Espiritualidade

Existem operários?

A seara é grande, nos diz o Senhor Jesus. E nós demonstramo-nos cansados no ato de semear. Um cansaço que turva o olhar e nos faz perder a capacidade de ler a realidade onde somos chamados a semear. E, erroneamente, pensamos que os terrenos da vida são áridos, sobretudo pela influência da cultura dominante no século XXI, e pouco semeamos.

No tempo em que viveu São Francisco de Assis, também era difundida entre as pessoas a mentalidade de que as pessoas não tinham interesse numa fé verdadeira, viviam um Cristianismo tíbio, com uma interpretação mitigada e quase inofensiva da Palavra de Deus.

São Francisco de Assis, conduzido pelo Espírito, libertou-se dessa mentalidade e renovou a Igreja, confiou na Palavra do Senhor: A seara é grande - chamando as pessoas a olharem para a Palavra de Deus e a vivê-la sem interpretações que tirassem toda a sua força de atração e de pulsão missionária. Ele acolheu a Palavra como ela foi proclamada, como palavra que o Senhor dirigia diretamente a ele, sem mais ou menos. A obediência à Palavra foi a força motriz de São Francisco de Assis, e foi capaz de atrair tantos homens e mulheres no seu seguimento, pessoas capazes de deixar a cultura dominante e acolher a pureza da Palavra viva de Deus que as transformou.

“A Palavra de Jesus nos surpreende: a seara é grande! Da semente cuida Ele. Há muito a ceifar, porque o terreno ainda é bom, semelhante ao das origens, e Deus confia no homem, como o agricultor espera pelo verão perfumado dos frutos” (José Calda Esteves, 110).

Hoje, o Senhor nos convida a elevar os olhos e olhar os campos já maduros para a colheita (Jo 4,35). O campo é bom, a semente é muito boa, o que falta para uma bela ceifa? São Francisco confiou na Palavra, confiou que os campos estavam maduros para a colheita. E nós? Vamos continuar a não acreditar na força da Palavra de Deus e interpretá-la segundo um cômodo esquema pastoral que não leva à conversão das pessoas e estruturas? Vamos continuar pensando que as pessoas hoje formam um terreno árido? Prestemos atenção no que disse o Senhor Jesus: elevai os olhos, porque os campos já estão maduros para a colheita.

Os operários são poucos? Pedi, pois, ao dono da messe que mande operários para a sua messe (Lc 10,2). Existem operários para a messe, alguns demasiadamente cansados, feri dos e frágeis, como parte da humanidade ferida, mas sedenta, e outros com ardor no coração, como São Francisco De Assis.

Esses operários somos nós, bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados, leigos e leigas; os operários com que o Senhor Jesus conta para a colheita, como Ele contou com Pedro e Tiago, João e Mateus, um pescador e um tradicionalista, um intelectual e um pecador público. O que existiu de comum entre eles? Todos acolheram Jesus e a força vivificante de sua Palavra.

Olhando os campos com o olhar de Jesus e confiando em Sua Palavra, vamos infundir nova coragem, novo entusiasmo, vamos ler mais a Palavra viva de Deus e nos deixar comover com as exortações do Senhor e a fé dos Apóstolos. Vamos nos apresentar novamente ao Senhor para trabalhar em sua messe, como o Apóstolo Paulo convidou a Timóteo: “Procura apresentar-te a Deus como homem provado, trabalhador que não tem de que se envergonhar” (2Tm 2,15). “Segue... a piedade” (1 Tm 6,11).

Assim, permanecendo a força da Palavra em nosso coração, não poderá faltar de difundir-se ao redor de nós e sobre nossas obras, pois essa é a lei do Reino de Deus. Afinal, “o Reino dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e pôs em três medidas de farinha, até que tudo ficasse fermentado” (Mt 13,33).

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