NACIONAL

Legado para a Teologia

Francisco Catão: uma vida dedicada ao encontro com Cristo

Por Francisco Borba Ribeiro Neto (Especial para O SÃO PAULO)
07 de mai de 2020

‘Em todos os momentos de minha vida, busquei a Deus’, disse o teólogo em uma entrevista. Ele faleceu nesta quinta-feira, 7

Reprodução da internet

Neste 7 de maio, faleceu Francisco Catão, aos 92 anos, um dos maiores nomes da teologia brasileira de sua geração. Intelectual brilhante, nos últimos anos deu várias contribuições ao jornal O SÃO PAULO.

Um grande conhecedor de São Tomás de Aquino, sobre o qual defendeu sua tese de doutorado na Universidade de Strasbourg. Ele fez sua pós-graduação, na Europa, no período do Concílio Vaticano II. Com isso, teve a oportunidade de conviver com os grandes peritos teológicos e com as discussões da época. Entre seus amigos próximos da época, se sobressaem os nomes de Yves Congar, Joseph Ratzinger e Hans Küng.

Citava com facilidade trechos dos documentos conciliares, aludindo aos debates que os cercavam e mostrando as soluções encontradas para as polêmicas da época.

Participou dos círculos de pensadores que desenvolveram a Teologia da Libertação, em suas origens. Nunca deixou de reconhecer seu valor histórico e social, mas, com o tempo, assumiu uma postura crítica a alguns de seus aspectos.

Num período mais recente, teve um intenso diálogo com movimentos eclesiais e novas comunidades. Sabia dialogar com eles, respeitando e valorizando seus carismas, ao mesmo tempo que os enriquecia com sua reflexão teológica.

Seu pensamento era profundo e perspicaz. Quem convivia com ele se acostumava a ser surpreendido com ideias que pareciam heterodoxas e discutíveis, mas que – depois de explicadas e contextualizadas – se mostravam como a mais pura e sábia aplicação da ortodoxia católica a resolução de questões polêmicas.

Catão, no fundo, sempre foi um teólogo ortodoxo, a ponto de ser acusado de “papista” por seus colegas mais heterodoxos. Ao mesmo tempo, nunca recuou diante do diálogo com as ciências ou com os proponentes de reformas ou mudanças na Igreja. Se, de um lado, essa abertura segura fez com que conquistasse amigos e admiradores nos mais diversos contextos eclesiais e culturais, por outro, fez com que muitos desconfiassem de suas reflexões.

Sem dúvida, a unidade de seu pensamento e de sua vida residiam em sua adesão radical a Cristo, que permaneceu nas idas e vindas, voltas e reviravoltas de sua existência. Como disse em um depoimento ao filósofo Juvenal Savian: “De uma coisa não tenho dúvida: o que dá unidade à minha história é Deus! Em todos os momentos de minha vida, busquei a Deus! E, se há algo a dizer, esse algo é Deus!”.

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