Editorial

Alegrai-vos sempre no Senhor

Todo o tempo litúrgico forte e importante, como são a Páscoa e o Natal, é precedido de um período de preparação espiritual, em que a Igreja nos convida a rezar um pouco mais, fazer um pouco mais de penitência, e praticar, além do habitual, a caridade cristã por meio das obras de misericórdia. 
Assim é o tempo do Advento que estamos celebrando. Como nos explica a Introdução ao Missal Romano, esse tempo litúrgico possui dupla característica: “Sendo um tempo de preparação para a Solenidade do Natal, em que se comemora a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens, é também um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da segunda vinda do Cristo no fim dos tempos. Por este duplo motivo, o tempo do Advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa”. 
A alegria cristã é precisamente a mensagem central transmitida durante a terceira semana do Advento, que começa com o chamado Domingo Gaudete – Domingo da Alegria –, devido à primeira palavra da antífona de entrada da Santa Missa, que traz o imperativo “Alegrai-vos”. Nele, a liturgia abre como que uma brecha, despoja-se do roxo, cor da penitência, e usa paramentos de cor rósea, que exprime a exultação pelo Natal que se aproxima. Em várias paróquias da Arquidiocese e na Catedral da Sé, inclusive, há o costume de os fiéis trazerem a imagem do Menino Jesus do presépio para que seja abençoado. 
Alguém, contudo, pode interrogar-se: como é possível se alegrar em meio a um mundo e uma vida tão cheios de dramas, problemas humanitários, violências, contradições, crises e tantas e tantas notícias ruins que recebemos todos os dias?  
Provavelmente, essa é a mesma pergunta que se faziam muitos dos povos de Deus, no Antigo Testamento, em tempos de exílio, quando profetas como Isaías lhes anunciavam que Deus enviaria um salvador. Na realidade, o anúncio de um salvador e a expectativa de sua vinda tornaram-se uma fonte de esperança que os ajudou a viver em tempos de penúria. Da mesma forma, agem os cristãos diante das dificuldades que se apresentam, porém com maior motivo: já fomos redimidos e essa é precisamente a razão da alegria dos cristãos.
Muitos ou quase todos os males que trazem sofrimentos à humanidade derivam do pecado, da ganância, do egoísmo, do desrespeito ao próximo, da relação inadequada com a criação e a natureza. Contudo, se é verdade que o pecado tem altura, largura e profundidade no mundo e no coração dos seres humanos, também é verdade que o amor e a graça de Deus podem mais. Deus pode mais! 
O Salvador enviado não é outro que a própria Pessoa do Filho, por quem e para quem toda a criação foi realizada. Vindo ao mundo, Jesus não dizimou por completo o mal, uma vez que este procede do mau uso da liberdade humana. Introduziu, contudo, em meio à história humana, um caminho de resgate, de redenção, de recuperação. E o mais importante: a boa-nova do amor de Deus e a revelação da vida eterna; que o Reino de Deus inaugurado por Jesus Cristo neste mundo alcança a plenitude na verdadeira terra prometida que é o céu.
O cristão leva a alegria dentro de si, porque encontra em Deus um sentido pleno para a vida. Ao encontrar esse sentido e receber Deus mesmo na sua alma em estado de graça, instaura-se no ser humano um verdadeiro estado de felicidade real e perene, que ninguém e nada pode roubar.  É uma alegria profunda. Um estado de paz que é capaz de subsistir em meio às dificuldades. Já a alegria que o mundo e os bens materiais oferecem são alegrias passageiras. Daí a nossa preocupação ao constatarmos que a sociedade atual consumista esvazia o verdadeiro sentido do Natal para focar naquilo que é passageiro. 
Resta-nos escutar com atenção o conselho do Apóstolo Paulo: estar sempre alegres em Cristo, com os olhos fixos Nele, dando graças em todas as circunstâncias, sabendo que Ele está próximo de nós. Não nos é difícil imaginar a Virgem Maria, radiante de alegria com o Filho de Deus em seu seio. Assim, devemos também nós viver este tempo do Advento, encontrando em Cristo a fonte da nossa alegria.

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