Liturgia e Vida

‘E Jesus chorou’ (Jo 11,35)

5º DOMINGO DA QUARESMA 29 DE MARÇO DE 2020

Antes de curar um cego, o Senhor afirmara que aquela cegueira serviria para manifestar as obras de Deus. Neste domingo, diz algo semelhante sobre Lázaro: “Esta doença não leva à morte; ela serve para a glória de Deus” (Jo 11,4). Além de utilizar uma doença, desta vez Ele utilizou também a morte de um amigo para mover os homens à fé. Cristo assumiu plenamente os sentimentos e afetos humanos, mas sem a desordem do pecado. Por isso, ao ver Marta e Maria chorando a morte do irmão, “estremeceu interiormente, ficou profundamente comovido” (Jo 11,33). 
Ali Jesus se deparava não apenas com a dor de pessoas queridas. O choro e a aflição dos presentes representam aquilo que Ele veio remediar: a morte, salário amargo do pecado (cf. Rm 6,23). No rosto dos enlutados, talvez o Senhor contemplasse toda a morte, doença, homicídio, desgraça, orfandade, saudades e vazio que, ao longo da história, o pecado causou direta ou indiretamente. Talvez Jesus pensasse também em tantos homens pelos quais estava disposto a derramar o seu Sangue, mas que, sem fé nem caridade, escolheriam para si a morte eterna. 
Quando o chamaram para ver o túmulo, “Jesus chorou” (Jo 11,35) ou, literalmente, “correram lágrimas de Jesus”. Em outra ocasião, o Senhor chorou sobre Jerusalém: “Ah! Se hoje também tu conhecesses a mensagem de paz! Não reconhecestes o dia em que foste visitada!” (Lc 19,42 e 44). Chorava não por se sentir privado de algo, mas por ver a privação que os homens, por causa do pecado, impõem-se a si mesmos e aos outros. Com essa visão sobrenatural, mais tarde, carregando a Cruz por Jerusalém, diria àquelas mulheres que choravam de compaixão: “Não choreis por Mim; chorai por vós e por vossos filhos! Se fazem assim com o lenho verde, o que acontecerá com o seco?” (Lc 23,28.31). 
O choro do Jesus, porém, não era um desabafo em vão ou um sentimento impotente. Suas lágrimas lhe valeram a Ressurreição; e a nós, a salvação. A Carta aos Hebreus afirma que, “nos dias de Sua vida terrestre, Ele apresentou pedidos e súplicas, com forte clamor e lágrimas, Àquele que O podia salvar da morte; e foi atendido por causa da Sua piedade” (Hb 5,7). Orações com lágrimas são irresistíveis ao Pai! Por exemplo, a Santa Mônica, que chorava e orava pela conversão de seu filho, Santo Ambrósio prometeu: “Não pode perecer o filho de tantas lágrimas”. Por suas orações e lágrimas, a Igreja ganhou Santo Agostinho! 
Pois bem, depois de chorar, Jesus “levantou os olhos para o alto”, orou ao Pai dando graças e ordenou: “Lázaro, vem para fora!” (Jo 11,43ss). Então, muitos dos judeus presentes “viram o que Jesus fizera e creram Nele” (Jo 11,45). Viram a fraqueza de Jesus chorando e a força de Jesus trazendo Lázaro à vida… E creram! 
Na Paixão, Jesus mostraria fraqueza e clamor: feridas, escarros, a crucifixão, a oração no horto e ao ser Crucificado. Da mistura de sangue com lágrimas, veio-nos a salvação e o conforto. Vendo-Lhe a fraqueza, o soldado creu: “Este era Filho de Deus” (Mt 27,54).

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