"Acredito que a vida consagrada é dom de Deus"

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31 de janeiro de 2019

Há cinco anos, Irmã Nilceia Aparecida Padilha mora no Malawi, país localizado na África meridional. Lá, a religiosa da Congregação das Irmãs Beneditinas da Divina Providência é responsável pela pequena comunidade de irmãs e também por uma creche com 60 alunos, quatro escolas primárias, uma escola de ensino médio que recebe 270 alunos, um pensionato para 80 meninas e a alimentação de 5.243 crianças em outra escola da região, com doações da Fundação Brunello e Frederica Cucinelli. “O que me sustenta na missão, sem dúvida, é a vida de oração”, disse a Irmã, que segue a espiritualidade beneditina, segundo a qual a oração e o trabalho devem se equilibrar.

A cada 2 de fevereiro, recorda-se, na Igreja em todo o mundo, o Dia da Vida Religiosa Consagrada. Com o tema “Vocações que anunciam a alegria do Evangelho e o amor de Deus”, esta é a 22ª vez que a data é celebrada. No Brasil, os consagrados são recordados também no terceiro domingo de agosto, mês em que se recorda todas as vocações.

Em entrevista ao O SÃO PAULO, Irmã Nilceia contou sua história vocacional e como tem sido a experiência missionária na África.

 

CONVERSA COM JESUS

Nilceia nasceu em Lauro Muller (SC) e é a mais nova de uma família de três irmãos. “Meus pais são católicos e têm muita devoção. Minha mãe conta que pediu a Nossa Senhora Aparecida uma menina a qual chamaria de Aparecida”, recordou.

De família simples, Nilceia disse que aprendeu em casa valores como honestidade, caridade e partilha. Com a mãe doente, a pequena lembra-se ainda de episódios como um dia em que sua mãe tomou remédios por engano e não conseguia se levantar da cama.

“Eu fui no quarto da vovó e pedi a Jesus que salvasse minha mãe. Que Ele não a deixasse partir, pois meus irmãos iriam sofrer muito. E que, se quisesse, Ele me levasse no lugar dela. Minha mãe melhorou e não mais ficou doente como daquela vez”, contou a Irmã.

“Minha mãe ficava longos períodos no hospital e eu sentia muito a sua falta”, disse Nilceia, que também sofria com crises de asma e bronquite continuamente e, por isso, ia muitas vezes ao Hospital São Marcos, gerenciado e mantido pelas Irmãs Beneditinas da Divina Providência, na cidade de Nova Veneza (SC).

 

VOCAÇÃO

“O tempo passou e melhorei das crises respiratórias. Então, comecei a frequentar a catequese na minha comunidade, que era coordenada por uma irmã. Quando recebi a comunhão pela primeira vez, eu tive uma sensação inesquecível”, recordou Irmã Nilceia, que começou logo depois a colaborar na comunidade e recebeu o sacramento da Crisma aos 14 anos.

Aos 15 anos, Nilceia já atuava como catequista e ingressou no Apostolado do Sagrado Coração de Jesus. Conta que sentiu o chamado à vocação religiosa em uma ocasião que sua família recebeu a visita de uma freira. “Em 1995, uma forte tempestade levou 15 pessoas da minha família e uma freira veio nos visitar. Foi a primeira vez que pensei em ser religiosa e cheguei a pedir aos meus pais que eu queria ir junto com a Irmã. Mas meu pai não permitiu, porque disse que eu era ainda uma menina. Aos 16 anos, tive um namorado, mas não me senti inclinada ao matrimônio. Vivi um período de dúvidas sobre qual vocação seguir” conta a Irmã.

 

UMA CONVERSA DECISIVA

Em meio às dúvidas e questionamentos, Nilceia foi com sua mãe à cidade e pediu para visitar o convento das irmãs. Foi a primeira vez em que pôde conversar sobre o que sentia e seu chamado para a vocação.

“Voltei para casa decidida. Terminei o namoro e ingressei na Congregação. Fiz uma linda experiência junto às irmãs e às meninas em situação de rua que eram atendidas pelas irmãs. Compreendi o que significaria meu sim a Deus e, todas as vezes que pensei em desistir do caminho, aquela primeira experiência me fazia seguir em frente”, contou.

Em 2003, aos 20 anos, Nilceia Aparecida professou os primeiros votos na Congregação das Irmãs Beneditinas da Divina Providência, no Santuário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Curitiba (PR).


EM MISSÃO

Todos os dias, Irmã Nilceia participa da celebração eucarística e reza a Oração das Horas (Laudes, Hora média, as Vésperas e as Completas, recitadas antes de dormir). “Além disso, cada irmã tem uma hora diária de oração individual e, juntas, fazemos Adoração ao Santíssimo Sacramento em silêncio”, explicou a religiosa que disse ser este o segredo da sua perseverança e felicidade como religiosa.

“Ser consagrada hoje é ter a certeza de que nada é meu e que estamos aqui de passagem. Quando eu vim ao Malawi, por exemplo, não falava inglês e, chegando aqui, consegui compreender que Deus dá a graça e que Ele é o dono da missão, nós somos apenas seus colaboradores”, afirmou Irmã Nilceia. “Acredito que a vida consagrada é dom e graça de Deus e ser consagrada é trabalhar por ele na salvação e na redenção de todos”, continuou ela.

 

MALAWI

As crianças que permanecem na creche em que Irmã Nilceia e as outras irmãs de sua congregação são voluntárias andam até 7 quilômetros para chegar à escola. A região é muito pobre e há muitos casos de gravidez na adolescência. Além disso, muitas crianças e adolescentes fazem a única refeição do dia na escola.

“A espiritualidade da minha congregação é o confiante abandono na Divina Providência, que se traduz no carisma de acolher, assistir e educar a infância e a juventude, sobretudo em situação de risco”, recordou Irmã Nilceia, que não tem nada em seu nome e vive confiando na Divina Providência, conforme o carisma próprio da sua Congregação.

A Comunidade Sagrado Coração de Jesus foi aberta em 2007 no Malawi com o objetivo de expandir o carisma da Congregação e atender crianças carentes e órfãs de pais que foram e estão sendo, ainda, vítimas da Aids no país.

 

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