Católicos são chamados às eleições de conselheiros tutelares

Por
04 de outubro de 2019

A Arquidiocese de São Paulo iniciou, por meio das organizações sociais e pastorais que compõem a Equipe Arquidiocesana em Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Criad), uma mobilização para conscientizar os católicos sobre a importância da participação nas próximas eleições do Conselho Tutelar, que ocorrerão em 6 de outubro, em todo o Brasil. 


A cidade de São Paulo conta com 260 conselheiros distribuídos em 52 conselhos tutelares, sendo que 27 destes estão localizados no território da Arquidiocese.

CLIQUE E CONSULTE OS LOCAIS DE VOTAÇÃO

“É de extrema importância a participação da Igreja neste processo, e solicitamos o apoio do clero e demais coordenações na divulgação, apoio e apresentação de candidatos comprometidos com a causa da defesa dos direitos da criança e do adolescente”, exortou Dom Devair Araújo da Fonseca, Bispo Auxiliar de São Paulo e Referencial da Coordenação Pastoral do Serviço da Caridade, Justiça e Paz da Arquidiocese, em carta enviada ao clero arquidiocesano.


Entre 5 de setembro e 4 de outubro, acontecerá o período de campanha eleitoral, em que é possível que candidatos católicos visitem as paróquias e comunidades. 

DIREITOS E CONQUISTAS 
Criado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, o Conselho Tutelar é um órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo respeito aos direitos da criança e do adolescente. 


Cada conselho é formado por um grupo de cinco pessoas, eleitas pela população local, para um mandato de quatro anos. A partir deste ano, deixa de existir um limite para reeleição de conselheiros. 


“É importante destacar que todos esses direitos só foram possíveis por meio da mobilização da sociedade civil, em denúncia à situação em que crianças e adolescentes se encontravam, de exploração e abandono do poder público. Nesse processo, houve uma grande participação da Igreja”, disse, ao O SÃO PAULO, Sueli Camargo, Coordenadora Arquidiocesana da Pastoral do Menor.

ATENDER E FISCALIZAR 
O conselheiro tutelar é sempre alguém maior de 21 anos, de reconhecida idoneidade moral, bem como experiente na promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do adolescente. Ele precisa residir e votar no município onde atua. Tem seus direitos trabalhistas garantidos, como o registo em carteira de trabalho e remuneração pela função.


A principal atuação de um conselheiro é a de atender as famílias; aplicar medidas protetivas quando a criança e o adolescente estiverem em situação de risco; encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da criança e do adolescente, dentre outras.


“O conselheiro tutelar é eleito para garantir que se cumpra esse direito conquistado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, para fazer com que se cumpra o atendimento à criança e ao adolescente nas questões de políticas públicas”, precisou Sueli Camargo. 


Todos os menores de 18 anos que se encontram com seus direitos ameaçados ou violados são alvo de atenção do Conselho Tutelar. Desse modo, o Conselho pode ser acionado sempre que os direitos à vida, saúde, alimentação, educação, lazer, cultura, dignidade, respeito, profissionalização, liberdade, convivência familiar e comunitária forem violados pela família, pela sociedade ou pelo poder público. 

RESPONSABILIDADE CRISTÃ
Em breve, será lançado pela Arquidiocese de São Paulo um material formativo sobre os conselhos tutelares, que será disponibilizado no portal ArquiSp, e distribuído em todas as paróquias. Com isso, pretende-se despertar nas pessoas uma maior consciência de sua responsabilidade civil em relação ao Conselho Tutelar. 


Segundo Sueli Camargo, a participação de representantes católicos ainda é muito tímida não só nos conselhos tutelares, mas também nos demais conselhos participativos, de modo que outras pessoas têm ocupado tais cargos em benefício próprio, em busca de visibilidade ou projeção para uma carreira política, por exemplo. Desse modo, ela pontua que além de votar, os católicos devem fiscalizar o trabalho dos eleitos.


“Quando nos ausentamos, deixamos espaço aberto para outras denominações religiosas, como os evangélicos, que estão presentes não só nos conselhos, mas em diversos campos da política e nem sempre estão preparados para ocupar esses cargos. É importante retomarmos essa participação enquanto Igreja, com o objetivo de promover a vida e garantir os direitos”, concluiu.


Esse compromisso está em sintonia com as reflexões centrais da Campanha da Fraternidade deste ano, que tem como tema “Fraternidade e Políticas Públicas”, destacando a importância da participação dos leigos na luta por políticas públicas de qualidade. Nos itens 162 e 163 do Texto-Base da CF 2019, recorda-se que a Doutrina Social da Igreja evidencia a necessidade de uma participação ativa e consciente dos cristãos leigos e leigas na vida em sociedade.

PARTICIPAÇÃO DA PASTORAL
A Pastoral do Menor da Arquidiocese participa efetivamente do processo eleitoral desde a primeira etapa, que é a elaboração do edital que regimenta as eleições, feito pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), e aprovado pela Câmara Municipal. 


A etapa seguinte é a mobilização nas paróquias para as eleições, por meio do envio de uma carta ao clero, detalhando a importância de cada paróquia enviar seus candidatos para participar das formações e orientações propostas pela Pastoral do Menor.


Na terceira fase, os candidatos recebem orientações para inscreverem suas candidaturas, e participam de reuniões, como a corrida no último dia 10, na qual os candidatos provenientes de paróquias e instituições católicas tiveram a oportunidade de esclarecer dúvidas sobre o processo eleitoral com o presidente do CMDCA, Carlos Alberto de Souza Júnior.

EM SÃO PAULO
A eleição para os 52 conselhos tutelares na cidade de São Paulo contará com 1.089 candidatos. Podem votar todas as pessoas que já tiverem completado 16 anos de idade.  


O processo eleitoral é organizado pelo CMDCA, com a participação técnica do Tribunal Regional Eleitoral, e possui os mesmos critérios de uma eleição federal, estadual ou municipal. O Ministério Público é o órgão fiscalizador do processo e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) compõe a comissão eleitoral. Pela primeira vez, a votação será realizada em urnas eletrônicas.

Comente

Desenvolvimento da sociedade depende do bem-estar das famílias

Por
23 de agosto de 2019

 

Instituição existente desde a origem da humanidade, a família é considerada nas mais variadas culturas como a “célula mãe da sociedade”. Seja do ponto de vista sociológico, antropológico, cultural ou religioso, reconhece-se que o desenvolvimento das pessoas, das culturas e dos povos passa pelas relações familiares. Portanto, pode-se dizer que a família é uma questão de interesse público. 


São várias as iniciativas que buscam promover a importância social da família, como é o caso do Family Talks, um programa da Associação de Desenvolvimento da Família (Adef), voltado a fazer advocacy pela família, ou seja, atuar na esfera pública com o intuito de promover ações, trazer informações sobre a importância das relações familiares para o desenvolvimento social, o que implica a promoção de iniciativas de interesse público ou privado voltadas ao fortalecimento das relações familiares. 


A Adef é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, aconfessional e não partidária, que atua desde 1978 no Brasil, promovendo programas de desenvolvimento familiar. 

ATIVIDADES
As ações do Family Talks são voltadas, sobretudo, à criação de rede de instituições, organizações e pessoas que tenham clara a importância de que as famílias precisam se desenvolver. “Isso se caracteriza pela organização de eventos, estudos e atividades de promoção do tema na esfera pública, trazendo dados e evidências empíricas sobre a importância de diferentes aspectos da vida familiar e recomendações  de como o apoio às famílias pode ser feito, inclusive, por meio de políticas públicas”, explicou, ao O SÃO PAULO, Rodolfo Canônico, especialista em políticas públicas e diretor executivo do Family Talks. 


“O debate sobre o tema da família no Brasil ficou muito polarizado em discussões ideológicas. Por isso, para conseguir avançar no debate e na construção de propostas que beneficiem efetivamente as famílias brasileiras, nós entendemos que é fundamental sempre partir de evidências empíricas e estudos científicos para, então, analisar os problemas principais que afetam as famílias e buscar soluções”, esclareceu.

ÂMBITOS DE ATUAÇÃO
As iniciativas do Family Talks acontecem em diferentes agentes da sociedade civil e do poder público nas esferas municipal, estadual e federal, além do Congresso Nacional. Também trabalha com instituições acadêmicas e de pesquisa. 


Embora o Family Talks atue só no âmbito nacional, o programa está vinculado à International Federation for Family Development (IFFD), que congrega mais de 200 associações, dentre as quais a Adef, está em 68 países e possui status consultivo geral na ONU. “Isso permite uma grande possibilidade de diálogo e informações e ser uma voz ativa na defesa dos interesses das famílias dentro da ONU”, comentou Canônico

DESAFIOS 
Dentre os desafios para o desenvolvimento da família que preocupam o Family Talks, Canônico destacou, em primeiro lugar, a crise de relações que geram muitas rupturas familiares em diferentes níveis. “Não se trata exclusivamente do divórcio, mas algo cada vez mais frequente é a ruptura intergeracional, ou seja, famílias que cada vez têm menos condições de prestar cuidados aos idosos, por exemplo”, destacou o Diretor, salientando que o Brasil vive um rápido envelhecimento populacional. 


Rodolfo Canônico também elencou como grande problema a “tripla dimensão da pobreza” que impacta as famílias. A primeira delas é a pobreza material, com as desigualdades sociais que atingem o País. “É evidente que famílias em condições socioeconômicas mais modestas encontram mais dificuldades. A pobreza impõe uma série de barreiras para o desenvolvimento das relações familiares”, afirmou o Especialista, indicando que há estudos que apontam que turbulências econômicas na vida doméstica são causas frequentes de ruptura familiar, que podem levar até ao abandono.

TEMPO E AFETO
A segunda pobreza é a de tempo. “Fala-se pouco sobre esse problema no Brasil, mas é uma realidade que atinge toda a sociedade com diferentes características”, alertou o Diretor do Family Talks. 


Em uma grande cidade como São Paulo, pessoas que vivem na periferia podem gastar até seis horas por dia em transporte entre a ida e a chegada ao trabalho. “Como uma pessoa que gasta todo esse tempo em trânsito terá condições de ter um bom relacionamento com seu cônjuge ou com os filhos?”, indagou Canônico. 


Também as famílias de níveis socioeconômicos altos sofrem com escassez de tempo. “Vemos o desafio cada vez maior de equilibrar trabalho e família. É um problema de todos os níveis”, completou.
Como consequência das pobrezas material e de tempo, surge a pobreza afetiva, que gera rupturas nas relações familiares, como a falta de presença dos pais na educação das crianças, muitas vezes, “terceirizada” para a escola. 
A pobreza de afeto é um problema mundial. Tanto que na Inglaterra foi criado, recentemente, o Ministério da Solidão. Naquele País, existem 9 milhões de pessoas totalmente solitárias, a maioria idosos.  

TEMA TRANSVERSAL
Os debates do Family Talks ressaltam que a família é um tema transversal, que deve ser levado em conta na criação de políticas públicas. “É possível ter ações pensadas diretamente para as famílias, mas, além disso, quando se pensa em políticas de educação, saúde, segurança, entre outras, a família entra na transversalidade”, recordou Canônico. 


O programa também busca envolver o máximo possível de pessoas e agentes da sociedade interessados no desenvolvimento da família, independentemente de seus posicionamentos ideológicos ou partidários. “Nós acreditamos que a família é uma instituição que não tem substituição na sociedade. Boa parte do nosso trabalho é ajudar a sociedade a prestar a atenção a essa realidade e avançar no diálogo voltado para problemas que mais impactam as famílias, e buscar soluções”, ressaltou o Diretor do Family Talks.


Ainda segundo Rodolfo Canônico, mais do que se debruçar nas divergências existentes entre si, procura-se partir dos grandes desafios que impactam as famílias. “A nossa experiência mostra que existem muito mais consensos na sociedade do que controvérsias quando falamos de família”, afirmou, reforçando a necessidade de compreender a família como um projeto estável ao longo do tempo. Por fim, o Especialista mencionou um slogan que ouviu certa vez definindo família como o lugar “onde a vida começa e o amor nunca acaba”. 


Para conhecer o calendário de atividades e as publicações do Family Talks, acesse http://familytalks.org

Comente

Para trilhar o recomeço

Por
03 de agosto de 2019

O forte barulho das trancas de ferro que, ao longo do dia, são abertas e fechadas muitas vezes em uma prisão foi abafado pelo som dos aplausos e sorrisos de presos, agentes penitenciários e diretores no Centro de Detenção Provisória II de Pinheiros (CDP II), na zona Oeste da Capital Paulista, na quinta-feira, 25. 


Nessa unidade prisional estão mais de 1,7 mil presos provisórios – aqueles que ainda não foram julgados em definitivo –, quantidade acima da capacidade de 993 vagas. Naquele dia, 110 deles, selecionados pela direção da unidade, assistiram à palestra motivacional de Clóvis de Barros Filho, jornalista, cientista social, filósofo e advogado. 


A iniciativa foi idealizada pela Pastoral Carcerária, com o apoio da direção do CDP II de Pinheiros. Segundo o diretor da unidade, Guilherme Silveira Rodrigues, ações como essas têm sido priorizadas para colaborar no processo de ressocialização dos presos. “Tratamos o homem preso como gente, e a recíproca é verdadeira, pois somos tratados por eles da mesma forma. Aqui não se procura saber o que a pessoa fez, queremos saber o que ela fará quando sair. Julgá-la é parte do Judiciário”, garantiu ao O SÃO PAULO

‘A vida que vale a pena ser vivida’
Este foi o tema da palestra conduzida por Clóvis de Barros Filho, que, desde 2015, é professor universitário aposentado em razão de um problema de saúde que o deixou com apenas 14% da capacidade de visão.


Inicialmente, ele destacou que não se pode trilhar um caminho sem saber o ponto de partida e aonde se pretende chegar, pois só assim a pessoa conseguirá encontrar o que realmente tem valor na vida. 


O palestrante fez menções a personalidades da arte e do esporte e citou conceitos aristotélicos e o testemunho de Jesus Cristo, a fim de que os participantes refletissem sobre o sentido da própria vida, que é, em essência, segundo ele, a procura contínua da felicidade. 

Excelência e amor ao próximo
Clóvis lembrou que, para o filósofo grego Aristóteles, a felicidade está em fazer tudo com excelência, ou seja, esforçar-se para alcançar o máximo da perfeição dentro das próprias limitações humanas. 


“Se eu peguei este microfone hoje, foi para fazer melhor do que ontem. Estou aqui para fazer melhor do que já fiz. E isso faz com que esse momento seja colorido, desafiador e feliz, pois se eu estivesse aqui esperando o evento acabar para poder ir embora, este momento seria medíocre, ruim”, apontou.


Ao citar o exemplo de vida e os ensinamentos de Jesus Cristo, o palestrante recordou que o sentido da vida é também trazer a felicidade a outra pessoa, “é ter a vida regida pelo amor ao próximo”, mostrando-se sempre disponível. 


Por fim, Clóvis lembrou que, embora a felicidade seja algo que as pessoas desejem sempre, ela é experimentada de modo especial em ocasiões passageiras. Assim, esses instantes devem ser valorizados e compartilhados, especialmente com quem se ama. “Sem o amadurecimento do coração e do espírito, para que possamos querer bem as pessoas, fica difícil viver momentos assim”, comentou.

À procura do caminho certo
Sandro Elio Rodrigues, 40, Fábio Pereira de Assis Magalhães, 33, e João da Silva Lima, 43, assistiram à palestra e mostraram-se confiantes em trilhar novos caminhos na vida.


Preso há um ano e cinco meses, Sandro recebe a visita dos filhos com frequência e busca ocupar o tempo com leituras, sempre que possível. “Aproveitar o tempo é fundamental para refletir e para entender o caminho a ser percorrido. Não podemos perder a meada deste caminho”, comentou. “Na palestra de hoje, percebi que há algo muito maior do que aquilo que nos traz para este lugar. Devemos olhar mais para o próximo, encontrar esse amor e essa excelência que está dentro de nós. O ser humano acredita na reciclagem de uma garrafa Pet, mas duvida, às vezes, da ressocialização de alguém. Não se deve pagar o mal com o mal”, destacou.


Fábio mostrou-se animado em transmitir aos outros presos tudo que ouviu naquele dia que “quebrou o protocolo, com preso e funcionário no mesmo espaço, sem discriminação”, afirmou. Encarcerado há um ano e quatro meses, ele destacou que “o mais interessante dito pelo palestrante é que não importa como sua vida começou, mas como ela vai terminar. Não se deve pensar que ‘caiu aqui já era’. Não. Aqui é o começo para você analisar. É no fundo do poço que se deve olhar para cima e ver como sair”. 


João, preso há sete meses, disse confiar que a “estada será de pouco tempo. Estou sendo disciplinado para voltar a fazer o bem. Há três meses, eu fui ao juiz e disse: ‘Doutor, eu cansei de errar’. Sei que se não parar de errar, continuarei cansando. Aqui estão pessoas que realmente querem mudar”, afirmou, comentando, ainda, que a iniciativa da Pastoral Carcerária em promover a palestra ajudará na aproximação de católicos e evangélicos na unidade prisional. “Somos todos cristãos. Seria bom que buscássemos mais essa união”, concluiu.

Presença da Igreja nos cárceres 
Toda semana, membros da Pastoral Carcerária de São Paulo visitam o CDP de Pinheiros para prestar assistência religiosa aos presos e seus familiares, bem como assistência jurídica, conforme as solicitações de encarcerados que desejam saber sobre as datas de audiências, benefícios de execução criminal concedidos e outras questões relativas ao processo judicial. 


“Regularmente, realizamos no CDP de Pinheiros celebrações da Palavra e, de acordo com a disponibilidade dos padres, a Santa Missa e outros sacramentos. Além disso, sempre nos preocupamos em preparar encontros que proporcionam uma troca de experiências: atividades que permitem a escuta das pessoas presas, em uma abordagem que traz nuances de cultura, atualidades, Filosofia e Sociologia, mas sempre contextualizadas no propósito da evangelização”, explicou à reportagem Érica Carolina Silva, coordenadora da Pastoral Carcerária na Região Episcopal Lapa. 


Ela disse que convidou o professor Clóvis por saber que ele dissemina uma mensagem de amor, solidariedade, fraternidade e cuidado com o próximo. 


Segundo Érica, a temática da palestra foi importante para concretizar uma ideia que a Pastoral sempre traz em seus encontros: “que a felicidade encontrada em Deus precisa ser refletida em cuidado ao próximo, sem exclusão, e que o caminho que seguimos para alcançá-la não precisa começar a ser trilhado apenas quando eles estiverem fora do cárcere”, concluiu. 

Comente

‘Há um equívoco ao se pensar que escutar crianças significa fazer suas vontades’

Por
26 de junho de 2019

Adriana Friedmann, doutora em Antropologia, mestre em Educação e pedagoga, falou ao O SÃO PAULO a respeito de um tema que faz parte do dia a dia de muitas famílias, escolas e comunidades: Como se dá a verdadeira escuta da criança? Escutar significa não impor limites? Como as nossas crianças têm se desenvolvido numa sociedade com muitos estímulos, mas pouco diálogo? 
Com larga experiência como docente, palestrante, pesquisadora e consultora em temáticas sobre infância, Adriana é criadora e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Simbolismo, Infância e Desenvolvimento (Nepsid) e do Mapa da Infância Brasileira, além de autora de livros e artigos na área, dentre eles “Escuta e observação de crianças: processos inspiradores para educadores”, “Protagonismo infantil”, “Quem está na escuta”, “Linguagens e culturas infantis”, “História do percurso da Sociologia e da Antropologia da Infância”, “O olhar antropológico por dentro da infância”, “O desenvolvimento da criança através do brincar” e “A arte de brincar”.

O SÃO PAULO - Como surgiu o projeto de escuta das crianças?
Adriana Friedmann – A partir dos anos 2000 surgiu, no meu processo profissional, lidando com educadores de escolas e ONGs, essa preocupação com relação a quem estaria escutando efetivamente as crianças. A partir daí, já atuando desde os anos 1980 com estudos, pesquisas, formação e a promoção do brincar, comecei a desenvolver estudos e pesquisas e descobri que as Ciências Sociais tinham, desde os anos 1980, começado a considerar as crianças como atores sociais, autores/protagonistas de suas próprias vidas; e compreender a importância de conhecer os muitos saberes das diversas crianças das diferentes culturas. Assim, abre-se um campo de estudos e iniciativas que começam a pesquisar e ouvir as crianças mundo afora.
Aqui no Brasil, alguns antropólogos realizam pesquisas com crianças indígenas desde os anos 2000, além dos estudos e processos de formação. Desde 2011, venho criando vários grupos de formação e desenvolvimento de processos de escuta, a saber:  em 2015, iniciamos na Comunidade de Aprendizagem, do Mapa da Infância Brasileira, escutas de crianças de diversos grupos: crianças abrigadas, imigrantes, crianças em ocupações, em ONGs, praças etc. em 2017, criamos a Campanha “Vamos ouvir as crianças” e, desde 2018 o curso de pós-graduação lato sensu “A vez e a voz das crianças” na Casa Tombada, em São Paulo.

Quais são os principais critérios para se falar sobre a escuta da criança?
É importante partir da compreensão de que não é possível falar de um ideal de criança ou de infância, mas de diversidade de grupos infantis, da singularidade das crianças nos vários coletivos; entender que as crianças são protagonistas de suas vidas e que têm direito a se expressar e participar. Assim o fazem por meio de linguagens verbais e não verbais, como o brincar, o corpo, o gesto, o movimento, as inúmeras formas de expressões plásticas, musicais, poéticas, dentre outras. A partir dessas linguagens expressivas, as crianças comunicam permanentemente suas vidas, suas culturas, influências multiculturais e suas produções. 
Há uma questão ética a ser levada em conta que tem a ver com o direito de o adulto registrar e disseminar todo esse conteúdo, sem que as crianças consintam, não somente os adultos responsáveis por elas. E, ainda, a importância de dar devolutivas sempre que estamos desenvolvendo processos de escuta, observação e pesquisa com as crianças.
Outro importante critério é o adulto tomar distância, silenciar, não intervir, corrigir ou querer ensinar qualquer coisa. Observar, respeitar e aceitar.

O que os pais devem fazer para dar início a um processo de escuta?

Escutar tem a ver com estar junto, estar presente, abrir-se para aprender coisas que as crianças vivem, expressam ou sabem, conhecimentos estes diferentes dos adultos. Estar junto, pedir licença, perguntar o menos possível, registrar. Surpreender-se frente ao inusitado, ao não planejado que parte da espontaneidade das crianças!

E os educadores? Como podem contribuir neste processo?

Para os educadores é, talvez, um exercício mais desafiador. Colocar-se no papel de aprendiz e não daquele que está o tempo todo ensinando, transmitindo conteúdos, acompanhando processos. Poder aceitar situações de livre brincar, de autonomia e livre escolha, deixar as crianças resolverem os conflitos entre si (desde que não cheguem a situações violentas), confiar nas crianças e nas suas capacidades!
Assim, o educador precisa equilibrar no cotidiano da escola – ou em instituições ou situações não formais – a proposição de atividades dirigidas e de tempos livres. É nessas situações que a possibilidade de escutar/observar as crianças na sua espontaneidade oferece inúmeras pistas para o educador conhecer e (re)conhecer as singularidades, potenciais, interesses e necessidades das crianças. Com esse universo de informações, ele tem a grande chance de repensar e readequar propostas, atividades e conteúdos para cada grupo.

E quais são os limites dessa escuta?
Os limites da escuta têm a ver com a interação que as próprias crianças solicitam, com a “ansiedade” dos adultos – até onde conseguem verdadeiramente não intervir, conter seus impulsos; tem a ver com entremear essa escuta passiva com momentos de coparticipação ativa – brincar junto, dançar, pintar, cantar, ser partícipe em relações o mais “simétricas” possíveis.

Você considera que a sociedade – de maneira geral – está consciente sobre o processo de escuta das crianças no dia a dia?

Este é um tema e uma postura bastante novos. Há um equívoco ao se pensar que escutar crianças significa “fazer suas vontades”. Escutar crianças tem como finalidade fazer com que os adultos reconheçam que elas têm um universo próprio, direitos, interesses, vontades e, principalmente, potenciais únicos. É surpreendente o mundo no qual as crianças estão inseridas e que escapa a nós, educadores, pais e gestores. 

À escuta das crianças, estaria relacionado um processo de “desadultização” dos pequenos?

A escuta se relaciona com um novo tempo em que o adulto já tem elementos e informações suficientes vindos de inúmeros estudos e áreas de conhecimento, em que é imperativo e urgente respeitar o tempo e o espaço para as crianças viverem suas infâncias de forma plena e significativa. Tem a ver com os adultos não se apressarem ou pressionarem as crianças e diminuírem suas expectativas. Tem a ver com reconhecer o protagonismo das crianças e a importância de colocar limites no que seja o tempo da infância, o tempo da juventude e o tempo dos adultos. Voltar a delimitar o que pode e precisa ser vivenciado em cada etapa.

Como criar comunidades cuidadoras, para além dos espaços casa-escola?
Precisamos pensar em uma reeducação intergeracional em que as famílias e as comunidades constituam referências inspiradoras. Olhar para comunidades como favelas ou comunidades indígenas, em que a força do coletivo faz o papel materno e paterno – muito além de uma única figura de referência, como seria a da mãe ou a do pai – é uma possibilidade efetiva na qual qualquer comunidade pode se inspirar. A educação das crianças acontece nos entre lugares e nos entre tempos que vão muito além dos espaços físicos, institucionais ou dos tempos planejados. Olhar por essas brechas pode nos indicar inúmeras pistas para a ideia de comunidades cuidadoras.
 

As opiniões expressas na seção “Com a Palavra” são de responsabilidade do entrevistado e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do jornal O SÃO PAULO.

Comente

A importância da Educação Física para a escola e a sociedade

Por
11 de fevereiro de 2019

A primeira semana do mês de Fevereiro é conhecida como os dias que marcam o início das aulas nas escolas do Estado e da Prefeitura de São Paulo. Uma das disciplinas mais amadas pelos alunos é a de Educação Física, um ensino muito importante para o desenvolvimento do corpo e da mente e que contribui, inclusive, no desenvolvimento escolar e na formação do cidadão.

 

CONSTRUÇÃO DO INDIVÍDUO

A escola é uma importante etapa na construção do indivíduo. As experiências adquiridas durante esse período são determinantes para o seu desenvolvimento, tanto físico como psicológico. Segundo especialistas, a prática de atividades físicas deve ser estimulada desde a pré-escola, e as crianças devem aprender seus benefícios.

O desenvolvimento de diversos padrões éticos e morais pode ser estimulado pela prática do esporte, como o respeito, a importância do trabalho em grupo, saber apreciar a vitória e aprender com as derrotas. A professora de Educação Física Gigi Pavanello, do Colégio Mirandópolis, fala sobre a importância da disciplina para toda a sociedade.

 

BASE DOS JOVENS

“A Educação Física não tem função, pelo menos direta, de formar atletas. Entretanto, é a primeira base dos jovens. Educar o físico do aluno (que é nosso objetivo principal) é sem dúvida a parte mais fácil e divertida. No entanto, é nesta disciplina que diagnosticamos o comportamento social do indivíduo”, disse a professora em entrevista ao O SÃO PAULO.

Segundo a educadora, cada geração exige uma postura técnica diferente, e cada professor possui uma metodologia à qual se sente mais atraído. Mas a base acaba sendo a mesma, mesmo que indiretamente. A professora reforçou que “a educação precisa se reformular como um todo e entender o ser humano como único”

“Quando analisamos o contato com os alunos, notamos que a cada geração temos que nos adaptar e igualmente adaptar o conteúdo para crianças e jovens com síndromes, transtornos e doenças de modo geral. Aspectos psicológicos estão sento exigidos dos professores cada dia mais”, concluiu.

 

CONSELHO PARTICIPATIVO

O Conselho Participativo Municipal (CPM), de São Paulo, conta com conselheiros eleitos pelo povo, que atuam em diferentes áreas, com o objetivo de lutar pelas demandas da comunidade. O CPM da Freguesia do Ó/Brasilândia procurou a supervisão de esportes da subprefeitura para oferecer parceria na organização de eventos esportivos como um campeonato de Futsal realizado no 72º aniversário da Brasilândia.

“Quando um jovem participa ativamente de um esporte, aprende a conviver com sentimentos e papéis sociais importantes que vão ajudá-lo em seu desenvolvimento pessoal e profissional. Muitas vezes, espera-se desse jovem que suas notas melhorem e que ele se torne um aluno exemplar. Com certeza, o esporte o ajudará muito nesses aspectos”, disse Aline Manetta, professora de Educação Física, responsável por projetos esportivos na região e Coordenadora do CPM Freguesia do Ó/ Brasilândia, à reportagem.

 

JOVEM PROTAGONISTA

Segundo Aline, o CPM está buscando parcerias para a construção de um calendário esportivo para o ano de 2019. O grande diferencial do projeto é que o jovem não participará apenas como atleta, mas será seu protagonista, pois é convidado a levar demandas para o Conselho e oferecer sugestões para que se tornem viáveis.

“Quando o jovem entende que ajudar o seu colega a melhorar também o fará evoluir, ele começa a amar o esporte. A minha experiência é inexplicável, poder ver o laço de confiança que pode se formar quando crianças e jovens trabalham juntos por um único ideal é algo que com certeza me faz sentir a pessoa mais feliz do mundo”, concluiu.

 

LEIA TAMBÉM: Brasil enfrenta Bolívia, Venezuela e Peru na fase de grupos da Copa América

Comente

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.