INTERNACIONAL

Páscoa em Jerusalém

‘Que o sepulcro escancarado de Cristo também abra nossos sepulcros’

Por Fernando Geronazzo
14 de abril de 2020

Afirmou o Administrador Apostólico do Patriarcado Latino de Jerusalém, na missa da Páscoa no local da ressureição de Cristo

“Cristo ressuscitado irrompe em nossas pobres vidas e as ilumina com uma nova luz. E agora, em um momento em que sentimos um forte desejo de clamar a necessidade comum de salvação, somos impedidos de fazê-lo. E, assim, percebemos o quanto sentimos falta de celebrar o amor que conquista toda morte. Como essa solidão pesa sobre nós, como é cansativo ser guiado por ele nesses caminhos desconhecidos!”, afirmou o Administrador Apostólico do Patriarcado Latino de Jerusalém, Dom Pierbattista Pizzaballa, na celebração do Domingo de Páscoa, dia 12, na Basílica do Santo Sepulcro, na Cidade Santa.

A missa foi celebrada em frente à Edícula do Santo Sepulcro, na presença dos frades da comunidade do Santo Sepulcro. Após a Eucaristia, a alegria da Páscoa foi proclamada em quatro lugares diferentes ao redor do sepulcro vazio, de acordo com os quatro pontos cardeais. Esse rito simboliza como o anúncio da ressurreição atinge todos os cantos da terra. Em seguida, a Palavra de Deus foi levada em procissão solene ao redor da edícula e da Pedra da Unção.

LIMITAÇÕES DA PANDEMIA

Inspirando-se nas limitações decorrentes da pandemia, o Arcebispo disse: “Trancado em nossas casas e limitados na nossa mobilidade, entendemos a importância do que agora nos é impedido: liberdade de movimento, escola, trabalho, participação na vida em grupo, tempo com amigos e assim por diante. É verdade: muitas vezes acontece que aprendemos a apreciar o que temos quando o perdemos. E foi por essas possibilidades que estamos perdendo agora”.

No entanto, Pizzaballa acrescentou que há outra ausência não menos importante que é possível conhecer atualmente: a possibilidade de celebrar a salvação. “Não poder  celebrar a salvação durante este Santo Tríduo, neste contexto de medo e incerteza, tornou-nos ainda mais conscientes de nossa fragilidade e nossas limitações”, destacou.

“Atingidos no que nos é mais caro, descobrimos que nossa engenhosidade humana, por mais aguda e desenvolvida que seja, não nos garante a salvação”, sublinhou o Administrador Apóstólico.

SALVAÇÃO

O Arcebispo continuou a homilia explicando que, surgem novamente “as grandes questões sobre a vida e a morte” e sobre a existência humana. “Entendemos que a palavra salvação não está apenas ligada à capacidade da ciência de resolver os grandes problemas do momento (algo pelo qual todos estamos ansiosos e agradecidos), mas está ligada principalmente ao mistério que habita a natureza humana e que não podemos possuir completamente”.

“O que celebramos hoje não é apenas o triunfo da vida sobre a morte, mas o amor de Deus, que vem não apenas para morrer conosco, para morrer por nós, mas também para nos unir a ele, além da morte”, salientou Pizzaballa.

VIDA NOVA EM CRISTO

O Administrador Apostólico enfatizou que Deus Pai não abandona o homem Jesus na morte, mas o salva, lhe dá uma vida que é para sempre e também chama a cada ser humano a essa mesma vida.

“Realmente, há algo mais forte que a morte. A fé não apaga o caráter dramático da existência, mas abre nossos olhos e corações para uma perspectiva de salvação, de vida eterna, de alegria. É o que celebramos no dia da Páscoa e é o que queremos comemorar com a vida. Portanto, que o sepulcro escancarado de Cristo também abra nossos sepulcros ”, concluiu.

TRÍDUO DIFERENTE

Este ano, as celebrações do Tríduo Pascal em Jesuralém, com em boa parte do mundo, aconteceram sem a presença do povo.

Como já acontece há séculos, o anúncio da ressurreição de Jesus partiu de Jerusalém para todo o mundo. O Santo Sepulcro foi o primeiro lugar no mundo onde a Vigília Pascal foi celebrada.

Por tradição pré-conciliar, mantida pelo Status Quo, o Administrador Apostólico do Patriarcado Latino de Jerusalém preside a liturgia a vigília ainda na manhã do Sábado Santo, 11.

Também na Basílica do Santo Sepulcro Dom Pierbattista presidiu a Missa da Ceia do Senhor, na Quinta-feira Santa, 9. Porém, devido a emergência sanitária, o rito do lava-pés foi omitido.

PAIXÃO DO SENHOR

Na Sexta-feira Santa, 10 aconteceu a ação litúrgica da Paixão do Senhor. Em frente à pedra do Gólgota, na qual a cruz de Cristo foi fincada, o Administrador Apostólico expôs o relicário da Cruz por um momento de adoração. Esse ritual remonta ao século IV, quando, neste local, o povo passava adorando Santo Lenho, enquanto as passagens da Sagrada Escritura sobre a Paixão do Senhor eram proclamadas por três horas.

O caminho de Jesus ao Calvário também foi refeito com a tradicional Via-Sacra ao longo da Via Dolorosa, liderada pelo Custódio da Terra Santa, Frei Francesco Patton, acompanhado por três frades ao longo de uma via deserta e blindada, percorrida quase apenas pela polícia e por jornalistas.

CRUCIFICADO

À noite, foi o momento da procissão fúnebre de Cristo, presidida pelo Custódio da Terra Santa. Algumas crônicas falam dessa tradição já existia no século XV, mas a forma atual remonta 250 anos atrás.

No Calvário, dois diáconos retiram da imagem do crucificado a cora de espinhos e os cravos colocados nas suas mãos e pés. Então, o corpo de Jesus, deitado em um lençol, é levado à Pedra da Unção, onde o Custódio da Terra Santa realiza os ritos funerários descritos pelos Evangelhos: ungiu com mirra, perfume, ervas aromáticas e incenso, assim como José de Arimatéia e Nicodemos fizeram com Jesus.

Ao longo das estações, o Evangelho é proclamado em várias línguas, para representar a universalidade do mistério da redenção, por um lado, e a universalidade da adoração ao Cristo crucificado. A celebração termina com a deposição do corpo de Jesus no sepulcro, aguardando ressurreição no dia da Páscoa.

(Com informações da Agência SIR e Custódia da Terra Santa)

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