Catedral de Notre-Dame deve ser restaurada exatamente como era, diz Senado francês

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26 de junho de 2019

O Senado francês, em 27 de maio, aprovou um projeto de lei de restauração da Catedral de Notre-Dame, em Paris, porém com a condição de que o templo seja restaurado exatamente como era antes do incêndio que o atingiu em 15 de abril. A lei contraria a iniciativa do governo francês, que havia lançado um concurso internacional de arquitetura para debater ideias sobre a restauração. 


As discussões sobre a reconstrução da Catedral tornaram-se acirradas entre aqueles que desejavam mantê-la como era e aqueles que buscavam remodelá-la a partir de novas ideias. Alguns desses novos projetos incluíam a construção de um jardim e de uma piscina no teto da Catedral, que foi a parte mais danificada pelo incêndio. 


Diante dessa discussão, o Senado aprovou o projeto de lei para dar início ao trabalho de restauração da Catedral, com o objetivo de conclui-lo até a Olimpíada de Paris, em 2024, obrigando, no entanto, que a restauração seja fiel ao “último estado visual” do templo antes do acidente. 


Todos os templos católicos na França construídos antes de 1905 pertencem ao Estado e, por esse motivo, não cabem à Igreja na França a responsabilidade e os gastos pelas reconstrução da Catedral de Notre-Dame.

A Arquidiocese de Paris, por exemplo, apenas possui o direito de uso do templo, sendo responsável, somente, pelo pagamento dos funcionários que lá trabalham.


O projeto de lei teve início na Assembleia Nacional Francesa, e o Senado modificou-o, adicionando a obrigação de se manter o estilo original da Catedral. Agora, essa adição deve ser aprovada pela Assembleia Nacional para se tornar lei. 


Segundo pesquisas recentes, 54% dos franceses são a favor da manutenção da forma original da Catedral, enquanto que apenas 25% são favoráveis à adição de elementos modernos ao projeto. 
 

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Igreja recorda 40 anos do restauro da imagem de Nossa senhora Aparecida

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23 de agosto de 2018

A Catedral Metropolitana de São Paulo ficou lotada no domingo, 19, para a celebração dos 40 anos do restauro da imagem da Nossa Senhora Aparecida, após o atentado que a destruiu em 1978. A missa, presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, contou com a presença da uma réplica da imagem da Padroeira do Brasil trazida do Santuário Nacional de Aparecida, que, em seguida, foi levada em carreata para Aparecida (SP), reproduzindo o caminho percorrido há 40 anos pela imagem original após ser restaurado na capital paulista.

Na homilia, Dom Odilo destacou que ao celebrar as quatro décadas do restauro da imagem encontrada pelos pescadores no Rio Paraíba do Sul, em 1717, todos são convidados a refletir sobre a restauração da imagem de Deus impressa em cada cristão. “Somos feitos à imagem e semelhança de Deus. Quantas vezes essa imagem em nós é desrespeitada, manchada, humilhada”, afirmou. 

O Cardeal ressaltou, ainda, que o restauro da imagem da padroeira também é oportunidade de olhar para a imagem da sociedade brasileira. “Talvez a imagem do Brasil não esteja tão bonita e precise de um restauro em muitos sentidos. Há tantas coisas feias e bastante quebradas na imagem do nosso País que necessitam ser superadas e recuperadas, como a dignidade da vida social, da vida pública, política, as humilhações de tantos brasileiros que vivem na miséria, na violência. Tudo isso são manchas na imagem do Brasil”, completou.

 

EM APARECIDA 

A imagem de Nossa Senhora Aparecida foi conduzida em um caminhão do Corpo de Bombeiros até a saída da cidade, quando passou para os cuidados da Polícia Rodoviária Federal e seguiu pela rodovia Presidente Dutra até o Santuário Nacional. 

Em Aparecida, cerca de 140 mil peregrinos acolheram a imagem da padroeira, por volta das 14h. Esse foi o maior movimento de peregrinos no santuário mariano registrado até o momento em 2018. 

 

POR QUE RESTAURAR?

Em 16 de maio de 1978, na Basílica Velha de Aparecida (SP), um jovem, visivelmente transtornado, pegou a imagem original de Nossa Senhora Aparecida e a atirou ao chão, deixando-a despedaçada em mais de 200 partes. Diante do fato, os padres redentoristas buscaram ajuda no Museu Vaticano, mas foram orientados a procurar o Museu de Arte de São Paulo para o restauro da imagem. À época, a artista plástica Maria Helena Chartuni trabalhava como chefe do Departamento de Restauração do museu e foi a responsável pelo restauro da estátua de barro. Trabalho esse que durou exatos 33 dias ininterruptos. 

Além do valor histórico e artístico da imagem, qual seria o significado de empenhar tantos esforços para a restauração de uma pequena escultura de barro de 40 centímetros? Antes é preciso recordar que, na Tradição católica, as imagens sacras são mediações visíveis de uma realidade sobrenatural, no caso, os santos e santas, venerados como heróis e exemplos de seguimento a Jesus Cristo. O Catecismo da Igreja Católica destaca que “a honra prestada às santas imagens é uma ‘veneração respeitosa’, e não uma adoração, que só se deve ser prestada a Deus”. 

Quanto às aparições da Virgem Maria, o mesmo Catecismo as define como “revelações privadas”, isto é, não têm o papel de “aperfeiçoar” ou “completar” a Revelação definitiva de Cristo, “mas ajudar a vivê-la mais plenamente, numa determinada época da história”. 

Mesmo assim, a imagem destruída há 40 anos não poderia ter sido simplesmente substituída por uma nova escultura? Ao contrário das inúmeras representações artísticas da Virgem Maria nos seus diversos títulos, a imagem venerada em Aparecida não é apenas a representação sacra de uma aparição da Mãe de Jesus, como em Fátima ou em Lourdes, por exemplo. O próprio encontro da imagem de Nossa Senhora da Conceição pelos pescadores, há três séculos, é a experiência da manifestação de Deus por meio da Virgem Maria. Por isso, desde o início ela é chamada de “a Aparecida”.

 

MENSAGEM ESCULPIDA

“A mensagem de Nossa Senhora Aparecida está em sua própria imagem”, afirmou o Padre João Batista Almeida, Reitor do Santuário Nacional, destacando, por exemplo, as características da imagem, como o convite à oração expresso por suas mãos postas, sua representação da Imaculada Conceição, cujo dogma foi proclamado apenas em 1854, ou seja, mais de um século depois. A própria cor da imagem e a circunstância do seu encontro também dizem muito ao povo daquela época, marcado pela escravidão e sofrimento. Para o Reitor, o fato de ser uma imagem de barro também lembra a origem do ser humano criado por Deus, e seu encontro nas águas recorda o Batismo, pelo qual todos são mergulhados no Cristo. 

“Essa imagem é o grande símbolo do catolicismo no Brasil”, completou Padre João Batista, destacando que, em torno da imagem da Virgem Aparecida, os fiéis se reuniram, testemunharam a fé e alcançaram graças. Ao longo desses três séculos, o Santuário Nacional de Aparecida se tornou um lugar de restauração do povo. “Quem visita a sala das promessas, no subsolo do santuário, por exemplo, vê quantas histórias de restauração de vidas, de famílias, de realidades”, acrescentou Padre João Batista.

 

CURAR A FERIDA DA INTOLERÂNCIA

O atentado contra a imagem da Padroeira do Brasil foi uma manifestação de intolerância religiosa e do desiquilíbrio humano que feriu o sentimento religioso de todos os católicos. “O ser humano, ao mesmo tempo que é criativo, também é capaz de destruir. Esse clima de intolerância que ainda se vive nos dias de hoje é destruidor”, enfatizou Padre João Batista, considerando que a restauração da imagem também foi uma forma de curar a ferida causada pela intolerância religiosa. 

 

‘ELA RESTAUROU A MINHA VIDA’

O próprio restauro da imagem pode ser considerado uma graça sobrenatural. “Quando vi o estado em que estava a imagem, realmente eu levei um susto interiormente”, relatou a restauradora, em entrevista ao O SÃO PAULO, publicada em 11 de outubro de 2017. 

“Quando esse restauro chegou na minha vida, não tive aquela emoção de um devoto, e foi até melhor, porque com uma distância do objeto a ser restaurado, você pode lidar melhor com ele. No entanto, eu sentia que durante o restauro aconteciam fatos estranhos, como pedaços pequenos que eu pegava ao ‘acaso’ e achava o lugar certo para colocá-los. Eu tinha pedido a Nossa Senhora, sozinha, antes de começar a restaurar: ‘eu estou com problema. Você me deu esse problema para resolver, e eu gostaria que você me ajudasse”, contou Maria Helena. 

A artista plástica afirmou que só teve plena noção do que representava aquele restauro quando a imagem retornou a Aparecida, em 19 de agosto de 1978, quando viu o corredor humano formado de São Paulo a Aparecida. “Todo mundo se emocionava, rezava, chorava, e aquilo realmente me tocou”, completou Maria Helena, que foi enfática ao dizer que não só a imagem de Nossa Senhora Aparecida foi restaurada em 1978. “Ela realmente restaurou a minha vida!”, garantiu.

 

 

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