Liturgia e Vida

‘Não sou como os outros homens…’ (Lc 18,11)

30º DOMINGO DO TEMPO COMUM –  27 DE OUTUBRO DE 2019

Nosso Senhor nos alerta sobre um vício que pode tornar a oração ineficaz: o orgulho. É o defeito mais grave e a origem dos demais pecados. Aliás, a falta de nossos primeiros pais veio desta sugestão infernal: “Sereis como deuses” (Gn 3,5). Eles beberam do absinto que entorpece, cega e destrói a alma: o orgulho, frontalmente contrário ao Primeiro Mandamento. Santo Agostinho dizia que há dois amores possíveis nesta vida: o amor a Deus até o desprezo de si mesmo e o amor a si mesmo até o desprezo de Deus. O orgulho consiste na última opção!
A parábola do Fariseu e do Publicano retrata alguns traços da alma orgulhosa. O primeiro: “Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça” (Lc 18,9). O orgulhoso pensa que é justo. A presunção da salvação – um pecado contra o Espírito Santo – está entre as possíveis manifestações de orgulho. Sentindo-se “quite” com Deus, o orgulhoso pode até reconhecer que pratica coisas incorretas, mas pensa: “No meu caso é diferente”, “Isso não é importante”, “Há gente que faz pior”… Ele imagina justificar-se simplesmente por ser ele próprio; a maldade está nos outros, no mundo, mas não nele! Tende a ser severo com os demais e complacente consigo mesmo.  
Um segundo traço das almas orgulhosas: “Desprezavam os outros” (Lc 18,9). Dando muita importância para si mesmo, suas opiniões e seus problemas, é comum que o orgulhoso – sem se dar conta – despreze os outros. Não escuta o que os demais têm a lhe dizer; classifica e rotula pessoas; interessa-se preferencialmente por quem lhe pode trazer algum proveito ou por aqueles que lhe parecem mais importantes, ricos, bonitos ou inteligentes… Acha até normal que outras pessoas passem por certos sofrimentos, privações, injustiças ou humilhações que ele consideraria inadmissíveis para si mesmo. 
Esse desprezo pelos demais é decorrência de um terceiro traço do orgulhoso, mais interno e profundo: “Não sou como os outros homens” (Lc 18,11). Esse vício pode se manifestar sutil e disfarçadamente por meio do sentimento de que “ninguém me compreende”, “ninguém sofre como eu sofro”, “ninguém enxerga as coisas como eu enxergo”, “a vida é mais difícil para mim do que para os outros”… Às vezes, o orgulhoso cria uma armadilha para si mesmo, afundando-se nos próprios problemas e autojustificando a sua falta de reação. E, quando se torna impossível negar os seus defeitos e falhas, ele se irrita profundamente, ou cai em amarga tristeza e depressão, pois não admite que possa cometer os mesmos erros dos simples homens. 
A humildade, ao contrário, é a chave que abre as portas para Deus. Ela abre nossa inteligência e escancara a alma para a fé. É mais poderosa que os nossos pecados, pois a humildade descerra o perdão de Deus. Ela faz com que recebamos os sacramentos com fruto; com que não impeçamos a ação do Senhor. Sem ela, não há fé, esperança nem verdadeiro amor. E, além disso, “a prece do humilde atravessa as nuvens” (Eclo 35,21).  

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