INTERNACIONAL

África

População de Moçambique sofre com violência e avanço do COVID-19

Por Fernando Geronazzo
09 de abril de 2020

Aumento da onda de ataques armados obriga famílias a se refugiarem nas matas, em meio ao risco de contágio do novo coronavírus, que cresce no país

Famílias abandonam suas casas após invasão de extremistas (Foto: Ricardo Machava/O País)

A população do norte de Moçambique vive uma situação fora de controle com o aumento dos ataques armados a povoados e, agora, com o avanço da pandemia de COVID-19 no país africano.

Dom Luís Fernando Lisboa, Bispo da Diocese de Pemba, capital da província de Cabo Delgado, relatou ao O SÃO PAULO que os ataques de insurgentes cresceram significativamente na região.

Segundo ele, desde janeiro os ataques que antes aconteciam em povoados mais distantes gora chegaram às vilas mais populosas.  Já foram tomados pelos insurgentes distritos importantes da província de Cabo Delgado, como Mocímboa da Praia e Quissanga, e, nos últimos dois dias, Moidumbe e Nangololo.

O Bispo informou, ainda, que os missionários brasileiros que atuam na região, enviados pelo Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos bispos do Brasil (CNBB), foram evacuados para a capital da província e a população que refugiou nas matas do entorno.

EXTREMISTAS

Desde outubro de 2017 a região de Cabo Delgado tem sido palco de diversos ataques extremamente violentos. Sobre os possíveis autores, Dom Luís Fernando explicou que, durante muito tempo, era uma verdadeira incógnita. “Porém, a partir de janeiro, eles têm se apresentado como sendo do Estado Islâmico”, relatou.

“Não sabemos exatamente se são mesmo do Estado Islâmico. Mas é assim que eles têm se apresentado. Quando tomam o lugar, mostram a sua bandeira e dizem querem fazer daqui um Estado islâmico”, acrescentou o Bispo.

De acordo com a agência de notícias Deutsche Welle, as famílias desses distritos dominados não param de chagar à Pemba. Alguns chegam à pé, outros de barco. As pessoas relataram que os terroristas atiram bombas que provocam incêndios nas casas. Outros contaram, desolados, que, no meio do caminho da fuga, três crianças morreram no mar.

O governo do país, por sua vez, não tem conseguido conter o avanço dos ataques. Crescem, inclusive, os casos de deserções de militares que alegam falta de condições para enfrentar os insurgentes, que são fortemente armados.

PANDEMIA

A situação dos moçambicano ficou ainda mais difícil com à pandemia de coronavírus que avança no país. Até o momento, há 17 casos de COVID-19 confirmados em Moçambique, sendo seis desses em Cabo Delgado.

Padre Armindo Baltazar, sacerdote passionista que atua na Diocese de Pemba, relatou ao O SÃO PAULO que a situação na região é incontrolável. “Não sabemos o que escolher: se ficamos em casa de quarentena ou fugimos dos ataques para o mato!”, contou o religioso, que expressou preocupação pelas famílias refugiadas no meio da mata e pela falta de medidas eficazes do poder público para enfrentar a onda de violência.

“Estamos cumprindo as medidas de isolamento. O governo decretou estado de emergência. Procuramos fazer o isolamento que é possível aqui”, afirmou Dom Luís Fernando, ressaltando que a maior dificuldade é que a maioria das pessoas vivem dos pequenos comércios e o isolamento impactou bastante a vida da população. Tanto que houve uma flexibilização das restrições do governo, pedindo que todos estejam atentos às medidas preventivas de higiene e evitando aglomerações.

PREOCUPAÇÃO

Na África, o número de infeções de COVID-19 subiu para mais de 11,4 mil, e mortes chegam a quase 600.

O Bispo de Pemba expressou grande preocupação com o avanço da pandemia. “A África, em geral, e Moçambique em particular, tem muito poucos recursos em termos de hospitais e medicamentos. Portanto, se a pandemia entrar com força aqui, haverá muito sofrimento”, enfatizou, pedindo que os brasileiros rezem pelo povo moçambicano e de todo o continente.

 

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