VATICANO

SÍNODO PARA A AMAZÔNIA

Documento final: conversão integral, pastoral, ecológica e sinodal

Por Fernando Geronazzo
01 de abril de 2020

Síntese dos principais assuntos do documento

Conversão, missionariedade, defesa da vida e da criação são as palavras-chave do Documento Final da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Amazônia, aprovado e divulgado no sábado, 26. 
No texto, que não é deliberativo, mas apenas consultivo, os padres sinodais fazem um diagnóstico sobre a realidade dos povos amazônicos e apresentam ao Papa sugestões para a ação evangelizadora da Igreja nessa região. 
O jornal O SÃO PAULO apresenta a seguir uma síntese dos principais assuntos do documento: 

CAPÍTULO I
Conversão integral

O texto ressalta a beleza da vida na Amazônia, que hoje é “ferida e deformada” pela dor e violência. Dentre as ameaças elencadas, estão: apropriação e privatização dos bens da natureza; modelos predatórios de produção; desmatamento; poluição das indústrias extrativistas; mudanças climáticas; narcotráfico; alcoolismo; tráfico de seres humanos; a criminalização de líderes e defensores do território; grupos armados ilegais. 
Migração – O crescente fenômeno migratório também está presente no texto, que indica três níveis: mobilidade de grupos indígenas em territórios de circulação tradicional; deslocamento forçado de populações indígenas; migração internacional e refugiados.
Os bispos reforçam que é necessário um cuidado pastoral nas regiões de fronteira, voltado para os migrantes e vítimas do tráfico humano. Em relação ao deslocamento forçado de famílias indígenas para os centros urbanos, sugere-se a criação de equipes missionárias que favoreçam a integração dessas comunidades nas cidades.

CAPÍTULO II
Conversão pastoral

Enfatizando a natureza missionária da Igreja, o documento recorda que a comunidade eclesial deve ser “samaritana”, indo ao encontro de todos; “Madalena”, amada e reconciliada para anunciar com alegria o Cristo ressuscitado; e “Mariana”, geradora de filhos para a fé entre os povos a que serve.
A assembleia sinodal não deixa de mencionar os muitos missionários que deram a vida para anunciar o Evangelho na Amazônia e sugere que as congregações religiosas do mundo estabeleçam pelo menos um posto missionário em um dos países da Amazônia. 
Ecumenismo – O documento considera o diálogo ecumênico e inter-religioso como “caminho indispensável da evangelização na Amazônia”. Reconhece que “as relações entre católicos e pentecostais, carismáticos e evangélicos não são fáceis” na região. “O fato de que alguns fiéis católicos se sintam atraídos por essas comunidades é motivo de atrito, mas pode converter-se, da nossa parte, em um motivo de exame pessoal e renovação pastoral”, aponta-se no texto. 
No âmbito inter-religioso, o documento incentiva um maior conhecimento das tradições religiosas dos povos locais, a fim de que cristãos e não cristãos possam agir juntos em defesa da “casa comum”. 
Indígenas e jovens – O documento também recorda a urgência de uma pastoral indígena que tenha um lugar específico na Igreja, especialmente para os jovens, imersos em uma crise de valores, vítimas da pobreza, violência, desemprego, novas formas de escravidão e dificuldade de acesso à educação. Muitos desses, alertam os bispos, acabam na prisão ou até no suicídio.
O texto conclusivo do Sínodo também se dedica ao tema da pastoral urbana, com um foco particular nas famílias, que, sobretudo nas periferias, sofrem com a pobreza, desemprego, falta de moradia e problemas de saúde. 

CAPÍTULO III
Conversão cultural

Para os padres sinodais, inculturação e interculturalidade são instrumentos importantes para alcançar uma conversão cultural que leva o cristão a ir ao encontro do outro e aprender com ele. 
Na perspectiva da inculturação, é dado espaço à piedade popular, cujas expressões devem ser valorizadas, acompanhadas, promovidas e, às vezes, “purificadas”, pois são momentos privilegiados de evangelização que devem conduzir ao encontro com Cristo.
O documento propõe que os centros de pesquisa da Igreja estudem e recolham as tradições, as línguas, as crenças e as aspirações dos povos indígenas, encorajando o trabalho educativo a partir da sua própria identidade e cultura.

CAPÍTULO IV
Conversão ecológica

A expressão conversão ecológica teve grande destaque neste Sínodo, que indica a ecologia integral, apontada pelo Papa Francisco na Encíclica Laudato Si’, como o único caminho possível para a Amazônia. A esperança é que, reconhecendo “as feridas causadas pelo ser humano” ao território, sejam procurados “modelos de desenvolvimento justo e solidário”.  
O documento reafirma o empenho da Igreja em defender a vida “desde a concepção até o seu fim” e em promover o diálogo intercultural e ecumênico para conter as estruturas de morte, pecado, violência e injustiça. 
Os padres sinodais propõem a definição de “pecado ecológico” como “ação ou omissão contra Deus, contra o próximo, a comunidade, o meio ambiente”, as futuras gerações e a virtude da justiça.

CAPÍTULO V
Conversão sinodal     

Superar o clericalismo e as imposições arbitrárias, reforçar uma cultura do diálogo, da escuta e do discernimento espiritual e responder aos desafios pastorais são características apontadas pelo documento para definir a conversão sinodal à qual a Igreja é chamada na Amazônia.
Ministérios – Incentiva-se maior participação dos leigos na vida e missão da Igreja, que deve ser reforçada e ampliada a partir da promoção e concessão de ministérios leigos a homens e mulheres. Pedem, inclusive, que se estude a concessão do leitorato e do acolitato a mulheres, ministérios que até o momento só são concedidos a homens leigos. 
O Sínodo aposta, ainda, em uma vida consagrada com rosto amazônico, a partir de um reforço das vocações 
autóctones. 
Foram definidos como urgentes a promoção, formação e apoio aos diáconos permanentes, salientando importância de insistir em uma formação contínua, marcada pelo estudo acadêmico e prática pastoral, na qual sejam envolvidos também esposas e filhos do candidato.
O documento relata que em inúmeras consultas foi solicitado “o diaconato permanente para as mulheres”. O desejo dos padres sinodais é que sejam compartilhadas as experiências e reflexões emergidas até agora com a “Comissão de estudo sobre o diaconato das mulheres”, criada pelo Papa Francisco em 2016, para “aguardar seus resultados”.
Eucaristia e sacerdócio – Ao refletirem sobre a centralidade da Eucaristia à vida cristã, os padres sinodais ressaltaram a dificuldade de algumas comunidades terem acesso a este sacramento, assim como à Reconciliação e à Unção dos Enfermos, devido à falta de sacerdotes. 
Reforçando o apreço pelo celibato como dom de Deus e renovando a oração “para que haja muitas vocações” celibatárias, o documento final propõe “estabelecer critérios e regras por parte da autoridade competente, para ordenar sacerdotes homens idôneos e reconhecidos pela comunidade, que tenham um diaconato permanente fecundo e recebam uma formação adequada para o presbiterado, permitindo ter uma família legitimamente constituída e estável”. O documento reitera, contudo, que, a esse propósito, “alguns se expressaram a favor de uma abordagem universal ao argumento”.
Rito amazônico – O Sínodo também pede a constituição de uma comissão competente para estudar a elaboração de um rito amazônico, que se acrescentaria aos 23 ritos já existentes na Igreja Católica. De igual modo, expressa a urgência de formar comitês para a tradução e a elaboração de textos bíblicos e litúrgicos nas línguas dos diferentes locais, “preservando a matéria dos sacramentos e adaptando-os à forma, sem perder de vista o essencial”. 

(Com informações de Vatican News)

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