Novo coronavírus impacta na doação de órgãos

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19 de abril de 2020

“Conseguir um órgão é um ato heroico. Sumiram os doadores, pois as pessoas ficaram em pânico por causa da COVID-19. Os critérios para a coleta de órgãos ficaram mais difíceis, e as equipes de captação não vão mais aos hospitais, só fazem a abordagem telefônica”.

O relato é de um médico que atua no transplante de órgãos em um hospital da rede estadual de saúde de São Paulo, estado onde estão 41% das cerca de 38 mil pessoas que esperam pela doação de um órgão no Brasil, conforme dados do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT).

Por ano, são realizados no País aproximadamente 24 mil transplantes. Em 2019, segundo a  Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), foram realizados 6.283 transplantes de rim, 2.245 de fígado, 378 de coração, 173 de pâncreas e 104 de pulmão. A taxa de doadores efetivo cresceu 6,5% em comparação a 2018 e houve o percentual recorde de 60% na taxa de autorizações familiares para os procedimentos.

Em 2020, porém, o novo coronavírus impõe um panorama diferente. “A partir da chegada do vírus no Brasil, em março, houve uma diminuição muito grande na doação de órgãos, eu diria que em cerca de 70%. Certamente, muitos pacientes vão falecer na fila de espera, porque os transplantes diminuirão muito”, afirmou o médico José Huygens Garcia, presidente da ABTO, em entrevista ao O SÃO PAULO.

Menos vagas de UTI

Com a expansão do novo coronavírus pelo Brasil, mais leitos de UTI estão sendo destinados para pacientes com a COVID-19, o que representa um dos complicadores para a obtenção de órgãos para doação.

“Um médico não pode aceitar o órgão de um doador que teve uma morte por acidente vascular cerebral e que esteve na mesma UTI onde havia pacientes com a COVID-19, pois há chance de que o doador tenha tido contato com o vírus”, detalhou Garcia.

O presidente da ABTO conta que no Estado do Ceará, onde atua, alguns transplantes seguem sendo feitos, como os de fígado, mas não se sabe por quanto tempo. “Os hospitais daqui tem colocado o receptor do órgão em UTIs que não tenham paciente com a COVID-19, mas não sabemos se daqui há um mês ou uma semana, essas UTIs já não terão que receber pacientes com o novo coronavírus”, analisa.

Em muitos dos casos, o doador e a pessoa que necessita do órgão não estão no mesmo estado, e com a redução da quantidade de voos comerciais, em decorrência das recomendações de isolamento social, este tem sido outro complicador. “Às vezes, até existe o órgão, mas não se consegue mais transportá-lo em tempo hábil. Para alguns órgãos, este tempo é muito curto. O do coração, por exemplo, é de até quaro horas. O de um fígado, de até dez horas. O rim pode ser até 24 horas, por isso até que este é o órgão que mais viaja de um estado para outro”, explica Garcia.

Responsabilidade compartilhada

Em todo o País, a ABTO já recomenda que os médicos acrescentem no termo de consentimento para a realização do transplante um parágrafo, segundo o qual a pessoa a ser transplantada diz estar ciente da atual pandemia do novo coronavírus, que pode adquirir o vírus durante o procedimento de transplante e que também sabe “da possibilidade de que, em contraindo a doença, as medicações utilizadas para evitar a rejeição do transplante podem torná-la mais grave”.

“É preciso explicar para o familiar e para quem precisa do transplante que se a pessoa fizer o transplante, ela corre o risco maior de ter uma infecção pela COVID-19 no hospital. No caso de um paciente grave na fila, porém, o peso sempre vai prevalecer para a realização do transplante. Não há como não fazer o transplante, por exemplo, de um paciente com falência cardíaca, já que ele tem grandes chances de morrer se não for transplantado”, explica Garcia, detalhando ainda que transplantes que envolvem doadores vivos estão sendo suspensos em praticamente em todo o mundo.

Mas nem tudo por ser adiado

A ABTO já recomenda que se adiem todos os transplantes de tecidos, “exceto no caso de urgência de transplante de córneas”. Já os transplantes não emergenciais de córnea e pâncreas “podem ser postergados, mas não abolidos, pois, em certas circunstâncias, serão necessários ou possíveis”.

A Associação alerta que não devem cessar os transplantes de fígado, pulmão e coração, bem como os de rim, neste caso, com um alerta adicional.  “A suspensão [dos transplantes renais] acarretaria grande acúmulo de pacientes em lista de espera para diálise, que também irão sucumbir, caso essas vagas não sejam disponibilizadas. Pacientes em diálise também correm maior risco de aquisição de doenças virais, por dividirem unidades com aglomerados de pacientes, por quatro horas, três vezes por semana”, consta no comunicado da ABTO.

Um médico que atua na rede pública de saúde de São Paulo disse a reportagem sobre os dilemas que têm enfrentado. “No hospital onde estou, optou-se por não parar de fazer os transplantes e avaliar caso a caso. Há determinados casos, porém, que se o doente não faz o transplante, a mortalidade é alta. Como alguém que faz diálise, por exemplo, e que já está com quase todos os acessos entupidos não fará o transplante? Se isso não acontecer em até seis meses, um paciente com esse perfil morre em 50% das vezes por outras causas. É como fazer um cara ou coroa na vida dessa pessoa”, desabafou.

Outra médica que também atua na rede pública comenta sobre a dificuldade do diálogo com quem está há tempos esperando por um transplante: “Até parece uma situação injusta com aqueles que estão na fila dos transplantes a muitos anos ou esperando cirurgias na fila do SUS. No entanto, para que os procedimentos aconteçam nessa época da COVID-19, precisaria haver uma retaguarda da UTI e de que as pessoas tivessem o mínimo de proteção. Se o sistema de saúde não tem como garantir que elas estejam protegidas, o transplante somente aumentará o risco de essa pessoa não sobreviver”.

Testagem dos cadáveres

José Huygens Garcia assegura que na maioria dos estados, diante da transmissão comunitária da COVID-19, os órgãos para doação somente têm sido aceitos pelas equipes médicas após a confirmação de que quem teve morte cerebral, o potencial doador, não está com o novo coronavírus.

“A central de transplante de cada estado deve acordar com o laboratório central para priorizar este exame, já que é algo que vai salvar vidas. Se for priorizado, o processo mais rápido. Aqui no Ceará está acontecendo em até dez horas. O prazo razoável é de até 12 horas. Somente depois do resultado, é que se marca a extração dos órgãos”, detalhou.

Médicos ouvidos pela reportagem disseram que no Estado de São Paulo o resultado desse teste para a COVID-19 tem demorado até três dias. “Imagine, você vai chegar para uma família, por telefone, e perguntar: ‘Você quer doar o órgão do familiar, pois tem uma pessoa precisando? Só que você vai ter que esperar três dias para sepultar o familiar”, disse um dos entrevistados.

Por quanto tempo esperar?

Garcia ressalta que todos estes trâmites precisam ser ágeis, dada a instabilidade do quadro de quem já teve morte cerebral. “O coração ainda está batendo e alguns órgãos ainda continuam funcionado, porque o corpo está sobre o efeito de medicação e no respirador, mas caso se retarde muito a retirada do órgão, há o risco de uma parada cardíaca e  de se perder todos os órgãos. Além disso, essa pessoa segue ocupando um leito de hospital”, comentou.

E essa é outra angustia do primeiro médico citado nesta reportagem: “Às vezes, pode não dar tempo de fazer esse transplante. Quando dá, o corpo do doador vai permanecer em uma estrutura de UTI, ocupar um respirador, usar droga vasoativa. Diante desse cenário de escassez de UTI, você tem este problema ético: é um cadáver, a pessoa está morta, mas seguirá na UTI esperando até que se retirem os órgãos”.

Posicionamento do Governo de São Paulo

O jornal O SÃO PAULO questionou a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo sobre a adoção de protocolos especiais para os transplantes diante da pandemia do novo coronavírus.

A resposta da Secretaria, por meio de sua assessoria de imprensa, foi que “as equipes de transplantes seguem protocolos de triagem clínica dos potenciais doadores e realizando testes da COVID-19. Conforme protocolo do SUS, pessoas com diagnóstico de COVID-19 com menos de 28 dias da regressão completa dos sintomas não podem ser doadores de órgãos”.

Também houve questionamentos sobre o número de transplantes realizados nos hospitais da rede estadual no mês de março e a quantidade desses procedimentos que foram cancelados ou remarcados em razão da COVID-19. Até a conclusão da reportagem estes dados não foram fornecidos pela Secretaria de Estado da Saúde.

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Serviços de entrega por aplicativo facilitam doações a quem mais precisa

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18 de abril de 2020

Com a recomendação de isolamento social, como forma para evitar a disseminação do novo coronavírus, muitas pessoas deixaram o ambiente de trabalho das empresas para atuar no regime home-office. Em casa, também como maneira de economizar, muitos passaram a cozinhar as próprias refeições e deixaram de lado os pedidos de comida via aplicativos.

Os Apps, porém, seguem ativos, seja para atender quem ainda opta por pedir a comida na porta de casa, seja para aqueles que resolvem se solidarizar com os que mais precisam nesta época de recursos escassos, em especial para os mais pobres.

Os três aplicativos mais utilizados para os serviços de entrega – Uber Eats, Rappi e iFood – já disponibilizam ambientes que facilitam essa atitude solidária.

Uber Eats

No dia 14 deste mês, o Uber Eats criou a loja virtual “A comunidade nos move”, que dá ao usuário a opção de doar cestas básicas e kits de higiene.

Ao acessar o aplicativo do Uber Eats, há um banner da iniciativa “A comunidade nos move”. No ambiente é possível selecionar uma das cinco cestas básicas, com valores que variam de R$ 41 a R$ 137, ou as duas opções de kits de higiene, de R$ 7,00 ou R$ 11,90.

As cestas e kits são entregues em centros de distribuição coordenados pela Central Única das Favelas (Cufa), que fará a distribuição para as famílias em áreas de vulnerabilidade social, onde a instituição já atua com iniciativas de educação, lazer, esportes, cultura e cidadania.

Rappi

Na Rappi, as doações são viabilizadas por meio do botão “Doe Agora”. Estão sendo arrecadadas cestas básicas digitais para pessoas que vivem em comunidades carentes, A iniciativa é feita em parceria com a ONG Gerando Falcões. 

“Até o dia 14 de abril, quando a ação completou 15 dias, foram arrecadados R$ 472,818.72, o que representa mais de 8 mil ‘cesta básicas digitais’”, informou ao O SÃO PAULO a assessoria de imprensa da Rappi.

As doações individuais registradas variaram de R$ 5,00 a R$ 10 mil. “Estamos extremamente contentes com o resultado da ação e queremos alcançar ainda mais doações para essas famílias. Em um momento tão crítico como o que estamos vivendo, é incrível ver a mobilização dos nossos usuários para ajudar”, explica Sergio Saraiva, presidente da Rappi no Brasil.

iFood

O iFood não informou à reportagem se até o momento criou uma ação específica de doação em decorrência da pandemia do novo coronavírus.

No aplicativo, porém, há uma área de doação permanente destinada a combater a fome no Brasil. Os valores doados são convertidos em cestas básicas que são entregues às famílias carentes pela ONG Ação da Cidadania.

Para acessar o serviço no aplicativo, o usuário deve ir até o perfil e clicar no item doações, optando por doar valores entre R$ 7, R$ 15 ou R$ 30, com opção de pagamento por cartão de crédito, vale refeição ou Google Pay.  

A empresa assegura que já foram arrecadados mais de 1 milhão de reais, beneficiando  mais de 130 mil pessoas em situação de vulnerabilidade no Brasil.

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Academia Pontifícia de Ciências do Vaticano manifesta-se sobre a COVID-19

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16 de abril de 2020

Diante da atual pandemia do novo coronavírus, as Academias Pontifícias de Ciências e de Ciências Sociais do Vaticano divulgaram uma declaração em 20 de março.

O trabalho das Academias compreende seis grandes áreas: ciência fundamental, ciência e tecnologia de problemas globais; ciência para os problemas do mundo em desenvolvimento, política científica; bioética, epistemologia. Um de seus objetivos é fomentar a interação entre fé e razão e incentivar o diálogo entre ciência e valores espirituais, culturais, filosóficos e religiosos.

LEIA A ÍNTEGRA DE DECLARAÇÃO EM INGLÊS

No documento, assinado por pesquisadores e cientistas de diferentes partes do mundo, entre os quais o brasileiro Vanderlei Bagnato, professor do Departamento de Física e Ciência dos Materiais da Universidade de São Paulo e Instituto de Física de São Carlos, se ressalta os esforços prestados pelos profissionais de saúde.

“A COVID-19 é um desafio para as sociedades, seus sistemas de saúde e economias, e especialmente para as pessoas afetadas direta e indiretamente, bem como suas famílias. Na história da humanidade, as pandemias sempre foram trágicas e muitas vezes mais mortais que as guerras. Hoje, graças à ciência, nosso conhecimento é mais avançado e pode cada vez mais nos defender contra novas formas de pandemia. Nossa declaração pretende focar em ciência, política científica e ações de políticas de saúde em um contexto social mais amplo”.

Na declaração é destacada a necessidade de ação, as lições de curto e longo prazo e ajustes futuros de prioridades em cinco pontos.

Um dos aspectos é que os sistemas de saúde precisam ser fortalecidos em todos os países, na perspectiva de antecipação de problemas. “É de vital importância estar à frente da curva ao lidar com essas crises globais. Enfatizamos que medidas de saúde pública devem ser iniciadas instantaneamente em todos os países para combater a propagação contínua desse vírus. A necessidade de testes deve ser adotada, e as pessoas que obtiverem resultados positivos para o COVID-19 devem ser colocadas em quarentena, juntamente com seus contatos próximos”.

A declaração também aponta para a necessidade de expandir o apoio à ciência e às ações da comunidade científica, posto que “o fortalecimento da pesquisa básica aumenta a capacidade de detectar, responder e, em última análise, prevenir ou pelo menos mitigar catástrofes como a que estamos vivendo presentemente. A ciência precisa de financiamento garantido a nível nacional e transnacional, para que os cientistas tenham os meios para descobrir as drogas e vacinas certas.  Tais resultados devem ser transmitidos ao setor produtivo.  Por sua vez, empresas farmacêuticas têm a principal responsabilidade de produzir esses medicamentos em escala, e demais empresas de produzir equipamentos de suporte , dentro da realidade econômica”.

A terceira perspectiva tratada é a proteção para as pessoas pobres e vulneráveis. “Uma ação política de base ampla no campo da saúde pública é essencial em todos os países para proteger as pessoas pobres e vulneráveis ao vírus. A COVID-19 também terá um impacto adverso nas economias mundiais. A menos que sejam mitigadas, as consequências perturbadoras previstas na produção e suprimento de alimentos e em vários outros sistemas, os mais afetados serão os pobres e desprovidos de instrução”, consta na declaração, que alerta ainda que as pandemias são especialmente uma ameaça para refugiados, imigrantes e deslocados à força.

Modelar interdependências globais e ajudar entre e dentro das nações também é uma preocupação expressa na declaração. “A escala e o escopo do globalismo atual tornaram o mundo sem precedentes interdependentes - e, portanto, vulneráveis e disfuncionais durante as crises. Por exemplo, o surto de COVID-19 está levando a demanda por mais isolamento nacional. No entanto, buscar proteção por meio do isolacionismo seria equivocado e contraproducente. Uma tendência que vale a pena apoiar seria uma forte demanda por maior cooperação global. As organizações transnacionais e internacionais precisam estar equipadas e apoiadas para servir a esse propósito”.

Ainda sobre esse aspecto, é apontado que as medidas para conter a rápida propagação da doença exigem, por vezes, o fechamento de fronteiras. “No entanto, as fronteiras nacionais não devem se tornar barreiras que dificultam a ajuda entre nações. Recursos humanos, equipamentos, conhecimento sobre melhores práticas, tratamentos e suprimentos devem ser compartilhados”.

Ressalta-se, ainda, a importância de fortalecer a solidariedade e a compaixão entre todos, e que, de modo especial, “as igrejas, assim como todas as comunidades baseadas na fé e nos valores, são chamadas à ação”.

“Uma lição que o vírus está nos ensinando é que a liberdade não pode ser desfrutada sem responsabilidade e solidariedade. A liberdade divorciada da solidariedade gera egoísmo puro e destrutivo. Ninguém pode ter sucesso sozinho. A pandemia da COVID-19 é uma oportunidade de nos tornarmos mais conscientes de quão importantes são os bons relacionamentos em nossas vidas”.

A declaração é concluída apontando para um aparente paradoxo: cada pessoa hoje precisa cooperar com as outras, mesmo tendo que se isolar por razões de saúde. Porém, “o ato de ficar em casa é um ato de profunda solidariedade. É ‘amar o seu próximo como a si mesmo’. A lição que a pandemia nos ensina é que, sem solidariedade, os direitos mais profundos do homem de liberdade e igualdade são apenas palavras vazias”.

(Com informações de Pontificies Academy of Sciences e site São Carlos Agora)

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A sabedoria não está isolada

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16 de abril de 2020

Entre todas as informações sobre a Covid-19, talvez a mais conhecida seja sobre o grupo de risco, no qual estão pessoas com doenças crônicas e as acima dos 60 anos. Desses, alguns já se aposentaram e outros continuam trabalhando ou realizando trabalhos de forma remota.

O SÃO PAULO conversou com idosos que, de diferentes lugares e realidades, contaram suas experiências durante o isolamento social, o que têm feito para ocupar o tempo e como têm vivido a dimensão da fé, participando das celebrações pela televisão ou pela internet e intensificando momentos de diálogo e oração em família.

QUEM SÃO ELES

Jorge Lima Lorente é radialista e escritor. Ele mora em Santo André (SP). Viúvo, tem dois filhos e quatro netos e está vivendo o isolamento social sozinho, numa casa com quintal e dois cães.

Maria Celeste Delgado Lessa, 76, mora em Recife (PE). É casada há 58 anos e teve quatro filhos, um deles, porém, faleceu de câncer. Está vivendo o isolamento em seu apartamento, na capital pernambucana.

José Antonio Novaes, 69, tem dois filhos e mora no Rio de Janeiro (RJ). Ele é professor de Matemática e está vivendo o isolamento social em seu apartamento, no bairro de Botafogo, com a esposa e a sogra.

Irene Perotto, 86, é religiosa da Congregação das Irmãs Paulinas há 63 anos. Ela nasceu em Barra do Ouro (RS) e mora em São Paulo (SP) junto a outras irmãs de sua comunidade religiosa.

Nelson da Silva Teixeira, 69, mora em São Paulo (SP), é casado e tem quatro filhos e uma neta. Está em isolamento com a esposa, uma das filhas e uma sobrinha em sua casa, no Jaçanã.  

Leonardo Venturini, 60, é casado há 32 anos. Tem duas filhas e mora em Jaguariúna (SP), onde está em isolamento com sua esposa e uma das filhas numa casa com quintal e muitas plantas.

Walter Mascarenhas Neves, 67, mora em São Paulo (SP), é viúvo e tem 3 filhos. Está em isolamento em sua chácara, em Indaiatuba (SP) junto com um das filhas e sua família e outro filho. Walter é engenheiro, mas após a morte da esposa se dedica quase exclusivamente ao trabalho pastoral e voluntário que realiza no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, no Arsenal da Esperança e com oficinas de artesanato para idosos. É coordenador de um grupo diário de meditação cristã na paróquia em que participa, no bairro de Perdizes.

Como você tem vivido o isolamento?

Jorge Lima Lorente -  Tenho levado muito a sério o isolamento, não saio nem mesmo na calçada de casa e, na minha rua, que é sem saída, todos os moradores tem ficado em casa, com poucas exceções. Não tive tempo de me sentir chateado ou deprimido, um segundo sequer. Escrevo mensalmente para a Revista “O Mílite” e comentários sobre os Evangelhos dominicais para a internet. Isso tudo absorve meu tempo na sua totalidade. Estou trabalhando em casa. Meu escritório transformou-se em um estúdio de rádio e eu estou transmitindo meus programas, diário e dominical, de minha casa, via Skype. Confesso que estou aprendendo e aplicando coisas novas todos os dias.

Maria Celeste Delgado Lessa – Aqui em Recife, mais especificamente no meu bairro, algumas pessoas tem respeitado o isolamento, outras não. Eu tento ficar em casa, mas, às vezes, preciso sair, pois sou eu quem resolvo as coisas da casa. Pela manhã, após o café, faço caminhadas no corredor do edifício em que moro, além de subir e descer as escadas, pois moro no terceiro andar e fazer alguns exercícios dentro do apartamento. Depois, dedico um tempo para limpar a casa e fazer o almoço. À tarde, descanso, leio e cuido das plantas.

José Antonio Novaes – Por aqui, as pessoas não têm respeitado o isolamento, há muitas aglomerações, principalmente nas estações de transportes públicos. Estou há quatro semanas em casa e saí quatro vezes. Uma em que fomos nos vacinar, duas idas à farmácia e uma para as compras no mercado. Passo o tempo cozinhando, lendo, gravando vídeos para o canal “Matemática de outro jeito” que mantenho no You Tube, jogando e dançando com a Alice, minha esposa. Ah, e cuidando da sogra.

Irmã Irene Perotto - Sinto que as pessoas estão respeitando sim as normas de isolamento. Na minha comunidade também estamos, procuramos nos distanciar e manter o equilíbrio, que é muito importante neste momento.

Nelson da Silva Teixeira - Eu moro na periferia da cidade de São Paulo, no Jaçanã. Daqui de casa vejo algumas pessoas indo à UBS e consigo ver o ônibus com pouca gente. Nestes 26 dias de isolamento, só saí uma única vez para tomar a vacina há menos de 500 metros de casa. Eu gosto de sair para visitar pessoas e participar de atividades pastorais e voluntárias. Atualmente, trabalho remotamente como executivo de um partido político e atendo os 645 municípios do Estado de São Paulo, conversando e orientando as pessoas em suas comunidades.

Leonardo Venturini - Aqui na cidade, respeitando a ordem do Governo Estadual, está tudo fechado e temos apenas quatro casos confirmados [até dia 11 de abril]. Todos os dias de manhã, eu abro a porta da minha casa e agradeço a Deus caminhando pelo quintal! Tenho ocupado o tempo cuidando das plantas, cortando grama, colhendo as verduras. Às vezes toco violão, leio mensagens no Whatsapp, cozinho, cochilo à tarde. Mas, confesso que é muito difícil ficar em casa.

Walter Mascarenhas Neves - Por morar em um condomínio fechado, aqui na chácara, todos estão respeitando o isolamento. Estou numa casa grande, com terreno grande e isso facilita muito. Somente meu filho recebe o que vem de fora e higieniza tudo antes de manipularmos. Temos comprado tudo por telefone ou pela internet.

 

Você considera o isolamento uma privação? É muito difícil para você ficar em casa?

Jorge Lima Lorente – Sim. Gosto muito de sair. Faço palestras, gosto de visitar parentes e amigos. Nos encontramos pelo menos uma vez por semana. Porém, gosto muito também de ficar em casa escrevendo, lendo ou cozinhando alguma receita que encontro na internet, que tem sido – além do trabalho - um dos meus modos de passar o tempo.

José Antonio Novaes - Sempre gostei de sair, praticar esportes, passear, de eventos culturais e de trabalho. Tem sido difícil sim.

Irmã Irene Perotto - Acredito que esta é uma experiência única, independente de todas as outras experiências já vividas. É uma privação muito grande para todas as pessoas e, por isso, parece que o peso é ainda maior. Temos que pensar muito sobre isso e quais serão nossas atitudes depois que tudo passar.

Nelson da Silva Teixeira – Ficar em casa tem sido uma experiência muito salutar para nossa vida em plenitude. Um tempo para refletir sobre como estava a nossa vida, sobre o tempo que temos para cada coisa, sobre a importância do tempo.

Leonardo Venturini - Eu não gosto de ficar em casa. Acordava todos os dias às 5h e fazia minha caminhada, antes do isolamento. Gosto de conversar com as pessoas na rua e cumprimentar conhecidos, está sendo difícil sim. Mas, por outro lado, estou ficando mais tempo com minha esposa e minha filha, que mora fora da cidade. O que eu gosto mesmo é de receber pessoas em casa e estou sentindo muita falta disso.

Walter Mascarenhas Neves - Tem sido difícil ficar em casa, pois gosto de sair. Porém, sinto-me muito privilegiado por ter espaço, quintal, natureza e por estar com minha família. Para ocupar o tempo eu cozinho, cuido das plantas, limpo a casa e ajudo a cuidar do meu neto.

Você tem o hábito de rezar em casa? Os momentos de oração se intensificaram durante o isolamento?

Jorge Lima Lorente - Tenho sim o hábito de rezar em casa, tenho um pequeno altar, acompanho os momentos de oração pelos meios de comunicação, porém, sem companhia (a não ser a de Jesus e Maria), pois moro sozinho.

Maria Celeste Delgado Lessa - Tenho um altar no meu quarto e acompanho sempre as missas pela televisão ou pelo rádio, sobretudo com os padres Marcelo Rossi, João Carlos e Reginaldo Manzotti. Tenho muita fé em Deus que logo vai passar e sofro pelas famílias que perderam seus entes queridos.

José Antonio Novaes - Eu rezo sim, mas não acompanhando rádio ou tv. Quando criança, rezávamos o Terço em casa e eu continuei a rezá-lo, mas no metrô, trem, ônibus ou dirigindo e a Alice rezava em casa. Agora, estamos rezando juntos à noite.

Irmã Irene Perotto – Nós rezamos sempre, seja individualmente, seja em comunidade, além, é claro, das missas diárias. Antes da epidemia, porém, eu participava da missa na televisão somente em alguns domingos, quando eu estava impedida de ir à paróquia. Agora essa participação tem sido frequente. A celebração da Páscoa na comunidade também foi excelente. Cada cerimônia foi muito significativa.

Nelson da Silva Teixeira – Sim, junto com os familiares e pelas redes de televisão católicas, em especial a TV Aparecida, tenho acompanhado as celebrações. Tenho um altar dedicado a Nossa Senhora da Salette, e, como Leigo Saletino e Missionário da Reconciliação, sempre lembro a Mensagem de Maria na Montanha de La Salette, quando ela falou: “Não tenham medo, vão e levem esta mensagem para todo o meu povo”.

Leonardo Venturini – Todos os dias eu rezo o Terço, mesmo antes da pandemia. Toco violão no coral da paróquia e estou sentindo muita falta de participar das celebrações. Não tenho o costume de acompanhar o Terço pelo rádio, rezo sozinho. Mas, agora, durante o isolamento, estamos rezando o terço em família e está sendo uma experiência muito bonita. Temos vários altares em casa. Temos rezado muito durante esses dias.

Walter Mascarenhas Neves – Diariamente, rezo o Terço e participo da celebração numa igreja perto da minha casa. Aqui, na chácara, tenho acompanhado pela tv somente aos domingos. Em casa, conversamos, aprendemos a conviver e compartilhamos muitos momentos. Às vezes, quando bate ansiedade, fico mais introspectivo, rezo, tento refletir e mudar atitudes. Agradeço sempre a Deus, pois tem sido muito pródigo comigo.

 Acompanha as missas, encontros, momentos de oração pela televisão, rádio ou pela internet?

Jorge Lima Lorente - Faço uso de todos os meios de comunicação social. Têm me ajudado bastante para eu me aproximar mais de Deus, por meio da oração. Eu pensava que rezava o suficiente, neste período, assim como outras milhares de pessoas, eu tenho me encontrado em oração, no mínimo o dobro do que eu rezava. Toda a tecnologia e os meios de comunicação estão sendo bastante utilizados. Vários grupos se formaram, então acontecem, além da troca de informações via Whatsapp, encontros programados para a oração do terço via hangouts ou Skype.

José Antonio Novaes – Sim, pois foi a opção que nos restou. O padre da minha paróquia tem celebrado por lives do Facebook e, às vezes, assisto a missa pela Rede Aparecida de Televisão.

Irmã Irene Perotto - Tenho muito contato virtual e por telefone com meus familiares, irmãs, sobrinhas. Durante o dia, nos falamos sempre. Eles me contam o cotidiano e eu dialogo com eles e tento confortá-los neste momento tão difícil. Estamos todos contando os dias para que acabe essa situação de isolamento. Participar das missas por meio da televisão tem sido uma experiência única, pois, embora à distância, é como se estivéssemos num contato quase pessoal com toda a Igreja.

Nelson da Silva Teixeira – Sim. Uso todos os meios tecnológicos para viver a minha fé. Os templos estão fechados, mas a Igreja está sempre aberta, pois a Igreja também somos nós. Tenho também participado de alguns grupos virtuais, como CNLB, Cáritas e Leigos Saletinos.

Leonardo Venturini - Todos os dias participamos da missa pela televisão durante este tempo, mas, está sendo difícil, pois não é a mesma coisa da missa presencial.

Walter Mascarenhas Neves - Não gosto muito de acompanhar os atos litúrgicos pela televisão, por isso, durante o isolamento, tenho feito isso só aos domingos.

Acredita que este tempo de isolamento pode ensinar, para a sociedade em geral, algo de bom?

Jorge Lima Lorente - Eu tenho certeza que este período de isolamento trará muitos frutos bons. Pessoas descrentes estão se aproximando da Igreja e participando dos momentos de oração. Um velho ditado diz que nos aproximamos de Deus pela dor ou por amor. Pena que tenha que ser pela dor. Mas, as pessoas estão sim rezando mais e deixando de lado o pronome pessoal eu e fazendo uso do nós. Notícia recente mostra que os meios de comunicação, de conteúdo religioso, teve um salto, um aumento de 300% no seu Ibope. O aprendizado já está acontecendo, a proximidade entre filhos e pais, marido e mulher.  Vamos continuar em oração para que, quando tudo passar, esta fantástica experiência não caia no esquecimento.

José Antonio Novaes – Com certeza. As mídias nos ajudavam a nos aproximar das pessoas distantes e, às vezes, acabavam nos distanciando de quem estava perto. Penso que, com este exercício de isolamento, vamos notar que precisamos ficar mais perto da família e de quem mora conosco. Espero que além de valorizar mais a saúde, alguém se atente para a importância da educação e dos professores.

Irmã Irene Perotto - Tenho certeza que o futuro será diferente. Acredito que a humanidade vai iniciar uma nova era. Essa experiência tem sido de diálogo, de valorização da família, de intensificar os relacionamentos e isso vai modificar o futuro, sobretudo as famílias. A família é o centro da humanidade. As epidemias marcaram profundamente e diretamente minha vida. Quando eu tinha cerca de 12 anos, aconteceu a epidemia de tifo no Brasil. Meu pai, que nunca teve nenhuma doença, pegou a febre e morreu em decorrência do tifo. Quando eu tinha 40 anos, fui eu quem peguei a gripe asiática. Tive febres de 40ºC e não havia remédio que abaixasse a febre. Estava em missão e tive que resistir, mas, quando voltei para a comunidade, continuei tendo febre. Tive então uma pneumonia muito forte e um dos pulmões prejudicados, com consequências que duram até hoje.

Nelson da Silva Teixeira – Este tempo vai nos trazer um novo modo de vida menos consumista e mais solidário. Veremos com se fosse com uma lupa as necessidades de nossos irmãos mais desfavorecidos. E, como afirmou o Papa Francisco na Encíclica Laudato si, a própria Igreja deverá se tornar menos intimista, para ser uma Igreja verdadeiramente em saída, indo ao encontro das pessoas nas periferias de nossa existência.

Leonardo Venturini - Acredito que depois que tudo isso passar muitas coisas vão mudar. Vamos valorizar muito mais nossa liberdade. A liberdade de sair, de receber amigos, de confraternizar com as pessoas. Deus, família e liberdade são as coisas mais importantes da vida.

Walter Mascarenhas Neves – Acredito que este isolamento me ajudará, sobretudo, a compreender melhor a situação dos idosos com os quais trabalho, pois a maioria deles passa muito tempo sozinho. Sinto que tudo o que acontece em nossa vida está em sintonia com os planos de Deus. Além disso, aprenderemos, sempre mais, a conviver, o que parece simples, mas não é.

 

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Campinas tem primeiro AME voltado para atendimento de COVID-19

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16 de abril de 2020

As mudanças implantadas no atendimento do Ambulatório Médico de Especialidades (AME), do município de Campinas (SP), foram citadas pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), na coletiva de imprensa desta quinta-feira, 16.

A unidade de saúde alteraria seu protocolo no fim do mês de abril, contudo, os reforços para o enfretamento da pandemia na região foram antecipados e começaram na última segunda-feira, 13.

O primeiro AME com serviços reprogramados já conta com 15 leitos clínicos e a partir desta sexta-feira, 17, entrará em funcionamento mais 10 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), conforme salientou o governador.

A Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde (CROSS) é a responsável pelo encaminhamento dos pacientes para o serviço médico disponível no local.

A unidade localizada na Avenida Prefeito Faria Lima, 486, Vila Industrial, foi construída por meio do Programa Saúde em Ação, que contempla uma parceria entre Estado da Saúde e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e teve um investimento total de R$ 51 milhões. Antes das alterações, eram oferecidos serviços de consultas, exames e procedimentos de menor complexidade, previamente agendados.

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Alimentos alcalinos não evitam coronavírus

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16 de abril de 2020

De acordo com uma mensagem circulada nas redes sociais, uma forma de inibir o contágio do coronavírus, é com o consumo de alimentos alcalinos, ou seja, que contém poucos açucares. A informação se baseia na suposição de que o PH apresentado pelo vírus varia de 5,5 a 8,5 (PH é a escala que especifica o quanto uma solução é dissolvida na água).

Na orientação, uma forma fácil e eficaz de impedir a contaminação, é ingerindo alimentos com PH acima do que contém o coronavírus. Como exemplo, a mensagem cita as frutas: limão, manga, abacaxi, laranja e tangerina, além de alho e abacate.

POR QUE?

Mesmo com as pesquisas que estão sendo realizadas, o Ministério da Saúde, reitera que até o momento não foram desenvolvidos nenhum medicamento, substância, vitamina, vacina ou alimento especifico capazes de prevenir o COVID-19.

A pasta insisti que a forma mais preventiva, até então, é o cuidado com a higienização, etiqueta respiratória e distanciamento social.

Outro aspecto que revela a insustentabilidade do conteúdo, é o de que a imagem apresenta uma média equivocada para o PH dos insumos citados.

COMBATE ÀS NOTÍCIAS FALSAS

Para combater as Fake News sobre saúde, o Ministério está disponibilizando um número de WhatsApp para envio de mensagens da população. Vale destacar que o canal não será um SAC ou serviço para esclarecer dúvidas dos usuários, mas um espaço exclusivo para receber informações virais, que serão apuradas pelas áreas técnicas e respondidas oficialmente se são verdade ou mentira.

Qualquer cidadão poderá enviar gratuitamente mensagens com imagens ou textos que tenha recebido nas redes sociais para confirmar se a informação procede, antes de continuar compartilhando. O número é (61) 99289-4640.

(Com informações de Ministério da Saúde)

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Médicos estão em risco com a falta de EPIs no SUS

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15 de abril de 2020

A Associação Médica Brasileira (AMB) divulgou nesta quarta-feira, 15, que recebeu mais de 3 mil denúncias de médicos sobre a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados para se precaver no ambiente de trabalho do novo coronavírus. A principal reclamação, 87% dos casos, é sobre a falta de máscaras N95.

Na lista de EPIs obrigatórios para o enfrentamento de epidemias estão máscaras, diferentes tipos de luvas, avental, gorro, óculos e protetor facial, conforme recomendam o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS).  Também são considerados insumos essenciais o sabão, sabonete líquido, álcool em gel 70%, papel toalha e lenços descartáveis, pois permitem a adequada desinfecção e higienização dos profissionais médicos e dos ambientes.

De acordo com o Diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo, José Erivalder Guimarães de Oliveira, a falta de EPIs tem sido a principal reclamação dos profissionais nas últimas semanas. “De um total de 160 denúncias que recebemos até 14 de abril, quase 60% são sobre a falta de equipamentos de proteção individual. São vários hospitais, tanto da Prefeitura quanto do Estado. São denúncias sobre falta de máscaras, luvas, aventais e viseiras”, detalhou ao O SÃO PAULO.

ITENS EM FALTA

Oliveira disse que a Prefeitura e o Governo do Estado têm prometido a aquisição de equipamentos nas últimas semanas. “Se não chegarem imediatamente, há a perspectiva de que comece a faltar itens dentro de uma semana em alguns hospitais”, apontou.

Em 30 de março, o Ministério da Saúde informou que distribuiu para o Estado de São Paulo mais de 23 mil frascos de álcool etílico, 12,4 mil óculos de proteção, 3,1 mil máscaras cirúrgicas, além de aventais, toucas e sapatilhas hospitalares.

Também no fim do mês passado, a Prefeitura de São Paulo disse ter comprado 5 milhões de máscaras cirúrgicas e 1 milhão de máscaras N-95.

No último dia 8, a gestão de Bruno Covas anunciou a contratação de costureiras e artesãos para a produção de máscaras e outros dispositivos médicos prioritários diante do aumento do número de casos do novo coronavírus. A expectativa é que sejam produzidas mais de 1 milhão de máscaras para profissionais da saúde e da assistência social, além de 500 mil protetores faciais e 500 mil aventais.

No Estado de São Paulo, máscaras estão sendo produzidas em unidades prisionais, bem como em Escolas Técnicas (Etecs) e Faculdades de Tecnologia (Fatecs), por iniciativa voluntária de professores e estudantes.

O Ministério da Saúde tem encontrado dificuldade para importar EPIs de outros países, como a China, dado o aumento da demanda pelos produtos, em especial pelos Estados Unidos, que são os recordistas mundiais no número de casos de COVID-19.

PROFISSIONAIS EXPOSTOS

O Diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo alerta que com a falta de EPIs, os profissionais de saúde estão mais expostos ao contágio com o novo coronavírus: “Já há um grande número de profissionais de saúde afastados com suspeita de COVID-19. Só de profissionais que atuam na rede municipal, mais de 1.500 já foram afastados. A Prefeitura não nos dá esses números oficiais, mas estamos colhendo informações nos hospitais. O que já se tem de oficial é a morte de 11 profissionais, entre médicos e enfermeiros aqui na cidade de São Paulo”.

“Nenhum um médico do SUS tem o equipamento de proteção ideal”, assegura um médico que atua em um dos maiores hospitais da rede estadual de saúde. “É mais um heroísmo dos médicos do que qualquer outra coisa. Tem muito médico que está levando equipamento de proteção da própria casa para o trabalho. Óculos e viseira, por exemplo, isso não tem em todo lugar”, desabafa. “Nos hospitais particulares de grande porte, o equipamento de proteção inclui um capuz, um avental, uma bota, um visor e uma máscara N95. Aqui na rede pública onde eu trabalho não vi isso ainda”, continuou.

CANAIS DE DENÚNCIA

Desde o final do mês passado, médicos que atuam em unidades de saúde (postos, UPAs, prontos-socorros e hospitais, entre outros) que oferecem assistência a casos confirmados e suspeitos de COVID-19 podem informar falhas na infraestrutura de trabalho oferecida por gestores (públicos e privados) aos Conselhos de Medicina de todo o País.

Para tal, o Conselho Federal de Medicina (CFM) criou uma plataforma online na qual o profissional poderá comunicar a situação que encontrou em seu local de trabalho.

“Estamos diante de uma das maiores ameaças já vivenciadas pelos sistemas de saúde do mundo, com risco real de sequelas e mortes na população. Nesse processo, as equipes médicas são essenciais. Devemos cuidar para que possam ter condições e a proteção para fazer o seu trabalho”, afirmou o 1º secretário do CFM, Hideraldo Cabeça, em entrevista ao site do Conselho.

O Sindicato dos Médicos de São Paulo também disponibiliza um canal para a denúncia em seu site www.simesp.org.br.

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Convivendo com o hóspede indesejado

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16 de abril de 2020

O dia começou com uma tosse seca e persistente. No fim da tarde, indisposição e febre. As dores no corpo e o cansaço vieram na manhã seguinte. Os sintomas fizeram com que Lumara Roque Bernardo, 27, fosse ao médico. Quatro dias depois, a jovem enfermeira teve a confirmação do que temia: estava infectada com o novo coronavírus.

“A recomendação foi o isolamento, inclusive de separar um cômodo apenas para mim, além do uso de máscara, caso precisasse transitar na casa, e a higiene constante das mãos. Também pediram para observar os sintomas e ligar ou procurar serviço médico em caso de piora dos sintomas”, afirmou a moradora da Parada de Taipas, na zona Noroeste da capital paulista.

Do outro lado da cidade, no Capão Redondo, na zona Sul, João Lucas Aguiar, 25, foi diagnosticado com o novo coronavírus três dias após sentir uma forte dor de garganta, seguida de febre alta e falta de ar. O analista de relacionamento procurou uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), em Campo Limpo, e recebeu as primeiras orientações de como deveria prosseguir com o tratamento médico em casa, incluindo inalação, hidratação constante e o uso de três antibióticos: amoxicilina, oseltamivir e azitromicina.

EM ISOLAMENTO

Lumara, diagnosticada com COVID-19 em 25  de março, conta que permaneceu 14 dias em seu quarto, que é uma suíte. “Meu marido, a única pessoa que mora comigo, ficou em outro quarto. Ele fazia as atividades domésticas, inclusive alimentação, para não correr risco de se contaminar e também porque eu não tinha disposição para nada”, recordou. “Eu mesmo higienizava o meu quarto e banheiro. Minha roupa era lavada separada das roupas do meu marido. Não compartilhamos nada em comum nesse período”, detalhou.

João Lucas mora com a mãe, Elaine Cristina Aguiar. Assim que soube do diagnóstico da doença do filho, em 1o de abril, ela comunicou os moradores do condomínio residencial em que vivem para que fossem tomados os devidos cuidados.

O analista de relacionamento está na fase final de tratamento. “Estou conseguindo manter o isolamento social, mesmo sendo bem doloroso. Acredito que seja para o bem de todos”, disse, completando que ele próprio realiza a higienização do único banheiro da casa.

A FÉ DIANTE DA ANGÚSTIA

“Ser diagnosticada com essa doença não é fácil, ainda mais sendo enfermeira e tendo conhecimento mais profundo dos riscos, mas me apeguei muito a Deus. Minha fé católica me ajudou a enfrentar esse momento, além do apoio da família e amigos”, afirmou Lumara. “Não é só o corpo que sofre, mas a alma e mente também. Eu me senti muito só. Foi Deus quem me manteve esperançosa para vencer esse momento”, assegurou.

A enfermeira falou, ainda, sobre a angústia de ter tido contato com os pais e o esposo dias antes de ser diagnostica com a COVID-19. “Preocupava-me ainda mais em relação aos meus pais, que, apesar de não serem idosos, são mais velhos. Tentei passar confiança para eles,  demais familiares e amigos. Eu sempre dizia ‘estar bem’, mesmo estando muito mal, para que eles não se preocupassem”, relatou.

João Lucas disse ter ficado abalado por ter contraído o novo coronavírus. “Até que nos afete, não levamos muito a sério. Eu tive que sentir na pele para acreditar”, assegurou.

UM NOVO OLHAR PARA A VIDA

Já curada da COVID-19, Lumara garante que tudo ganhou um novo sentido. “Sinto como se a vida tivesse me dado uma segunda chance. Isso me fez repensar o quanto deixei de valorizar as pequenas coisas que realmente importam. E não é só pela doença. Acho que após esse isolamento social, passaremos a dar mais valor às pessoas que amamos e aos momentos juntos”, concluiu.

O ISOLAMENTO DOMÉSTICO COM A COVID-19

O infectologista Jamal Suleiman, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, disponibilizou à Pastoral da Saúde da Arquidiocese de São Paulo orientações para cuidados domésticos das pessoas com COVID-19. Veja alguns cuidados:

- O doente deve ficar em um quarto, longe de outras pessoas, o máximo possível;

- Recomenda-se que use um banheiro separado;

- Deve-se evitar o compartilhamento de itens domésticos pessoais, como pratos, toalhas e roupas de cama;

- Doente, cuidador ou acompanhante devem usar uma cobertura de pano que cubra a boca e o nariz quando estiverem perto uns dos outros;

- O doente deve ser alimentado no quarto, sempre que possível;

- Recomenda-se separar uma lata de lixo forrada para a pessoa doente;

- Que se evite receber visitas desnecessárias.

Acesse a íntegra das orientações

 

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Ingerir bebidas quentes não previne o coronavírus

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14 de abril de 2020

Tem circulado em redes sociais e grupos de WhatsApp, a mensagem de um suposto médico com orientações de como evitar a contaminação pelo novo coronavírus. De acordo com o texto, o método é resultado das análises feitas por um pesquisador de Shenzhen, no sudoeste da China, que teria sido transferido para atuar na linha de frete da doença em Wuhan, onde o vírus surgiu em dezembro de 2019.

Em um trecho, está escrito: “Não paramos o coronavírus com pânico, mas com inteligência”. Em outro, o texto garanti que o vírus não resisti às altas temperaturas, por isso, uma forma de neutralizá-lo é por meio do consumo, várias vezes ao dia, de bebidas como chás, caldos, sopas ou, “simplesmente água quente”.

A mensagem ainda estimula que o conteúdo seja compartilhado para o maior número possível de pessoas.

POR QUE?

De acordo com o Ministério da Saúde esta informação é falsa, pois, contém informações vagas, erros ortográficos e por pedir seu compartilhamento.

A pasta explica, também, que o corpo humano possui uma temperatura média de 36ºC, índice suportado pelo vírus, o que prova que ingerir bebidas com 26 a 27ºC não traz qualquer tipo de prevenção a COVID-19.

COMBATE ÀS NOTÍCIAS FALSAS

Para combater as Fake News sobre saúde, o Ministério está disponibilizando um número de WhatsApp para envio de mensagens da população. Vale destacar que o canal não será um SAC ou serviço para esclarecer dúvidas dos usuários, mas um espaço exclusivo para receber informações virais, que serão apuradas pelas áreas técnicas e respondidas oficialmente se são verdade ou mentira.

Qualquer cidadão poderá enviar gratuitamente mensagens com imagens ou textos que tenha recebido nas redes sociais para confirmar se a informação procede, antes de continuar compartilhando. O número é (61) 99289-4640.

(Com informações de Ministério da Saúde)

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Governo de São Paulo promoverá ações educativas durante a quarentena

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13 de abril de 2020

A partir desta terça-feira, 14, fiscais da Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo, com apoio da Polícia Militar, darão orientações educativas aos comércios e serviços que descumprirem as medidas de prevenção do novo coronavírus, durante o período de quarentena.

O anúncio foi feito pelo Governador do Estado, João Dória (PDB), na coletiva de imprensa da tarde de hoje. Dados de telefonia móvel serão utilizados para localizar os pontos de aglomerações urbanas, afim de dispersar as pessoas reduzindo, com isto, o risco de contágio da COVID-19.

“Serão centenas de profissionais que o Governo de São Paulo colocará junto a estabelecimentos comerciais e comunidades para orientação adequada e a obrigatoriedade de atenderem à quarentena”, afirmou o Governador, que também reiterou que as prefeituras deverão usar as unidades municipais de Vigilância Sanitária para reforçar o programa.

O trabalho consistirá no recebimento das informações do Sistema de Monitoramento Inteligente de São Paulo pela equipe formada por 200 fiscais. Para chegar aos resultados, o governo estadual firmou uma parceria as principais operadoras de telefonia para monitorar os índices de isolamento social e deslocamento urbano.

Os estabelecimentos não essenciais que estiveram funcionando receberão a visita da Vigilância Sanitária, que darão esclarecimentos aos comerciantes e clientes sobre a necessidade de adesão às regras de isolamento social e a quarentena.

Inicialmente, será dado ao estabelecimento uma advertência, em caso de negativa por parte do proprietário em fechar o comércio, haverá a notificação para interdição pelos órgãos municipais. As visitas serão acompanhadas pela PM.

De acordo com João Dória, a iniciativa irá percorres regiões de lazer e de grande concentração de pessoas. “Os profissionais estão autorizados a orientar agrupamentos de pessoas em praças, avenidas ou outros locais para que se dispersem e não façam aglomerações. Elas colocam em risco a saúde e a vida das pessoas”, assegurou.

PARCERIA COM A INICIATIVA PRIVADA

No mesmo encontro com a imprensa, o governador noticiou a arrecadação de R$ 367,6 milhões em doações da iniciativa privada, angariados durante reuniões de João Dória com o Grupo Empresarial Solidário, que serão destinados ao enfrentamento da pandemia de coronavírus.

Além de valores em dinheiro, 83 empresas e pessoas físicas contribuiriam com a doação de alimentos e itens para saúde, higiene e limpeza, além de serviços que vão desde transportes até oferta de leitos em hospitais privados.

VEJA QUEM SÃO AS EMPRESAS QUE REALIZARAM DOAÇÃO

 

 

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