NACIONAL

Santa Dulce dos Pobres

Das ruas da Bahia para o Brasil e o mundo inteiro

Por José Ferreira Filho
23 de outubro de 2019

Desde sua canonização, cresce o interesse dos fiéis em conhecer o Memorial Irmã Dulce

Roma, cidade da Itália. Roma, bairro de Salvador, Bahia. Dois locais homônimos abrigam a trajetória da menina Maria Rita que se tornou Irmã Dulce e, agora, Santa Dulce dos Pobres: o primeiro foi palco de sua canonização, no último dia 13, pelas mãos do Papa Francisco. O segundo respira o legado de vida daquela mulher franzina que mudaria para sempre a história da capital baiana: o local do antigo galinheiro deu origem às Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), que incluem o Hospital Santo Antônio e o Hospital da Criança, o Santuário Santa Dulce dos Pobres e o Memorial Irmã Dulce, este inaugurado em 1993, um ano após sua morte.
Visitar o Memorial Irmã Dulce é como pisar em suas pegadas e reviver os caminhos e episódios que a tornaram santa. Da grande e icônica fotografia colorida na fachada, que com seu terno olhar convida a uma bela “viagem”, aos fatos inesquecíveis e mais de 800 objetos que demonstram a eloquência de sua força interior, tudo encanta e emociona. De uma de suas paredes, salta aos olhos e ao coração uma frase marcante de Irmã Dulce: “Quando cada um faz um pouco, o pouco de muitos se soma”. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Logo na entrada, vê-se a Capela Santo Antônio, local em que Irmã Dulce costumava rezar com frequência e que se tornaria a segunda guarida de suas relíquias quando ainda era venerável. Por ocasião de seus 70 anos de vida, em 1984, uma fotografia e uma placa em uma das paredes laterais atestam que o local já fora visitado por um santo, São João Paulo II, que aparece ajoelhado num banco, em oração, tornando-se, ao mesmo tempo, sinal da sintonia entre ambos e um irrecusável convite a todo visitante para que se una a eles em preces a Deus. 

FATOS MARCANTES

Numa sala ao lado, lembranças de eventos marcantes. Um deles conta a história de um acidente que aconteceu devido ao choque entre um ônibus e um bonde, em frente à casa onde Irmã Dulce morava com outras religiosas. Na ocasião, o ônibus pegou fogo e as pessoas em seu interior corriam risco de vida. Irmã Dulce imediatamente convocou suas companheiras para que, com baldes d’agua, tentassem apagar aquele incêndio. Percebendo a gravidade da situação e que sua iniciativa seria infrutífera, pois não havia como debelar o fogo nem fazer com que as pessoas conseguissem sair do ônibus, Irmã Dulce pegou uma pedra, quebrou um dos vidros e, assim, permitiu que 12 pessoas pudessem ser salvas. 
Recentemente, durante uma visita ao Memorial, um homem se deparou com os elementos que reproduzem esse episódio, como a réplica em miniatura de um ônibus em chamas, e começou a chorar compulsivamente. Abordado pelos monitores do local, que queriam saber o motivo de tamanha emoção, ouviram: “Eu sou um dos que estavam no ônibus e foram salvos por Irmã Dulce. Eu tinha apenas 12 anos de idade na ocasião”, conta Antônio, hoje com 67 anos de idade. 
E esse encontro de Antônio com Irmã Dulce não se limitaria somente ao acidente: ao ser salvo por ela, ouviu a pergunta: “Filho, onde você mora?”. Ele respondeu: “Não tenho casa, moro na rua”. Daquele momento em diante, ela o adotou e o levou para viver em um de seus orfanatos. Assim, como Deus sempre tira um bem de algo que é aparentemente mal, um acidente foi o responsável por resgatar a dignidade de uma vida inteira, traduzindo-se em mais um retrato da caridade abnegada, sempre presente na religiosa baiana.  

PESSOA IMPORTANTE
Outro episódio marcante ocorreu quando, certa vez, Irmã Dulce conversava com um grande empresário gaúcho para lhe pedir ajuda para suas obras. No meio da conversa, outra religiosa se dirigiu a ela e cochichou-lhe algo. Ela, então, dirigiu-se a seu interlocutor e disse-lhe: “Preciso que me dê uns instantes para que eu possa atender uma pessoa muito importante que acaba de chegar”. Ela, então, saiu da presença do empresário e foi atender um mendigo. Ao ver aquela cena, o empresário ficou transtornado e pensou consigo como um mendigo poderia ser mais importante que ele. No entanto, quando ela voltou para retomar a conversa com ele, disse-lhe: “Estive há pouco com Jesus Cristo, a pessoa mais importante que existe” e o empresário começou a chorar, pedindo-lhe perdão por tê-la julgado por sua atitude. 
Amante da música e dos instrumentos musicais, Irmã Dulce fazia da sanfona sua companhia constante. Além de utilizá-la quando saía para pedir recursos para suas obras, ela também tinha o hábito de fazer visitas nos presídios levando consigo o instrumento, para cantar e tocar para os detentos. 

QUARTO E CADEIRA DE MADEIRA
O quarto de Irmã Dulce também chama a atenção e comove por seu legado: ao lado da cama, há uma cadeira de madeira onde ela dormiu por 30 anos, consequência da graça alcançada em função de uma promessa que fizera para que sua irmã se livrasse de complicações no parto.  
Sobre a cama, o Memorial traz as roupas com que o corpo de Santa Dulce foi sepultado: após 18 anos enterrados, seus restos mortais foram transladados para a Capela das Relíquias, em seu Santuário, e, por ocasião de sua exumação, como as roupas se encontravam intactas, foram retiradas do túmulo para ficar expostas ao público, sinal de mais um milagre da pequena Irmã Dulce.  
Dentre tantos outros, estes são alguns dos fatos da vida pessoal de Dulce que enriquecem e avivam a fé e a esperança de todos os seus devotos. Ela é prova factual de que a santidade não é algo abstrato e inatingível, destinada a poucos escolhidos, mas uma realidade de nosso tempo, ao alcance de todos, cristãos católicos e filhos de Deus. Sua vida é o retrato de que Salvador ficou pequena para conter tanta bondade, dedicação, caridade e entrega e, assim, agora o “Anjo bom” não é somente da Bahia, mas do Brasil e do mundo inteiro. 

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