VATICANO

Canonização

Irmã Dulce dos Pobres é proclamada santa

Por Redação, com Vatican News
16 de outubro de 2019

Religiosa brasileira foi canonizada pelo Papa Francisco em missa na Praça São Pedro neste domingo

O Papa Francisco canonizou Irmã Dulce Lopes Pontes em uma missa solene na Praça São Pedro, no Vaticano, na manhã deste domingo, 13, diante de cerca de 50 mil pessoas, dessas,  aproximadamente 15 mil brasileiros.

Além do “Anjo bom da Bahia”, também foram canonizados João Henrique Newman, Josefina Vannini, Maria Teresa Chiramel Mankidiyan, e Margarida Bays.

A celebração teve início com o rito da canonização, no qual o Prefeito da Congregação das Causas dos Santos, Cardeal Angelo Becciu, acompanhado dos postuladores, dirigiu-se ao Santo Padre para pedir que se proceda à canonização dos beatos. Em seguida, o Cardeal apresentou uma breve biografia de cada um deles. Depois, o Pontífice leu a fórmula de canonização.

INVOCAR

Na homilia, o Papa Francisco comentou o Evangelho deste 28º Domingo do Tempo Comum, que narra a cura de dez leprosos.

O Santo Padre destacou que a afirmação de Cristo “A tua fé te salvou” (Lc 17, 19), é o ponto de chegada do Evangelho de hoje, que mostra a todos o caminho da fé. “Neste percurso de fé, vemos três etapas cumpridas pelos leprosos curados, que invocam, caminham e agradecem”, disse o Papa.

Francisco acrescentou que, assim como hoje, os leprosos sofrem, além pela doença em si, mas pela exclusão social. No tempo de Jesus, eram considerados impuros e, como tais, deviam estar isolados, separados. Eles invocam Jesus “gritando” e o Senhor ouve o grito de quem está abandonado.

“Também nós – todos nós – necessitamos de cura, como aqueles leprosos. Precisamos de ser curados da pouca confiança em nós mesmos, na vida, no futuro; curados de muitos medos; dos vícios de que somos escravos; de tantos fechamentos, dependências e apegos: ao jogo, ao dinheiro, à televisão, ao celular, à opinião dos outros. O Senhor liberta e cura o coração, se O invocarmos”, exortou o Pontífice.

A fé cresce assim, prosseguiu o Papa, com a invocação confiante. “Invoquemos diariamente, com confiança, o nome de Jesus: Deus salva. Repitamo-lo: é oração. A oração é a porta da fé, a oração é o remédio do coração.”

CAMINHAR

A segunda etapa é caminhar. Os leprosos são curados não quando estão diante de Jesus, mas depois, enquanto caminham.

“É no caminho da vida que a pessoa é purificada, um caminho frequentemente a subir, porque leva para o alto. A fé requer um caminho, uma saída; faz milagres, se sairmos das nossas cómodas certezas, se deixarmos os nossos portos serenos, os nossos ninhos confortáveis”, afirmou o Papa.

Outro aspecto ressaltado pelo Santo Padre é o plural dos verbos: “a fé é caminhar juntos, jamais sozinhos”. Mas, uma vez curados, nove continuam pela sua estrada e apenas um regressa para agradecer. E Jesus então pergunta: “Onde estão os outros nove?”.

“Constitui nossa tarefa ocuparmo-nos de quem deixou de caminhar, de quem se extraviou: somos guardiões dos irmãos distantes. Quer crescer na fé? Ocupa-se dum irmão distante”, acrescentou o pontífice.

AGRADECER

A última etapa é agradecer. Ao leproso curado, Jesus diz: "A tua fé te salvou".

“Isto diz-nos que o ponto de chegada não é a saúde, não é o estar bem, mas o encontro com Jesus”, explicou Francisco.

O ponto culminante do caminho de fé é viver dando graças. O Papa então questiona: “Nós, que temos fé, vivemos os dias como um peso a suportar ou como um louvor a oferecer? Ficamos centrados em nós mesmos à espera de pedir a próxima graça, ou encontramos a nossa alegria em dar graças? Agradecer não é questão de cortesia, de etiqueta, mas questão de fé”.

O Papa completou que motivo para agradecer hoje são os novos santos, que caminharam na fé e agora são invocados como intercessores. Três deles, disse o Papa, são freiras, como Irmã Dulce, e mostram que a vida religiosa é um caminho de amor nas periferias existenciais do mundo.

QUEM FOI O IRMÃ DULCE

Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes nasceu em 26 de maio de 1914 em Salvador (BA). Aos 13 anos, manifestou o desejo de se consagrar a Deus. Já naquela época, inconformada com a pobreza, amparava miseráveis e carentes.

Aos 18 anos, recebeu o diploma de professora e entrou para a Congregação da Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Em 13 de agosto de 1933, recebeu o hábito religioso e adotou, em homenagem a sua mãe, o nome de Irmã Dulce.

OS POBRES

A primeira missão de Irmã Dulce como religiosa foi ensinar em um colégio mantido pela Congregação, em Salvador. No encontro, o seu pensamento estava voltado para o trabalho com os pobres. Já em 1935, dava assistência à comunidade pobre de Alagados, conjunto de palafitas localizado na parte interna do bairro de Itapagipe. Nessa mesma época, começou a atender também os operários que viviam no bairro, criando um posto médico e fundando, em 1936, a União Operária São Francisco.

Em 1937, fundou, com Frei Hildebrando Kruthaup, o Círculo Operário da Bahia. Em maio de 1939, Irmã Dulce inaugurou o Colégio Santo Antônio, escola pública voltada para operários e filhos de operários, no bairro da Massaranduba.

A OBRA

No mesmo ano, ocupando um barracão, passou a abrigar pessoas em situação de rua e doentes, levados depois ao Mercado do Peixe, nos Arcos do Bonfim. Desalojados pela Prefeitura da cidade, acolheu-os, com a permissão da madre superiora, no galinheiro do Convento, transformado, em 1960, em Albergue Santo Antônio, com 150 leitos (hoje o Hospital Santo Antônio).

Irmã Dulce inaugurou ainda um asilo, o Centro Geriátrico Júlia Magalhães, e um orfanato, o Centro Educacional Santo Antônio e, em 1983, inaugurou o novo Hospital Santo Antônio.

Em 1988, foi indicada, pelo então presidente da República José Sarney, ao Prêmio Nobel da Paz.

Em 7 de julho de 1980, teve seu primeiro encontro com São João Paulo II por ocasião da visita dele ao País. O segundo encontro foi em 20 de outubro de 1991, quando ela já estava bastante debilitada por problemas respiratórios. O Anjo bom da Bahia morreu em 13 de março de 1992, com 77 anos.

PROCESSO DE CANONIZAÇÃO

A causa da canonização de Irmã Dulce começou em janeiro de 2000. Suas virtudes heroicas foram reconhecidas em abril de 2009, sendo, então, considerada Venerável.

Em 10 de dezembro de 2010, o Pontífice reconheceu o primeiro milagre e autorizou a beatificação da Religiosa. Trata-se da recuperação de uma paciente que teve uma grave hemorragia pós-parto e cujo sangramento subitamente parou, sem intervenção médica.

Para a Santa Sé, são necessárias quatro exigências para o reconhecimento de um milagre: ser preternatural (a ciência não consegue explicar), instantâneo (acontecer imediatamente após a oração e o pedido de intercessão), duradouro e perfeito.

BEATIFICAÇÃO

A beatificação de Irmã Dulce aconteceu em 22 de maio de 2011, em Salvador, em missa presidida pelo Cardeal Geraldo Majella Agnelo, Arcebispo Emérito de Salvador e delegado papal do rito de beatificação, então Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, com a participação de 70 mil pessoas. A Religiosa recebeu o título de Bem-Aventurada Dulce dos Pobres, tendo como data de sua memória litúrgica o dia 13 de agosto.

No mesmo dia da beatificação, após a oração do Angelus, no Vaticano, Bento XVI dirigiu uma saudação aos fiéis de Língua Portuguesa, destacando que a Bem-Aventurada “deixou atrás de si um prodigioso rastro de caridade ao serviço dos últimos, levando o Brasil inteiro a ver nela ‘a mãe dos desamparados’”.

LEGADO 

Fundadas em 1959, as Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) atualmente são um dos maiores complexos de saúde com atendimento 100% gratuito do Brasil. São 3,5 milhões de atendimentos ambulatoriais por ano a usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), entre idosos, pessoas com deficiência, crianças e adolescentes em situação de risco social, dependentes químicos e pessoas em situação de rua.

De acordo com as OSID, nos últimos 25 anos, foram contabilizados 60 milhões de atendimentos ambulatoriais e mais de 280 mil cirurgias realizadas.

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