VATICANO

Sínodo para a Amazônia

Padre indígena: celibato é um dom que pode ser vivido em qualquer cultura

Por Fernando Geronazzo
17 de outubro de 2019

Membro da tribo Tuyuka, em São Gabriel da Cachoeira (AM), Padre Justino Sarmento Resende falou sobre a necessidade de anunciar o Evangelho aos povos indígenas em sua própria língua

O único sacerdote indígena participante do Sínodo dos Bispos para a Amazônia, Padre Justino Sarmento Resende, salesiano e membro da tribo Tuyuka, em São Gabriel da Cachoeira (AM), destacou os desafios para a formação de um clero autóctone na região amazônica.

Especialista em espiritualidade indígena e pastoral inculturada, Padre Justino falou os jornalistas na entrevista coletiva desta quinta-feira, 17, na Sala de Imprensa da Santa Sé.

'ROSTO AMAZÔNICO' 

Ordenado há 25 anos, o Sacerdote explicou o que considera como uma Igreja com “rosto amazônico” e indígena, expressão usada pelo Papa Francisco durante o encontro com povos indígenas em Porto Maldonado, no Peru, em janeiro de 2018.

Ele recordou que a Igreja chegou à Amazônia por meio dos missionários, especialmente, europeus e que, hoje a evangelização pode ser feita pelos próprios povos que ali vivem, com suas próprias línguas e identidade cultural. “Quando falamos em uma Igreja com o rosto indígena, nós procuramos concretizar como nós, indígenas, batizados, cristãos e ministros, podemos fazer diferente aquilo que os nossos antigos missionários, com suas limitações linguísticas, sem conhecer bem nossas culturas, fizeram da melhor maneira possível”, disse.

CHAMADO

Padre Justino mencionou sua própria experiência vocacional para reforçar sua reflexão. “Minha vocação surgiu quando eu vi missionários cheios de boa vontade dando catequese aos meus avós, que não tinham passado pelo processo da escolarização e, por isso, não entendiam a língua portuguesa. Foi diante dessa cena, que eu, ainda adolescente, pensei em ser um sacerdote, para poder transmitir a mensagem de Jesus na minha própria língua”, contou.

No entanto o caminho vocacional do Padre indígena não foi fácil. Ele encontrou resistência de muitas pessoas, inclusive de sua tribo, que diziam que o sacerdócio não era algo para indígenas. “Aos poucos, a Igreja foi percebendo que nós, indígenas evangelizados, podíamos nos tornar evangelizadores. Já havia catequistas, mas não sacerdotes”, acrescentou.

FORMAÇÃO

Padre Justino passou pela formação básica para o sacerdócio, com o estudo da Filosofia e Teologia. Depois de ordenado, estudou Missiologia por dois anos e, em seguida, fez mestrado em educação, para trabalhar em oficinas e encontros sobre inculturação e evangelização para indígenas. “Sigo estudando para encontrar respostas para a pergunta: como nós podemos ajudar a construir novas maneiras de evangelizar na Amazônia?”, enfatizou o Sacerdote.

“Não podemos ver a Igreja como algo fora de nós, pois nós mesmos somos Igreja. A mensagem do Evangelho não paira no ar, mas se encarna nas pessoas e, quando chega nas culturas indígenas, faz parte do ser indígena”, afirmou Padre Justino.

CELIBATO

Quando questionado sobre a falta de padres na Amazônia e sobre as afirmações feitas durante o Sínodo de que os indígenas teriam dificuldade para viver o celibato apostólico, Padre Justino respondeu: “É um dom de Deus. Pessoas de qualquer cultura no mundo podem vivê-lo. Deve ser uma decisão livre, não imposta. É difícil para mim como para qualquer outro padre não indígena”.

ATIVIDADES DO SÍNODO

Nesta quinta-feira, continuaram as reuniões dos círculos menores do Sínodo para a Amazônia. Os grupos linguísticos estão elaborando os relatórios de suas discussões, que serão entregues para a comissão de redação do Documento Final do Sínodo, cujo projeto será trabalhado ao longo da próxima semana de Assembleia sinodal, no Vaticano.

 

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