. Enquanto o pluralismo se orienta pela ética e pela justiça, o relativismo torna impossível a existência da própria ética e, por isso, impede que exista justiça.

Ayllón expressa com clareza o dano cognitivo que o relativismo traz: “Por não admitir o peso específico do real, deixa a inteligência abandonada ao seu próprio capricho e, por isso, vem a ser um vírus que invade a estrutura psicológica do ser humano e o impede de reconhecer que as coisas são como são e têm consistência própria”.

Manifesta-se, portanto, a necessidade de trabalharmos fraternalmente por uma sociedade plural, sim, mas jamais relativista, o que minaria seu próprio fundamento de coesão e solidariedade. As tensões e conflitos sociais tão patentes que temos presenciado não vêm justamente comprovar tais ideias?

Nesse sentido, a Igreja, em sua profunda sabedoria, sempre respeitou, dentro dos justos limites, o direito que as diversas comunidades políticas têm de estabelecer seus sistemas ou modelos de organização social, pois “a missão própria que Cristo lhe confiou não é de ordem política, econômica e social, (...) mas de ordem religiosa” (Doutrina Social da Igreja 68). Não obstante, “desta mesma missão religiosa decorrem benefícios, luzes e forças que podem auxiliar a organização e o fortalecimento da comunidade humana” (ibidem) – justamente os fundamentos do bem comum.

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