VATICANO

Exortação Apostólica

Igreja na Amazônia: conversão integral, pastoral, ecológica e sinodal

Por Fernando Geronazzo
23 de janeiro de 2020

Esses são os principais diagnósticos do sínodo dos Bispos para a amazônia, sobre os quais o papa Francisco redigirá sua Exortação Apostólica

Cresce em todo o mundo a expectativa pela publicação da exortação apostólica pós-sinodal do Papa Francisco sobre a vida e a missão da Igreja na Amazônia. O documento será fruto da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos, realizada em outubro de 2019.

Com o tema “Amazônia, novos caminhos para a Igreja e por uma ecologia integral”, o Sínodo teve a participação dos bispos e representantes dos nove países que constituem a chamada Pan-Amazônia – Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela, incluindo a Guiana Francesa como território ultramar –, envolvendo sete conferências episcopais.

Ao término do Sínodo, que tem caráter consultivo, foi apresentado ao Pontífice um Documento Final, como fruto das reflexões e trabalhos sinodais. Nesse texto, foram destacados diagnósticos sobre a realidade dos povos amazônicos e apresentadas sugestões para a ação evangelizadora da Igreja na Amazônia. Esses diagnósticos, como afirmou o Papa Francisco em seu discurso conclusivo dos trabalhos do Sínodo, são a parte mais consistente do caminho sinodal.

Conversão, missionariedade, defesa da vida e da criação foram as palavras-chave do Documento Final. Nesta edição, o jornal O SÃO PAULO recorda os principais diagnósticos apontados pelo Sínodo:

CONVERSÃO INTEGRAL

O Sínodo ressaltou a beleza da vida na Amazônia, que hoje é “ferida e deformada” pela dor e violência. Dentre as ameaças apontadas, estão: apropriação e privatização dos bens da natureza; modelos predatórios de produção; desmatamento; poluição das indústrias extrativistas; mudanças climáticas; narcotráfico; alcoolismo; tráfico de seres humanos; a criminalização de líderes e defensores do território; e grupos armados ilegais.

O crescente fenômeno migratório também foi ressaltado, tanto no âmbito da mobilidade de grupos indígenas em territórios de circulação tradicional quanto no deslocamento forçado de populações indígenas, na migração internacional e de refugiados.

 

CONVERSÃO PASTORAL

Os padres sinodais enfatizaram que a comunidade eclesial deve ir ao encontro de todos para anunciar com alegria o Cristo ressuscitado, gerando filhos para a fé entre os povos a que serve.

A assembleia não deixou de mencionar os muitos missionários que deram a vida para anunciar o Evangelho em terras amazônicas e reconheceu a necessidade de que as congregações religiosas do mundo estabeleçam pelo menos um posto missionário em um dos países da Amazônia.

O Sínodo considerou o diálogo ecumênico e inter-religioso como “caminho indispensável da evangelização na Amazônia”, e recordou a urgência de uma pastoral indígena, especialmente para os jovens, imersos em uma crise de valores, vítimas da pobreza, violência, desemprego, novas formas de escravidão e dificuldade de acesso à educação.

Também houve uma profunda reflexão sobre a pastoral urbana, com um foco particular nas famílias, que, sobretudo nas periferias, sofrem com a pobreza, desemprego, falta de moradia e problemas de saúde.

 

CONVERSÃO CULTURAL

Na perspectiva da inculturação, foi dada atenção à piedade popular, cujas expressões devem ser valorizadas, acompanhadas, promovidas e, às vezes, “purificadas”, pois são momentos privilegiados de evangelização que devem conduzir ao encontro com Cristo.

Os bispos identificaram, ainda, a relevância dos centros de pesquisa da Igreja para estudar e recolher as tradições, as línguas, as crenças e as aspirações dos povos indígenas, encorajando o trabalho educativo a partir da sua própria identidade e cultura.

 

CONVERSÃO ECOLÓGICA

A expressão conversão ecológica teve grande destaque no Sínodo, que indica a ecologia integral, apontada pelo Papa Francisco na Encíclica Laudato Si’, como o único caminho possível para a Amazônia. A esperança é que, reconhecendo “as feridas causadas pelo ser humano” ao território, sejam procurados “modelos de desenvolvimento justo e solidário”.

Os bispos reunidos em Sínodo reafirmaram o empenho da Igreja em defender as futuras gerações, a virtude da justiça e a vida “desde a concepção até o seu fim” e propuseram, inclusive, a definição de “pecado ecológico” como “ação ou omissão contra Deus, contra o próximo, a comunidade, o meio ambiente”.

 

CONVERSÃO SINODAL

Os bispos enfatizaram a necessidade da “sinodalidade do povo de Deus”, em que todos os seus membros caminhem juntos. Apontaram a necessidade de maior participação dos leigos na vida e missão da Igreja, por meio de uma sólida formação e da valorização dos ministérios que lhes são próprios. Nesse sentido, refletiu-se sobre uma maior participação das mulheres, religiosas e leigas, na vida das comunidades eclesiais. Consideraram igualmente urgentes a promoção, formação e apoio aos diáconos permanentes.

Ao refletirem sobre a centralidade da Eucaristia à vida cristã, os padres sinodais ressaltaram a dificuldade de algumas comunidades terem acesso a este sacramento, assim como à Reconciliação e à Unção dos Enfermos, devido à falta de sacerdotes.

De igual modo, constataram a importância de que a vida consagrada nessa região tenha uma identidade amazônica, a partir de um reforço das vocações autóctones.

Espera-se que a exortação apostólica pós-sinodal sobre esse tema seja publicada nos próximos dias. Como aconteceu com os documentos pontifícios anteriores de Francisco, será apresentada pelos bispos locais nas dioceses, que promoverão eventos e estudos para conhecimento e aprofundamento de seu conteúdo.

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