VATICANO

Sínodo para a Amazônia

Direitos humanos, migração e formação são destaques do 2º dia do Sínodo

Por Fernando Geronazzo
08 de outubro de 2019

Nas congregações gerais, os padres sinodais refletem sobre os temas do Instrumento de Trabalho e falam sobre suas realidades locais

Os trabalhos da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Amazônia tiveram continuidade nesta terça-feira, 8, no Vaticano. Durante a manhã, houve a 3ª Congregação Geral, com a presença do Papa Francisco, na qual foram apresentadas as intervenções dos participantes sobre os temas abordados no Instrumento de Trabalho.

Esse é o momento em que o Papa escuta tudo aquilo que foi resultado das consultas e encontros pré-sinodais realizados nas comunidades dos nove países que abrangem a região pan-amazônica. Os participantes inscritos têm a oportunidade de se manifestar sobre a realidade local. Cada interessado em fazer uso da palavra tem quatro minutos para apresentar o seu ponto de vista. A cada quatro intervenções há uma pausa para meditação.

As congregações gerais são fechadas e, periodicamente, a Sala de Imprensa da Santa Sé divulga sínteses oficiais dos assuntos discutidos.

A violação de direitos humanos e a criminalização dos líderes das comunidades e dos movimentos sociais estiveram entre os principais assuntos tratados. Também foi tratado o fenômeno migratório na região amazônica, apontou-se a urgência de formação de sacerdotes, consagrados e leigos, além de refletirem sobre caminhos possíveis para os diferentes ministérios em vista de uma vida eclesial que tenha a Eucaristia como centro.  

ORAÇÃO

A oração inicial foi conduzida pelo Arcebispo de Belém (PA), Dom Alberto Taveira, que, recordando as palavras do Salmo do dia (118), que ressalta que a plenitude da lei é o amor. “Somos convidados a proclamar que a Palavra do Senhor é mais doce do que o mel silvestre abundante em nossas terras, e afirmamos a certeza de que da lei de Deus recebemos a inteligência necessária para os trabalhos a serem empreendidos, comprometendo-nos a rejeitar todos os caminhos da mentira”, afirmou.

DIREITOS HUMANOS

Segundo o que foi apresentado, entre 2003 e 2017, morreram 1.119 indígenas por defenderem seus próprios territórios. Muitas vezes, os líderes sociais são vítimas da impunidade e da insuficiência dos poderes estatais que não garantem sua segurança.

Nesse sentido, reafirmou-se que a Igreja deve atuar na defesa daqueles que lutam pela preservação das suas próprias terras por meio da criação de, aonde ainda não existem, redes específicas de proteção ou, em âmbito diocesano, ações permanentes de solidariedade de promoção da justiça social.

De acordo com a síntese publicada pela Sala de imprensa da Santa Sé, foi afirmado várias vezes nas intervenções que a tarefa da Igreja deve ser a de “levantar a voz contra os projetos que destroem o ambiente”.

Ao mesmo tempo, os Padre Sinodais evidenciaram a importância de promover uma política mais participativa e uma economia afastada da “cultura do descarte”, apostando, antes de tudo, em experiências de economia alternativa, como as das pequenas cooperativas que comercializam produtos da floresta, sem passar pela grande produção.

MODELOS DE EXTRATIVISMO 

Também fio abordada a questão da contaminação do rios, nos quais são despejados os resíduos das atividades minerárias, e do desmatamento, ameaça cada vez mais concreta na Amazônia, devido à venda de madeira ou pela cultivação de coca, “mas favorecida por uma legislatura ambiental frágil que não tutela as riquezas e as belezas naturais do território”.

Sobre este aspecto, houve padres sinodais que afirmaram que a Igreja é chamada a denunciar as distorções de modelos de extrativismo predatório, ilegais e violentos, porque o grito de dor da terra depredada é o mesmo dos povos que a habitam. A defesa das populações nativas foi recordada também através do martírio de muitos missionários que deram sua vida pela causa indígena e pela tutela dos que são explorados e perseguidos por ameaças ocultas sob a farsa de “projetos de desenvolvimento”.

MIGRAÇÕES

As intervenções também deram destaque para o tema das migrações, tanto das populações indígenas para as grandes cidades, quanto das populações que atravessam a Amazônia para chegar em outros países.

Foi apontada a necessidade de uma “nova frente missionária no sentido intereclesial”, para uma maior colaboração entre as Igrejas e outros organismos comprometidos, levando em conta os recentes fluxos migratórios da região.

Recordou-se, ainda, que o fenômeno migratório também atinge a juventude da Amazônia, obrigada a deixar suas cidades de origem por causa de desemprego, violências, tráfico de seres humanos, narcotráfico, prostituição e exploração. Nesse sentido, indicou-se que a Igreja reconheça, valorize, sustente e reforce a participação da juventude da Amazônia nos espaços eclesiais, sociais e políticos, enfatizando que os jovens “profetas de esperança”.

FORMAÇÃO

A formação dos responsáveis pela evangelização nas comunidades também foi destacada na Congregação Geral. Salientou-se que diante dos numerosos desafios da atualidade – entre os quais secularismo, indiferença religiosa, proliferação incontrolável de igrejas pentecostais – a Igreja deve aprender a consultar e escutar a voz do laicato.

Indicou-se: uma formação básica nas paróquias, com leitura e meditação da Palavra de Deus; uma formação intensiva em tempo integral, destinada a animadores e animadoras das comunidades, e uma formação teológica sistemática para os candidatos aos ministérios ordenados e para os homens e as mulheres que desejam se comprometer nos ministérios leigos.

Ainda sobre os futuros padres, foi destacado que a formação dos seminaristas seja reconsiderada e se torne mais próxima da vida das comunidades.

 ‘VIRI PROBATI’

A discussão sobre a proposta de ordenação de homens casados das comunidades amazônicas, chamados de “viri probati”, novamente foi trazida por alguns padres sinodais nesta manhã. Nas intervenções, foi lembrado o que o Instrumento de Trabalho destaca sobre a falta de sacerdotes e a dificuldade de levar a Eucaristia aos fiéis: a necessidade de passar de uma “pastoral de visita” a uma “pastoral de presença”, fazendo referência à possibilidade de as comunidades não dependerem apenas dos missionários para terem acesso aos sacramentos da vida cotidiana dos cristãos.

Contudo, houve padres sinodais que alertaram para o fato de que tal proposta baseada apenas no argumento da falta da Eucaristia nas comunidades poderia levar o sacerdote a ser um simples “funcionário da missa” e não, como deveria ser, um pastor da comunidade, um mestre de vida cristã, uma presença concreta da proximidade de Cristo.  

Diante da urgência de pastores para a evangelização da Amazônia, destacou-se a necessidade de maior valorização da vida consagrada, e também uma forte promoção das vocações sacerdotais autóctones ou de ordenar diáconos permanentes que, acompanhados por pastores, possam administrar os sacramentos próprios desse grau da Ordem (Batismo e Matrimônio), celebrar a Palavra de Deus e levar a comunhão eucarística aos fiéis.

(Com informações de Vatican News)

LEIA TAMBÉM:

Papa: coragem e prudência devem orientar os trabalhos do Sínodo

'O Espírito Santo é o protagonista do Sínodo', afirma Papa

Papa Francisco abre Sínodo para a Amazônia

Cardeal Scherer: Sínodo da Amazônia

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.