Retorno das atividades na EE Prof Raul Brasil

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18 de março de 2019

Na segunda-feira (18/3) a escola será reaberta apenas para professores e funcionários, para traçar o planejamento e estruturação de atividades de acolhimento e preparação psicológica, com o apoio de várias secretarias do Governo de São Paulo e da Prefeitura de Suzano, além de profissionais do Instituto de Psicologia da USP, Unicamp, Centros de Atenção Psicossocial (Capes) da Prefeitura, entre outras instituições.

A partir da próxima terça-feira (19/3), a escola será reaberta para os alunos participarem de atividades de acolhimento. Serão atividades livres para apoio psicológico, oficinas, terapia em grupo, rodas de conversa, depoimentos e compartilhamento de boas práticas. Para dar todo o suporte aos professores e servidores da escola, as equipes técnicas de especialistas do Governo de São Paulo e da Prefeitura de Suzano estarão na unidade ao longo de toda esta semana.

 Com objetivo de mudar o ambiente escolar, toda estrutura interna já está sendo pintada e revitalizada pela Seduc-SP, com o apoio da comunidade escolar.

 Uma rede de apoio com instituições públicas e privadas foi formada desde o primeiro dia do episódio na escola. Esta rede atuou durante todo este fim de semana, realizando atendimento psicológico e especializado na Diretoria Regional de Ensino de Suzano e na Capes de Suzano, bem como fazendo visitas domiciliares às famílias das vítimas.

 A definição sobre a data da retomada das aulas será tomada pela Direção da escola, nesta semana.

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Dom Carlos Lema Garcia celebra missa pela formatura do curso de Pedagogia da USP

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16 de fevereiro de 2019

Na manhã do domingo, 10, Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Arquidiocese no Vicariato Episcopal para a Educação e a Universidade, presidiu, na Capela do Mosteiro de Santa Teresa de Jesus, a Santa Missa em ação de graças pela formatura dos alunos do curso de Pedagogia da Universidade de São Paulo - USP.

A missa contou com a participação e oração das monjas carmelitas, que gentilmente acolheram o pedido dos formandos para agradecer pela formatura aos pés da padroeira dos professores, Santa Teresa de Jesus. Membros da Comunidade Católica Famílias Novas do Imaculado Coração de Maria, do Movimento Comunhão e Libertação e do Opus Dei também estavam presentes.

Na homilia, o Celebrante refletiu sobre o Evangelho do dia (Lc 5, 1-11), mostrando a diferença entre ser pescador e ser peixeiro: enquanto um sai com o barco, vai ao encontro dos peixes, trabalha a noite inteira e faz a pesca, o outro espera o peixe chegar até seu balde. Alertou sobre a responsabilidade dos pedagogos conduzirem os alunos com o bom exemplo e testemunho cristão, destacando que algumas profissões lidam com pedras, madeiras, metais, mas o professor lida com o bem mais precioso: a alma. É preciso ser fermento na massa, “avançai para águas mais profundas”.

Após a celebração, os formandos puderam pedir orações e conversar com as monjas.

 

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Por uma educação que inclua e acolha

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20 de fevereiro de 2019

No dia 31 de janeiro, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou o Censo Escolar 2018. O documento revelou o aumento no número de matrículas de alunos que apresentam algum tipo de necessidade especial nas escolas regulares em todo o Brasil.

EM EVOLUÇÃO

Entre 2014 e 2018, a presença de alunos especiais nas escolas regulares passou de 87,1% para 92,1%. O Plano Nacional de Educação prevê a inclusão de alunos especiais nas escolas comuns.

O mesmo Censo Escolar apontou que 38,6% das escolas públicas de ensino fundamental e 55,6% das privadas oferecem banheiros adaptados. Também no ensino fundamental, 28% das escolas públicas e 44,7% das particulares têm dependências adequadas para pessoas com necessidades especiais.

Já para o ensino médio, 60% das escolas públicas e 68,7% das particulares oferecem banheiro especial. Além disso, 44,3% das públicas e 52,7% das instituições privadas possuem no seu espaço dependências adequadas.

DIFICULDADES

A rede pública de ensino foi responsável por atender 97,3% das matrículas em 2018. No entanto, estar de portas abertas para esse grupo ainda parece ser algo desafiador para professores e diretores.

Esse obstáculo foi visto de perto por Daniela Maria Regassi, 40, que é design de interiores e mãe de Ana Beatriz, 9, que tem síndrome de Down.

Quando a garota estava com 6 anos de idade, a mãe tentou matriculá-la se no primeiro ano do ensino fundamental. Após percorrer 23 escolas - municipais, estaduais e particulares - e não encontrar em qualquer delas ao menos a garantia de que um profissional acompanharia Ana Beatriz durante o período em que estivesse na escola, Daniela foi orientada pelo instituto que acompanha a criança a não realizar a matrícula naquele ano.

UM BOM EXEMPLO

A mãe de Ana Beatriz, após dialogar com professores e profissionais da educação, decidiu ir à cidade de Santo Caetano do Sul (SP). Ao procurar a Secretaria de Educação do município, foi informada de que todas as suas unidades ofereciam acompanhantes para os alunos com necessidades especiais.

Daniela decidiu mudar-se para a cidade e há três anos recebe da Escola Municipal Elvira Carmela Maria Paolino Braido o acolhimento que buscou por pouco mais de um ano.

“Hoje ela está em uma escola que tem sala de apoio para crianças com necessidades especiais, uma coordenadora de inclusão, e está sendo estimulada, aprendendo a escrever seu nome. Sou muito bem acolhida, minha filha é muito bem tratada e a cada ano eles buscam melhorar”, salientou.

EDUCAÇÃO INCLUSIVA DE FATO

A design de interiores classificou como grande diferencial da escola em que a filha está matriculada, a preocupação no aperfeiçoamento, ano após ano. Ela mantém contato com a escola e há cada dois meses solicita a direção uma reunião com os professores.

Para Daniela, é necessário que seja oferecido aos profissionais o preparo adequado para lidar com os alunos especiais, que a escola ofereça materiais didáticos diferenciados e que os professores não tenham medo do novo, a partir da capacitação para saber acolher.

AINDA EM SÃO CAETANO DO SUL

Na mesma cidade, vive a professora de Inglês, Vera Lúcia Franco Figueiredo, mãe de Rebecca Silva Figueiredo, 10, que também tem síndrome de Down. Vera nunca pensou em matricular sua filha em uma escola especial e, atualmente, a menina estuda no colégio particular Eduardo Gomes.

Vera falou à reportagem que sua filha não conta com um material didático especial, mas que considera o fato de ter uma mediadora que acompanha a estudante nas aulas um importante fator para a acolhida.

Assim como Daniela, a mãe de Rebecca sofreu com a resistência de algumas instituições. “Algumas escolas falavam que iriam verificar as vagas e retornariam com uma resposta e é claro que nunca retornaram”, declarou.

Ela também acredita na capacitação dos profissionais para lidar com as necessidades especiais o principal fator de inclusão.

ENSINO PRIVADO

Amábile Pácios, que é professora, gestora de escola e vice-presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares, representante de dois terços das escolas de ensino básico e educação superior do Brasil, relacionou o aumento de alunos especiais no ensino comum aos avanços na medicina. Para ela, diagnósticos mais assertivos evidenciam os casos que já existiam anteriormente.

A professora esclareceu que as escolas particulares utilizam sua proposta pedagógica própria para definir como será feito o acolhimento deste grupo de alunos: “Cada escola tem a liberdade de fazer essa inclusão dentro da metodologia que escolheu, depois que foi feito o acolhimento cada uma vai orientar o trabalho com a criança”, continuou.

As unidades de ensino particular são regulamentadas pelo Plano Nacional de Ensino e cada estado define como suprir essa demanda, conforme a sua própria realidade. Além disso, toda proposta pedagógica precisa ser avaliada e autorizada pelo poder público, por meio das secretarias estaduais de educação.

Ela definiu, ainda, que o acolhimento de alunos especiais nas escolas regulares representa um avanço tanto para a própria criança, quanto para a comunidade, segundo Amábile, o País progrediu nesse aspecto.

FUTURO

“A nossa perspectiva é que as mudanças no atendimento educacional especializado, sistemas de ensino e formação de professores favoreçam a proposta para que os estudantes não somente se matriculem, mas que sua participação, permanência e aprendizagem sejam mais efetivas nas escolas do ensino regular", reiterou Patrícia Raposo, diretora de Educação Especial da Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação.

O Ministério da Educação (MEC) tem a responsabilidade de elaborar e acompanhar a política nacional de educação especial. Um exemplo disso é o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) que oferece a oportunidade de empreender reformas de acessibilidade, mediante um projeto enviado pela própria escola e aceito pelo MEC.    

A diretora afirmou que, em 2018,  o MEC desenvolveu estudos, elaborou uma consulta pública e uma proposta de atualização para a política nacional de educação especial. "Essa proposta foi encaminhada para o Conselho Nacional de Educação, que neste ano fará o estudo também com audiência pública para a apreciação normativa e evolução resolução dirigida do sistema de ensino", concluiu.  

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Qual é o papel da família na educação?

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Educação e esperança para as meninas do povo Gumuz

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15 de fevereiro de 2019

A tribo Gumuz vive no oeste da Etiópia, próxima à fronteira com o Sudão. Outrora nômades, entre os séculos XIX e XX, eles foram vítimas de escravagistas muçulmanos vindos do Sudão. Até hoje vivem na pobreza, e a sua vida é extremamente difícil, principalmente para as mulheres.

É muito difundida a crença de que o sangue da mulher durante o parto traz uma maldição para a família. Por isso, as mulheres devem dar à luz sozinhas, em lugares distantes e sem nenhuma ajuda. Como muitas são forçadas a se casar muito novas, quando seus corpos ainda não estão maduros o suficiente para a gravidez e o parto, as complicações são frequentes e, muitas vezes, fatais. Essas e outras superstições são causa de grande sofrimento e dor.

Há poucos anos, esse povo teve seus primeiros contatos com o cristianismo. Muitos deixaram de ser nômades e têm buscado o batismo. Nos últimos três anos, as irmãs da Congregação de São José da Aparição têm trabalhado com eles. Três irmãs preparam os candidatos ao batismo e ajudam-nos a entender melhor e viver a fé católica. Uma ajuda especial é direcionada às meninas e jovens mulheres para assegurar sua educação.

Vivendo em condições precárias, numa pequena cabana, as irmãs trabalham diretamente com as famílias, para convencê-las a oferecer às meninas uma boa formação.

Fonte: Ajuda à Igreja que Sofre
 

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Brasil terá Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio

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15 de dezembro de 2018

Aprovada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) no dia 4, após mais de três anos de discussão, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Médio depende apenas da homologação do Ministério da Educação para entrar em vigor. 

Com a medida, haverá pela primeira vez no País um currículo nacional obrigatório, porém isso não significa uniformização, pois se prevê maior flexibilidade para que o agrupamento dos conteúdos se adeque às realidades regionais e às escolhas dos estudantes. 

O QUE DIZEM OS ESPECIALISTAS EM EDUCAÇÃO

‘É um grande retrocesso’

Essa é a avaliação de Heleno Araújo, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) sobre o texto da BNCC do Ensino Médio. Araújo considera que a Base aumentará ainda mais o número de 1,7 milhão de jovens, entre 15 e 17 anos, que não cursam o Ensino Médio, e afetará a formação cidadã dos estudantes. “O foco dessa Base é na ação privatista, na mão de obra barata e imediata para atender à demanda do capital. Isso será péssimo para a formação humana dos nossos estudantes”. Ele disse que a entidade irá à Justiça para impedir que a Base seja homologada e colocada em prática nos estados.

‘Precisamos de uma base comum porque temos uma nação continental, com muitas características regionais’

Esse é o entender do professor Ítalo Francisco Curcio, pós-doutor em Educação e coordenador do curso de Pedagogia da Universidade Mackenzie. Curcio considera que um dos principais desafios da BNCC do Ensino Médio será “a adequação das matrizes curriculares regionalizadas, em especial nas redes estaduais”, notadamente por causa do momento de transição dos governos estaduais. “Será que aquilo que se ensina ao estudante na região Nordeste tem que seguir o mesmo encaminhamento, método e estratégias do trabalhado em outras regiões? Claro que não. A realidade é regionalizada, porém, precisamos de algo comum, pois a nação é uma só”, avaliou à reportagem. 

O Pós-Doutor em Educação relativiza os argumentos de que com a Base se passará de uma escola “conteudista” para uma escola “tecnicista”. “Isso vai depender de como cada secretário de estado encaminhará a questão. Será preciso trabalhar com os objetivos atitudinais e comportamentais, com as habilidades, pois o que vemos hoje, infelizmente, na rede pública, é um conteúdo não contextualizado: o estudante aprende algo em Matemática, mas não sabe para que vai usar esse assunto específico em sua vida, por exemplo”. 

‘Implementar com qualidade e equidade será o desafio’

Assim se manifestou o Movimento pela Base Nacional Comum, um grupo não governamental de profissionais da educação. Em seu site, o grupo também afirma que “na construção e implementação dos novos currículos, a atenção se voltará, por exemplo, para como organizar a progressão das aprendizagens e como equilibrar a parte comum com a flexível (os itinerários formativos determinados pela Lei do Novo Ensino Médio)”. 

‘No arranjo curricular, o aluno pode deixar de ver  conteúdos muito importantes’

O alerta é feito pelo professor Antonio Carlos Caruso Ronca, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Educação da PUC-SP. Ronca considera importante que o País tenha uma BNCC, mas acredita que a versão aprovada para o Ensino Médio é ruim, “peca pelo exagero de habilidades e competências, e assim haverá uma complicação no trabalho do professor”. Ele também criticou a supervalorização dada às disciplinas de Português e Matemática. “O estudante deve ter o direito de conhecer todo o conteúdo historicamente acumulado, de se situar sobre a região onde está, de perceber os problemas da região e de se formar na qualidade de cidadão”, comentou. 

‘A organização deixa ser estanque e se torna mais focada no cotidiano’

Assim avaliou, em entrevista ao portal G1, Eduardo Deschamps, presidente da comissão da BNCC no Conselho Nacional de Educação. “Em vez de estudar especificamente uma disciplina de Física ou Química, eu posso tratar de um problema de Matemática e Meio Ambiente, aplicar os conhecimentos conjugados”, exemplificou.

(Com informações de G1, MEC, Agência Brasil  e Movimento pela Base Nacional Comum) (Colaborou: Fernando Geronazzo)
 

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MEC libera recursos para educação em tempo integral

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04 de dezembro de 2018

O Ministério da Educação (MEC) autorizou, na segunda-feira, 26, a transferência de recursos para que os estados implementem a educação em tempo integral no Ensino Médio. Ao todo, serão liberados R$ 99 milhões, distribuídos entre todos os estados e o Distrito Federal, com exceção do Mato Grosso.

A liberação foi feita no âmbito do Programa de Fomento às Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral, para complementar o pagamento da primeira parcela de recursos correspondentes ao ano de 2019.

O dinheiro do programa pode ser usado, entre outras coisas, para remuneração e aperfeiçoamento de professores e dos demais profissionais da educação; para aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e equipamentos necessários ao ensino; aquisição de material didático-escolar e manutenção de programas de transporte escolar.

O programa busca viabilizar uma das ações previstas no novo Ensino Médio, aprovado em 2017, de ampliar a educação em tempo integral. Os estudantes passarão a participar de atividades na escola por até 7 horas por dia.

Fonte: Agência Brasil
 

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‘A educação é uma questão urgente no País’

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04 de dezembro de 2018

Em entrevista ao O SÃO PAULO, o professor Antonio Carlos Caruso Ronca falou sobre os desafios da educação básica no Brasil. Atual coordenador do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Educação na PUC-SP, Ronca já foi reitor dessa universidade, presidente do Conselho Nacional de Educação e assessor do Ministério da Educação. Para ele, a educação precisa ser considerada como um único processo, independentemente da sua esfera de competência. Leia a íntega a seguir. 

 

O SÃO PAULO - QUAL É A ATUAL SITUAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL?

Professor Antonio Carlos Caruso Ronca - Antes, eu preciso fazer algumas observações preliminares. A primeira é que, ao contrário do que se tem dito, a educação tem melhorado no Brasil e alguns números mostram essa evolução. No entanto, o conjunto de problemas é tão grande que ainda resta muito por fazer. Só que também temos evoluído em alguns aspectos, sendo que um deles é a taxa de atendimento escolar. Segundo dados do Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), em 2017, nós atingimos 96,4% de atendimento escolar. O primeiro ano do Ensino Fundamental chega a atingir 98%, porém o número vai caindo nos anos seguintes. No entanto, precisamos considerar que, em 1970, essa taxa era de 40%.  Então, o índice de acesso está muito melhor , o que mostra que a educação tem jeito. 

Há, ainda, a questão da desigualdade, ou seja, a diferença entre a educação pública e a privada, que é brutal. Nós temos uma educação pública que apresenta problemas muito graves. A meu ver, a educação privada deve existir. A Constituição Federal acerta quando diz que a educação privada é uma opção das famílias, mas respeitando-se essa opção das famílias, o Estado tem por obrigação oferecer a todas as famílias, crianças e jovens a possibilidade de ter um educação pública de qualidade e universal. 

 

QUAIS OUTROS ASPECTOS O SENHOR DESTACA?

Olhando para o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, há uma questão grave e que muitas vezes não é considerada com a devida importância. Trata-se da ineficiência dos sistemas estaduais e municipais para aprovar o aluno na idade certa. Essa é uma verdadeira chaga na educação, pois, uma vez reprovado, esse aluno vai repetir o ano, ficando defasado e, muitas vezes, a escola não está preparada pedagogicamente para lidar com essa situação, o que gera o abandono e a evasão escolar. Hoje, há alguns estados com um índice de distorção entre idade e série de 25% a 30%. Isso acarreta atraso, gasto financeiro, problemas para os professores e para as próprias escolas. Essa distorção tem repercussão no Ensino Fundamental que, geralmente, é de competência do governo estadual, que nem sempre dialoga com o município. A repercussão será maior nas últimas etapas do Ensino Fundamental que, por sua vez, repercutirá no Ensino Médio. Há estados em que o índice de reprovação no 3º ano chega a 10%, é alto!

 

E COMO EVITAR O ALTO ÍNDICE DE REPROVAÇÃO?

A escola não foi feita para reprovar. Se acontecer, deve ser uma exceção. Só que, em muitos casos, por diversas situações, como a ausência de um trabalho pedagógico coletivo, muito professores têm a reprovação como único recurso. É absolutamente importante que haja um trabalho de coordenação pedagógica, que corrige os problemas no desempenho do aluno no decorrer do processo. No entanto, isso exige um trabalho coletivo na escola. Por outro lado, aprovar automaticamente também não é a solução. Eu sou contra uma reprovação precipitada e generalizada, assim como sou contra uma aprovação indiferente, automática. Educação é um fenômeno complexo e precisa ser considerado como um único processo, independentemente da sua esfera de competência. 

 

EM QUAIS ETAPAS OS NÚMEROS SÃO MAIS PREOCUPANTES?

Os quatro anos finais do Ensino Fundamental mereceriam maior atenção da nossa parte. Segundo dados do Inep, 1,7 milhão de estudantes dos últimos anos Ensino Fundamental foram reprovados ou abandonaram a escola em 2017. Esse dado é três vezes maior que nos primeiros anos do Ensino Fundamental, o que já exigiria que o poder público chamasse os secretários de educação e organizasse alguma ação coletiva para identificar o que está acontecendo. Outro dado da mesma pesquisa: em 2017, 40% dos jovens com 19 anos não concluíram o Ensino Médio. Isso é alarmante para qualquer governante. Esses 40% não podem seguir adiante nos estudos. Na região Sudeste, o índice de conclusão escolar é de 70%; já no Nordeste o número cai para 50%. Há estados do Nordeste em que metade dos jovens de 14 anos nem sequer frequenta o Ensino Médio.

 

E QUANTO À QUALIDADE DA EDUCAÇÃO DOS QUE PERMANECERAM NA ESCOLA?

De fato, além da questão do acesso e permanência, há a questão grave da baixa qualidade. Se tomarmos a faixa etária de 18 a 24 anos, 17% estão na universidade. É um contingente baixo e que também é fraco do ponto de vista da qualidade. Há dados que mostram que o conhecimento sobre Língua Portuguesa e Matemática, Ciências etc., que são básicos, é muito reduzido, o que dificulta a frequência à universidade. Sem contar que muitos desses nem sempre concluem o Ensino Superior. 

 

QUAL A OPINIÃO DO SENHOR SOBRE A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR QUE ESTÁ EM DISCUSSÃO?

Acredito que a existência de uma Base Nacional Comum Curricular é importante. No entanto, não sei se eu, como dirigente, começaria por ela. Penso que há alguns problemas que vão além dessa dimensão, como mencionei anteriormente. Creio que, uma vez aprovada a Base Curricular, ela dê uma organicidade para a educação. No entanto, o aluno tem a necessidade de uma educação integral, que envolva formação de valores, em ética, em atitudes. Se a escola fica preocupada apenas em transmitir conteúdos, isso será arriscado. 

 

NESSE SENTIDO, A ESCOLA EM TEMPO INTEGRAL AJUDA?

Sim, desde que haja um projeto político-pedagógico da escola e não seja mais do mesmo, simplesmente aumentando a carga horária. Não sou favorável que a criança permaneça mais de 8 horas na escola. Outro cuidado com essa questão é não criar ilhas de excelência, em que apenas poucas escolas em determinado local ofereçam ensino em tempo integral, porque isso vai aumentar a desigualdade. Se é para implantar o ensino integral, deve ser um direito para todos, com uma proposta curricular específica para essa modalidade.

 

A POUCA VALORIZAÇÃO DOS PROFESSORES TAMBÉM CONTRIBUI PARA OS PROBLEMAS DA EDUCAÇÃO?

Essa situação me angustia muito. Há, na verdade, uma desvalorização dos professores. Primeiro, a profissão do professor não é mais um objeto de desejo das pessoas. Temos um bom número de instituições de Ensino Superior responsáveis por uma formação de professores de baixa qualidade. Esse professor, por sua vez, ganha pouco, não é valorizado no contexto em que trabalha. Por outro lado, há professores com medo, pois são ameaçados por alunos e também por pais, chegando a sofrer violências.

 

APESAR DE TUDO ISSO, HÁ ESPERANÇAS PARA A EDUCAÇÃO?

Com certeza. Estou na educação há 50 anos. Penso que estamos vivendo um momento crítico no Brasil. Nós conseguimos solução para alguns dos graves problemas, mas o caminho está sendo lento e precisa ser mais rápido. As nossas crianças não podem esperar esse ritmo de decisão que os governantes têm. A educação é uma questão urgente no País, não dá para esperar. Esse é um problema de toda a sociedade. Os governantes falam que educação é prioridade, mas isso não é levado à prática. Não digam que faltam recursos. Claro que há! Nós não temos uma prioridade. Educação tem de ser agora! 

 

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A família e a escola unidas no processo educativo

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24 de novembro de 2018

Quem não gostaria de ser descrito desta maneira: “Ele é uma pessoa segura, não se deixa manipular, faz escolhas com liberdade e reconhece quando errou”? Formar um ser humano com essas e outras virtudes é a base da educação personalizada. Criado no início dos anos 1960, esse modelo educativo é adotado por diferentes colégios no mundo, sendo que ao menos dez destes estão no Brasil (veja a relação na página ao lado). 

 

ORIGENS

Em 1963, na Espanha, um grupo de pais e professores sistematizou uma instituição educativa – Fomento de Centros de Ensino – com a proposta de que as famílias e as escolas atuassem conjuntamente na educação das novas gerações. Essa iniciativa ganhou o apoio de São Josemaría Escrivá, o fundador do Opus Dei, que sempre dizia aos pais que a primeira missão que lhes cabia era a de educar bem os filhos. 

As bases da educação personalizada foram arquitetadas por Víctor García Hoz, fundador da Sociedade Espanhola de Pedagogia. “A partir de uma concepção antropológica cristã, ele desenvolveu um modelo pedagógico muito completo, que conta com a família e com a comunidade social em que a criança ou adolescente está inserido. Dessa unidade entre família e colégio, se consegue o desenvolvimento das virtudes, que são as forças interiores, hábitos arraigados, que vão se tornando permanentes na vida de uma pessoa, de modo que ela possa fazer as coisas por motivação própria e de uma maneira cada vez mais perfeita”, explicou, ao O SÃO PAULO, Cláudio Alberto Rigo da Silva, diretor-geral do Colégio Catamarã Referência, localizado no Jardim Europa, na zona Sul da Capital Paulista.  

 

NO BRASIL E NO MUNDO

Fundado em 1995, o Colégio Catamarã, em suas duas unidades – Referência (masculina) e Vita (feminina) - adota o modelo de educação personalizada, que também é seguido no Brasil por, ao menos, outras nove instituições de ensino ligadas à rede Solar Colégios, a representante oficial no País da Fomento de Centros de Ensino. 

Além de Brasil e Espanha, esse modelo educativo é utilizado em colégios de outros países, como Reino Unido, Portugal, França, Polônia, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Suécia, Itália, Estados Unidos, México, Honduras, Costa Rica, Nicarágua, Guatemala, Panamá, Peru, Equador, Bolívia, Paraguai, Chile, Argentina, Uruguai, El Salvador, Emirados Árabes, Líbano, Nigéria, Congo, Indonésia, Filipinas e Austrália.

 

DESENVOLVIMENTO HUMANO INTEGRAL

A base da escola personalizada é olhar para cada estudante como uma pessoa única, tal qual cada pai enxerga um filho. “Não é somente um olhar para o cognitivo, para o que a criança está aprendendo, mas também para como se desenvolve em suas virtudes, potencialidades, capacidades, a fim de que alcance o máximo que pode dar”, detalhou Cláudio Rigo. 

Além desse olhar singular, a educação personalizada ajuda na promoção da autonomia do estudante, na medida em que ele próprio passa a dominar seu desenvolvimento e aprendizagem.

De acordo com Patricia Fleury, diretora-geral do Colégio Catamarã Vita, a educação personalizada permite um olhar integral para todas as dimensões do ser humano. “Para efeitos pedagógicos e para que possamos entender o que significa a pessoa, dividimos essas dimensões em intelectual, afetiva, volitiva (a educação da vontade), transcendental (sair de si mesmo ao encontro dos outros e abertura a Deus) e física”, explicou à reportagem, destacando, ainda, que tais dimensões nunca são analisadas em separado: “Vê-se o aluno na sua integralidade. Então, por exemplo, se eu não tenho controle das minhas emoções, elas afetam o que eu faço. Se eu não tenho a vontade bem formada, também não vou conseguir ter um desempenho acadêmico bom. Se eu tenho alguma questão física, isso vai afetar as demais dimensões”, exemplificou. 

Ainda segundo Patricia, na educação personalizada “há todo um plano para se trabalhar as virtudes nas diferentes etapas, para que os valores sejam incorporados de uma forma ativa na vida de cada um, ou seja, é um hábito que é adquirido com esforço e com base na repetição, mas não fica em um valor abstrato. É algo que cada pessoa incorpora para a própria vida, é a formação do caráter”. 

 

ACOMPANHAMENTO INDIVIDUAL

Para o crescente desenvolvimento das virtudes dos estudantes, é fundamental a atuação dos tutores, professores da própria escola que acompanham os alunos individualmente ao longo de toda a vida acadêmica. A cada 15 dias, tutor e tutorado conversam pessoalmente, e a cada dois meses o diálogo do tutor é com os pais, a fim de traçar um Plano Pessoal de Melhora (PPM), alinhando ações e metas que cada estudante deve cumprir tanto no ambiente escolar quanto em casa.

“Esse tutor sempre vai olhar o aluno naquelas cinco dimensões e vai conversar com ele para ajudar que desenvolva suas virtudes, principalmente por meio do trabalho acadêmico. O esforço que o aluno precisa colocar em sua aprendizagem é o canal para o desenvolvimento de todas as virtudes que ele vai adquirir”, explicou Cláudio Rigo, destacando, ainda, que uma tutoria bem-sucedida colabora com a eficácia do trabalho dos demais professores, na medida em que o corpo docente, ciente das dificuldades de cada estudante, poderá encontrar caminhos para melhor motivá-lo a superá-las.

 

UNIDADES DIFERENCIADAS

Embora não seja padrão em todos os colégios adeptos da educação personalizada, o modelo “single sex education”, ou seja, de unidades de ensino distintas para meninos e meninas, é um instrumental considerado importante para a eficácia do processo de aprendizagem.

Desde 2015, o Catamarã adota essa diferenciação: as meninas de 6 a 17 anos estudam na unidade Vita, no bairro do Itaim Bibi, onde também há a educação infantil mista de 2 a 5 anos, e os meninos de 6 a 17 anos ficam na unidade Referência, no Jardim Europa. 

Em ambas, os alunos estudam em período integral, das 8h às 16h, com os mesmos objetivos pedagógicos, programas de estudos e ferramentas didáticas, em turmas com média de 15 a 20 estudantes. 

“Parece um contrassenso, mas ao diferenciar, você faz com que todos tenham oportunidades iguais. Os colégios andam juntos. A grade curricular de um é igual à do outro, e, ao fugir dos estereótipos, se dá a igualdade de oportunidades. Em aulas mistas, muitas vezes, as meninas são vistas de uma maneira, os meninos de outra, há estereótipos por parte de professores de que meninas não são tão boas em Matemática, de que meninos não são tão bons em línguas, por exemplo. Em um colégio só com meninos ou só com meninas, há uma libertação desses rótulos, pois cada um pode ser como de fato é”, explicou Patricia Fleury, chamando a atenção para alguns detalhes comportamentais das estudantes. 

“Aqui no Vita, vemos que as meninas não estão preocupadas em aparentar, estão preocupadas em ser. Elas não vêm para a escola toda produzidas, maquiadas, tentando se mostrar para os outros. Elas são quem são, e isso dá uma liberdade para que cresçam e se desenvolvam plenamente, que é a proposta da educação personalizada”, destacou a educadora. 

Claudio Rigo assegurou que essa educação diferenciada traz resultados melhores que os alcançados em uma escola mista, e tem sido vista como uma boa solução em países desenvolvidos com elevados índices de abandono escolar masculino. “Nos Estados Unidos, havia duas escolas públicas de educação diferenciada até 1995; agora já são quase 120. Se formos contar as escolas privadas, no início dos anos 2000 eram quase 40; hoje são quase mil”, comentou, recordando, ainda, que entre os dez melhores colégios ingleses sete adotam esse modelo que agrupa meninos e meninas em unidades escolares diferenciadas. 

Os dois diretores ressaltaram que o fato de estudarem em escolas separadas não implica que meninos e meninas não interajam ao longo da vida acadêmica, pois são realizados eventos escolares conjuntos e a proximidade entre as famílias proporciona muitos momentos de socialização entre os estudantes fora do ambiente escolar. 

 

A CAMINHO DA UNIVERSIDADE E DO MUNDO ADULTO

Em um modelo educativo centrado no desenvolvimento das virtudes humanas, o futuro profissional dos estudantes também é tratado com atenção, incluindo a preparação para o ingresso nas melhores universidades do Brasil e do exterior.  

“Nós percebemos que se o aluno está bem nas demais dimensões, o acadêmico passa a ser mais um fruto. O aluno que tem fortaleza, resiliência, que faz um trabalho até o final, é um aluno bem mais engajado academicamente, porque ele se esforça por melhorar. Então, esse olhar integral para com o aluno potencializa a parte acadêmica”, comentou Patricia. 

Cláudio Rigo destacou que, ao longo de toda a formação escolar, os estudantes do Colégio Catamarã são preparados para pensar criticamente: “Eles aprendem a argumentar, pois no Ensino Médio é o momento de enfrentar aqueles temas polêmicos na área de Biologia, de Filosofia, como as questões do aborto, células-tronco, as ideologias marxistas. Os professores procuram fazer com que os estudantes abordem cientificamente esses problemas, de forma que o aluno tenha as respostas científicas para tomar uma postura ética correta ao longo da vida”.

 

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Qual é o papel da família na educação?

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08 de novembro de 2018

Em setembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) trouxe à tona no cenário nacional a discussão sobre a possibilidade de pais educarem seus filhos em casa, em vez de colocá-los na escola. Nessa ocasião, a maioria dos ministros decidiu não autorizar a prática até que seja criada uma legislação específica que regulamente essa modalidade de ensino.

Ainda pouco conhecida pela maioria dos brasileiros, a educação domiciliar ou homeschooling (em Inglês) já é adotada por mais de 7 mil famílias, segundo informações da Associação Nacional de Educação Domiciliar (Aned).

Tema de divergências entre educadores e pais, o fenômeno da educação domiciliar tem crescido e chamado a atenção da sociedade para a reflexão sobre o papel da família e da própria escola no processo educativo de crianças, adolescentes e jovens. Para compreender esse debate, é preciso conhecer um pouco mais sobre essa proposta educacional.

 

O QUE É?

A educação domiciliar é a modalidade na qual os pais assumem por completo o controle do processo global de educação dos filhos, ou seja, além do ensino de valores, hábitos, costumes e crenças, também se responsabilizam pela formação acadêmica que, geralmente, é de responsabilidade da escola.

Outra característica do homeschooling é seu aspecto integral, pois envolve todos os âmbitos da educação e conduz os filhos à autonomia no processo de aprendizado.

Essa modalidade é regulamentada em mais de 60 países, dentre os quais Estados Unidos, Canadá, México, Chile, Equador, Paraguai, Porto Rico, Portugal, Áustria, Bélgica, Bulgária, Dinamarca, Estônia, França, Finlândia, Itália, Noruega, Rússia, Reino Unido, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia.

 

POR QUÊ?

São várias as razões que levam os pais a optar pela educação domiciliar. As principais são o desejo de oferecer uma educação de qualidade para os filhos, explorando ao máximo seu potencial; uma formação que preserve os princípios morais da família; e uma socialização mais ampla com indivíduos de todas as idades.

O homeschooling também é uma opção diante de fatores como a insatisfação com o ambiente escolar, motivada pela violência, bullying, pressões sociais inadequadas, insegurança e exposição dos filhos a amizades indesejadas; má qualidade da educação escolar; e ensinamentos sobre valores contrários àqueles ensinados no seio da família do estudante; e o preço das mensalidades nas escolas particulares.

Os adeptos do homeschooling defendem que essa modalidade proporciona maior amadurecimento, a disciplina de estudo e o gosto pelo aprendizado. A prática também ajuda a desenvolver estratégias de aprendizado, gera adultos seguros e com uma autoestima sólida. Favorece, ainda, o empreendedorismo e produz bons resultados acadêmicos.

 

PAIS EDUCADORES

Os pais que optam pela educação domiciliar precisam estar dispostos a investir tempo e recursos na formação intelectual de seus filhos.

Os chamados pais educadores não se entendem como professores nem querem assumir esse papel. Segundo a proposta do homeschooling, os pais são facilitadores entre os filhos e o seu conhecimento. Para isso, é importante que tanto o pai quanto a mãe estejam de acordo com essa decisão para poderem se dedicar aos estudos, mudar a rotina e conhecer as implicações legais dessa opção.

 

EM CASA

A veterinária Angela Caldas, 30, e seu esposo, o economista Gustavo Caldas, 35, vivem em Curitiba (PR) e optaram pela educação domiciliar de suas duas filhas: Catarina, 4, e Olívia, 3. Ela contou ao O SÃO PAULO que já vinha “namorando” a proposta do homeschooling havia algum tempo. Nos últimos anos, dedicada à carreira acadêmica, terminando um doutorado e com horários mais flexíveis, começou a pensar mais concretamente na ideia.

“Optamos, em primeiro lugar, pelo convívio familiar, para termos mais oportunidade de convivência com elas. Depois, porque avalio que a escola não tem muito a contribuir na primeira infância, uma vez que é uma idade em que a questão mais sensível é justamente a construção da afetividade. Nesse aspecto, não há nada que substitua a família”, afirmou Angela.

Catarina segue um currículo voltado para sua idade, preparado pela mãe. Como falta material didático próprio para essa modalidade no Brasil, Angela tomou como base o currículo norte-americano. “Esse currículo é mais amplo em matérias. Tem a linguagem, literatura e artes. É uma mistura com a educação clássica e muitas atividades pedagógicas. Permite que a criança trabalhe a sua realidade, por meio do mecanismo natural da observação da natureza, do belo e do bom”, explicou.

Já Olívia não está em idade escolar obrigatória e, por isso, ainda não segue um currículo formal. “Ela circunda todas essas atividades da irmã. Agora estou introduzindo atividades de desenvolvimento de motricidade, por exemplo”, acrescentou a mãe.

Angela também é formada em Pedagogia e reconhece que isso a ajudou na elaboração do currículo das filhas. Porém, ela explicou que os pais têm acesso a diversos materiais e grupos de formação. Uma dificuldade dos pais educadores é a falta de material em Português, justamente por ainda não haver regulamentação do homeschooling.

 

ECONOMIA

“Embora não seja a principal razão apontada pelos pais, o homeschooling impacta positivamente na economia da família. Claro que a preocupação maior é a formação; se não fosse isso, ninguém faria essa opção, pois dá um trabalho enorme. É muita dedicação, é quase uma escolha de vida”, disse Angela, que além da educação das filhas está concluindo o doutorado e vivencia a fase final de sua terceira gestação. 

RESSALVAS

Educadora há mais de 30 anos, Simone Fuzaro, que também é colunista do O SÃO PAULO, reconhece os as pectos positivos do homeschooling, mas chama a atenção para algumas questões que considera importantes.

Uma das principais ressalvas feitas sobre a educação domiciliar é a dificuldade para o desenvolvimento da sociabilidade das crianças e adolescentes. Simone enfatizou que é importante para as crianças o convício com outras da mesma faixa etária. “Quando esse trabalho é feito em casa, mesmo que se tenha muitos filhos, o relacionamento é afetivamente de outra natureza, pois são irmãos. Portanto, já existe um vínculo pautado de outro modo. Não é como um amigo que ele conhece na escola, com a mesma idade, interesses parecidos, mas com outro vínculo que precisa ser construído”. Ainda segundo a educadora, o conhecimento produzido no grupo é sempre rico. “São pontos de vista e focos de interesse diferentes. Um motiva o outro com o seu olhar. As situações de aprendizagem são muito enriquecedoras no ambiente escolar”, acrescentou, alertando para o perigo de, mesmo com as melhores intenções, “superproteger os filhos”.

 

COLABORAÇÃO

Nesse aspecto, os pais educadores afirmam que o fato de optarem pela educação em casa não significa que ela ficará restrita ao núcleo familiar. Existem redes de apoio que promovem atividades complementares, trocas de experiências e interação entre os estudantes.

Em Curitiba, Angela e suas filhas participam de encontros semanais com outras famílias adeptas do homeschooling, com filhos de diversas idades, de bebês a adolescentes. Esse grupo promove feiras de artes e ciências, festas temáticas, passeios a museus e parques.

Os defensores da modalidade ressaltam que educar em casa não significa ensinar conteúdos, como acontece na educação formal, mas é treinar o filho para aprender. Por isso, os pais não têm o dever de compreender todas as áreas do conhecimento. “As crianças não são homogêneas, assim como suas habilidades também não. Quando uma criança ficar mais velha, o pai não precisa dominar o assunto de Física, por exemplo. Ele pode contratar um professor ou colocar seu filho em um curso de robótica, por exemplo, no qual ele vai aprender os conceitos de Física”, ressaltou Angela.

 

 

Regulamentação trará segurança às famílias

No julgamento de 12 de setembro, a maioria do STF entendeu que é necessária a frequência da criança na escola formal, para que seja garantida a convivência com os estudantes de origens, valores e crenças diferentes, por exemplo. Os ministros argumentaram, ainda, que, conforme a Constituição Federal, o dever de educar implica cooperação entre Estado e família, sem exclusividade dos pais.

Os ministros, no entanto, dividiram-se sobre uma possibilidade futura de adoção dessa modalidade de ensino no País. Para a maioria – Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Rosa Weber, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Marco Aurélio Mello e Cármen Lúcia – a prática poderá se tornar válida se aprovada uma lei que permita avaliar não só o aprendizado, mas a socialização do estudante educado em casa. Dois ministros – Luiz Fux e Ricardo Lewandowski – entenderam que a Constituição não admite a educação domiciliar.

O único que votou pela permissão do homeschooling foi o relator, Luís Roberto Barroso, condicionando a prática à obrigação dos pais de submeterem os filhos educados em casa às mesmas avaliações dos alunos de uma escola.

Em novembro de 2016, o próprio Barroso determinou a suspensão dos vários processos abertos contra pais por descumprirem a obrigatoriedade de matricular as crianças na escola. Em geral, essas ações são civis e as condenações resultam em multas, não havendo risco concreto de os pais serem presos ou perderem a guarda dos filhos por educá-los em casa. Com a decisão do STF, esses processos correm o risco de serem retomados, assim como outras famílias de serem processadas.

 

PROJETO DE LEI 

A esperança das famílias educadoras está no fato de o Supremo não ter declarado a inconstitucionalidade do homeschooling, pois, no momento, a Constituição não proíbe nem garante sua prática até que seja regulamentada.

Desde 2012, tramita no Congresso um projeto de lei (PL 3179/2012) que trata do acréscimo de um parágrafo ao art. 23 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), para dispor sobre a possibilidade de oferta domiciliar da Educação Básica.

Para Angela Caldas, a regulamentação garantirá uma educação domiciliar com qualidade. “Nós já temos um currículo mínimo estabelecido para as escolas e não precisamos de nada além disso. As famílias têm condições de conduzir o aprendizado dos filhos em volta desse currículo básico. Eu acho que isso não vai ser incompatível com nenhuma família”, defendeu

De igual modo, os pais não se opõem à existência de uma avaliação do desempenho de seus filhos. “Nos países onde o homeschooling é formalizado, é exatamente isso que acontece. As crianças são avaliadas”, enfatizou Angela, ressaltando que quem opta pela educação domiciliar não é contra a escola. “Eu estudei na escola e adorava, mas é um direito dos pais optar pela educação domiciliar, uma vez que não causa nenhum malefício”, concluiu.

(Colaborou: Jenniffer Silva)
 

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História de ‘gênio’ da educação no Brasil desperta interesse de pesquisadora italiana

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05 de novembro de 2018

O que há em comum entre uma pesquisadora italiana e uma escola estadual de Ensino Médio na zona Leste de São Paulo?  O nome de uma pessoa pouco conhecida tanto na Itália quanto no Brasil, mas dotada de uma genialidade que influenciou o movimento pedagógico brasileiro: trata-se do professor Clemente Quaglio. 

Sua história veio à tona quando a bibliotecária Valeria Duò, durante uma pesquisa acadêmica em sua cidade natal, Villa d’Adige, província de Rovigo, na Itália, descobriu a existência do “el professore merican” (professor americano no dialeto local) que dá nome à escola na Vila Oratório. Quanto mais pesquisava, mais se encantava por essa “figura desconhecida”.

Nascido em 7 de junho de 1872, em Villa d’Adige, ele emigrou para o Brasil aos 16 anos, com seus pais e irmãos, fixando-se na cidade Serra Negra (SP). Intelectual autodidata e sem títulos acadêmicos, Quaglio foi nomeado, em 1895, professor primário após exames de ingresso no magistério público, sendo indicado para uma escola em Serra Negra.

 

PESQUISAS

No início do século XX, o italiano saiu do anonimato ao implantar, em 1909, nas dependências de uma escola de sua propriedade na cidade de Amparo (SP), um dos primeiros gabinetes de Antropologia Pedagógica e Psicologia Experimental no Brasil, influenciado pelo pedagogo Ugo Pizzoli, contemporâneo da famosa pedagoga Maria Montessori. Ali, deu vazão à atração pessoal pela pesquisa, ao promover estudos analíticos sobre a infância, com destaque para experiências sensoriomotoras. 

Quaglio esteve à frente do gabinete até 1930, ano de sua aposentadoria. Na mesma década, o laboratório foi incorporado à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo.

O Pedagogo falava nove línguas fluentemente. Proferiu conferências em Espanhol, Italiano, Alemão e Esperanto, em capitais culturais estrangeiras. Ele foi eleito conselheiro do Instituto Ítalo -Brasileiro de Alta Cultura de São Paulo, sócio honorário da Biblioteca Partenopeu de História, Ciência, Letras e Arte “Ernesto Palumbo”, de Nápoles, na Itália, e recebeu o título de Grande Officiale di Grazia Registrale da Ordem Militar de Santa Brígida, Svezia, na Itália. 

Valeria considera Quaglio um verdadeiro gênio. “Quando ele partiu da Itália era apenas um adolescente. Sua cidade era muito pequena, com cerca de 600 habitantes e lá ainda não havia escola. Ele aprendeu tudo no Brasil, sozinho. E foi esse desejo pelo saber que motivou toda a sua contribuição para a educação”. 

 

LEGADO

Clemente Quaglio morreu em 16 de maio de 1948, em São Paulo, deixando mais de 50 publicações científicas. Dez anos depois de sua morte, Jânio Quadros, então governador do Estado de São Paulo, assinou o decreto que dava o nome de Professor Clemente Quaglio a um grupo escolar na Vila Oratório, hoje uma escola de Ensino Médio em tempo integral. 

“Desde que soube da existência dessa escola, eu senti o desejo de conhecê-la. No primeiro número do jornalzinho da escola, feito pelos alunos, há um resumo da história de Clemente Quaglio. Fiquei muito feliz em saber que os estudantes se interessam por conhecer melhor uma personalidade importante não só para a escola como para a educação. Seu exemplo pode inspirá-los a se interessarem pela transformação do mundo à sua volta”, contou Valéria, que visitou a instituição no dia 8 de outubro. 

 

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