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Pesquisa propõe alternativa a transplantes de órgãos e tecidos | Jornal PUC-SP

Pesquisa propõe alternativa a transplantes de órgãos e tecidos

Chamada curta: 
Área do conhecimento é denominada engenharia tecidual e nela são aplicados princípios da engenharia e das ciências da vida para desenvolver substitutos biológicos para restaurar, manter ou melhorar a função de uma parte do corpo
Data de Publicação: 
terça-feira, 26 Setembro, 2017 - 18:15
Crédito da Imagem: 
SZS Comunicação
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Reconstruir tecidos e órgãos a partir de células extraídas da própria pessoa pode se tornar realidade dentro de, aproximadamente, cinco a dez anos. A profa. Eliana Duek estuda os polímeros bioabsorvíveis desde 1998 no Laboratório de Biomateriais instalado no campus Sorocaba da PUC-SP. A pesquisa é promovida com fomento da Fapesp, CNPq e Finep.

Esta possibilidade é vista com grande expectativa, sobretudo porque poderá representar uma alternativa para as pessoas que esperam por um órgão compatível ou àquelas que sofreram acidentes e sequelas nos ossos ou pele, por exemplo.

Nos Estados Unidos, essas análises estão mais avançadas: nove órgãos são estudados para serem reproduzidos por esta técnica. “Esta área do conhecimento é denominada engenharia tecidual. Nela, são aplicados princípios da engenharia e das ciências da vida, com o objetivo de desenvolver substitutos biológicos para restaurar, manter ou melhorar a função de uma parte do corpo”, explica Eliana, que tem mestrado, doutorado e pós-doutorado em Química pela Unicamp.

Dependendo da complexidade estrutural da célula que será reconstruída, o processo pode levar até 90 dias – ou seja, muito menos do que o tempo médio de espera na fila de transplantes.

Resumidamente, a reconstrução consiste em inserir células do tecido ou órgão da própria pessoa em substratos de polímero bioabsorvíveis. Estes, por sua vez, ficam imersos em soluções químicas especiais durante um determinado período. Nesse meio, as células se multiplicam e, quando atingem o formato e a dimensão desejados, são implantadas no corpo do paciente.

O enxerto deve ser feito com o polímero. Como ele é absorvido naturalmente pelo organismo, muitos benefícios são gerados. Não há riscos de uma segunda cirurgia para sua retirada e, além disso, proporciona-se uma economia financeira substancial, principalmente aos cofres públicos, pois o foco são os atendidos com amparo do Sistema Único de Saúde (SUS).

 

Pioneirismo

Docente da PUC-SP desde 1994, Eliana Duek relata que o Laboratório de Biomateriais foi construído em 1997, um ano antes do início da sua pesquisa, com recursos originários da Fapesp.

“À época, os polímeros eram novidade no Brasil. Diferentemente do que acontecia em outros países, as empresas nacionais apresentavam resistência, pois estavam acostumadas aos produtos fabricados com metais e ligas especiais”, relembra. “Fomos pioneiros nesse estudo. Enfrentamos muitas dificuldades, inclusive para adquirir a matéria-prima em sua forma sintetizada. No final dos anos noventa, ela só era encontrada no exterior.”

O objetivo inicial era desenvolver órteses, próteses e materiais especiais como alternativa aos itens tradicionais da ortopedia, sobretudo aqueles “de interferência”, destinados às articulações ósseas.

 

Em 2003, a pesquisadora da PUC-SP e sua equipe conseguiram produzir dispositivos para implante em animais. Foi um grande avanço. Pouco depois, foi dado um passo ainda maior: sintetizou-se o polímero no próprio laboratório. A inovação foi patenteada em 2005, tornando a universidade pioneira nessa área em todo o Brasil.

Para o pró-reitor de Pós-Graduação, Márcio Alves da Fonseca, o trabalho da docente tem grande relevância social: “A pesquisa da professora Eliana se destaca pela qualidade e importância. Ela é altamente relevante para a saúde da população brasileira, particularmente para os usuários do SUS, na medida em que busca viabilizar a estes usuários o acesso à uma biotecnologia das mais avançadas. Diante das dificuldades experimentadas por aqueles que se recuperarm de queimaduras graves, as pesquisas realizadas pela professora buscam alternativas que possibilitem uma recuperação mais eficaz, mais rápida e com menor sofrimento aos pacientes. Por isso, nossos pesquisadores e professores produzem trabalhos científicos que são referência no Brasil e no exterior”

Atualmente, o Laboratório de Biomateriais tem condições para colocar no mercado diversos produtos fabricados à base de polímeros bioabsorvíveis. Exemplo disso são os curativos cutâneos com aloe vera, propostos às vítimas de queimaduras.

“Podemos vender tecnologia ou estabelecer contratos com direito a royalties”, menciona Eliana Duek. “Muitas empresas procuraram pela universidade nesse sentido. Há alguns dias, uma companhia do segmento veterinário oficializou seu interesse em manufaturar curativos com essa técnica”, conta.

 

Nanoesferas

Com a recente liberação de alguns fármacos pela Anvisa, o Laboratório de Biomateriais da PUC-SP dispõe dos requisitos necessários para desenvolver nanoesferas de polímeros bioabsorvíveis, do tamanho de grãos de pó, capazes de armazenar medicamentos. Introduzidas no corpo humano, elas liberam a substância localmente e na quantidade ideal, potencializando seus efeitos.

Um progresso significativo aconteceu no ano passado, quando o Laboratório de Biomateriais adquiriu um biorreator dinâmico. Fabricado nos EUA e com valor estimado em torno dos R$ 500 mil, é o único desse modelo em operação no Brasil.

O equipamento realiza a cultura da célula num substrato de polímero bioabsorvível, no formato final da parte do órgão ou tecido danificado. Seu dinamismo permite que, na medida em que as células se reproduzem, copie-se fielmente a tração e compressão estimuladas pelo corpo.

Para se ter ideia da importância desse detalhe, basta imaginar como seria recriar uma parte do joelho que não suportasse os esforços e impactos naturais.

Eliana Duek relata: “Existe a intenção de transformar o Laboratório de Biomateriais num espaço multiprofissional e criar um curso de pós-graduação”. O grupo comandado pela pesquisadora conta com o químico Daniel Komatsu, a bióloga Moema Hausen, a tecnóloga Priscila Breda, cinco pós-graduandos e alunos do curso de Medicina da própria PUC-SP.

“Enquanto cidadã, meu sonho é ver algum desses produtos no mercado, revertendo benefícios para a universidade e gerando emprego aos estudantes que passaram por este Laboratório”, revela. “Minha vida é fazer pesquisas. Esta é a pesquisa da minha vida.”

O professor Márcio Alves da Fonseca, pró-reitor de Pós-Graduação da PUC-SP, revela que a Instituição incentivará a iniciativa de construção de um mestrado e, futuramente, de um doutorado em Medicina no campus de Sorocaba. “Temos muito interesse em potencializar esse trabalho e garantir a formação de outros pesquisadores neste campo”.

Polímeros

Polímeros são macromoléculas formadas a partir de unidades estruturais menores (os monómeros). Os monômeros são moléculas de baixa massa molecular os quais, a partir das reações de polimerização, vêm a gerar a macromolécula polimérica.

Um polímero biodegradável é um polímero que se quebra (se decompõe) e perde sua integridade inicial. Polímeros biodegradáveis são usados em dispositivos médicos para evitar uma segunda operação para removê-los ou para liberar gradualmente uma medicação.

Estes polímeros são encontrados tanto de forma natural como sintética, e consistem principalmente em grupos funcionais éster, amida e éter.

 

 

Autor: 
Redação