Espiritualidade

Jesus na Galileia e suas lições para o discipulado

O Filho de Deus iniciou sua missão na Galileia, após a prisão de João Batista. Certamente, a saída de cena deste profeta levou Jesus à intensa oração e reflexão para discernir a vontade do Pai neste acontecimento. Percebeu que havia chegado o tempo de dedicar-se inteiramente ao anúncio do Reino dos Céus, do qual a pregação do Batista foi precursora.

Ao dirigir-se a esta região periférica, Jesus inova em relação à estratégia utilizada por João, que do deserto de Judá atraía os israelitas ao seu batismo de conversão. Jesus inicia sua missão em meio às pessoas sofridas da Galileia, inserindo-se no cotidiano e história delas.

A região integrava o “caminho do mar”, interligação entre o Eufrates e o Nilo, que possibilitava o acesso às riquezas da Ásia Menor e aos celeiros do Egito. Essa via tornava a Galileia palco de grande comércio, de encontro de nacionalidades e culturas. Nesse contexto, fica patente que ao Reino do Pai todos são chamados.

Estabelecer morada entre os galileus também indica que o coração do Cristo, permeado de compaixão, o conduziu primeiro àqueles que ansiavam por uma luz libertadora e esperança diante dos males geradores de feridas. E postergou o embate com os ortodoxos de Jerusalém que excluíam os galileus da Aliança, alegando “impureza” racial e religiosa.

Jesus sabia bem que sobre aquele povo pesava a mão dos seus soberanos. Sob olhares atentos dos romanos, os governadores da terra exploravam os seus cidadãos com insuportáveis impostos. Esta situação acarretava a perda da terra por dívidas, o aumento da escravidão, da mendicância e da prostituição. Nesse sentido, anunciar o Reino de amor, justiça e paz, como ‘boa-nova’, expressão utilizada na época para comunicados dos imperadores, significava apresentar Deus como o único soberano.

Para aqueles que não tinham a quem recorrer diante daquela realidade pesada sobre os ombros, restava somente a esperança da intervenção divina. Nas palavras e gestos de misericórdia de Jesus perceberam o próprio Deus lhes propiciando vida em abundância. E logo apareceu quem estivesse disposto a segui-Lo. Primeiro Pedro e seu irmão André “deixaram as redes”; depois Tiago e João ao “deixarem o barco e o pai” (Mt 4,18-22).

Então, Jesus passou a percorrer toda a Galileia, fazendo chegar às pessoas a mensagem de que o Reino de Deus estava entre elas e a liberdade que o Pai reserva aos seus filhos com a “cura das doenças e enfermidades do povo” (Mt 4,23).

O Reino se concretiza na pessoa de Jesus e é dádiva do Pai aos que chamou à vida. E se adentra no Reino pela comunhão com Deus, deixando-se moldar pelo seu Espírito. Nesse sentido, Jesus fazia ressoar o apelo de João “convertei-vos”. O Reino implica deixar a mentalidade que corrobora ou compactua com situações injustas.

O início da missão de Jesus é fonte de lições permanentes e sempre atuais para os seus seguidores. Entretanto, é necessário perceber que, no centro de todas as suas ações, está o amor misericordioso pelas pessoas em seus sofrimentos e dores. É o que faz alguém ser tomado pela compaixão “sentida nas vísceras”, força motriz da autêntica conversão para o Reino e de atitudes como a proximidade e o compromisso solidário em ações para a superação das situações que atentam contra a vida. Numa sociedade que tende ao indiferentismo diante do outro, a reflexão da missão de Jesus para com aqueles que viviam sob trevas é uma grande luz.

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