'Amemos muito a Jesus Cristo e sua/nossa Igreja'

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04 de mai de 2017

O próximo sábado, dia 6, às 12h, na Catedral da Sé, a Arquidiocese de São Paulo se unirá para a missa em ação de graças pelos dez anos de arcebispado do Cardeal Odilo Pedro Scherer. Nascido em Cerro Largo (RS), em 21 de setembro de 1949, Dom Odilo foi ordenado padre na Diocese de Toledo (PR) em 1976 e nomeado bispo auxiliar para a Arquidiocese de São Paulo em novembro de 2001. Sua ordenação episcopal aconteceu em 2 de fevereiro de 2002, pela imposição das mãos do Cardeal Cláudio Hummes, então arcebispo metropolitano. Em 29 de abril de 2007, Dom Odilo tomou posse como arcebispo de São Paulo, após ter sido nomeado pelo Papa Bento XVI, que no mesmo ano, no dia 24 de novembro, o fez cardeal.

 Nesta edição, o O SÃO PAULO apresenta das páginas 12 a 14 os feitos pastorais de Dom Odilo ao longo destes dez anos como arcebispo metropolitano, e nesta entrevista ele conta sobre suas peculiaridades de fé e sobre o dia a dia de trabalho. Dom Odilo também diz a respeito do que espera do sínodo que será proposto à Arquidiocese ainda este ano. “Os frutos virão a seu tempo e tenho a certeza de que serão muitos! Sobretudo, espero a renovação da consciência eclesial, uma nova atitude missionária, a renovação do fervor cristão e a revitalização de nossas organizações pastorais”. A seguir, leia a íntegra da entrevista.

O SÃO PAULO – Como é o dia a dia do arcebispo de São Paulo? Quais as principais atribuições do senhor?

Cardeal Odilo Pedro Scherer - Meu dia começa cedo, às 6h, com um pouco de ginástica, a oração e a missa. Depois, trabalho até às 24h no atendimento de pessoas, em reuniões, celebrações, despachos de ofício e no trânsito de São Paulo... Minhas atribuições são aquelas próprias de um bispo diocesano, que deve coordenar, animar e acompanhar toda a vida da Arquidiocese no sentido pastoral, litúrgico, administrativo e de relações públicas. Para isso, é claro, conto com a ajuda de numerosos colaboradores.

Como o senhor conjuga essa demanda de serviços à Arquidiocese com a sua espiritualidade?

O tempo para a oração e para a celebração da Eucaristia não falta; de resto, vivo a espiritualidade do Bom Pastor, que dá a vida pelas ovelhas. Procuro fazer com caridade pastoral tudo o que faço e isso me dá muita disposição e luzes para o trabalho. De resto, é preciso cuidar da organização e disciplina no trabalho.

E como concilia as funções na Arquidiocese com os compromissos de cardeal?

Os compromissos específicos de cardeal não são muitos e se resumem, ordinariamente, a manter em dia correspondências e contatos pertinentes, além das reuniões ocasionais em Roma. De resto, a quase totalidade do meu tempo está dedicada às responsabilidades na Arquidiocese de São Paulo.

O senhor tem alguma devoção particular?

A Eucaristia ocupa o lugar central na minha devoção; mas tenho afeição pessoal por Nossa Senhora desde a infância e por Santa Teresinha do Menino Jesus desde a adolescência. Aqui em São Paulo, valorizo a devoção ao apóstolo São Paulo, patrono de nossa Arquidiocese, e a devoção aos santos que viveram nesta cidade. Acho muito forte pensar que vivemos aqui e exercemos nossa missão nesta cidade onde São José de Anchieta, Santo Antônio de Santana Galvão, Santa Paulina, o Beato Padre Mariano e a Beata Assunta viveram e exerceram sua bela missão. Nós somos humildes continuadores da missão exercida aqui, antes de nós, por esses grandes na fé e na missão! Eles são parte desta Igreja em São Paulo e nos ajudam!

Hoje algo tira o sono do arcebispo de São Paulo?

Não. Trabalho bastante e depois vou dormir, confiando em Deus. E só o despertador me tira o sono...

O senhor tem algum hobbie?

Gosto de mexer na terra e com plantas; mas isso tornou-se praticamente impossível. Gosto também de ouvir música enquanto trabalho em casa. E quando dá, gosto de fazer longas caminhadas na natureza.

Em muitas mensagens e documentos que o senhor dirigiu à Arquidiocese, há a ênfase de que “Deus habita esta cidade”. Por quê?

Porque isso é verdade. É uma afirmação de fé, pois Deus nunca está ausente do meio do seu povo, nem o abandona. Mesmo com todos os problemas, sempre temos a certeza de que Deus não está longe. Eu não poderia imaginar a cidade de São Paulo sem que Deus também habitasse nela... Ao mesmo tempo, a proclamação de que Deus habita esta cidade representa um compromisso para quem crê: precisamos ser testemunhas e servidores dessa presença boa e amorosa de Deus na cidade. Como Igreja, tudo o que somos e fazemos deve testemunhar a presença e a ação de Deus na cidade de São Paulo.

Ao completar dez anos como arcebispo, o senhor propõe à Igreja em São Paulo a realização de um sínodo arquidiocesano. Por quê? Que frutos podem ser conseguidos com um sínodo?

O sínodo arquidiocesano será proposto como uma grande e envolvente ação eclesial de toda a Arquidiocese, para verificar, avaliar e repensar toda a nossa ação evangelizadora e pastoral. Precisamos tomar nova consciência sobre como estamos, o que fazemos, como fazemos, se fazemos bem, se podemos fazer melhor ou diversamente, para conseguir melhores frutos. Quais são os desafios atuais e o que deve ser assumido com mais urgência? Onde a nossa missão está falha? Que lacunas temos? Que decisões devemos tomar para realizar bem, agora e no futuro próximo, a vida e a missão da Igreja na Arquidiocese de São Paulo? Um sínodo requer muita oração e ajuda do Espírito Santo; ao mesmo tempo, supõe um amplo envolvimento de todos: clero, religiosos e leigos. Os frutos virão a seu tempo e tenho a certeza de que serão muitos! Sobretudo, espero a renovação da consciência eclesial, uma nova atitude missionária, a renovação do fervor cristão e a revitalização de nossas organizações pastorais.

Para finalizar, que presente o senhor pediria aos fiéis na Arquidiocese?

Amemos muito a Jesus Cristo e sua/nossa Igreja. Mantenhamo-nos unidos e perseverantes na fé, em torno do altar, da Palavra de Deus, do Papa e dos legítimos pastores da Igreja. E sejamos alegres e gratos a Deus pelo dom da fé que nos deu.

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Santa Sé revisa constituição sobre educação católica

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30 de março de 2017

O arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, participou entre os dias 7 e 9, em Roma, da assembleia da Congregação para a Educação Católica, da qual é membro desde 2013.

O assunto principal desta assembleia é a revisão e atualização da Constituição Apostólica Sapientia Christiana, que apresenta as Diretrizes da Igreja Católica para as universidades e instituições eclesiásticas de ensino de nível superior. “Por outro lado, estará em discussão e elaboração também um Diretório para a Educação Católica”, informou o Cardeal Scherer ao O SÃO PAULO.

Este organismo da Cúria Romana tem a missão de acompanhar e aprovar todas as instituições de ensino católicas do mundo, sejam elas escolas, colégios, universidades, faculdades ou instituição de ensino superior que ofereçam não somente estudos eclesiásticos, mas também civis. É também de responsabilidade desta Congregação a supervisão dos cursos de Teologia e Filosofia voltados especialmente para a formação de sacerdotes.

A assembleia acontece a cada dois anos em média, e será a primeira sob o comando do novo prefeito, Cardeal Giuseppe Versaldi, no cargo desde março de 2015. A Congregação para a Educação Católica é constituída de 34 membros, dos quais 30 cardeais e quatro arcebispos, além de 27 consultores.

Constituição apostólica

Publicada por São João Paulo II, em 15 de abril de 1979, a Constituição Apostólica Sapientia Christiana define por universidades e faculdades eclesiásticas aquelas que “canonicamente erigidas ou aprovadas pela Sé Apostólica, cultivam e ensinam a doutrina sagrada e as ciências que com ela estão correlacionadas, com o direito de conferir graus acadêmicos por autoridade da Santa Sé”.
 
A proposta de atualização e revisão do texto tem o objetivo de responder adequadamente às novas exigências do tempo presente e garantir que seja respeitada “certa unidade substancial” nas instituições de ensino católicas, uma vez que essas conferem títulos acadêmicos em nome da Igreja.
A Sapientia Christiana determina que as finalidades das faculdades eclesiásticas são: “Cultivar e promover, mediante a investigação científica, as próprias disciplinas, e em primeiro lugar aprofundar o conhecimento da revelação cristã e das matérias que com esta têm conexão, explanar sistematicamente as verdades que nela se contêm, considerar os novos problemas do nosso tempo à luz da mesma, e apresentá-la ao homem contemporâneo de forma adequada às diversas culturas”;
“Formar os alunos, a nível superior de alta qualificação, nas próprias disciplinas segundo a doutrina católica, e prepará-los convenientemente para afrontarem os seus encargos; e ainda, promover a formação continuada, ou permanente, dos ministros da Igreja”;
E, por fim, “colaborar dedicadamente com a Igreja, quer a nível das Igrejas particulares, quer a nível da Igreja universal, em toda a obra da evangelização, segundo a própria natureza e em estreita comunhão com a hierarquia”.

Ensino superior

Segundo a Congregação para a Educação Católica, existem no mundo mais de 1.300 instituições de ensino superior, entre universidades, faculdades e institutos eclesiásticos.
Além dessas instituições, há seminários e centros de estudo agregados a pontifícias universidades. Só nos últimos três anos, foram instituídas 13 faculdades e institutos eclesiásticos, entre os quais, a Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo, da Arquidiocese, fundada em 2014.

Escolas católicas

Os participantes da assembleia também tiveram acesso a um relatório do departamento responsável pelo acompanhamento das escolas católicas. Tais números mostram que, em geral, houve um crescimento do número de estudantes dessas escolas no mundo. Mas, em alguns continentes, diminuiu o número de instituições.  

O Anuário Estatístico da Igreja contabilizava 209.670 escolas católicas no mundo em 2011, enquanto em 2014 já eram 216.670, o que significa um crescimento de mais de 6 mil instituições.

Quando os números são vistos por continentes, percebe-se que na África houve o maior crescimento, de 62.082 para 69.926, seguida da Ásia, de 39.896 para 40.764, e Oceania, de 5.430 para 5.911. Já a América e Europa tiveram um decréscimo. O continente americano perdeu 2.547 escolas católicas, tendo agora 49.839 instituições, enquanto a Europa perdeu 114 instituições, ficando com 49.762.

Em relação ao número de estudantes, houve um crescimento de mais de 2,7 milhões de alunos em todo o mundo, o que significa um total de 60,3 milhões. O maior crescimento também foi na África, de 22 milhões para 24 milhões de estudantes.  Já a Europa foi o único continente que teve uma diminuição de alunos em escolas católicas, 113.106 a menos.

Educar é o exercício da ‘caridade intelectual’

O primeiro dia da assembleia contou com a presença do Papa Francisco. Em seu discurso, o Pontífice afirmou que a educação e a formação constituem hoje um dos desafios mais urgentes que a Igreja e as suas instituições são chamadas a enfrentar.
 
O Santo Padre salientou ainda que o trabalho da Congregação para a Educação Católica na assembleia contribui para responder à atual “emergência educativa”. “A obra educativa parece que se tornou ainda mais árdua porque, em uma cultura que, infelizmente, muitas vezes faz do relativismo o próprio credo, vem a faltar a luz da verdade. De fato, considera-se perigoso falar de verdade, incutindo assim a dúvida sobre valores básicos da existência pessoal e comunitária”, disse.  
 
“Por isso, é importante o serviço que desenvolvem no mundo as numerosas instituições formativas que se inspiram na visão cristã do homem e da realidade: educar é um ato de amor, exercício da ‘caridade intelectual’, que requer responsabilidade, dedicação, coerência de vida”, concluiu o Papa.

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São Paulo: de destruidor a edificador da Igreja

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28 de março de 2017

No dia 25 de janeiro, celebramos a Conversão de São Paulo, data em que a arquidiocese de São Paulo também comemora o Apóstolo como seu Patrono e intercessor junto de Deus. A ele nos voltamos para aprender sempre mais o seu amor e sua dedicação generosa à Igreja de Cristo.

A festa da Conversão de São Paulo se refere a um acontecimento extraordinário na vida do Apóstolo, que o fez mudar de atitude radicalmente: de perseguidor a edificador da Igreja. Como compreender tão profunda mudança?

Saulo assistiu o apedrejamento de Estêvão: talvez ainda fosse muito jovem para participar da execução, mas “as testemunhas deixaram seus mantos aos pés de um jovem chamado Saulo, enquanto apedrejavam Estêvão” (At 7, 58-59). Mas, o autor dos Atos dos Apóstolos faz notar a sua cumplicidade: “e Saulo estava lá, consentindo na execução de Estêvão” (At 8,1).

Após esse apedrejamento, começou uma grande perseguição aos cristãos, que se dispersaram pela Judeia e a Samaria. E então o papel ativo de Saulo aparece mais claramente: “Saulo, entretanto, devastava a Igreja: entrava nas casas e arrastava para fora homens e mulheres, para atirá-los na prisão” (At 8,3).

Em várias passagens dos seus escritos, ele próprio explica que sua primeira relação com a Igreja não foi exatamente amistosa; muito pelo contrário! Aos Gálatas, Paulo recorda sua formação na juventude e o seu apego às tradições paternas; em seu ardor juvenil, ele via na comunidade dos cristãos um desvio daquelas mesmas boas tradições; estas deviam ser defendidas com firmeza contra quaisquer desvirtuamento: “ouvistes falar como foi outrora a minha conduta no judaísmo: com que excessos eu perseguia e devastava a Igreja de Deus” (Gl 1,13). Paulo fala isso para justificar que o Evangelho pregado por ele não vem de conveniências humanas, mas está fundado num fato extraordinário em sua vida.

Na Carta aos Filipenses, ele volta ao tema: criticado de ser um traidor da religião dos pais e de não ser um pregador verdadeiro, Paulo afirma que teria todos os motivos para se gloriar de sua carreira religiosa no judaísmo: “fui circuncidado ao oitavo dia, sou da raça de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu, filho de hebreus; fariseu, quanto à observância da lei; no tocante ao zelo, perseguidor da Igreja; quanto à justiça que vem da Lei, irrepreensível” (Fp 3,5-6). Ser perseguidor da Igreja contava entre as suas glórias, antes da conversão.

Num belo trecho da Primeira Carta aos Coríntios, ele faz um belo resumo do querigma que anuncia, falando da morte de Jesus na cruz por nossos pecados, da sua ressurreição, das aparições aos apóstolos e outras testemunhas e, finalmente, da aparição a ele próprio: “por último, apareceu também a mim, que sou como um aborto. Pois eu sou o menor dos apóstolos e nem mereço o nome de apóstolo, pois eu persegui a Igreja de Deus” (1Cor 15, 8-9). Ele recorda com dor o fato de ter perseguido a Igreja.

Mas, o que foi que aconteceu para que sua vida mudasse tão radicalmente? Deve ter sido algo muito forte e convincente, a ponto de abandonar as convicções e o entusiasmo cego de outrora; em vez de perseguir, passou a ser um dos perseguidos! Ele próprio refere ao espanto que sua conversão causava nos cristãos, que diziam: “aquele que antes nos perseguia, agora está pregando a fé que procurava destruir!” (Gl 1,23).

Toda a explicação está nas palavras que ele ouviu no caminho de Damasco: “Por que me persegues?” Essa voz mexeu na sua consciência e ele quis saber de quem era: “Quem és tu?”, pergunta. E ouve aquilo que mudou a sua vida: “Eu sou Jesus, a quem tu estás perseguindo” (At 9, 4-5). Uma luz fortíssima o iluminou e lhe fez ver claro o novo caminho a seguir. Naquele momento, Paulo compreendeu o que é a Igreja: é o próprio Jesus, que continua vivo e presente na pessoa dos cristãos. Por isso, perseguir a Igreja é perseguir a Cristo; servir a Igreja é servir a Cristo; dedicar-se à missão da Igreja é dedicar-se à missão de Cristo. A Igreja é o próprio “corpo de Cristo” no mundo.

Não é diferente da experiência dos demais apóstolos, que ouviram do próprio Jesus: “quem vos ouve, a mim ouve; quem vos despreza, a mim despreza” (Lc 10,16). Ou ainda: “eu estarei sempre convosco, até o fim dos tempos” (Mt 28,20).

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