Museu do Futebol tem ação de diálogo com idosos durante a pandemia

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06 de mai de 2020

Fechado para visitação pública desde 17 de março, o Museu do Futebol, localizado no estádio do Pacaembu, tem intensificado suas ações pelas redes sociais e escalou o time de colaboradores do núcleo educativo para “uma tabelinha” com os idosos que estão em isolamento social em razão da pandemia do novo coronavírus.

Desde o mês passado, os membros do núcleo educativo do Museu têm feito vídeo-chamada ou ligações por telefone para conversar com os idosos, vivam eles com suas famílias, sozinhos ou em instituições de abrigo. Apenas nos 15 primeiros dias da iniciativa, aconteceram aproximadamente 50 diálogos.

A iniciativa é parte do projeto Revivendo Memórias, que já é realizado pelo Museu em parceria com a Faculdade de Medicina da USP, originalmente voltado ao atendimento de pessoas com a doença de Alzheimer. Diante da pandemia do novo coronavírus e das recomendações de isolamento social, a ação foi ampliada para todos os idosos.

“Muitos dos idosos às vezes muitos moram sozinhos. Com a ajuda da Faculdade de Medicina da USP, estendemos este programa para um atendimento remoto, feito por telefone ou por videoconferência. Por vídeo é mais bacana, porque conseguimos ajuntar várias pessoas: o idoso, algum familiar dele, o pessoal da faculdade e ao menos um educador do Museu, mais a coordenadora do educativo”, detalha Daniela Alfonsi, diretora de conteúdo do Museu do Futebol, em entrevista ao O SÃO PAULO.

Daniela comenta que os rumos da prosa vão além do futebol. “Tem se falado também muito de música, temos descoberto até compositores, é um bate-papo muito agradável”, garante.

Como participar

As sessões do projeto Revivendo Memórias #EmCasa acontecem de terça a sexta-feira, em dois horários: das 10h às 11h e das 15 às 16h.

Às terças e quintas-feiras, os atendimentos são individuais; às quartas e sextas-feiras, são atendidas casas de repouso e entidades sociais que atuam com outros grupos fragilizados, como pessoas com deficiência e em situação de vulnerabilidade.

Os interessados em participar devem fazer o agendamento pelo e-mail agendamento@museudofutebol.org.br. O solicitante pode ser o próprio idoso ou seu cuidador. É preciso indicar o dia e horário de preferência e qual o meio de comunicação que deseja fazer a conversa (telefone, Skype, Hangout ou outra ferramenta).

No caso de entidades, devem ser informados também o perfil do público atendido e quantas pessoas participarão da atividade.

O Museu entra em contato para fazer as confirmações. Se não for possível enviar e-mail, os agendamentos também podem ser feitos pelo telefone (11) 99113-0226, de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h.

A iniciativa faz parte da campanha #culturaemcasa, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, a quem pertence o Museu do Futebol.

Para as crianças

O Museu também pensou nas crianças neste tempo de isolamento social. Foi lançado o site educar.museudofutebol.org.br com muitas atividades recreativas para se fazer em casa, como paper toys de craques do futebol, testes de conhecimentos em cruzadinhas futebolísticas, jogo dos 7 erros sobre as regras do futebol e desenhos para colorir.

Cinema na rede

Em parceria com o CineFOOT, o Museu do Futebol também tem realizado sessões em streaming todos os sábados, às 21h, pelo Facebook e o YouTube. Após a exibição, os filmes não ficam mais disponíveis para acesso.

“Temos escolhido filmes sobre torcidas físicas ou clubes. Com isso, alcançamos torcedores diferentes a cada semana. Temos percebido que a exibição pela internet atrai um público que não necessariamente conhece o Museu em São Paulo. Quando exibimos o filme sobre o Bahia, por exemplo, o pico de pessoas assistindo foi lá no estado da Bahia”, detalha Daniela Alfonsi.

Além disso, no canal do YouTube podem ser encontrados vídeos dos eventos que já foram realizados no Museu, como debates e palestras, além de alguns documentários. O mais recente envolve entrevistas com os jogadores da seleção brasileira na Copa de 1970.

Exposições on-line

O Museu também disponibiliza 15 exposições on-line sobre a história do futebol. A mais atual é sobre os 80 anos do estádio do Pacaembu, completados em 27 de abril.

“É uma exposição com fotos e vídeos, e nos concentramos em mostrar um material que já há na sala do Museu e que conta como foi a construção do estádio, qual foi o interesse dos paulistanos em construir um estádio desse tamanho. Também falamos sobre a arquitetura do estádio, que é única. O Pacaembu tem o diferencial de ter uma arquibancada encostada no morro, no fundo de vale, não é como outros estádios em que parece um disco voador que pousa no terreno, como o Maracanã, e o Mineirão”, detalhou.

Também são encontradas exposições sobre o começo do futebol em São Paulo e a evolução das chuteiras. Essa iniciativa teve início em 2013, em parceria com o Google Cultural Institute, na plataforma Google Arts and Culture, que disponibiliza acervos de mais de 1.200 museus e coleções pelo mundo.

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A sabedoria não está isolada

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16 de abril de 2020

Entre todas as informações sobre a Covid-19, talvez a mais conhecida seja sobre o grupo de risco, no qual estão pessoas com doenças crônicas e as acima dos 60 anos. Desses, alguns já se aposentaram e outros continuam trabalhando ou realizando trabalhos de forma remota.

O SÃO PAULO conversou com idosos que, de diferentes lugares e realidades, contaram suas experiências durante o isolamento social, o que têm feito para ocupar o tempo e como têm vivido a dimensão da fé, participando das celebrações pela televisão ou pela internet e intensificando momentos de diálogo e oração em família.

QUEM SÃO ELES

Jorge Lima Lorente é radialista e escritor. Ele mora em Santo André (SP). Viúvo, tem dois filhos e quatro netos e está vivendo o isolamento social sozinho, numa casa com quintal e dois cães.

Maria Celeste Delgado Lessa, 76, mora em Recife (PE). É casada há 58 anos e teve quatro filhos, um deles, porém, faleceu de câncer. Está vivendo o isolamento em seu apartamento, na capital pernambucana.

José Antonio Novaes, 69, tem dois filhos e mora no Rio de Janeiro (RJ). Ele é professor de Matemática e está vivendo o isolamento social em seu apartamento, no bairro de Botafogo, com a esposa e a sogra.

Irene Perotto, 86, é religiosa da Congregação das Irmãs Paulinas há 63 anos. Ela nasceu em Barra do Ouro (RS) e mora em São Paulo (SP) junto a outras irmãs de sua comunidade religiosa.

Nelson da Silva Teixeira, 69, mora em São Paulo (SP), é casado e tem quatro filhos e uma neta. Está em isolamento com a esposa, uma das filhas e uma sobrinha em sua casa, no Jaçanã.  

Leonardo Venturini, 60, é casado há 32 anos. Tem duas filhas e mora em Jaguariúna (SP), onde está em isolamento com sua esposa e uma das filhas numa casa com quintal e muitas plantas.

Walter Mascarenhas Neves, 67, mora em São Paulo (SP), é viúvo e tem 3 filhos. Está em isolamento em sua chácara, em Indaiatuba (SP) junto com um das filhas e sua família e outro filho. Walter é engenheiro, mas após a morte da esposa se dedica quase exclusivamente ao trabalho pastoral e voluntário que realiza no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, no Arsenal da Esperança e com oficinas de artesanato para idosos. É coordenador de um grupo diário de meditação cristã na paróquia em que participa, no bairro de Perdizes.

Como você tem vivido o isolamento?

Jorge Lima Lorente -  Tenho levado muito a sério o isolamento, não saio nem mesmo na calçada de casa e, na minha rua, que é sem saída, todos os moradores tem ficado em casa, com poucas exceções. Não tive tempo de me sentir chateado ou deprimido, um segundo sequer. Escrevo mensalmente para a Revista “O Mílite” e comentários sobre os Evangelhos dominicais para a internet. Isso tudo absorve meu tempo na sua totalidade. Estou trabalhando em casa. Meu escritório transformou-se em um estúdio de rádio e eu estou transmitindo meus programas, diário e dominical, de minha casa, via Skype. Confesso que estou aprendendo e aplicando coisas novas todos os dias.

Maria Celeste Delgado Lessa – Aqui em Recife, mais especificamente no meu bairro, algumas pessoas tem respeitado o isolamento, outras não. Eu tento ficar em casa, mas, às vezes, preciso sair, pois sou eu quem resolvo as coisas da casa. Pela manhã, após o café, faço caminhadas no corredor do edifício em que moro, além de subir e descer as escadas, pois moro no terceiro andar e fazer alguns exercícios dentro do apartamento. Depois, dedico um tempo para limpar a casa e fazer o almoço. À tarde, descanso, leio e cuido das plantas.

José Antonio Novaes – Por aqui, as pessoas não têm respeitado o isolamento, há muitas aglomerações, principalmente nas estações de transportes públicos. Estou há quatro semanas em casa e saí quatro vezes. Uma em que fomos nos vacinar, duas idas à farmácia e uma para as compras no mercado. Passo o tempo cozinhando, lendo, gravando vídeos para o canal “Matemática de outro jeito” que mantenho no You Tube, jogando e dançando com a Alice, minha esposa. Ah, e cuidando da sogra.

Irmã Irene Perotto - Sinto que as pessoas estão respeitando sim as normas de isolamento. Na minha comunidade também estamos, procuramos nos distanciar e manter o equilíbrio, que é muito importante neste momento.

Nelson da Silva Teixeira - Eu moro na periferia da cidade de São Paulo, no Jaçanã. Daqui de casa vejo algumas pessoas indo à UBS e consigo ver o ônibus com pouca gente. Nestes 26 dias de isolamento, só saí uma única vez para tomar a vacina há menos de 500 metros de casa. Eu gosto de sair para visitar pessoas e participar de atividades pastorais e voluntárias. Atualmente, trabalho remotamente como executivo de um partido político e atendo os 645 municípios do Estado de São Paulo, conversando e orientando as pessoas em suas comunidades.

Leonardo Venturini - Aqui na cidade, respeitando a ordem do Governo Estadual, está tudo fechado e temos apenas quatro casos confirmados [até dia 11 de abril]. Todos os dias de manhã, eu abro a porta da minha casa e agradeço a Deus caminhando pelo quintal! Tenho ocupado o tempo cuidando das plantas, cortando grama, colhendo as verduras. Às vezes toco violão, leio mensagens no Whatsapp, cozinho, cochilo à tarde. Mas, confesso que é muito difícil ficar em casa.

Walter Mascarenhas Neves - Por morar em um condomínio fechado, aqui na chácara, todos estão respeitando o isolamento. Estou numa casa grande, com terreno grande e isso facilita muito. Somente meu filho recebe o que vem de fora e higieniza tudo antes de manipularmos. Temos comprado tudo por telefone ou pela internet.

 

Você considera o isolamento uma privação? É muito difícil para você ficar em casa?

Jorge Lima Lorente – Sim. Gosto muito de sair. Faço palestras, gosto de visitar parentes e amigos. Nos encontramos pelo menos uma vez por semana. Porém, gosto muito também de ficar em casa escrevendo, lendo ou cozinhando alguma receita que encontro na internet, que tem sido – além do trabalho - um dos meus modos de passar o tempo.

José Antonio Novaes - Sempre gostei de sair, praticar esportes, passear, de eventos culturais e de trabalho. Tem sido difícil sim.

Irmã Irene Perotto - Acredito que esta é uma experiência única, independente de todas as outras experiências já vividas. É uma privação muito grande para todas as pessoas e, por isso, parece que o peso é ainda maior. Temos que pensar muito sobre isso e quais serão nossas atitudes depois que tudo passar.

Nelson da Silva Teixeira – Ficar em casa tem sido uma experiência muito salutar para nossa vida em plenitude. Um tempo para refletir sobre como estava a nossa vida, sobre o tempo que temos para cada coisa, sobre a importância do tempo.

Leonardo Venturini - Eu não gosto de ficar em casa. Acordava todos os dias às 5h e fazia minha caminhada, antes do isolamento. Gosto de conversar com as pessoas na rua e cumprimentar conhecidos, está sendo difícil sim. Mas, por outro lado, estou ficando mais tempo com minha esposa e minha filha, que mora fora da cidade. O que eu gosto mesmo é de receber pessoas em casa e estou sentindo muita falta disso.

Walter Mascarenhas Neves - Tem sido difícil ficar em casa, pois gosto de sair. Porém, sinto-me muito privilegiado por ter espaço, quintal, natureza e por estar com minha família. Para ocupar o tempo eu cozinho, cuido das plantas, limpo a casa e ajudo a cuidar do meu neto.

Você tem o hábito de rezar em casa? Os momentos de oração se intensificaram durante o isolamento?

Jorge Lima Lorente - Tenho sim o hábito de rezar em casa, tenho um pequeno altar, acompanho os momentos de oração pelos meios de comunicação, porém, sem companhia (a não ser a de Jesus e Maria), pois moro sozinho.

Maria Celeste Delgado Lessa - Tenho um altar no meu quarto e acompanho sempre as missas pela televisão ou pelo rádio, sobretudo com os padres Marcelo Rossi, João Carlos e Reginaldo Manzotti. Tenho muita fé em Deus que logo vai passar e sofro pelas famílias que perderam seus entes queridos.

José Antonio Novaes - Eu rezo sim, mas não acompanhando rádio ou tv. Quando criança, rezávamos o Terço em casa e eu continuei a rezá-lo, mas no metrô, trem, ônibus ou dirigindo e a Alice rezava em casa. Agora, estamos rezando juntos à noite.

Irmã Irene Perotto – Nós rezamos sempre, seja individualmente, seja em comunidade, além, é claro, das missas diárias. Antes da epidemia, porém, eu participava da missa na televisão somente em alguns domingos, quando eu estava impedida de ir à paróquia. Agora essa participação tem sido frequente. A celebração da Páscoa na comunidade também foi excelente. Cada cerimônia foi muito significativa.

Nelson da Silva Teixeira – Sim, junto com os familiares e pelas redes de televisão católicas, em especial a TV Aparecida, tenho acompanhado as celebrações. Tenho um altar dedicado a Nossa Senhora da Salette, e, como Leigo Saletino e Missionário da Reconciliação, sempre lembro a Mensagem de Maria na Montanha de La Salette, quando ela falou: “Não tenham medo, vão e levem esta mensagem para todo o meu povo”.

Leonardo Venturini – Todos os dias eu rezo o Terço, mesmo antes da pandemia. Toco violão no coral da paróquia e estou sentindo muita falta de participar das celebrações. Não tenho o costume de acompanhar o Terço pelo rádio, rezo sozinho. Mas, agora, durante o isolamento, estamos rezando o terço em família e está sendo uma experiência muito bonita. Temos vários altares em casa. Temos rezado muito durante esses dias.

Walter Mascarenhas Neves – Diariamente, rezo o Terço e participo da celebração numa igreja perto da minha casa. Aqui, na chácara, tenho acompanhado pela tv somente aos domingos. Em casa, conversamos, aprendemos a conviver e compartilhamos muitos momentos. Às vezes, quando bate ansiedade, fico mais introspectivo, rezo, tento refletir e mudar atitudes. Agradeço sempre a Deus, pois tem sido muito pródigo comigo.

 Acompanha as missas, encontros, momentos de oração pela televisão, rádio ou pela internet?

Jorge Lima Lorente - Faço uso de todos os meios de comunicação social. Têm me ajudado bastante para eu me aproximar mais de Deus, por meio da oração. Eu pensava que rezava o suficiente, neste período, assim como outras milhares de pessoas, eu tenho me encontrado em oração, no mínimo o dobro do que eu rezava. Toda a tecnologia e os meios de comunicação estão sendo bastante utilizados. Vários grupos se formaram, então acontecem, além da troca de informações via Whatsapp, encontros programados para a oração do terço via hangouts ou Skype.

José Antonio Novaes – Sim, pois foi a opção que nos restou. O padre da minha paróquia tem celebrado por lives do Facebook e, às vezes, assisto a missa pela Rede Aparecida de Televisão.

Irmã Irene Perotto - Tenho muito contato virtual e por telefone com meus familiares, irmãs, sobrinhas. Durante o dia, nos falamos sempre. Eles me contam o cotidiano e eu dialogo com eles e tento confortá-los neste momento tão difícil. Estamos todos contando os dias para que acabe essa situação de isolamento. Participar das missas por meio da televisão tem sido uma experiência única, pois, embora à distância, é como se estivéssemos num contato quase pessoal com toda a Igreja.

Nelson da Silva Teixeira – Sim. Uso todos os meios tecnológicos para viver a minha fé. Os templos estão fechados, mas a Igreja está sempre aberta, pois a Igreja também somos nós. Tenho também participado de alguns grupos virtuais, como CNLB, Cáritas e Leigos Saletinos.

Leonardo Venturini - Todos os dias participamos da missa pela televisão durante este tempo, mas, está sendo difícil, pois não é a mesma coisa da missa presencial.

Walter Mascarenhas Neves - Não gosto muito de acompanhar os atos litúrgicos pela televisão, por isso, durante o isolamento, tenho feito isso só aos domingos.

Acredita que este tempo de isolamento pode ensinar, para a sociedade em geral, algo de bom?

Jorge Lima Lorente - Eu tenho certeza que este período de isolamento trará muitos frutos bons. Pessoas descrentes estão se aproximando da Igreja e participando dos momentos de oração. Um velho ditado diz que nos aproximamos de Deus pela dor ou por amor. Pena que tenha que ser pela dor. Mas, as pessoas estão sim rezando mais e deixando de lado o pronome pessoal eu e fazendo uso do nós. Notícia recente mostra que os meios de comunicação, de conteúdo religioso, teve um salto, um aumento de 300% no seu Ibope. O aprendizado já está acontecendo, a proximidade entre filhos e pais, marido e mulher.  Vamos continuar em oração para que, quando tudo passar, esta fantástica experiência não caia no esquecimento.

José Antonio Novaes – Com certeza. As mídias nos ajudavam a nos aproximar das pessoas distantes e, às vezes, acabavam nos distanciando de quem estava perto. Penso que, com este exercício de isolamento, vamos notar que precisamos ficar mais perto da família e de quem mora conosco. Espero que além de valorizar mais a saúde, alguém se atente para a importância da educação e dos professores.

Irmã Irene Perotto - Tenho certeza que o futuro será diferente. Acredito que a humanidade vai iniciar uma nova era. Essa experiência tem sido de diálogo, de valorização da família, de intensificar os relacionamentos e isso vai modificar o futuro, sobretudo as famílias. A família é o centro da humanidade. As epidemias marcaram profundamente e diretamente minha vida. Quando eu tinha cerca de 12 anos, aconteceu a epidemia de tifo no Brasil. Meu pai, que nunca teve nenhuma doença, pegou a febre e morreu em decorrência do tifo. Quando eu tinha 40 anos, fui eu quem peguei a gripe asiática. Tive febres de 40ºC e não havia remédio que abaixasse a febre. Estava em missão e tive que resistir, mas, quando voltei para a comunidade, continuei tendo febre. Tive então uma pneumonia muito forte e um dos pulmões prejudicados, com consequências que duram até hoje.

Nelson da Silva Teixeira – Este tempo vai nos trazer um novo modo de vida menos consumista e mais solidário. Veremos com se fosse com uma lupa as necessidades de nossos irmãos mais desfavorecidos. E, como afirmou o Papa Francisco na Encíclica Laudato si, a própria Igreja deverá se tornar menos intimista, para ser uma Igreja verdadeiramente em saída, indo ao encontro das pessoas nas periferias de nossa existência.

Leonardo Venturini - Acredito que depois que tudo isso passar muitas coisas vão mudar. Vamos valorizar muito mais nossa liberdade. A liberdade de sair, de receber amigos, de confraternizar com as pessoas. Deus, família e liberdade são as coisas mais importantes da vida.

Walter Mascarenhas Neves – Acredito que este isolamento me ajudará, sobretudo, a compreender melhor a situação dos idosos com os quais trabalho, pois a maioria deles passa muito tempo sozinho. Sinto que tudo o que acontece em nossa vida está em sintonia com os planos de Deus. Além disso, aprenderemos, sempre mais, a conviver, o que parece simples, mas não é.

 

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Governo de São Paulo não descarta adoção de medidas mais restritivas

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26 de março de 2020

Em coletiva de imprensa no início da tarde desta quinta-feira, 26, no Palácio dos Bandeirantes, o governador de São Paulo, João Doria Junior, disse que não está descartada a possibilidade de restringir a circulação de pessoas com mais de 60 anos, diante do aumento dos casos do novo coronavírus.

 “Ontem falei com o prefeito Bruno Covas sobre essa perspectiva, e devo informar que ela é real. Se nós continuarmos ainda vendo nas ruas e em áreas de circulação de pessoas que visivelmente têm mais de 60 anos, elas poderão ser abordadas por policiais militares ou agentes da Guarda Civil Metropolitana, recomendando que sigam para suas casas”, afirmou o governador.

Doria disse que ainda não há condições de avaliar se será preciso prorrogar a quarentena sanitária em todo o Estado de São Paulo, que, inicialmente, seguirá até 7 de abril. O governador afirmou que analisa a situação diariamente e toma decisões com base em indicadores e recomendações dos grupos de trabalho.

O Estado de São Paulo registra 862 casos da doença, que nacionalmente já infectou 2.433 pessoas até o começo da tarde desta quinta-feira, um mês após o primeiro caso do novo coronavírus no pais.

O Secretário de Estado da Saúde, José Henrique Germann, lembrou que no início São Paulo concentrava cerca de 90% dos casos, hoje são aproximadamente 30% do total, o que indica a expansão da epidemia por todo o país. Para ele, a situação só não é ainda pior graças às medidas de restrição de mobilidade.

O Secretário disse que talvez sejam necessárias medidas de maior restrição de circulação de pessoas: “Hoje não se está fazendo um isolamento, mas sim um distanciamento social. O próximo passo, se houver necessidade, será o isolamento domiciliar ou social, e se tiver de apertar este cinto ainda mais, teríamos o lockdown, que é o uso da força policial para manter as pessoas em casa. Não estamos nessa situação ainda, mas não sei se estaremos um dia, mas se mantivermos os idosos em casa tal qual um lockdown, nós teremos um comportamento da crise que, talvez, nos favoreça para não colapsar o sistema de saúde”, analisou.

Doria voltou a pedir às famílias que convençam os idosos a permanecer em suas casas e que protejam os grupos mais vulneráveis à doença.

Repasse de verbas

O governador também anunciou que o Estado de São Paulo vai repassar R$ 218 milhões para enfrentamento ao novo coronavírus em 80 cidades paulistas com mais de 100 mil habitantes. O dinheiro será usado para a instalação de centros de referência e hospitais de campanha.

Na sexta-feira, 27, será feito o anúncio de repasses específicos para programas contra o avanço da COVID-19 na cidade de São Paulo; e na segunda-feira, 30, vai ser apresentado o repasse que será feito aos demais municípios do Estado.

Encontros religiosos

Mesmo diante do decreto do Governo Federal que declara as atividades religiosas como essenciais, Doria voltou a pedir aos líderes religiosos que se atentem para a gravidade da pandemia e mantenham os cultos e missas sem a presença de pessoas.

“Eu tenho certeza que aqueles que são dirigentes de Igrejas católicas, evangélicas, anglicanas e de todas as manifestações religiosas, todos eles têm bom senso, equilíbrio e a capacidade de compreender a gravidade da situação em que estamos. Boa parte das igrejas já iniciou missas e cultos não presenciais, estimulando o uso da televisão e de outros canais pela internet, permitindo que os milhões de fiéis possam seguir processando sua fé. Faço um apelo para que os dirigentes de igrejas compreendam a gravidade e as igrejas possam fazer seus cultos virtualmente e não presencialmente”, afirmou Doria.

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Estatuto do Idoso: garantia de dignidade ao envelhecimento

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08 de outubro de 2018

Ver uma pessoa com mais de 60 anos ter prioridade na fila do supermercado, do banco, no ônibus ou em outros locais se tornou comum no Brasil. Embora por vezes ainda desrespeitado, o direito dos idosos à prioridade em diferentes serviços, além de outras garantias, ficou amplamente conhecido depois da implantação do Estatuto do Idoso, que acaba de completar 15 anos de vigência no País. 

Criado pela Lei 10.741, em 1º de outubro de 2003, quando o Brasil tinha 15 milhões de idosos, o estatuto trouxe, de forma inédita, princípios da proteção integral e da prioridade absoluta às pessoas com mais de 60 anos e regulou direitos específicos para essa população, além de criminalizar atos de negligência, discriminação, violência, crueldade e opressão contra o idoso. 

“Foi a primeira legislação que, de fato, passa a regular os direitos humanos das pessoas idosas. Trabalho na área de envelhecimento há quase 40 anos e, na época, o Brasil era um dos países que não tinham uma legislação que permitisse penas e sanções administrativas àqueles que praticassem maus-tratos e violência”, relata Laura Machado, representante da Associação Internacional de Gerontologia e Geriatria na ONU e membro do conselho do HelpAge Internacional. 

Para a Pastoral da Pessoa Idosa, que desde a década de 1990 atende idosos em condições de vulnerabilida de, o estatuto qualificou a assistência social e mudou a percepção de outras gerações sobre o idoso. “O fato de haver uma legislação que assegura direitos dá maior credibilidade, visibilidade e segurança a todo um trabalho, seja da pastoral, seja de outras instituições que se dedicam à causa”, afirmou Irmã Terezinha Tortelli, coordenadora da Pastoral. 

Na Câmara dos Deputados, 147 projetos de lei que mudam ou aprimoram alguns pontos do Estatuto do Idoso estão sob análise. A maioria trata de mobilidade, acesso à moradia, saúde, direitos humanos e questões relacionadas a trabalho, emprego e assistência social.

Fonte: Agência Brasil 
 

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75% dos idosos usam apenas o SUS

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02 de outubro de 2018

Nesta segunda-feira, 1, Dia Nacional e Internacional do Idoso, o Ministério da Saúde divulgou o Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil), revelando que 75,3% dos idosos brasileiros dependem exclusivamente dos serviços prestados no Sistema Único de Saúde, sendo que 83,1% realizaram pelo menos uma consulta médica nos últimos 12 meses. Nesse período, foi identificado ainda que 10,2% dessa população foi hospitalizada uma ou mais vezes. Quase 40% deles possuem uma doença crônica e 29,8% duas ou mais como diabetes, hipertensão ou artrite. Ou seja, ao todo, cerca de 70% dos idosos possuem alguma doença crônica.

Foi a primeira vez que um estudo traçou o perfil da saúde do idoso, o uso dos serviços de saúde, as limitações funcionais, as causas de hospitalizações, entre outras condições sociais que permitirão aprimorar as políticas públicas para esta população, trata-se do (ELSI-Brasil), que faz parte de uma rede internacional de grandes estudos longitudinais sobre o envelhecimento e traz informações sobre como a população está envelhecendo e os principais determinantes sociais e de saúde. A ideia é que esse estudo traga subsídios para a construção e adequação de novas políticas públicas para fortalecer a saúde do idoso.

“Nós temos que cuidar da saúde dos brasileiros desde a infância para que eles tenham uma vida cada vez mais saudável. Isso significa voltar nossas ações para uma alimentação saudável, para a promoção de atividades físicas, inibir o consumo do álcool e do tabaco, e ainda para as pessoas com idade acima de 60 anos, oportunizar o diagnóstico de doenças de forma cada vez mais precoce. É dessa maneira que podemos oferecer à nossa população um envelhecimento saudável”, afirmou o Ministro da Saúde, Giberto Occhi.

A pesquisa apontou também que 85% da população com 50 anos ou mais vivem em área urbanas. E entre os relatos sobre os hábitos de comportamento, 43% dos idosos acompanhados pelo estudo disseram ter medo de cair na rua.

(Com informações de rádio 9 de julho e Ministério da Saúde)
 

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Falta de conselhos dificulta execução completa do Estatuto do Idoso

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01 de outubro de 2018

Apesar do Estatuto do Idoso ser considerado um modelo para outros países, especialistas ponderam que, depois de 15 anos, a legislação ainda não está totalmente implementada e o cumprimento de vários artigos é completamente ignorado em muitas partes do Brasil.

Preconceito e falta de conscientização estão entre as principais barreiras para efetivação das políticas. “O estatuto é ignorado muitas vezes pelas próprias autoridades que deveriam monitorar e implementar. O acesso a serviços ainda é lamentável e em algumas áreas há retrocessos. Há discriminações flagrantes pela pessoa ser uma idosa. Nós temos muito caminho a percorrer para que esse estatuto possa realmente ser uma conquista e não apenas um belo documento acumulando poeira na prateleira”, diz Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade.

 

Conselhos de direitos

Uma das dificuldades para a implementação está a pouca estrutura dos chamados conselhos de direitos da pessoa idosa, que atuam na articulação e fiscalização de políticas públicas em âmbito local. Em todo o país, há cerca de 200 conselhos municipais, para mais de 5,5 mil cidades.

“Temos um número maior de conselhos para crianças e adolescentes. O de idosos ainda é muito tímido. Têm conselhos criados há muito tempo, mas não regulamentados com fundo que possa receber recursos para fazer a execução da política pública do município”, destacou Laura Machado, representante da Associação Internacional de Gerontologia e Geriatria na ONU e membro do conselho do HelpAge Internacional.

Ela explica que a estruturação dos conselhos ainda é recente e a implementação do estatuto é diferenciada entre os estados devido à heterogeneidade do país. Alguns municípios avançaram mais do que outros, mas enfrentam desafios de dar continuidade às políticas, que ficam sujeitas às mudanças políticas. Segunda Laura Machado, onde há conselho, existe mais envolvimentos dos gestores e ações direcionadas para os idosos. Onde não há conselho, há uma dependência dos gestores municipais e iniciativas autônomas.

O Estatuto do Idoso não prevê formas de financiamento para sua implementação. A legislação permite que as empresas destinem 1% do imposto devido para os conselhos de direitos humanos, mas muitos empresários desconhecem ou não têm interesse.

Com a ausência dos conselhos, a assistência aos idosos é feita por voluntários da Pastoral da Pessoa Idosa. A entidade visita cerca de 145 mil idosos por mês, em 909 municípios de todos os estados.

“Às vezes, por influência dos voluntários da Pastoral é que começa a ser discutida a necessidade do conselho”, relata Terezinha Tortelli, coordenadora da Pastoral.

Segundo o Ministério dos Direitos Humanos (MDH), o Fundo Nacional do Idoso, criado em 2010, recebeu de 2011 a 2014, mais de R$ 20,5 milhões de recursos. Do montante, 24,3% correspondem a doações de pessoas físicas e jurídicas, 27,8% foram captados por rendimentos de aplicações financeiras e 27,1% foram transferidos pelo Tesouro Nacional.

Em 2015, foi criado um cadastro de fundos estaduais, distrital e municipais do idoso para ampliar os dados sobre a arrecadação. O MDH informou que este ano 41 conselhos (18 estaduais, 22 municipais e o Distrito Federal) receberam carros novos, equipamentos de informática e mobiliário para escritório.

 

"Envelhecimento tem cara feminina"

O país tem hoje 30 milhões de idosos, número que pode dobrar até 2060, segundo projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar de o brasileiro viver cada vez mais, os especialistas alertam que a sociedade ainda trata com indiferença o envelhecimento, o que impossibilita ou dificulta a preparação para esta fase da vida.

“As pessoas acham, sobretudo os homens, que são máquinas indestrutíveis e não pensam, tanto em relação ao capital financeiro, como o capital de saúde, que quanto mais cedo você acumular, melhor. E nós temos essa mentalidade de que envelhecimento não tem nada a ver comigo”, alerta Kalache.

Para idosos de baixa renda, a garantia dos direitos é ainda mais difícil. Se a pessoa idosa for mulher, negra, por exemplo, a exclusão é maior ao passar dos 60 anos de idade. Segundo o IBGE, as mulheres representam 56% dos idosos e os negros 55%.

“O envelhecimento tem uma cara feminina, porque quanto mais idosa a população, mais mulher você encontra. Você tem aí uma discriminação dupla: de gênero e do envelhecimento. Outra discriminação dupla é você ser negro e envelhecer. É uma vida de exclusões, de violações que o envelhecimento agrava”, destaca Kalache.

Outro grupo vulnerável é a população LGBT. “São pessoas que vieram de outras gerações, de uma realidade em que não podiam nem sair do armário e agora tem um capital social reduzido. E o estatuto do idoso não contempla essas minorias”, completa.

O preconceito em relação aos idosos se deve, de acordo com os profissionais da área, é a falta de informação e educação voltada para o processo de envelhecimento.

“Há um pouco de olhar equivocado sobre o envelhecimento de uma maneira geral. A expressão ‘melhor idade” mascara uma realidade, talvez inconscientemente, querendo enaltecer o lado positivo. Só que não dá pra ignorar que uma grande parcela da população idosa não tem benesses, não consegue usufruir de momentos melhores”, afirmou Terezinha Tortelli.

A coordenadora da Pastoral da Pessoa Idosa lamenta ainda que as escolas trabalhem pouco o assunto. “Falta de fato as escolas aderirem e colocarem no currículo, não só escolas para crianças, o ensino fundamental, mas também as universidades, que tenha uma carga horária x que contemple a temática ou que nos temas diversos se traga também o tema do envelhecimento”.

A Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa informou que este ano foi criado o programa Estratégia Brasil Amigo da Pessoa Idosa, com o objetivo de ampliar a qualidade de vida e promover envelhecimento saudável e ativo, em parceria com os estados e municípios.

A pasta informou que o Programa Nacional de Educação Continuada de Direitos Humanos prevê a oferta gratuita de cursos à distância sobre assistência e direitos dos idosos.

 

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Prefeitura atende mais de 12 mil idosos em Núcleos de Convivência espalhados por todas as regiões da capital

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01 de outubro de 2018

Você sabia que a Prefeitura de São Paulo tem mais de 12 mil vagas para idosos com idade a partir dos 60 anos interessados em participar de atividades esportivas e oficinas? Os 91 Núcleos de Convivência de Idosos espalhados por todas as regiões da capital promovem atividades socioeducativas planejadas, baseadas nas necessidades e interesses dos idosos.

Os serviços têm por foco o desenvolvimento de atividades que contribuam no processo de envelhecimento saudável, no desenvolvimento da autonomia e de sociabilidades, no fortalecimento dos vínculos familiares, no convívio comunitário e na prevenção às situações de risco social.

Nos núcleos, os idosos participam de atividades esportivas, dança, artesanato, yoga, pilates, música, canto, oficinas de psicoterapia e resgate de memórias e passeios.

Conhece alguém que gostaria de participar das atividades promovidas em um dos 91 Núcleos de Convivência de Idosos? Procure o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) mais próximo e obtenha mais informações.

 

Outros serviços para idosos

Atualmente, a rede socioassistencial conta com 16 Centros Dia para Idosos com 30 vagas em cada um. Nesses locais, os idosos podem passar o dia enquanto o filho trabalha e retornar para casa à noite. Os serviços prestam atendimento a idosos com maior fragilidade que recebem cuidados especiais como alimentação, terapia ocupacional, atendimento multidisciplinar, além de participar de oficinas. 

A rede também conta com o Centro de Referência da Cidadania do Idoso (CRECi@). O serviço proporciona um espaço de socialização e entretenimento. No local, 400 idosos participam de diversas atividades, como bailes, palestras, oficinas, aulas de ginástica e informática.

As 14 Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), que juntas podem acolher até 480 idosos, funcionam em unidades com características residenciais e estrutura física adequada, visando o desenvolvimento de relações mais próximas do ambiente familiar e a interação social. A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) também dispõe de sete Centros de Acolhida Especiais, que prestam atendimento a 702 idosos mais independentes, garantindo acolhimento digno e resgate da cidadania.

As vagas são referenciadas nos Centros de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), e também podem ser viabilizadas por meio de encaminhamentos do Ministério Público ou Poder Judiciário.

 

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