Ver, sentir compaixão e cuidar

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04 de março de 2020

Iniciada na Quarta-feira de Cinzas, a Campanha da Fraternidade (CF) 2020, com o tema “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso”, tem como objetivo geral “conscientizar, à luz da Palavra de Deus, para o sentido da vida como dom e compromisso, que se traduz em relação de mútuo cuidado entre as pessoas, na família, na comunidade, na sociedade e no planeta, nossa ‘casa comum’”. 
Na apresentação do texto-base da CF 2020, a presidência da CNBB ressalta que, neste ano, a campanha terá um olhar transversal para as diversas realidades e não para uma temática apenas, e convida a “refletir sobre o significado mais profundo da vida e a encontrar caminhos para que esse sentido seja fortalecido e, algumas vezes, até mesmo reencontrado”. 

O BOM SAMARITANO
A parábola do Bom Samaritano (Lc 10,25-37) é a base das reflexões para a dimensão do cuidado com o próximo: “O Bom Samaritano nos inspira e ensina como vencer a globalização da indiferença” (CF 2020,14).
O lema da CF 2020 – “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34) – é apresentado como um autêntico programa quaresmal para a escuta da palavra que converte o coração, a verdadeira atenção pelos outros, o rompimento da indiferença frente ao sofrimento e a disponibilidade para servir (15).

CONFIGURAR O OLHAR
O texto-base está estruturado em três eixos. No primeiro, é apontado que, para uma verdadeira mudança de vida, é preciso “configurar nosso olhar como o de Jesus, com o olhar do Bom Samaritano” (26).
Este é um olhar de compaixão (28) e especialmente direcionado a situações que agridem a vida humana, como a extrema pobreza; o desemprego; as tentativas de legalizar o aborto, a eutanásia e o suicídio assistido; os casos de estresse, depressão, ansiedade e suicídio; a agressão aos povos indígenas; o feminicídio; e os conflitos por terra e água. 
Também há o alerta de que “o domínio da economia, que retira o olhar para a pessoa do centro, orientando-se por outros interesses, é o motor da desigualdade social que agride a vida, não só do ser humano, mas de todo o planeta, modificando a ‘casa comum’” (61). 

SENTIR COMPAIXÃO
Diante das mazelas, o segundo eixo do texto-base apresenta a compaixão para superá-las: “O olhar de compaixão gera um ‘permanecer com’, uma presença que salvaguarda, cuida e transforma a vida que mais precisa” (82). 
Especialmente na Quaresma, todos são chamados a um novo olhar, que seja capaz de defender e cuidar da vida desde a fecundação até a plenitude. “Não somente a vida humana, mas também todas as outras formas de vida, respeitando e preservando a natureza humana” (84).
Esse sentir compaixão deve ser expresso em atitudes, como não ignorar ninguém que pede ajuda e se comprometer com o próximo e não apenas ter dó. Também acontece em uma justiça misericordiosa, que leva à “mais perfeita motivação de igualdade entre os seres” (105) e que envolve o combate às desigualdades sociais e às causas estruturais da pobreza (112 e 113). 
Essa compaixão também acontece por meio da solidariedade, “via privilegiada para a construção da paz” (116); da caridade social, que “leva a amar o bem comum e a buscar efetivamente o bem de todas as pessoas, consideradas não só individualmente, mas também na dimensão social que nos une (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, CDSI, 207)” (117); e da ternura, pois “interpela-se a indiferença quando, servindo à ternura, nos tornamos cuidadosos” (138). 
Também é recordado que a Igreja, em sua responsabilidade pelo zelo da Criação, tem o dever de proteger as pessoas de uma possível destruição de si mesmas: “Quando a ecologia humana é respeitada dentro da sociedade, beneficia-se também a ecologia ambiental” (147). 

CUIDAR
O terceiro eixo da CF 2020 trata da dimensão do cuidado, destacando que todos são convocados a “cuidar com divino carinho da vida em todas as suas formas e expressões” (160) e a “testemunhar e estimular a solidariedade; e fortalecer a revolução do cuidado, da ternura e da fraternidade, como testemunho de vida dos discípulos missionários, daquele que oferece vida em plenitude” (166).
Aponta-se, ainda, a importância da Igreja em saída e de cristãos que, entre outras posturas, anunciam que o sentido da vida está no amor traduzido no cuidado com os que sofrem; ofertam a própria vida e dedicam tempo aos apelos do Evangelho; cuidam dos mais frágeis; vão em busca dos que estão afastados da vida cristã; e geram experiências de solidariedade e inclusão.
Esse cuidar também envolve a reafirmação do valor da família e das comunidades cristãs como sinal de vida: “Uma comunidade que é lar: casa da Palavra, do pão, da caridade e da ação missionária” (197). 
Além disso, é proposto que a Jornada Mundial dos Pobres, a ser celebrada na semana que antecede a festa de Cristo Rei, seja o gesto concreto da CF 2020 (206). 
Este eixo do documento é encerrado com uma lista de iniciativas de cunho pessoal, comunitário e eclesial para valorizar a vida como dom e compromisso. 

NOS PASSOS DO SEU SENHOR
“A Igreja segue os passos do seu Senhor, vê, sente compaixão e cuida dos homens e das mulheres que se encontram feridos e necessitados de amor. Sem jamais perder a alegria do Evangelho, os cristãos são convidados a cultivar, na oração, na fraternidade e no serviço, um olhar de esperança que irradie para todos a luz da vitória da Ressurreição de Cristo” (223), consta na conclusão do texto-base, na qual também são reproduzidos trechos da Catequese “Educar para a Esperança”, proferida pelo Papa Francisco, em 20 de setembro de 2017. 

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