Encontro com o Pastor

Maria, imagem da Igreja que vai ao encontro do Senhor

Duas celebrações marianas marcam a segunda semana do Advento: a Imaculada Conceição e Nossa Senhora de Guadalupe. Ambas não são apenas devoções piedosas, mas possuem profundo significado para a Igreja, que vive em constante “estado de advento”, à espera de ir ao encontro do Deus que vem.
Maria Imaculada é um sinal profético da própria Igreja. Preservando a Virgem Maria do pecado original, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Deus quis preparar “mãe que fosse digna de seu Filho, que dela nasceria para este mundo segundo a carne”. Maria é a nova Eva, fiel a Deus e plenamente disponível para fazer a sua vontade. Adão e Eva, no paraíso, ouviram a voz do tentador e mancharam sua dignidade original; deles, nós herdamos a mácula original, sempre prontos a não reconhecer a vontade boa de Deus a nosso respeito e a respeito do mundo. Por isso, o pecado continua facilmente a dominar sobre nós e perdemos a nossa dignidade e santidade original.
Maria, ao contrário, foi preservada dessa mancha original e, ao longo da sua vida, manteve-se perfeitamente unida a Deus e pronta a fazer a sua vontade e a colaborar com seu desígnio salvador. Sua resposta é de pronta acolhida do desígnio de Deus a seu respeito e a respeito do mundo. Nesse sentido, Maria é a imagem da Igreja redimida, que já não quer mais estar dependente do pecado e de suas consequências. Olhando para ela, compreendemos o sonho de Deus a nosso respeito e a respeito da Igreja, que tem em Maria a imagem de sua perfeita realização. Ela é a imagem da Igreja que escuta, acolhe e se une aos desígnios salvadores de Deus.
Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira principal da América Latina, comemorada no dia 12 de dezembro, é retratada na conhecida tela na figura de uma mulher mestiça e grávida. Enquanto grávida, ela vive na esperança segura de ver o seu filho Jesus Cristo, Filho de Deus Salvador. Ela está pronta para dar ao mundo o seu Filho, em benefício e consolo de todos. Falando com o índio João Diego, a Senhora de Guadalupe lhe assegura que é sua mãe e cuida dele, que se considera o mais humilde de todos os filhos dessa mãe.
A Igreja se sente representada na figura dessa mulher grávida. Também a Igreja está “grávida de Cristo”, pronta para mostrá-lo e entregá-lo à humanidade poe meio de seu serviço missionário e evangelizador. A Igreja aponta sempre para Cristo, convidando as pessoas a se aproximarem Dele, que é o Salvador. Como Maria, a Igreja é a serva do Senhor, sempre pronta para servir os mais humildes filhos de Deus por meio da caridade, consolando-os e confortando-os em suas aflições.
Maria de Guadalupe é a imagem da Igreja missionária e samaritana, da “Igreja em saída”, que vai ao encontro das necessidades e sofrimentos da humanidade, serve o próximo e lhe anuncia as certezas da esperança fundada na Palavra de Deus. Maria Imaculada é o ícone da Igreja sonhada por Deus: santa, imaculada e em perfeita sintonia com Ele, a virgem íntegra e fiel, aberta para receber sua palavra e disposta a colaborar com sua graça, pronta para participar da felicidade.
A Igreja vive neste mundo em constante “estado de advento”, preparando-se para ir ao encontro do seu Senhor, quando Ele vier novamente em sua glória. Vivendo entre alegrias e esperanças, sofrimentos e angústias, ela confia nas promessas de Deus. A Igreja olha para Maria e se vê como em espelho. “Glorificada em corpo e alma nos céus, Maria é sinal e início da Igreja, como ela deverá ser consumada no futuro. Assim, Maria também brilha aqui na terra como sinal de esperança segura e de conforto para o povo de Deus, que peregrina até chegar o dia do Senhor” (Lumen Gentium, 68).

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
Publicado em O SÃO PAULO, na edição de 11/12/2019

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