Liturgia e Vida

‘Senhor, é bom ficarmos aqui’ (Mt 17,4)

2º Domingo da Quaresma - 8 DE MARÇO DE 2020 
 

Jesus havia acabado de anunciar a sua Paixão e Morte. Havia, também, prometido aos discípulos que teriam de tomar a própria cruz e que “alguns dos que aqui estão não provarão a morte até que vejam o Filho do Homem vindo em seu Reino” (Mt 16,28). 
Então, levou Pedro, Tiago e João “a um lugar à parte, sobre uma alta montanha” (Mt 17,1) e lhes mostrou essa “vinda em seu Reino”. Transfigurou-se com “o rosto brilhante como o sol e as roupas brancas como a luz” (Mt 17,2). Os três apóstolos saborearam um lampejo do que será, no Céu, a visão beatífica. Moisés e Elias – representando a Lei e os Profetas do Antigo Testamento – falavam com Jesus. Manifestaram-se também o Pai e o Espírito Santo: “Uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E da nuvem uma voz dizia: ‘Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o!’” (Mt 17,5).  
Desse modo, o Senhor confirmava o que pouco antes Pedro confessara: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16). Dava aos três discípulos um grande conforto para que, no momento da Paixão, quando vissem Jesus desfigurado e morto, não se escandalizassem nem perdessem a fé. Não à toa, João seria o único apóstolo a permanecer com o Senhor no Calvário. No prólogo do Evangelho, recordaria: “Nós vimos a sua glória, como de um Unigênito do Pai cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14). São Pedro também justificaria sua autoridade apostólica pelo fato de que “nós ouvimos [a voz de Deus Pai] quando ela foi dirigida do céu, ao estarmos com Cristo na montanha santa” (2Pd 1,18).
A Transfiguração marcou de tal modo as almas dos três Apóstolos que se pode dizer que foi determinante para que suportassem as tribulações e trabalhos que lhes esperavam. Assim também em nossas vidas, o Senhor nos reserva alguns momentos de doçura e clareza espiritual para que, nas dificuldades, nos sirvam de sustento e nos recordem o caminho a seguir. O Senhor é tão bom e solícito que, prevendo os momentos de escuridão e dor, prepara-nos previamente. 
No entanto, temos a oportunidade de receber cotidianamente essa luz fortalecedora de Cristo, por meio dos momentos diários de oração. Quando nos colocamos em “um lugar à parte” com Jesus, isto é, quando fazemos silêncio diante de uma imagem, visitamos a igreja para orar, rezamos o Terço ou visitamos o Santíssimo Sacramento, o Senhor nos ilumina, aumenta-nos a fé e fala-nos, sem palavras, ao coração. Esses momentos de luz, na solidão com Deus – sobre a “alta montanha” da oração – são nossa única garantia para que permaneçamos fiéis ao Senhor, mesmo que tudo se torne difícil. 
Santo Afonso de Ligório dizia: “Quem reza se salva, quem não reza se condena”. A oração – que deve ser mais intensa na Quaresma – é o meio pelo qual Deus confirma nossa fé. Sem ela, perdemos a direção e a esperança do céu. Sem oração, ainda que queiramos fazer o bem, erramos! No início, ela é difícil. Depois, com a prática, chegamos a amá-la e a dizer “Senhor, é bom ficarmos aqui” (Mt 17,4).

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