Comportamento

‘Quarentena ad aeternum?’

Ainda imersos no noticiário monotemático da COVID-19, parece que nada mais está acontecendo sem estar vinculado ao novo coronavírus. Mantidos em quarentena, ninguém ousa avaliar possíveis consequências sobre voltar a pensar que a vida, o mundo, a existência, ultrapassam os limites do “Império COVID-19”. Os números mencionados diariamente, num tom de catástrofe progressiva, roubam o otimismo das pessoas, sufocam uma voz de entusiasmo, fecham um sorriso de alegria e levam a distúrbios comportamentais, já alertados pelos psiquiatras. Tudo em tempos de Páscoa, quando o fato da Ressurreição, de viver uma vida nova, deveria brilhar nos corações das pessoas! A COVID-19 não pode nos bloquear o caminho da esperança!

Muito se tem falado sobre as mudanças que serão observadas passada a pandemia. São especulações que abrangem da vida familiar até a economia globalizada. Acredito que ninguém deva se perder neste labirinto de informações e previsões mundiais. Seria aconselhável que cada um pudesse ter um aprendizado próprio, íntimo, que lhe permitisse alguma mudança positiva, otimista e concreta para o seu cotidiano pessoal, visando à melhora familiar, profissional e social. Este tempo de quarentena não deveria ser lembrado somente como uma superação diante da ameaça de um vírus. A experiência vivenciada neste período de dificuldades, provações e privações certamente promoveu em muitos um profundo exame pessoal sobre o próprio comportamento. Nesse cenário, gostaria de olhar para a maior privação que nós, católicos, temos passado: a privação do sacramento da Sagrada Eucaristia.

A Santa Missa tem, sim, sido celebrada pelos sacerdotes nas igrejas e a assistimos diariamente pelos meios televisivos e pelas redes sociais. Assim também pudemos acompanhar as celebrações da Semana Santa com o Papa Francisco no Vaticano, na Basílica de São Pedro, praticamente sem nenhum fiel. Todo esforço foi feito para que, mediante as comunhões espirituais, os leigos pudessem se sentir unidos ao sacrifício de Cristo na cruz, que se realiza em cada missa. A participação eucarística na comunhão do corpo, sangue, alma e divindade de Jesus Cristo, contudo, é insubstituível.

Recordei as palavras de uma conhecida freira missionária na Amazônia, que procurava transmitir o que é a falta da Eucaristia em lugares tão distantes. O que ouvi, posso agora, como praticamente 1 bilhão de católicos no mundo, viver. Fomos privados da Eucaristia, do Senhor do universo e Senhor da vida, pela partícula mais minúscula e insignificante, que nem sequer pode viver por conta própria: um vírus. Um paradoxo incompreensível! Não vamos entrar nos méritos da epidemia, da segurança da saúde, do distanciamento social: estamos atolados dessas informações. O fato é, no entanto, que ficamos privados de receber o Senhor, indignos que somos como pecadores, na maior demonstração da sua humildade de coração e misericórdia: a Santa Eucaristia.

Certa vez, Madre Teresa de Calcutá, prevendo as casas onde viveriam as Missionárias da Caridade, disse a seu diretor espiritual que era necessário que houvesse a missa diária, pois teriam a pobreza para tudo, mas nunca lhes poderia faltar a Eucaristia. Insuficiente uma vida para falar sobre a Eucaristia, “o mistério da nossa fé”, como nos afirma o sacerdote ao término da consagração. Tenho a ousadia, no entanto, de fazer coro a Santa Madre Teresa de Calcutá: não podemos ficar sem a Eucaristia. Até quando viveremos sob o “Império da COVID-19”?

Não desejo passar a mensagem de uma desobediência revolucionária, mas não se pode omitir a angústia de uma espera que já se torna uma “quarentena ad aeternum”. Rezemos não só pela queda destas muralhas, mas também por novas e numerosas vocações sacerdotais, que possam cobrir a extensa Amazônia e o mundo inteiro, a levar o Cristo Ressuscitado na Eucaristia.

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