Você conhece a origem do escapulário de Nossa Senhora do Carmo?

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18 de julho de 2019

Em 16 de julho celebra-se, em todo o mundo, a festa litúrgica de Nossa Senhora do Carmo, cuja devoção é muito conhecida em todo o Brasil. A história de Nossa Senhora do Carmo se entrelaça com a história da Ordem do Carmo, bem como com a do escapulário, dado a São Simão Stock no século XIII.


Em entrevista ao O SÃO PAULO, Frei Atanael de Almeida Lima, O. Carm., conhecido como Frei Tato - que atualmente é ecônomo do Convento do Carmo na Bela Vista; vigário na Paróquia de Nossa Senhora do Carmo (Basílica); também na Bela Vista e Capelão da Igreja da Venerável Ordem Terceira do Carmo da Ladeira, localizada na Rua Rangel Pestana - recontou a história da Ordem do Carmo e como a espiritualidade do escapulário é atual e importante na Igreja.

 

 

Peregrinos no Monte Carmelo


A Ordem do Carmo recebeu este nome devido ao Monte Carmelo, que por sua vez significa “Vinha de Deus”. O Monte Carmelo é um promontório, uma elevação de terra, que se situa na Terra Santa. Sua base oriental começa na antiga planície de Jezrael, e vai subindo em direção ao mar, declinando a oeste no Mar Mediterrâneo, que banha o atual Israel. 
“O Monte Carmelo é conhecido, desde o Antigo Testamento, como um lugar muito querido por sua beleza natural e se relaciona com a figura e a missão do profeta Elias. Foi no Monte Carmelo que o profeta Elias desafiou os sacerdotes de Baal, conforme narra o Primeiro Livro dos Reis. Elias é vitorioso e o povo abandona os deuses pagãos para voltar o culto ao Deus único”, conta Frei Tato. 
Entre os séculos XII e XIII, muitos peregrinos foram para a Terra Santa em busca de um modo de vida mais próximo daquele que Jesus viveu, e se estabeleceram no Monte Carmelo. Em 1207, esses peregrinos, organizados em comunidades e tendo já erguido uma pequena capela em honra a Nossa Senhora do Monte Carmelo, se dirigiram ao Patriarca de Jerusalém pedindo que lhes desse uma Regra.
Por volta de 1240, quando os muçulmanos reconquistaram a Terra Santa, os membros da recém-criada Ordem do Carmo, e todos os cristãos que habitavam aquela região, foram expulsos. “Os membros da Ordem do Carmo, conhecidos posteriormente como Carmelitas, voltaram para a Europa, mas não tinham um reconhecimento oficial da Igreja Católica. Naquele momento, a Igreja vivia a ascensão das chamadas ordens mendicantes, e a Ordem do Carmo passa por uma primeira crise em sua história”, continuou o Frei. 

 

Sinal da predileção de Nossa Senhora


É nessas difíceis circunstâncias que o responsável-geral da Ordem do Carmo, Padre Simão Stock – nome que recebeu porque usava como travesseiro um tronco de árvore –, que era muito devoto de Nossa Senhora, pediu à Mãe de Jesus que desse a ele um sinal, para descobrir qual seria a missão da Ordem do Carmo.
Em 16 de julho de 1251, Nossa Senhora apareceu a São Simão Stock e lhe entregou o escapulário, que era uma veste comum das classes trabalhadoras naquela época. O escapulário cobria a frente do corpo até os pés e da mesma maneira as costas, protegendo a roupa do trabalho; era, portanto, uma veste para o serviço. O nome deriva do osso do ombro que mantém a veste, a escápula, sendo assim, um escapulário.
“Nossa Senhora disse a São Simão que aquele era o sinal: o escapulário, que simboliza a proteção, a companhia de Nossa Senhora, e é também um sinal da confraternidade. Com efeito, os carmelitas chamam Nossa Senhora de Mãe e de irmã, pois têm um relacionamento muito próximo com a mãe de Jesus”, explicou o Religioso da Ordem do Carmo, que nasceu em Osasco (SP) e já trabalhou na Bahia, em São Paulo, Minas Gerais e no Rio de Janeiro.

Essa veste, que ainda é parte integrante do hábito carmelita, tornou-se, com o tempo, um sinal de pertença para todos aqueles que querem compartilhar dessa proteção e missão dada por Maria aos carmelitas. 
Com o passar dos anos, a veste longa deu lugar a um pequeno cordão que unia dois pedaços de pano marrom, e depois a outros cordões de diferentes tipos, até chegar ao que temos hoje, com uso inclusive de materiais como ouro, prata, inox, tecido e até mesmo plástico. “O escapulário, mais do que um simples objeto material, é sinal de uma consagração: aquele que traz um escapulário é consagrado à Maria”, ressalta Frei Tato.

 

Servidores do Reino


Sobre colocar-se a serviço, o Religioso recordou as palavras do Papa Francisco, sobretudo quando o Pontífice incentiva que a Igreja Católica seja uma Igreja em saída, que vai ao encontro das pessoas nas periferias sociais e existênciais: “Quando aprendemos sobre o escapulário, recordamos que ele é, acima de tudo, uma veste para o serviço. Mas, por que Nossa Senhora daria a São Simão um avental? Porque o avental é uma veste de quem trabalha. Quem usa o escapulário do Carmo precisa entender que sua vida deve ser um reflexo da vida de Nossa Senhora servidora, aquela que vai ao encontro de sua prima Isabel, que percebe a falta de vinho nas bodas de Caná, que implora o Espírito Santo para a primeira comunidade cristã. Quem usa o escapulário quer servir como Maria”.
O fiel que usa o escapulário deve buscar imitar as virtudes de Nossa Senhora e do profeta Elias. “Para fazer isso, é preciso uma intimidade profunda com Deus. É preciso ouvir Deus, buscar Deus e entrar em comunhão com Jesus Cristo. O carmelita passa a descobrir a vontade de Deus e, por isso, usar o escapulário significa ser uma pessoa de oração. Em síntese, quem usa o escapulário deve ser: homem ou mulher de profunda oração, que vive a vida da Igreja e se coloca a serviço, de modo profético, para construir o Reino de Deus neste mundo”, continuou Frei Tato.

 

Como usar o escapulário?


O escapulário não é uma simples medalha ou amuleto. Quem quer usá-lo deve fazer como sinal de consagração a Nossa Senhora do Carmo. A pessoa deve avaliar seu relacionamento com Deus e com Nossa Senhora e refletir sobre a intensidade com que quer viver a graça conferida pelo Batismo por meio da consagração. Após esse discernimento, pode comprar um escapulário ou procurar uma Igreja de Nossa Senhora do Carmo na qual ele é distribuído. Com o escapulário em mãos, deve procurar algum sacerdote membro da Ordem do Carmo ou outro sacerdote para que possa receber a imposição do escapulário e fazer seu ato de consagração. 
 

Não se aconselha comprar o escapulário e pedir para o padre abençoar, simplesmente. O momento da consagração deve ser marcado como um ato importante. O escapulário é recebido por meio de uma imposição e da consagração do fiel que o recebe

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