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Educação é a chave para o avanço cristão no Paquistão

Por MARCIO MARTINS
05 de novembro de 2019

Os cristãos e outras minorias no Paquistão enfrentam uma série de desafios de grupos religiosos fundamentalistas

O bispo Samson Shukardin dirige a Diocese de Hyderabad, uma das sete dioceses do Paquistão. É o lar de 60 mil cristãos, metade dos quais são tribais. A Diocese opera 56 escolas, acomodando mais de 13 mil estudantes. Os cristãos e outras minorias no Paquistão enfrentam uma série de desafios de grupos religiosos fundamentalistas. Dom Samson falou com a ACN sobre a importância da educação para a tolerância religiosa.

O CRISTIANISMO ESTÁ SENDO REPRESENTADO DE FORMA NEGATIVA NOS LIVROS USADOS NAS ESCOLAS PÚBLICAS?
As minorias são consideradas infiéis e são representadas negativamente nos livros didáticos, que promovem preconceitos contra as minorias.

AS ESCOLAS PÚBLICAS SÃO UM AMBIENTE DESAFIADOR PARA OS CRISTÃOS?
Tudo depende de onde a escola está e como ela é orientada. Muitas minorias dão a seus filhos nomes islâmicos para que eles não sejam identificados como cristãos, e se tornem alvos potenciais para a discriminação nas escolas de ensino básico ou mesmo nas universidades. Em muitos casos, os estudantes cristãos sofrem abusos nas escolas públicas.

A EDUCAÇÃO SERIA A MAIOR NECESSIDADE DA IGREJA NO PAQUISTÃO?
Precisamos de mais escolas e assistência financeira para famílias pobres. Também precisamos de recursos para ajudar as famílias carentes a enviar seus filhos para a faculdade. A educação é fundamental para transformar a sociedade.

POR QUE OS RADICAIS ODEIAM TANTO O CRISTIANISMO?
Os fundamentalistas acreditam que o Islã é a única religião completa — que a salvação só é encontrada no Alcorão, considerado como o último livro sagrado. Eles acreditam na Bíblia como um livro de Deus, porque muitas coisas no Alcorão são baseadas na Bíblia. Há respeito por Jesus e Nossa Senhora — isso vale tanto para os fundamentalistas quanto para os muçulmanos moderados. No entanto, o Cristianismo é associado ao Ocidente e à União Europeia, razão principal dos extremistas muçulmanos rejeitarem os cristãos e outras minorias. No entanto, há muito mais ataques em mesquitas do que em igrejas, ou seja, muçulmanos fundamentalistas matando colegas muçulmanos moderados.

QUAIS SÃO ALGUMAS DAS MANIFESTAÇÕES MAIS DOLOROSAS E PREJUDICIAIS DO ISLÃ RADICAL NO PAQUISTÃO?
Não há nenhuma oportunidade para que outros grupos minoritários possam ter uma vida normal. Claramente, nem todos os muçulmanos são fundamentalistas. A maior parte é formada por pessoas muito boas. O problema é a lei da blasfêmia, os sequestros e casamentos forçados. Os muçulmanos acreditam que a conversão de uma pessoa para o Islã lhe garanta a vida eterna, e assim acabam acontecendo os sequestros e os casamentos forçados, que são mais comuns em áreas rurais, onde as pessoas têm pouca educação. As minorias também sofrem discriminação no trabalho e nos direitos como cidadãos.

QUAL FOI O IMPACTO DA ABSOLVIÇÃO De aSIA BIBI E SUA PERMISSÃO PARA ABANDONAR O PAÍS?
O caso de Asia Bibi é um grande crédito para o governo. Os cristãos do Paquistão são muito gratos ao governo atual. Mas há  uma série de outros casos como o dela, mas que não possuem a mesma publicidade. Nos últimos 20 anos, houve mais de 1,5 mil casos de indivíduos acusados pela lei da blasfêmia, muitos deles de grupos minoritários muçulmanos.

APESAR DAS AMEAÇAS, A FÉ DA COMUNIDADE CRISTÃ É MUITO FORTE. AS IGREJAS ESTÃO CHEIAS AOS DOMINGOS. COMO o senhor EXPLICA ISSO?
Apesar de todas as dificuldades e discriminações, a comunidade cristã é muito forte no seu sistema de crenças. As igrejas estão cheias nos fins de semana, nas celebrações e feriados religiosos. O povo está orgulhoso de sua fé e a Igreja é a fonte da vida e o incentivo de sua fé.

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