INTERNACIONAL

Oreste Pesare - da RCC

'Capazes de dar a vida pela unidade'

Por Filipe Domingues
13 de junho de 2017

Lider carismático, Osesre Pesare concedeu entrevista exculiva ao O SÃO PAULO, na ocasião do jubileu celebrado em Roma

Catholic Charismatic Renewal

Celebrar os 50 anos da Renovação Carismática Católica em Roma foi uma ideia do Papa Francisco, mas a organização do encontro para 50 mil pessoas no sábado, 3, coube a um grupo internacional de líderes carismáticos. Um deles foi Oreste Pesare, diretor-executivo da associação International Catholic Charismatic Renewal Services (ICCRS), instituída sob o Papa João Paulo II e reconhecida pelo Vaticano como representante da Renovação no mundo.

À frente da agência desde 1996, Pesare iniciou seu caminho no movimento em 1984, com uma forte experiência espiritual. Desde então, se dedica à promoção da Renovação Carismática no coração institucional da Igreja: o Vaticano.

Em entrevista a O SÃO PAULO, ele defendeu que a essência da corrente carismática é a unidade dos cristãos. Quando toda a Igreja perceber que todas as diferenças são capazes de se conectar, de se amar, de se acolher, uns com os outros, seremos capazes de dar a vida pela unidade do Corpo de Cristo.

 

O SÃO PAULO - O que é a renovação carismática?

Oreste Pesare - É uma corrente do Espírito. Uma corrente de graça que nasceu no século XX, formando as primeiras comunidades pentecostais. Difundiu-se nas igrejas históricas evangélicas, mas em 1967 foi aprovada na área católica. Um grupo de estudantes estava reunido, em fevereiro de 1967, justamente para refletir sobre os Atos dos Apóstolos e sobre um Cristianismo vivo nas igrejas pentecostais. E o Espírito Santo se manifestou de forma surpreendente, sensível, não somente teórica. Sentiram uma presença pessoal, que chorava, que sorria, que os fez cantar em línguas, como na história narrada nos Atos. Sentiram a presença de Deus, se ajoelharam, se prostraram, como descrito muitas vezes na Bíblia. Estava vivo entre eles. Desde então, nestes 50 anos, essa presença, que nós chamamos de batismo no Espírito Santo, se difundiu em 220 nações do mundo, entre 160 milhões de católicos. Nossos irmãos [de outras igrejas], reúnem 600 milhões de cristãos que fizeram essa experiência.

Qual é a diferença entre O movimento carismático católico e em outras comunidades cristãs?

 

Na substância, não há diferença. É o mesmo Espírito que está agindo em diferentes denominações cristãs para realizar o sonho de Jesus: que todos sejam uma coisa só. Que finalmente o mundo possa crer que o Pai do Céu mandou Cristo para salvar o mundo e a humanidade.

Então, O “Batismo no Espírito” é uma experiência espiritual?

O batismo no Espírito Santo é essa experiência. E quem a faz sabe bem que a faz. É uma experiência de oração, um encontro pessoal com Jesus. Ele não foi só um personagem na história, mas alguém que você e eu podemos encontrar. Essa experiência que nós chamamos de batismo no Espírito Santo é um encontro profundo, no íntimo do nosso coração. E quando você o encontra, sabe que não pode voltar atrás. Tem um antes e um depois. A sua vida será tocada para sempre. Você encontrou Deus.

Como nasceu a celebração do Jubileu em Roma?

Foi organizado por mais de um ano e meio, a convite específico e pessoal do Papa. Encontrando toda a Renovação Carismática em 2014, no Estádio Olímpico de Roma, ele convidou a viver com ele o jubileu dos 50 anos na Solenidade de Pentecostes de 2017. Foi uma grande alegria sermos convidados para festejar essa obra do Espírito, sempre nova e sempre antiga, pois o Espírito se renova na história.

O Papa Francisco convidou os grupos Pentecostais. O que isso representa?

Foi ideia dele fazer uma vigília ecumênica, por causa do desejo de conciliar. Também são 500 anos da Reforma Protestante, portanto, providencialmente foi uma data incrível para fazer um grande salto em direção à unidade absoluta e verdadeira das igrejas. Uma unidade na diversidade. O Papa Francisco não procura uniformidade. É o próprio Espírito, diz ele, que criou a diversidade. Ninguém pode se sentir patrão ou fundador de uma obra que é peculiarmente nascida e conduzida pelo Espírito Santo. Somos só servidores e damos glória a Deus por essa honra.

O papa falou da tentação de viver unidade sem diversidade ou diversidade sem unidade…

Certo. Se alguém me perguntasse qual é o carisma da Renovação Carismática, não tenho dúvidas ao dizer que o mais profundo é a unidade do Corpo de Cristo. Quando toda a Igreja perceber que todas as diversidades são capazes de se conectar, de se amar, de se acolher, uns com os outros, seremos capazes de dar a vida pela unidade do Corpo de Cristo.

Podemos dizer que O Papa Francisco é um pouco carismático?

Devo te dizer que a Igreja é toda carismática. Infelizmente, há aqueles que não veem. Eu digo que a Igreja é como um avião, que precisa de duas asas para voar: a dimensão institucional e aquela carismática. Uma sem a outra faz fracassar o projeto de Deus. Precisamos uns dos outros para nos salvarmos, e isso é caridade. É o fundamento de toda dimensão cristã.

O Papa vive isso, então?

O Papa Francisco é plenamente carismático.  Seja   institucionalmente, o seu dom para o carisma que recebeu de Deus, por ter aceitado a se abrir a uma nova unção do Espírito Santo, já quando ele era cardeal. Foi uma grande humilda- de se colocar entre católicos e pentecostais que rezam por ele. Ele falava do “nosso Jubileu de Ouro”. Se sentia envolvido nisso. Seja bendito o nome do Senhor!

Como descreve o momento  atual da renovação? O que mudou desde o começo até hoje?

Mudou tudo.  Mudaram as pessoas, a sociedade, mudamos nós, a ciência. Tudo. Mas, a ação do Espírito Santo muda, conforme muda o mundo. Isso é normal, mas muda ao interno de uma comunidade, essa grande corrente de graça que é a Renovação. É tempo de exprimir uma maturidade na experiência humana. Quando a experiência espiritual é real, te faz crescer na dimensão humana. Portanto, depois de 50 anos, superamos grandes barreiras, divisões, separações, distinções. São João Paulo II dizia: “Espero de vocês uma maturidade eclesial feita de empenho e comunhão”. Creio que Francisco esteja nos acompanhando nessa direção.

O senhor conhece a Renovação no Brasil?

Claro! Fui várias vezes. Seja nas comunidades da aliança, grupos de oração e encontros. Tive a honra de acompanhar o primeiro encontro de jovens carismáticos no mundo, em Foz do Iguaçu (PR), em 2012…

E qual seria uma característica do movimento no Brasil?

Creio que o povo brasileiro vive essa alegria do Espírito Santo. Essa abertura, mesmo nas dificuldades. Há uma boa organização, mas o principal é a abertura à novidade, ao diálogo. É a nação com o maior número de carismáticos católicos no mundo. Podemos fazer um convite ao povo brasileiro da Renovação: ir além da graça recebida a si mesmo, que é imensa, e doar-se a Deus sendo missionários em todo o mundo. Levar essa alegria de ser cristãos no século XXI.

No brasil, os carismáticos foram criticados por serem personalistas, seguindo mais a figura de um sacerdote, ou um líder, do que a comunidade na igreja. Mas parece que isso está mudando. O que acha?

Isso faz parte de um crescimento. São fases da vida. Nós não esperamos de uma criança as reações que esperamos de um adulto. Uma criança olha para a sua mãe e aquela é toda a sua realidade. Isso é uma coisa positiva para aquela idade. Depois, a criança chega à adolescência, começa a olhar em volta e pode até ser que se envergonhe do beijo da mãe. Seu olhar é para fora. A maturidade do indivíduo é como a de um grupo, de um corpo grande e complexo, que, neste caso, é a Renovação Carismática Católica.

 

As opiniões expressas na seção “Com a palavra” são de responsabilidade do entrevistado e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do jornal O SÃO PAULO.

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.