Pela comunhão dos santos, o cristão vive sua pertença à Igreja

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27 de abril de 2020

Este período de pandemia e isolamento social é um convite para os cristãos renovarem a fé e aprofundarem o seu sentido de pertença à Igreja de Cristo. Desse modo, os artigos da profissão de fé, o “Creio”, ajudam a enfrentar estes dias difíceis em uma perspectiva sobrenatural.

Mais do que nunca, a afirmação “Creio na comunhão dos santos” é uma dessas verdade de fé que possibilitam ao fiel compreender que a Igreja é uma realidade que vai além do tempo e do espaço, e cuja ação não pode ser limitada por uma quarentena.

IGREJA

No artigo publicado pelo jornal O SÃO PAULO em 15 de abril, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, propôs uma reflexão a partir da pergunta: “Onde anda a Igreja?”, destacando que estes dias de igrejas vazias o levaram a pensar muito na realidade da comunhão dos santos.

“Essa ‘comunhão dos santos’ diz respeito ao próprio ser da Igreja, que é a comunidade dos discípulos de Cristo do passado, presente e futuro, dos santos e dos pecadores, que se reúnem para as celebrações e dos ausentes delas.”

De fato, depois de afirmar “Creio na Santa Igreja Católica”, o Símbolo dos Apóstolos acrescenta “na comunhão dos santos”. “Este artigo é, em certo sentido, uma explicitação do anterior: pois ‘que é a Igreja, se não a assembleia de todos os santos?’. A comunhão dos santos é precisamente a Igreja”, explica o Catecismo da Igreja Católica (CIC), 946.

CORPO DE CRISTO

Para compreender melhor esse dogma, é preciso voltar à definição que o Apóstolo São Paulo faz da Igreja como o corpo do próprio Cristo, especialmente no capítulo 12 da Primeira Carta aos Coríntios.

Ao comentar sobre essa natureza da Igreja, o Papa Francisco, na Catequese de 19 de junho de 2013, afirmou que a Igreja não é uma associação assistencial, cultural ou política, mas é um corpo vivo, que caminha e age na história. “E este corpo tem uma cabeça, que é Jesus, que o guia, nutre-o e sustenta-o”, disse.

Nesse sentido, o Catecismo ressalta que a expressão comunhão dos santos tem dois significados estreitamente ligados: “comunhão nas coisas santas (sancta) e comunhão entre as pessoas santas (sancti) ... Os fiéis (sancti) são alimentados pelo Corpo e Sangue de Cristo (sancta), para crescerem na comunhão do Espírito Santo (Koinonia) e a comunicarem ao mundo” (CIC, 948).

CÉU E TERRA

A comunhão dos santos também ajuda a compreender os três estados que constituem a Igreja de Cristo: 

  • Igreja militante: constituída por todos aqueles batizados que estão vivos e peregrinam neste mundo e caminham para a eternidade celeste;
     
  • Igreja padecente: formada por aqueles que “morreram na graça da amizade, mas não estão de todo purificados, sofrem depois da morte uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrar na alegria do céu”, isto é, o purgatório (CIC, 1030).
     
  • Igreja triunfante: constituída por todos aqueles bemaventurados que estiverem purificados e contemplam Deus face a face no céu, “o estado de felicidade suprema e definitiva” (CIC, 1024).

“Nós cremos na comunhão de todos os fiéis de Cristo: dos que peregrinam na terra, dos defuntos que estão levando a cabo a sua purificação e dos bem-aventurados do céu: formam todos uma só Igreja; e cremos que, nesta comunhão, o amor misericordioso de Deus e dos seus santos está sempre atento às nossas orações”, afirmou São Paulo VI, na Carta Apostólica Sollemnis professio fidei (1968).

A Constituição Dogmática Lumen gentium, do Concílio Vaticano II, destaca que: “Todos, porém, comungamos, embora de modo e grau diversos, no mesmo amor de Deus e do próximo, e todos entoamos ao nosso Deus o mesmo hino de glória. Com efeito, todos os que são de Cristo e têm o seu Espírito, formam uma só Igreja e Nele estão unidos uns aos outros”.

PARTICIPAÇÃO

Na terra, os cristãos participam dessa comunhão por meio da fé comum, pelos sacramentos, pelos carismas distribuídos pelo Espírito Santo, pela partilha dos bens espirituais e materiais e pela caridade.

A comunhão com aqueles falecidos que são purificados no Purgatório se dá por meio da oração da Igreja militante, que oferece continuamente suas preces e sacrifícios, especialmente o santo sacrifício da missa, em sufrágio dessas almas.

“Reconhecendo claramente esta comunicação de todo o Corpo místico de Cristo, a Igreja dos que ainda peregrinam venerou, com muita piedade, desde os primeiros tempos do cristianismo, a memória dos defuntos; e, ‘porque é um pensamento santo e salutar rezar pelos mortos, para que sejam livres de seus pecados’ (2Mc 12,46), por eles ofereceu também sufrágios” (CIC, 958).

Já aqueles que habitam a Igreja triunfante, os santos, participam dessa comunhão por meio da sua intercessão junto a Deus. “Assim como a comunhão cristã entre os cristãos ainda peregrinos nos aproxima mais de Cristo, assim também a comunhão com os santos nos une a Cristo, de quem procedem, como de fonte e cabeça, toda a graça e a própria vida do povo de Deus” (CIC, 957).

EUCARISTIA

Portanto, estar em comunhão com a Igreja é estar unido a todos aqueles irmãos que estão nessas três realidades. E um dos meios mais eficazes de experimentar essa união é a Eucaristia, memorial da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

“É por este sacramento que nos unimos a Cristo, o qual nos torna participantes de seu Corpo e de seu Sangue para formarmos um só corpo”, destaca o Catecismo, afirmando, ainda, que a comunhão eucarística é  “o sentido primário da comunhão dos santos... pão dos anjos, pão do céu, remédio de imortalidade, viático...” CIC, 1331).

Desse modo, cada vez que um sacerdote preside uma missa e oferece, na pessoa de Jesus Cristo, o único e eterno sacrifício redentor, unindo o céu e a terra, o faz em favor de toda a Igreja, ou seja, dos santos, dos falecidos e de todos os fiéis que estão isolados em suas casas, unidos em oração e comunhão espiritual.

POVO DE CRISTO

“A Igreja é esse imenso povo que Cristo reuniu mediante o anúncio do Evangelho e que adere a Ele pela fé. Os santos no céu são, certamente, a parte mais numerosa e bela dessa imensa comunhão comunidade e já vivem na ‘Jerusalém celeste’, participando plenamente da vida e da glória do Ressuscitado. Somos os que chegaram por último e ainda peregrinamos nesta vida, à espera do cumprimento pleno das promessas de Deus. Enquanto isso, voltamos nosso olhar, cheio de esperança, para Jesus Cristo, Senhor da Igreja”, ressaltou o Cardeal Scherer.

 

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Reunidos num só corpo

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26 de junho de 2019

Após a missa da quinta-feira, 20, que começou às 10h, em frente à Catedral da Sé e foi presidida pelo Cardeal Scherer, os fiéis seguiram em procissão até a Igreja de Santa Ifigência. A tradicional procissão de Corpus Christi é uma manifestação pública da fé e envolve muitas pessoas em torno do corpo e sangue de Cristo.

 

Alessandra Paiva Cerf e Fábio Cerf estavam caminhando com seus três filhos durante a procissão. Eles são membros da Comunidade Católica Shalom e todos os anos, sempre que possível, participam da Celebração de Corpus Christi junto a toda a Arquidiocese. "É um sacrifício, vir com as crinças, caminhar com elas pelo centro da cidade. Mas, é muito importante, pois aqui vemos o quanto a Igreja é grande e como somos todos membros de um só corpo", disse Alessandra.

Em frente ao Mosteiro de São Bento, Rosália Alma Kazuri viu a procissão passar. Seu filho, Apurinan Kazuri, 14, estava com um terço nas mãos e parou para cantar e rezar junto aos fiéis. Mãe e filho vão todos os dias para o local vender artesanato indígena, pois são da etnia xucuri ororubá. "Estamos em São Paulo há seis meses e estou vendendo artesanato para sobreviver e também tentar lançar um livro sobre meu povo", disse Alma Kazuri. 

Católica, a indígena ressaltou o fato de os católicos mostrarem a fé para fora dos muros da Igreja. "Muitas pessoas não entram mais nas igrejas. Por isso, a procissão, a manifestação da fé na rua, é muito importante", disse.

 

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Construir o espaço litúrgico para construir a comunidade do Corpo de Cristo

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25 de setembro de 2018

Dilza Francisca Ferreira faz parte da equipe de liturgia da Comunidade Nossa Senhora da Flores, que pertence à Paróquia Santo André Apóstolo, na Região Episcopal Belém. Há 15 anos, ela participa e ajuda a organizar as celebrações em sua comunidade. Mas qual o significado de cada um dos objetos utilizados na liturgia? Por que o altar, bancos e demais itens devem estar dispostos de determinada maneira dentro do espaço litúrgico?

Essas e outras perguntas fazem parte do dia a dia de quem participa ativamente de uma comunidade ou de quem ali adentra pela primeira vez. Para conversar a respeito do espaço litúrgico celebrativo e dar orientações para pessoas como Dilza, ou mesmo para profissionais de Arquitetura, Engenharia e Arte, a CNBB lançou o estudo 106 com orientações para projeto e construção de igrejas e disposição dos espaços celebrativos.

A Comissão de Formação Litúrgica da Arquidiocese de São Paulo promoveu, em dois módulos, um evento para ajudar as pessoas a compreender o estudo e discutir outros elementos do espaço litúrgico.

O assessor dos dois encontros foi o Padre Thiago Faccini, especialista em Espaço Litúrgico e Arte Sacra e perito do Setor de Espaço Litúrgico da Comissão Episcopal Pastoral para Liturgia da CNBB.

O primeiro encontro aconteceu no dia 10 de março e o segundo no sábado, 15, das às 8h30 às 13h, no Centro Pastoral São José do Belém, próximo à estação Belém do Metrô. Entre os aspectos abordados pelo Padre Thiago está a importância de o espaço celebrativo ser pensado do ponto de vista da liturgia, com o objetivo de fazer com que a comunidade aprofunde a fé com o auxílio do espaço litúrgico. “A comunidade deve acompanhar a construção do espaço, para que possa sentirse parte dele e compreender o objetivo de cada elemento”, salientou o Padre.

 

ARQUITETURA E ARTE

“Queremos salientar a importância que a Arquitetura e a Arte têm dentro da celebração litúrgica”, explicou Padre Thiago à reportagem do O SÃO PAULO. Ele comentou ainda que o espaço litúrgico é uma das dimensões da liturgia, na qual está incluído tudo aquilo que é visível, como o prédio em si e objetos como o cálice, as vestes litúrgicas, o altar, o ambão etc. “Diferenciamos o que é arte religiosa, arte sacra e arte litúrgica. A arte litúrgica inclui, por exemplo, as orações litúrgicas, os tempos litúrgicos”, continuou.

Sobre a participação da comunidade na composição do espaço, Padre Thiago disse que a comunidade deve participar, para sentir-se identificada. “Quando a comunidade ajuda a construir o espaço litúrgico, ela tem a oportunidade de construir a comunidade do Corpo de Cristo”, afirmou.

 

Faça o download do Material do Encontro

 

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