Espiritualidade

O Reino dos Céus está próximo

Poucas semanas atrás, celebrávamos o Advento e Natal, período em que a voz de João Batista foi ouvida diversas vezes. Ele veio preparar o povo para receber o Messias, o Emanuel, o Deus conosco. Sua voz, porém, incomodou gente importante, e prendê-lo foi o meio mais eficiente para calar aquele que denunciava erros e gritava por conversão. Cessando a voz de João, Jesus começa a pregar dizendo: “Arrependam-se porque o Reino de Deus está próximo”, como anunciou o profeta Isaías: “A luz se levantou para os que es- tavam assentados na região sombria da morte”.

Tudo começa na periferia em Cafarnaum, cidade que ficava à beira-mar, a noroeste do mar da Galileia, uma região de encruzilhada de caravanas, ponto deencontro de vários povos, lugar onde refugiados e estrangeiros se misturavam com habitantes do lugar. Daqui não se esperavam grandes coisas para a história da salvação. No entanto, o anúncio do Reino não parte do coração do Judaísmo, Jerusalém, mas de Cafarnaum, uma região periférica, desprezada e contaminada pelo paganismo. É daqui que a luz de Jesus vai iluminar a noite escura da Galileia. Ele não fica à espera das pessoas, mas se põe a caminho, indo ao encontro, numa iniciativa de percorrer nossas estradas para nos visitar.

Jesus tinha pressa em salvar as pessoas, o bem não podia tardar em acontecer. Para isso, andando ao longo das margens do mar da Galileia, procura companheiros para sua missão libertadora. Vê dois irmãos, Simão e André, ocupados nos trabalhos da pesca e lhes diz: “Vinde atrás de mim”. Eles deixaram as redes e O seguiram. Caminhando um pouco mais, viu outros dois irmãos, Tiago e João, consertando as redes na barca. Também os chamou. De imediato deixaram a barca e o pai e foram com Jesus. Naquele espaço tão normal e corriqueiro onde trabalhavam os pescadores, aconteceu algo de novo e grandioso. Eles deixaram suas barcas e entraram na “Barca de Jesus”. Chamar dois pares de irmãos nos revela que a vida cristã é um caminhar juntos, um viver numa comunidade de irmãos, um saber trabalhar em equipe. Não podemos ser luz sozinhos, pois uma luz clareia muito pouco.

O chamado acontece num ambiente de trabalho, nos mares da vida, onde as pessoas estão atuando. São pessoas que pegam no batente todo dia, que têm coragem de levantar de madrugada para ir à luta e são desafiadas a deixar suas redes e barcas no pequeno mar, para entrar no vasto oceano do Reino. O Papa Francisco nos diz: “A chamada alcança-nos no auge das atividades diárias: o Senhor revela-se a nós não de forma extraordinária ou sensacional, mas na cotidianidade das nossas vidas. Ali devemos encontrar o Senhor; ali Ele se revela, faz sentir ao nosso coração o seu amor; e ali – a partir do diálogo com Ele no dia a dia da vida – muda o nosso coração. A resposta dos quatro pescadores é imediata e pronta: ‘Eles imediatamente deixaram as redes e O seguiram’”.

Fixando o olhar sobre os pescadores e convidando-os ao seu seguimento, Jesus está a nos dizer que chegou a hora de “levantar voo”, porque ficar apenas consertando redes pode nos deixar insensíveis à solidariedade e indiferentes às mudanças urgentes a serem feitas. No meio religioso, leigos e clérigos fortalecem um movimento com práticas litúrgicas antiquadas que caminham na contramão da reforma conciliar, com destaque para vestes que fazem as pessoas brilharem com roupas de reza bem vistosas: permanecem consertando as redes. O foco deve ser outro, especialmente aquele dito pelo Evangelho que mostra Jesus ensinando na sinagoga, pregando e Evangelho do Reino e curando todo tipo de doença e enfermidade do povo. Não dá para ficar consertando redes enquanto tantos irmãos estão a chorar e sofrer nas estradas da vida.

Não há como escapar. Jesus escolheu começar e concluir seu ministério entre os pagãos, os marginalizados e as vítimas de preconceitos. Para a Judeia, região onde se pensava viverem os judeus fiéis, Jesus foi apenas para ser crucificado ao lado de dois pecadores. Depois de ressuscitar, retornou para a Galileia, lugar onde tudo começou, lugar do primeiro amor; voltou para enviar os Apóstolos a irem por todo o mundo pregar o Evangelho.

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