SÃO PAULO

Formação

Curso de atualização do clero de São Paulo enfatiza a necessidade de renovação das pastorais

Por Redação
17 de agosto de 2018

O curso aconteceu em Itaici, Município de Indaiatuba (SP), entre os dias 6 e 9, e teve como tema 'Paróquia: Missão e Renovação'

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Conversão pessoal, santidade de vida, inovação, renovação das estruturas paroquiais, planejamento estratégico elaborado em conjunto, com objetivos gerais e específicos bem definidos, em comunhão com o 12º Plano Arquidiocesano de Pastoral. Esses foram alguns dos assuntos abordados durante o 16º Curso de Atualização Teológica e Pastoral do Clero da Arquidiocese de São Paulo para a revitalização das paróquias em direção a uma Igreja missionária e em saída. 

O curso aconteceu em Itaici, Município de Indaiatuba (SP), entre os dias 6 e 9, e teve como tema “Paróquia: Missão e Renovação”. As palestras foram proferidas pelo religioso da Congregação da Paixão de Jesus Cristo (Passionistas), Padre José Carlos Pereira, doutor em sociologia e autor de diversos livros sobre renovação pastoral, entre os quais “Como fazer um planejamento pastoral, paroquial e diocesano” e “Renovação Paroquial”, ambos pela editora Paulus . Participaram 196 padres, entre párocos e vigários paroquiais da Arquidiocese de São Paulo. 

Sair da “zona de conforto das pastorais de conservação” - próprias de uma época em que a grande maioria da população era católica -; evangelizar aqueles que supostamente já são evangelizados; transformar todos os grupos paroquiais, de modo que seus membros recebam formação permanente e se tornem missionários; ir ao encontro das pessoas onde elas estão, com especial atenção às periferias geográficas e existenciais, foram algumas das principais urgências apresentadas ao longo do curso.

O temário foi escolhido tendo em vista o sínodo arquidiocesano em andamento, em particular como preparação à Assembleia Paroquial, que conclui a etapa sinodal paroquial e que deverá acontecer entre os meses de outubro e novembro deste ano. 

Padre José Carlos usou como base de suas exposições a Exortação Apostólica Evagelii Nuntiandi do Beato Paulo VI; a Exortação Apostólica Evagelii Gaudium do Papa Francisco; o Documento de Aparecida, além dos seguintes documentos da CNBB: Projeto Nacional de Evangelização; O Brasil no Mundo Continental; Diretrizes Gerais para uma ação Evangelizadora no Brasil; Comunidades de Comunidades: uma nova paróquia; Cristãos leigos e leigas na Igreja e na Sociedade. 

 

RESISTÊNCIA À RENOVAÇÃO

A preocupação da Igreja Católica no Brasil em renovar as pastorais paroquiais não é nova. Desde 1962, tem-se estudado diversas formas de inovação, afim de que a Igreja possa fazer frente aos desafios impostos pela pós-modernidade, caracterizada pela liquidez de valores, pelo relativismo cultural, pelo apego à aparência em detrimento do ser, pelo subjetivismo da fé, pela fragilização das relações humanas e comunitárias e pela substituição dos relacionamentos reais pelos virtuais.

Segundo o Padre José Carlos, o ambiente cultural da pós-modernidade, ao supervalorizar o individualismo, enfraquece as instituições comunitárias, fomenta o subjetivismo da fé, dificultando a realização do planejamento pastoral a longo prazo. No que se refere à política, a pós-modernidade tende a desqualificar os partidos políticos: o cidadão vota em pessoas sem considerar o partido ou grupo a que pertence ou representa. 

Em meio a esse oceano líquido e instável, a Igreja, com seus valores sólidos, bem definidos e perenes, deseja ser uma plataforma firme, norteadora de caminhos, de sentido, e modos de agir. 

“A Igreja, por exemplo, defende o valor sólido da vida desde a concepção em meio a um mundo que despreza a vida, em que tudo é descartável e no qual,  o indivíduo coloca seus interesses pessoais acima do bem comum. Não é a toa que os defensores do aborto afirmam que não é a Igreja ou qualquer outra instituição que pode regular o que uma mulher deve fazer. ‘Meu corpo, minha vida, minha decisão’, dizem”, exemplificou o conferencista.

Na opinião do Padre José Carlos, não obstante todos esses desafios que a pós-modernidade trouxe, ao que parece, as paróquias têm resistido à renovação. Citando o diagnóstico apresentado no documento 104 da CNBB, o palestrante afirmou que “historicamente as paróquias parecem ter resistido a quaisquer propostas de mudança. Nos últimos 50 anos, preocuparam-se prioritariamente com o culto e muito pouco com a vida comunitária, com a pregação, com o testemunho e com o serviço”. Em consequência, as dimensões proféticas e missionárias ficaram enfraquecidas. 

 

CONVERSÃO MISSIONÁRIA

Citando a Evangelii Gaudium, Padre José Carlos apresentou as seguintes diretrizes para que a Igreja e as paróquias vivam uma verdadeira conversão missionária:​​​​​​

1 .  A Igreja tem que estar a serviço. Para tanto, ela necessita ser acolhedora. “Todas as pastorais são importantes, mas algumas são condições para outras funcionem bem. Entre essas, a mais importante é a pastoral da acolhida. Se as paróquias não forem acolhedoras, todas as outras pastorais serão precárias porque as pessoas não ficam onde não se sentem acolhidas”.

2 Visitar, escutar e ajudar. São os pilares de uma paróquia missionária e acolhedora. “Acolher não significa apenas receber as pessoas na porta da Igreja. Acolhimento é algo mais profundo: é ir ao encontro. Qualquer pessoa que procure uma comunidade eclesial deve ser recebida por alguém que a escute e ajude a encontrar uma solução para a sua necessidade”. 

3 . Igreja missionária em saída.  “A Igreja tem que ir ao encontro das periferias, seja ela física ou existencial”. 

4 . Santidade de vida. “Igreja missionária requer presbíteros e leigos que busquem a santidade e ofereçam ao mundo um testemunho verdadeiro e coerente de seguimento de Jesus Cristo. Tolerância, mansidão, alegria interior, ousadia apostólica, ardor, oração pessoal, honestidade, comprometimento com a verdade são alguns elementos da santidade de vida”.

5 . Inovação pastoral. “Não ter medo de mudanças e de criar novas pastorais quando forem necessárias”.  

6 . Investir na formação pessoal dos leigos. “Se queremos que as paróquias sejam centros de irradiação da fé temos que fazer de modo que todos os que dela participam estejam em formação permanente. Transformar todos os grupos em unidades formativas: que em cada encontro se aprenda alguma coisa”. 

 

GRAÇA E PECADO

A Missa de encerramento do Curso de Aprofundamento Teológico e Pastoral foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, na quinta-feira, 9, na capela do Mosteiro de Itaici. 

Em sua homilia, Dom Odilo, refletindo sobre o texto do profeta Jeremias, chamando a atenção para o fato de que o Profeta, ao mesmo tempo em que denuncia o pecado do povo, anuncia uma nova aliança e o perdão dos pecados. “É um resumo da nossa história”, disse o Cardeal. “Graça e pecado, pecado e graça. Deus sempre quer renovar a aliança. Os desafios para a pastoral são grandes e muitos. Mas temos Deus ao nosso lado. Contemos com a sua ajuda!” concluiu. 

A segunda parte da homilia foi dedicada a Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), cuja memória era celebrada no dia. Dom Odilo enfatizou que Santa Edith Stein representa a pessoa que busca a verdade. “E quem busca a verdade encontra a Deus”, afirmou.

“Os santos são testemunhas da fé, da busca da verdade e da vida na verdade. A bíblia é a narrativa da história dos santos que fizeram a história da salvação: patriarcas, profetas e apóstolos. Esses santos foram referencia de verdade e amor para com Deus e para com o povo. Os santos da Igreja são referencias históricas da história da Igreja”, afirmou o Cardeal.

Ao final Dom Odilo exortou os padres a usar o testemunho dos santos para evangelizar. “Mais do que contar sobre os seus milagres, enfatizar as histórias de suas buscas, de suas vidas, de suas orações, lutas e boas ações em modo a provocar no coração dos cristãos o desejo de santidade de vida”. 


 

Curso do Clero Arquidiocesano 09.08

Luciney Martins/O SÃO PAULO
Luciney Martins/O SÃO PAULO

Curso do Clero Arquidiocesano 09.08

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