NACIONAL

COURAGE

Apostolado católico acolhe pessoas com tendências homossexuais

Por Fernando Geronazzo
13 de dezembro de 2019

Criado 1980, o Courage é destinado ao acompanhamento espiritual a católicos que possuem atração pelo mesmo sexo, para viverem segundo os ensinamentos da moral cristã

Em julho de 2013, durante o voo de volta do Brasil para Roma, após a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, uma afirmação do Papa Francisco ganhou repercussão mundial. Ao responder aos jornalistas sobre a existência de um “lobby gay” na Igreja, o Pontífice disse: “Se uma pessoa é gay, procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu, por caridade, para julgá-la?”. 

Essa frase rapidamente ganhou as manchetes dos noticiários e foi interpretada das mais variadas formas. Muitos se perguntaram se a Igreja havia mudado sua posição sobre esse assunto. A continuação da afirmação do Papa, contudo, esclareceu: “O Catecismo da Igreja Católica explica isso muito bem. Diz que eles não devem ser discriminados, mas integrados à sociedade”.

Francisco se referia ao que diz o número 2358 do Catecismo: “Um número não negligenciável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente enraizadas. Esta inclinação objetivamente desordenada constitui, para a maioria, uma provação. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição”. 

Para Rafael, 22, Rodrigo, 24, Renata, 44, e Maurício, 49*, as palavras do Papa fazem muito sentido. Eles participam do Courage (Coragem, em português), apostolado católico que existe desde 1980, destinado ao acompanhamento espiritual a católicos que possuem atração pelo mesmo sexo (AMS), para viverem segundo os ensinamentos da moral cristã. 

ATENÇÃO PASTORAL

Esse grupo foi criado pelo Padre John Harvey, nos Estados Unidos, a pedido do Cardeal Terence Cooke, então Arcebispo de Nova York, diante da preocupação de como acompanhar as pessoas que apresentavam AMS e não encontravam acolhida na comunidade eclesial. 

“Queremos ajudá-los a ver em si o que nós vemos neles: o fato de que a sua identidade está baseada não em suas atrações sexuais ou em qualquer outra parte de suas experiências, mas sim no precioso dom que todos nós compartilhamos, de sermos criados à imagem e semelhança de Deus e sermos chamados por Ele à santidade de vida”, explica o atual diretor do apostolado, Padre Philip Bochanski, em um vídeo institucional.

Com a aprovação da Santa Sé, o Courage hoje está em 14 países, com mais de 200 células, e mantém contato com aproximadamente 1,5 mil pessoas pela internet.

NO BRASIL

O apostolado está no Brasil desde 2011. No entanto, já em 2009 existia um blog voltado para os brasileiros com base em conteúdos e informações do site norte-americano. Atualmente, há células em São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Curitiba (PR) e Brasília (DF). “Além disso, há o atendimento virtual de aproximadamente 200 pessoas de todo o País, que enviam e-mail pedindo aconselhamentos e orientações”, explicou Maurício Abambres, coordenador nacional do Courage, em entrevista ao O SÃO PAULO

Para constituir as células, o apostolado precisa receber a autorização do bispo local. Também há padres que acompanham espiritualmente os grupos.  

METAS
O caminho apresentado pelo Courage se dá por meio de cinco metas propostas a partir da Doutrina da Igreja: viver uma vida casta; crescer na oração e dedicação; apoiar-se uns aos outros; constituir uma fraternidade baseada em castas amizades; e viver dando bom exemplo para os outros. Existem, ainda, 12 passos que são como um programa de vida espiritual a ser seguido por todos os membros do Courage (saiba mais no site: couragebrasil.com). 

REUNIÕES
As reuniões do grupo são divididas em três partes: oração, formação e partilha. “Essa formação é, geralmente, de cunho espiritual, voltada para a realidade concreta dessas pessoas. Ou seja, se vamos falar de castidade, abordaremos os desafios próprios para a vivência dessa virtude para as pessoas que sentem atração pelo mesmo sexo”, explicou o coordenador. 

DISCRIÇÃO 
Abambres enfatizou que esse apostolado não levanta bandeira ou qualquer tipo de militância. “O Courage não é um grupo de combate ou ativismo. Nós damos apoio e auxílio espiritual às pessoas. Há muitos que realmente querem manter essa confidencialidade, pois se trata de uma questão íntima de cada um. Além do mais, nem todo mundo compreende essa realidade e, infelizmente, o preconceito é muito forte, até pela falta de informação a respeito do assunto”, frisou.

TESTEMUNHOS

Rafael conheceu o Courage há dois anos. “No início, relutava um pouco a entrar em contato, até que um dia, depois de alguns acontecimentos em minha vida, percebi que era momento de procurar um auxílio dentro da Igreja. E que auxílio! Nunca poderia esperar que o Courage fosse um instrumento tão profundo de Deus para comigo, como vem sendo”, relatou. 

O jovem contou que antes de entrar no apostolado, sentia-se totalmente perdido e sem uma resposta de Deus com relação à sua condição, que agora entende como um “espinho na carne” por meio do qual Deus poderá santificá-lo. “Hoje, vejo a atração pelo mesmo sexo como uma forma de eu amar a Deus nas minhas limitações e dificuldades”, completou Rafael, garantindo que, além de se compreender melhor, ganhou uma nova família, que o ajuda na caminhada. 

Há um ano no Courage, Renata destacou que o acolhimento fraterno e a partilha tem sido uma grande ajuda. “Fazendo parte deste apostolado, percebi que não estava só. Sinto, no apoio dos irmãos e na amizade sincera, o abraço de Deus e o amor de Maria.” 

Rodrigo encontrou o apostolado durante um momento de crise, há três anos. “Eu procurava uma resposta cristã para a condição da atração pelo mesmo sexo. Essa resposta foi o Courage. Desde então, entendo o que a Igreja propõe para mim, além de me ajudar a como viver uma fé sólida e a ter amizades castas em que posso cultivar a fraternidade. Hoje, tenho ciência do tamanho do amor de Deus por mim e sou feliz em descobrir e buscar a minha principal vocação: ser santo”, completou.

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Saiba mais no site oficial do Courage
 

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