NACIONAL

Bem-aventurados e santos brasileiros

Conheça a história da Beata Lindalva de Oliveira

Por Nayá Fernandes
26 de junho de 2019

Assassinada há 26 anos, ela foi beatificada em 2007, em celebração acompanhada por 25 mil fiéis

“O coração é meu e pode sofrer, mas o rosto pertence aos outros e deve ser sorridente”, A frase é da Beata Lindalva de Oliveira, que foi assassinada no Abrigo Dom Pedro II, em Salvador (BA), onde trabalhava há 26 anos.

Irmã Lindalva de Oliveira, da Congregação das Filhas da Caridade, tem uma história marcada pelo amor a Deus e o serviço aos irmãos, mas também por um episódio de violência e dor.

Natural do povoado Sítio da Areia, em Açu (RN), Lindalva nasceu em 20 de outubro de 1953 e é a sexta filha de uma família formada por 14 irmãos. Ainda jovem, ela estudava as Sagradas Escrituras com o pai, João Justo da Fé, e com a mãe, Maria Lúcia da Fé. Aprendeu a cuidar de crianças, ajudar os pobres e realizar as tarefas da casa, sempre atenta aos estudos.

Lindalva foi batizada em 7 de janeiro de 1954 na Capela Olho D’Água, que ficava no extenso território paroquial de Açu. Aos 12 anos, recebeu a Primeira Eucaristia. Trabalhou como babá e, desde a adolescência, atuava na Igreja. Em 1971, ela mudou-se para Natal (RN), onde foi morar com a família de um de seus irmãos. Entre 1978 e 1988, trabalhou como vendedora em alguns negócios locais e no caixa de um posto de gasolina. Mensalmente, enviava dinheiro aos pais para ajudá-los na manutenção da casa.

CHAMADO

Foi em Natal, por meio do convite de uma amiga, que Lindalva se sentiu, pela primeira vez, chamada para a vida religiosa consagrada. E ela foi a um encontro para acompanhar a amiga. Sentiu-se cada vez mais feliz com aqueles momentos, bem como com os trabalhos voluntários que realizava nos abrigos.

Após um caminho de discernimento e conhecimento da Congregação, Lindalva foi admitida para o ingresso ao noviciado. Era o dia 16 de julho de 1989, há quase 30 anos. A missa, presidida por Dom Helder Câmara, marcou o ingresso da jovem que, pouco mais de um mês depois, escrevia à amiga: “Estou muito feliz, é como se eu tivesse sempre morado aqui. O meu destino está nas mãos de Deus, mas desejo de todo o coração servir sempre com humildade, no amor de Cristo”.

Em 1991, após concluir o noviciado, Irmã Lindalva foi enviada para o abrigo Dom Pedro II, em Salvador (SP), onde assumiu o ofício de coordenadora do pavilhão de idosos. Suas ações de caridade não se restringiam ao abrigo: também participou do Movimento Voluntárias da Caridade, do núcleo da Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, onde visitava idosos e doentes nas periferias.

O MARTÍRIO 

Aos 46 anos, Augusto da Silva Peixoto conseguiu uma licença para ter comida e moradia no abrigo, para o qual era necessário ter uma declaração de abandono, por parte da assistência social, e uma idade mínima de 66 anos. Augusto se apaixonou pela Irmã Lindalva, que sempre deixou claro que não poderia corresponder aos sentimentos dele. Mesmo assim, os assédios prosseguiram.

“Prefiro que meu sangue se derrame do que ir embora”, respondeu Irmã Lindalva, quando lhe perguntaram por que não deixava o abrigo. A Irmã procurou a diretora do setor social e pediu que chamasse a atenção do homem, mas isso só fez com que Augusto intensificasse as tentativas por não se sentir correspondido.

No dia 5 de abril de 1993, Augusto comprou uma faca. Na noite de 8 de abril, uma Quinta-feira Santa, como testemunharam seus companheiros de quarto, manifestou sinais de agitação. Passou quase toda a noite andando no quarto e aos companheiros disse que estava com insônia.

Na Sexta-feira da Paixão do Senhor, dia 9 de abril, às 4h30, Irmã Lindalva participou da Via-Sacra na Paróquia do abrigo, dedicada a Nossa Senhora da Boa Viagem. Ao retornar ao abrigo, foi servir o café da manhã para os idosos. Entre eles, Augusto. Ali, havia uma portinha com uma escada que dava para o jardim. Às 7h, ele deu a primeira facada na religiosa e, depois, outras 43. Túmulo da Beata Lindalva de Oliveira, assassinada em 1993, no abrigo para idosos na Bahia

Àqueles que tentaram impedi-lo, Augusto ameaçou que faria a mesma coisa. Após as facadas, disse: “Ah, devia ter feito isso antes”. Ele permaneceu na escadaria esperando que a Polícia chegasse e, em depoimento, declarou que havia cometido o crime porque a Irmã Lindalva nunca cedeu aos seus desejos. 

BEATIFICAÇÃO 

“Como é belo amar a Deus e sua Santa Mãe. Só posso ver Deus por meio das pessoas com as quais tenho contato, quem quer que seja. Tudo se transforma em alegria, em amor, em contato com a natureza. Sou muito segura sobre o amor e a misericórdia de Deus pela humanidade, que é ingrata e plena de si mesma”.

O parágrafo foi escrito por Irmã Lindalva, que era convicta do seu chamado e vivia plenamente a vocação religiosa. Foi declarada beata por Bento XVI em 2006. A cerimônia de beatificação, em 2 de dezembro de 2007, que aconteceu no Estádio do Barradão, em Salvador, foi presidida pelo Cardeal Geraldo Majella, então Arcebispo de São Salvador.

Participaram mais de 25 mil fiéis, além dos irmãos e da mãe da bem-aventurada, na época com 85 anos de vida. Por conta do martírio, não foi necessária a comprovação do milagre para que se tornasse beata. Por isso, o processo foi considerado um dos mais rápidos da História. O dia da Beata Lindalva é comemorado em 7 de janeiro, data em que foi batizada.

“Desejo alegrar-me vivamente com a Igreja de Deus que está em São Salvador da Bahia, com as Filhas da Caridade das seis províncias brasileiras e, particularmente, com todo o povo de Deus que encontrará nesta jovem religiosa do nosso tempo o sentido de uma forte pertença, porque Lindalva é uma de nós. A sua família é uma das nossas famílias e hoje está aqui conosco. Uma mártir dos nossos dias, a ter como exemplo, em particular os jovens, pelo seu testemunho de simplicidade, de pureza, de alegria de viver, de doação a Cristo”, disse em sua mensagem o Cardeal José Saraiva Martins, então Prefeito Emérito da Congregação para as Causas dos Santos da Santa Sé.

(Com informações de Arquidiocese de Salvador e www.vincenziani.com.)

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