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Do consultório às altas montanhas | Jornal PUC-SP

Do consultório às altas montanhas

Chamada curta: 
Nefrologista da PUC-SP é especialista em fotografar lugares inóspitos
Data de Publicação: 
terça-feira, 2 Janeiro, 2018 - 10:00
Crédito da Imagem: 
Acervo Pessoal
Foto Listagem: 
Descrição: 

Texto de Ewerton Vianna
Fotos: Acervo pessoal

 

Há sete anos, o nefrologista Ricardo Cadaval, professor da PUC-SP, passou a vivenciar um hobby curioso: fotografar lugares inóspitos. Natural de Belo Horizonte (MG), o médico, cujo tempo sempre fora inteiramente voltado ao estudo e prática da medicina, viu-se mergulhado aos 50 anos de idade no fascinante universo das lentes fotográficas e dali não emergiu mais.
Ricardo, que buscava uma atividade à qual se dedicar nas poucas horas de descanso, aprendeu com as câmeras que a vida pode ser muito mais que preencher relatórios ou cumprir tarefas rotineiras: ela pode ser verdadeiramente vivida. "O tempo é algo precioso e que não volta mais. Por isso deve ser aproveitado intensamente, da melhor maneira possível. Aprendi também que, quando olhamos para nossa vida e tudo que faz parte dela - família, amigos, trabalho -, temos de encará-la por um ângulo diferente, mais humano e sensível aos acontecimentos".
Para aprimorar a técnica, Ricardo fez cursos e participou de diversos treinamentos, além de ler livros e guias práticos. A sensibilidade do olhar, explica, veio com o tempo. "Aos poucos passei a enxergar elementos que antes não percebia, como, por exemplo, um esplêndido cenário natural, um entardecer que confere charme à foto ou um feixe de luz em meio à sombra". Com a experiência, vieram também as oportunidades de levar seu hobby para além do visor da câmera: vez ou outra, o nefrologista realiza exposições em hospitais e locais cuja estrutura lhe permite exibir seus registros.    

"Nossas vidas não são a medida de todas as coisas:
considere os lugares sublimes como o lembrete da
insignificância e da fragilidade humana.São os vastos
espaços naturais que talvez nos ofereçam o melhor
e mais respeitoso lembrete de tudo o que nos transcende.
Se passarmos algum tempo nestes espaços, talvez nos
ajudem a aceitar com mais elegância os grandes e
inconcebíveis acontecimentos que molestam nossa vida"

(Trecho retirado do livro “A arte de viajar”, do escritor Alain de Botton)

 

Fascínio por regiões inóspitas

A fotografia complementa outra paixão na vida de Cadaval: as expedições em alta montanha. A faceta aventureira do médico já o levou a destinos fascinantes como Nepal, Tailândia, Mongólia, Peru, Chile e Índia - experiências que ficarão guardadas para sempre na memória e nos registros do médico-fotógrafo. "São destinos inóspitos e de grande valor histórico-cultural. Por vezes, o encantamento por estes lugares mistura-se ao desconforto de estar longe de casa, da fome, da fadiga – cheguei a caminhar por sete longas horas -, do medo do desconhecido e do frio pouco acolhedor. "Nunca se sabe o que haverá pela frente, por isso o receio de seguir adiante. Mas a oportunidade de estar nestes locais e de eternizar esses momentos faz valer todo o esforço. Além disso, a hospitalidade da população é incrível", compartilha o médico, que, quando passou pela Mongólia até foi convidado para o aniversário de um morador local. “Estava sozinho em minha barraca – parte de meus companheiros havia subido a montanha e parte ido embora – quando me convidaram a confraternizar, com direito a churrasco e comidas típicas. Foi muito interessante, eles são muito amigáveis.”

O começo

Os primeiros cliques aconteceram na Tailândia, em 2014. "Não sabia ao certo o motivo da minha obsessão pelas montanhas, mas quando li o livro 'A arte de viajar' entendi o que buscava. Tenho uma admiração especial pela Ásia, talvez pela filosofia de vida e riqueza espiritual do povo". Ricardo parafraseia o escritor Alain de Botton, autor do livro "A arte de viajar", do qual é leitor assíduo: "Nossas vidas não são a medida de todas as coisas: considere os lugares sublimes como o lembrete da insignificância e da fragilidade humana. São os vastos espaços naturais que talvez nos ofereçam o melhor e mais respeitoso lembrete de tudo o que nos transcende. Se passarmos algum tempo nestes espaços, talvez nos ajudem a aceitar com mais elegância os grandes e inconcebíveis acontecimentos que molestam nossa vida".

Sobre o médico

Ricardo Cadaval formou-se em medicina pela Universidade São Francisco, de Bragança Paulista (SP), em 1986. No ano de 1989, fez residência médica em Nefrologia pela PUC-SP onde, desde 1992, atua como docente. É mestre e doutor pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Autor: 
Redação