Liturgia e Vida

‘Isso serve para que as obras de Deus se manifestem’ (Jo 9,3)

4º Domingo da Quaresma - 22 de março de 2020

Ao paralítico curado, Jesus havia dito: “Não tornes a pecar, para que não te aconteça coisa pior” 
(Jo 5,14). Agora, vendo um cego, os discípulos perguntam: “Quem pecou para que nascesse assim: ele ou seus pais?” (Jo 9,2). O Senhor, porém, diz que essa deficiência não é devida ao pecado, mas servirá “para que as obras de Deus se manifestem nele” (Jo 9,3). 
Ensina, assim, que é temerário estabelecer relação direta entre os males sofridos e os pecados praticados por uma pessoa. Deus, como um Pai, pode permitir “correções” para que nos convertamos. Doenças, perdas e infortúnios podem nos levar a refletir, a arrepender-
-nos de más condutas e a voltar para o Senhor e para o próximo. Além disso, alguns causam os seus próprios sofrimentos por meio de escolhas erradas, da vida desregrada e da insistência no mau caminho. Há, porém, quem prove males nesta vida sem ter nenhuma culpa direta. 
Antes de se atribuírem os sofrimentos próprios ou alheios a culpas pessoais, é preciso ouvir: “Não julgo segundo os critérios do homem: o homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração” (1Sm 16,7). O justo Jó quebrou a lógica da retribuição pura e simples. A Santíssima Virgem presenciou a morte do próprio Filho. E Jesus, que passou no mundo fazendo o bem, sofreu mais do que qualquer outro. Poderíamos acrescentar a essa lista tantos santos sofredores: Santa Teresinha, São Padre Pio, os Pastorinhos de Fátima…
O porquê dos sofrimentos é um mistério. Duas coisas são certas, contudo: que Deus é capaz de tirar deles um bem maior; e que os únicos males absolutos são o pecado e a condenação eterna. Com sabedoria, o Senhor converte os acontecimentos amargos a favor dos que O amam (cf. Rm 8,28). Utiliza-os como matéria-prima e ocasião para os converter, amadurecer, purificar e fortalecer. As privações e dores desta vida podem ajudá-los, no fim das contas, a repelir o pecado e o inferno. 
No Evangelho deste domingo, Jesus transformou a cegueira de um homem no caminho para conduzi-lo à fé. Nem tudo seriam flores: depois da cura, o homem seria expulso da sinagoga; Cristo seria ainda mais odiado e seus adversários decidiriam matá-Lo. Deste mal ainda maior, todavia – o assassinato do Filho de Deus –, Ele nos traria o principal bem: a Redenção. O instrumento de suplício se tornaria o sinal da salvação, a Santa Cruz.
Jesus curou duas cegueiras, a física e a espiritual. Não se pode subestimar a alegria de um cego de nascença – que jamais viu coisa alguma! – ao passar, de repente, a enxergar a beleza do mundo. Mais importante ainda, porém, foi ter recebido a luz da fé! Eis o novo nascimento; o momento mais importante da vida do “cego”; a descoberta das cores de sua própria existência: “Ele exclamou: ‘Eu creio, Senhor!’ E prostrou-se diante de Jesus” (Jo 9,38). 
Manifestou-se a obra de Deus, que consiste em “que creiam”
(Jo 6,29)! Os fariseus, sem fé, continuaram cegos… E porque julgam ver, mas não têm fé, o seu pecado permanece (cf. Jo 9,41)!

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